Opinião

Prioridades e clandestinidades

É, é fato… quem nunca se pegou pensando nessa pandemia: “Quem não estiver confuso, não está bem informado”. Nem dona OMS tem “acertado”. Oi?! OMS … quem tem sido dona OMS na fila do pão da pandemia, né?! Está de brincadeira. E brincando com coisa séria. Imagina cada um de nós então?! “Só sei que nada sei”. 

Pois é… mas falando sério. 

Vamos falar de educação? Que tal darmos uma voltinha pelo mundo?

França, foram só 56 (cinquenta e seis) dias sem aulas. Hoje, apesar da segunda onda de infectados, o ministro da saúde e autoridades relevantes planejam manter as escolas e salas abertas com certas precauções, como não ir para escola se o aