Opinião

Mas todo dia é mesmo um 7 x 1?

Hoje resolvi falar de um assunto mais leve… nada de extremistas, islamismo, COVID, PCC Chinês, campos de concentração, políticas identitárias, politicamente correto etc. Ufa, estava precisando mesmo. Se tiverem um pouco de sal grosso, um banho de ervas para doar, eu aceito 😊

Fiquei aqui pensando e resolvi dividir com vocês as impressões iniciais de uma brazuca em terras germânicas. Tenho certeza de que esse será um assunto recorrente nas mesas de boteco da Vila Madalena e adjacentes quando eu estiver no Brasil.

Não acredito que nada é muito novo. As redes sociais e blogs pelo mundo estão cheios de comentários e exemplos. E, claro, toda impressão tem um caráter bem individual. Assim, não tenho a menor intenção de que a minha leitura seja única e inquestionável.

Ainda há os mais sonhadores, mas eu não cheguei pensando que iria ser não tudo mil maravilhas. E isso não significa que estou cuspindo no prato que estou comendo não. Calma! Não sou dessas… 😉

Mas vamos como “Jack o estripador”, por partes:

Língua: sim, falemos de obviedades. “Gott” (Deus), mas que linguinha difícil de aprender. Me disseram que a parte boa é não haver tantas regras (aham), e pouquíssimas exceções. Ufa, já é alguma coisa. Mas acostumar-se com a ‘música’ gutural germânica, é bem complicado. Eu diria que em ordem de dificuldade (do mais fácil para o mais difícil), seria: primeiro a leitura, segundo a escrita (pois é, acho mais fácil escrever), terceiro o falar e o mais difícil, sem sombra de dúvidas, é entender que raios o outro está falando. São tantos sotaques, sons guturais, “Rs” diferentes, que tem hora que parece que não sei nada. Nem vou começar a falar do “Bayerische”, dialeto próprio da Bavária, senão eu choro… Gol da Alemanha? Nada disso, é uma bolada na cara todo dia 😳.

Burocracia e papelada: Juro, estou para ver um povo que gosta mais de um papel, de uma cartinha de banco que o alemão. Muito do que poderia ser resolvido por internet, não é. Sei lá, parece que há um certo preconceito aqui. Uma amiga minha de ascendência alemã já havia me avisado: “Anna, se existe um problema, não se preocupe. Haverá um formulário e dossiê específico para ser seguido”.

Tenho que dividir que fiquei um pouco decepcionada quando o processo para a famosa “Aufenthaltskarte” (Autorização de Residência) levou 3 meses, ao invés das 6 a 8 semanas que o website do Consulado alemão informava. E mais um pouco decepcionada quando ao discutir o processo com outras brasileiras fiquei sabendo que nem sempre eles exigem os mesmos documentos, nem sempre prestam atenção se de fato o proprietário do apartamento que assinou um certo formulário e, achei mais ainda surpreendente, quando ouvi que o prazo de validade da autorização de residência varia de pessoa para pessoa, sem muita explicação. Dependeria do humor do atendente? Há certas regras que eles não abrem para a arquibancada ? Não sei.

E, finalizando, o mesmo documento provisório que usei logo no início dos famosos “lockdowns” iniciais da 1ª onda da pandemia para entrar via trem na fronteira da Alemanha com a França foi aceito tranquilamente, já do meu enteado questionaram e queriam deixá-lo na Áustria quando foi a passeio com a escola. Ou seja, tudo é aberto a interpretações do funcionário público? Pois é, não sei. Então, para mim, nada de Gol da Alemanha aqui. Está mais para bola fora.

Impostos, taxas, planos de saúde. Vou listar em itens, pois acho alguns bem interessantes:

  • Imposto da Igreja (“Kirchensteuer”): pois é… vou te dar uma dica, nunca diga que foi batizado, que foi criado numa igreja, nem algo do tipo “sou católico não praticante”, caso, de fato, não seja religioso e não frequente a igreja. Falou qualquer uma dessas definições, prepare-se! Seu salário terá um desconto equivalente a cerca de 8% a 9% do IR todo mês (!!!). É quase um dízimo estatal. E tente depois tirar esse desconto do seu salário… você terá que levar um alemão nativo não só de testemunha, mas que fique responsável pelo que você lá declarar, com aquele clima gostoso de interrogatório, como se você estivesse cometendo um crime. Sabe aquela expressão: “Vá reclamar com o Papa”? Pois é, é quase isso que você irá ouvir. Mas, se depois de tudo isso você conseguir se safar, torça para nunca chegar uma cartinha lá na igreja onde você foi batizado. Neste ponto me parece mais um gol contra, por ser uma cobrança para algo que deveria ser dado de bom grado.
  • Imposto do animal de estimação (“Hundesteuer”): você sente-se sozinho, precisa de cia, e gostaria de ter um bichinho de estimação? Prepare-se, mais um descontinho para o seu bolsinho (varia por cidade, mas é ao redor de 200 euros por ano). Além disso, todo bichinho precisa ser registrado na prefeitura, ter um passaporte para viagens e um chip implantado. Algo realmente admirável é a série de regras e controle que impede a existência de cães na rua. Para esse controle eu realmente tiro o chapéu (“Hut ab”). Gol da Alemanha.
  • Taxas da TV & Rádio públicos (“Rundfunkbeitrag”): você não assiste TV alemã, não ouve rádio, assiste só Netflix e afins? Problema seu… você não fugirá dessa taxa. Essa taxa é cobrada da seguinte maneira: uma casa, uma taxa. É assim: registrou sua residência na prefeitura (o famoso “Anmeldung”)?! Pois bem, aguarde que a cartinha de cobrança chegará em breve, recepcionando-o na terrinha da batata e do chucrute. Diz minha professora de alemão que o esporte preferido dos alemães é fugir do pagamento dessa taxa. Ganha quem conseguir ficar mais tempo sem pagar 😂😂. Sério, mas não se iluda, eles vão te enviar cartinha seguida de cartinha, até que uma hora alguém baterá na sua porta. E a taxinha não é tão singela: 17,50 Euros mensais. Imagine acumular esse valor por 2 anos!? Pois é. Eu até assisto bastante a TV pública, pois procuro treinar meu alemão e adoro os programas de Quiz deles (sei, que coisa meio Nerd 😂😂). Mas pensar que é uma taxa que mesmo quem não assiste tem que pagar!? Eu diria que é no mínimo outra bola fora.
  • Plano de saúde: você não trabalha, e espera poder contar com o SUS gratuito alemão, que deve ser maravilhoso? Pode esquecer, meu amigo. Aqui não tem SUS geral gratuito não. Quem está desempregado, sem família etc. tem um tipo de assistência garantida sem custo. Agora, se você e/ou seu marido trabalham, o valor do plano de saúde é bem alto e fixo (e aí você escolhe, o público ou privado). E a % do salário é algo de arrepiar (15 a 20% do salário). Caso sua esposa ou marido trabalhem, eles terão a mesma % equivalente descontada. E, sim, até estudante precisa pagar o seu plano de saúde. A famosa “Aufenthaltskarte” (Autorização de Residência) não é concedida se um plano ou seguro de saúde apropriado não for fornecido no dossiê. Eu, honestamente, acho um valor extremamente alto e, vide mais abaixo, há certos pontos da assistência médica que ainda não tenho um ponto de vista e experiência própria formada. A bola tá em jogo.
  • “Bolsas auxílio e afins”: Há vários tipos de auxílios, como o Kindergeld (algo como bolsa-filho), os quais são depositados diretamente na conta dos pais. Quanto mais filhos, mais auxílio. O transporte escolar, caso a distância seja maior que 3 km, é gratuito. Fora isso, dependendo do tipo de trabalho da esposa/marido, ou caso essa(esse) não trabalhe, há descontos menores no IR daquele que ganha mais (dependendo do salário e se não trabalha, cada parte do casal é graduada de maneira específica e daí sai o desconto). E, também, houve auxílios específicos durante a pandemia para famílias com filhos. Acho esse sistema bem interessante e de certa maneira justo. Mais um gol para Alemanha.
  • Transporte público:
    • Metrô e afins (“UBahn und Bus”) estou para conhecer cidade mais cara que Munique. Consegue bater Londres (?!!!). Obviamente, para estudantes, estagiários e outras categorias há os planos específicos, mais baratos, ou gratuitos. Agora, para os demais, um passe de ida para uma região no centro custa meros 3,30 Euros!!! Há tickets específicos como “Tageskarte” (algo como Ticket do dia) que por um valor ao redor de 7 euros você pode transitar para lá e para cá. Mas ainda assim é caro. Em outras cidades pela Europa, como Paris e Nice, você compra um vale de 10 viagens por 10 euros e pode usar em múltiplos meios de transporte. Assim, nada de gol da Alemanha, ou ao menos, aqui em München.

“Ah, tudo bem, Anna… mas tudo deve funcionar maravilhosamente bem, não?”. Olha, não posso negar que a parte do transporte, no geral, funciona muito bem e os horários são claramente dispostos em telas, que horas chega etc. Tudo muito claro e organizado. Mas também já passei por situações onde o UBahn (metrô) para do nada, você não sabe o porquê, e fica esperando 10, 20, 30 minutos. Sim, claro, nada comparado à frequência paulistana. Então para esse ponto, gol da Alemanha.

  • “Bayern Ticket” (ticket da Bavária) e afins: isso é muito, muito legal. Há um tipo específico de ticket de trem promocional para usar-se num único dia na região da Bavária, para quantas viagens conseguir fazer. E quanto mais pessoas inclusas, menor o valor por pessoa. Ele vale até Salzburgo. Recomendo muitíssimo e é um grande estímulo para o turismo regional. Golaço do Bayern de Munique 😉. Em tempo, outras regiões como Baden-Württemberg também possuem tickets similares.

Outro assunto muito discutido nos grupos de brasileiros, e que ainda não tive o desprazer, ou prazer, de passar, é o:

  • Atendimento médico e exames:
    • Atendimento: Claro, calma… novamente, depende muito da situação, da pessoa, do médico, mas já ouvi inúmeros relatos de pessoas que passaram por algumas situações bem chatas, inclusive da minha professora de alemão. Um outro professor de alemão meu do Goethe-SP me contou que preferia mil vezes o atendimento de um médico brasileiro no SUS que qualquer um aqui, principalmente no que se refere à empatia e trato pessoal.
    • Especialista: você tem um problema já conhecido e precisa ir a um ortopedista. É só ligar em um especialista e ir? Não é beeeem assim. Normalmente você deve encontrar um “Hausartz” (médico de família) e ir nele primeiro. “ah, mas poxa, eu sei que o problema é um ligamento rompido no joelho, ou na lombar, preciso de atendimento específico”. Você pode realmente até ligar num deles e conseguir um “Termin” (consulta). Mas muitas vezes você acaba indo para casa só com recomendação de descanso e o famoso Ibuprofeno (que aqui eles receitam para tudo). O final da história em alguns casos pode ser: em viagem para o Brasil que o problema será finalmente resolvido.
    • Exames invasivos: você tem um problema crônico de gastrite familiar e faz endoscopia há anos? Fica até contente por ter se mudado para Alemanha por isso, pois é a terra da endoscopia? Aí você escuta: “pera, você tem só 28 anos? Muito cedo para fazer esses exames invasivos. Vou te receitar uns fitoterápicos e mudança na dieta”. Aham 😰
    • Exames periódicos, como mamografia no Brasil: informe-se… não necessariamente o ginecologista aqui fará o que é de praxe no Brasil. Mamografia não é exame periódico padrão, a não ser para idades bem avançadas ou com dores ou suspeitas relacionadas. Ou seja, pode até ser pedido após o exame de toque, mas não necessariamente é procedimento padrão. E, mais uma vez, tudo depende do médico. Há relatos de médicos que pedem a maioria do que seria rotina no Brasil, mas a maioria não.
    • Prescrição de medicamentos: muitas vezes um medicamento específico (fora fitoterápicos, homeopatia, ibuprofeno, paracetamol etc.) não será prescrito logo de primeira. Minha professora de alemão mesmo relata como há essa tendência de prescreverem um “placebo”, disse ela, ao invés de já ir para um antibiótico amplo espectro no caso de uma infecção urinária ou afins.

Aí você me pergunta, seria para atendimento médico e exames gol da Alemanha?

Neste momento, prefiro parar o jogo e pedir auxílio para o bandeirinha, ou ainda o famoso VAR para eu julgar. Aquele que mistura sentimentos de amor e ódio, como tão bem discutido nessa publicação do Papo de Boteco. E, ainda, seguir o jogo. Mas, parece que estou sentindo o músculo da coxa fisgar. Tempo para atendimento médico…

Outro ponto que incomoda muuuuuito 😳:

  • Água: A água do banho, da torneira possui muito calcáreo. Vocês não fazem ideia como o cabelo cai… Fora que quando você está enxaguando o cabelo após lavá-lo parece que não está devidamente limpo. É realmente um processo. Muitos compram um certo filtro específico e de minha parte tento comprar xampus bem naturais, leves e que não deixam resíduo. Já para máquina de lavar-louça, essa precisa de produtos específicos como um certo “Salz” (Sal). É impressionante notar o acumulado desse sal na máquina de café (onde a água fica). Fico imaginando os rins, sistema digestivo… Gol contra da Alemanha.
  • Produtos para cabelos, pelos e afins: Outro assunto que talvez importe mais às meninas ou metrossexuais  😂😂 … produtos para cabelos, pelos e afins têm a tendência de serem menos fracos. Por exemplo: o volume da água oxigenada. Para alguns esse é um problema bem sério. As loiras então, sofrem. Pois muitos cabeleireiros simplesmente não concordam que atingirão certas colorações, que normalmente qualquer cabeleireiro no Brasil faria… pois é, pênalti.

E agora vamos falar de algo bem importante:

  • Serviços e entregas em geral:
    • Mudanças, carretas, montagem: Você está de mudança, pensa em alugar um carreto baratinho para carregar um armário ou sofá que ganhou OU que comprou usado? Pense de novo, o carreto pode custar bem mais caro que o próprio móvel novo. Aqui é assim, serviços são muuuito caros, como montagem de móveis, pintar a casa etc. Por isso não se impressione. Muitas vezes os alemães são como o Bombril: mil e uma utilidades. Eles montam armários, instalam luminárias, pintam a casa etc. Isso realmente é uma vantagem e tanto, pois crescem com essa cultura que “tenho que aprender, ou gastarei rios de dinheiro”. Gol da Alemanha (mas no início, meu caro, é uma bolada na cara).
    • Entregas e qualidade dos produtos: Amiguinhos, já passei cada uma. Esse tópico é um capítulo totalmente à parte. Exemplos de episódios:
      • Data agendada errada pela Ikea: que culminou com o cancelamento de duas entregas, pois ainda não havíamos mudado para o endereço da entrega. Em tempo, eu expliquei isso para a vendedora. Mas, apesar de ela dizer que falava inglês, pois é, acho que não entendeu. Ou seja, dá-lhe voltar no Ikea e pedir urgentemente nova entrega, pois estávamos dormindo no chão.
      • Mesinhas entregues cheias de riscos e batidas: dá-lhe reclamação – parte 2. Entregaram duas novas mesinhas? Sim, maravilha, mas também vieram com riscos e batidas. Enfim, acabei ficando com as 4 (quatro).
      • Rack com pés bambas, riscos: dá-lhe reclamação – parte 3. Novo rack entregue. Perfeito? Não… acabei ficando com os 2 com defeito.
      • Tapete: agendado para entrega, eu estava em casa o dia inteiro. Foi entregue? Não, disseram que não havia ninguém em casa. Dá-lhe reclamação – parte 4.
      • Luminária: agendado para entrega, eu estava em casa o dia inteiro – parte 2. Entregaram em casa? Não, entregaram no prédio vizinho… Pois “eu não estava em casa, mais uma vez”. Lá vou eu até a vizinha do outro prédio carregar aquela caixa pesada. Minha professora conta que é normal isso acontecer, pois eles recebem por número de entregas diárias. Então eles contam duas em uma, e saem ganhando.
      • Mas calma, também há vários pontos que merecem uma salva de palmas (“momento Merchant no Papo de Boteco”): as entregas da Amazon Prime são ótimas, no horário. E para quem gosta de beber e não há dia agendado para acabar a bebida, é só pedir no “Flashenpost” que, normalmente, eles entregarão suas caixas de bebida em no máximo duas horas e ainda levam as garrafas.

Assim, no item geral entregas e qualidade de produtos, é bola na trave atrás de bola na trave, com algumas exceções.

Por falar em garrafas (“Pfand”), vamos falar sobre:

  •  Coleta de lixo reciclável e preocupação com meio ambiente:
    • Coleta de lixo reciclável: algo que eu acho sensacional na Alemanha. Há postos para 5 materiais diferentes pelas cidades, fora lixo normal e papel em cada condomínio. Mas, sem sombra de dúvidas, a melhor parte é o estímulo para devolução das garrafas.
    • “Pfand” (coleta de garrafas reutilizáveis): Toda compra de alguma bebida em garrafa (oops, não toda, mas as que fazem parte do esquema. As de vinho não entram nessa) funciona como uma caução. Pagamos pelo líquido, o que é justo, pois só queremos a garrafa para transportar o que vamos beber. E ao comprar a bebida, fazemos um depósito por cada garrafa (que varia entre 8 e 25 centavos). Esse valor é resgatado quando a garrafa é devolvida (seja num supermercado, ou num dessas empresas como Amazon ou Flaschenpost que entregam novas compras com bebidas). A Alemanha tem esse procedimento há 3 décadas, pois tem como objetivo manter uma cota de 70% de vasilhames reutilizáveis. Sim, é muito legal mesmo. E há muitas pessoas que deixam as garrafas do lado dos lixos pela cidade para quem queira dar-se ao trabalho de recolher e resgatar os valores.
    • Doação (“zu Verschenken”): outro costume muito legal mesmo. Se você andar pela cidade, verá caixas nas portas das casas e prédios com itens para doação. Já vi um pouco de tudo, de livros a louças. Uma salva de palmas para essa ideia (que, veja bem, aqui funciona).
    • Energia: “Puxa, que legal, Alemanha sempre preocupada com o meio ambiente”. Pois é, calma, ainda há muito o que se fazer. O país atualmente ainda deve 40% de sua eletricidade ao carvão mineral (!!!), e falhou miseravelmente com as metas estabelecidas no Acordo do Clima de Paris. Por um lado, está em vias de fechar todas as usinas nucleares até 2022. Por outro lado, recentemente agendou data (2038) para abandonar de vez a energia de carvão mineral.

Por todos esses pontos, está mais para gol da Alemanha, mas … talvez eu peça novamente o auxílio do VAR, pois essa história de ainda usarem 40% de sua eletricidade via carvão mineral me incomoda muito.

Mudando de alhos para bugalhos, obviamente há pontos que são incomparáveis de fato ao Brasil:

  • Segurança: algo inquestionável. Em nenhum momento, ou lugar, até hoje me senti em perigo. Seja em Munique, em Berlim, ou cidades pequenas como Passau e Augsburgo. E uma vez levei uma leve chamada de um guardinha por estar com a máscara para o lado gravando um áudio no trem antes de partir (isso que não tinha ninguém do meu lado). Gol da Alemanha.
  • Corrupção: obviamente que há… e durante a pandemia ouvi reclamações, por exemplo em como era complicado para um autônomo receber as verbas de auxílio durante a pandemia. Já para as grandes empresas, foi muito mais fácil e altos valores que, por vezes, a população questiona a real necessidade. Mas nada comparável ao que vemos na nossa República das Bananas. Apesar de não ter uma visão muito clara das pequenas corrupções ou aquelas veladas, está mais para gol da Alemanha (apesar que minha professora não concordaria 😊)
  • Educação e escolas durante a pandemia: já falei um pouquinho na minha 1ª publicação. Esse sim um verdadeiro 7×1!!! E hoje as escolas já voltaram em período integral com refeições inclusas (para essas os pais pagam um valor ao redor de 70 euros mensais).

Não podia deixar de mencionar o que nos forra o estômago e nos dá energia todo dia:

  • Comida:
    • Orgânica: algo que eu fiquei bem impressionada, foi a quantidade de comida orgânica (“Bio”, como chamam na França também). Claro que normalmente os valores são mais altos que os alimentos normais, mas há muita coisa boa e até bom preço.
    • Carnes bovinas: essa é uma parte que você pode até achar bons produtos, mas são beeeem caros e não se compara com a disponibilidade, preço e acesso que temos no Brasil. Tanto que foi só ler a publicação do Gui sobre nosso famoso churrasco, que quase tive uma síncope  😂😂
    • Carnes suínas: inegavelmente muito boas, fáceis de achar e bom preço.
    • Batatas, batatas e batatas: “ao vencedor as batatas”. Ah sim, batatas são a paixão nacional, diria junto com a cerveja, as “Wurst” (as famosas linguiças germânicas) e os Dönner (Kebab: influenciados pela grande imigração turca após a 2ª guerra mundial).
    • Mercadinhos asiáticos, turcos e árabes: estão por toda a cidade e há muito produto bom e mais em conta, e/ou melhor qualidade, dos encontrados em supermercados. Boas carnes bovinas são encontradas, por exemplo, nos mercados turcos (apesar de ainda bem caros). Camarões mais em conta nos mercados asiáticos.
    • E graças à globalização…: e caso sinta falta de uma tapioca, farinha de mandioca, dendê, coxinhas, pão de queijo, não se aflija. Sempre haverá um site de entregas de produtos brasileiros a um clique de você.

Ao contrário de muita gente, comida é algo que não me incomoda nem um pouco. Adaptei-me super bem, apesar que não há como negar como sinto falta de um verdadeiro churras com amigos. E, modéstia à parte, eu piloto bem uma churrasqueira. É, “faça churras como uma garota”… 😂😂

A única vez que fizemos na nossa varanda, lá veio vizinho reclamar pois estava subindo cheiro de carne e fumaça. Valha-me Deus! Assim, aqui nada de gol. Há suas vantagens e desvantagens. Segue o jogo.

“E do COVID e o gerenciamento, você não vai falar nada?” Pera, amiguinhos, isso daria uma publicação inteira a respeito. Então vou falar só de dois pontos interessantes:

  • Distanciamento social: aqui sempre foi regra, não exceção. Nada de abraço, beijinho ou aperto de mão. Cada alemão no seu quadrado de 1-1,5 m2. Normal. Com ou seu COVID. Então, acredito eu, ajudou muito no controle da transmissão do vírus. E idosos não vivem normalmente com a família, ou já viviam mais isolados normalmente (o que acredito ter ajudado no controle da transmissão dentro das famílias e população de risco. Diferentemente das famílias italianas, por exemplo)
  • Máscaras: apesar de cada estado ter suas regras, acredito piamente que a não exigência de usar máscaras em locais abertos sem concentração de gente (por ex: parques, correr, caminhar, ruas sem concentração) teve lá seu ponto positivo, pois não consigo entender essa loucura de usar máscara até para fazer exercício ao ar livre. Explico: há teses que falam que contato com baixa quantidade de vírus tenha ajudado a sermos expostos, mas ao sistema imune ter mais condições de combatê-los. E, por fim, ajudou muito na saúde mental da população o estímulo desde o início para sairmos de casa e caminharmos nos parques (que há muitos por aqui), mas ruas.

“Ah Anna, sei não, há tantos outros fatores na Alemanha: grande quantidade de testes, controle por meio de apps dos infectados e contatados, o sistema de leitos e atendimento etc.”. Sem dúvida, todos esses pontos são muito importantes. Mas, novamente, como já disse na minha 1ª publicação: se nem dona OMS tem acertado, pois até recentemente disse que nunca advogou para lockdown nacional, quem sou eu?! Só mais uma pobre latino-americana palpitando nesse Blog.

E para terminar, vou falar de algo que interessa a todo mundo… aquele líquido, dourado ou não, que sorvemos, junto com uma refeição ou petiscos, tão desejado por muitos:

  • Cerveja: além de uma grande diversidade de cervejas, mas normalmente nacionais, o preço é realmente muito bom. Podendo mesmo ficar ao redor de 80 a 90 centavos por meio líquido de uma bela cerveja como a Augustiner Helles (tradução “clara”, como uma Lager). Não é por menos que você raramente encontra cervejas de 300 ml para comprar. Aqui é assim, ou você bebe… ou você bebe. Para os apreciadores de uma bela cerveja, gol da Alemanha. “Mas, Anna, fala da Oktoberfest”. Esse ano, por causa da pandemia, não teve. Teve até algumas ‘clandestinas’, como também comentei na minha 1a publicação. Então, deixemos as impressões para o ano que vem.
  • Vinhos: outra grata surpresa, os vinhos brancos não têm nada a ver com aquela garrafinha azul com aquele líquido doce e horroroso chamado “Liebfrausmilch” (o leite da mulher amada). De Riesling, Grauer Burgunder, Weisser Burgunder, Sauvignon Blanc etc. Vale a pena provar. Fica aqui a minha dica que há diferentes denominações como “Trocken” (seco), “Feinherb” (seco, mas bem frutado, por vezes parecendo meio-doce), “Mösel” (mais para o doce). Infelizmente, talvez pelo desastre Liebfrausmilch, é muito difícil encontrar bons vinhos alemães no Brasil. Ah, já ia me esquecendo, o preço dos vinhos (não só alemães) é realmente uma super vantagem, não se compara aos preços brasileiros. Imposto né migues (homenagem ao meu amigo Mussum). Nesse quesito, golaço para Alemanha (e Europa em geral).

Pois é, mudar de país não é nada fácil. Não tenho respostas para tudo (ou quase nada, na verdade). Nem sei se um dia terei ou essa será a verdade absoluta. O que acho hoje, pode mudar amanhã. Como diria meu caríssimo Raul Seixas: “eu prefiro ser essa metamorfose ambulante”.

E, como eu sempre digo, toda “verdade” tem vários lados. Assim como todo gol, falta, pênalti, bola fora pode ter várias interpretações. Com ou sem VAR.

Ainda tenho muitos planos para o ano que vem para turbinar de vez meu aprendizado com a língua e a cultura (como um programa de socialização entre estudantes da língua com idosos chamado: “Das Hallo Project”, que obviamente o seu COVID não deixou este ano)

De qualquer maneira, para mim algo é claro. Nunca tudo serão flores, há sempre pontos positivos e negativos em qualquer lugar do mundo e não adianta ser resistente às mudanças. Observe-as, aceite-as, abrace-as.

O negócio é não viver no mundo de Alice, arregaçar as mangas, entender que serviços são caros, e também não menosprezar as riquezas da terrinha. Parafraseando seu Lula da Silva, quem diria, hein, Anna: “o brasileiro e sua síndrome de vira-lata”. Valorize-se também.  

É isso… Willkommen in Deutschland. Mas não espere um 7 x 1 em tudo 😉

Foto de um brinde de cerveja durante a Oktoberfest em Munique

Anna Paula Más

Anna Paula Más, farmacêutica e bioquímica (USP-SP), fez carreira trabalhando quase 20 anos na área de pesquisa clínica e desenvolvimentos de novos medicamentos, focada na área ética e regulatória. Caixeira viajante (morou nos EUA, França e hoje fica entre Alemanha e Brasil). É extrovertida, social, costuma ‘unir’ turmas e pessoas de turmas diferentes. Dizem as más línguas que conversa até com o poste, adora palpitar, não tem receio de se posicionar e, por vezes, criar polêmicas. A pedidos, veio fazer parte do time Papo de Boteco com o propósito de trazer um olhar feminino, mas não por isso menos crítico, sobre assuntos diversos.

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4 Comentários

  1. Oi Anna parabéns pelo texto e por sua experiência! Por conta do trabalho o país em que mais estive foi a Alemanha. A última vez foi em Frankfurt em 2017. Quem sabe um dia podemos nos reencontrar e trocar experiências…abraços Gabriela Corrêa (sou 92D também)

    1. Oi Gabi, claro q me lembro … 92D, ahhh bons tempos.
      Bom ouvir de ti, espero q esteja bem. Obrigada pelo comentário 🙂
      Estarei no Brasil de 08Nov a 31Jan, quem sabe marcamos um café 😊😘

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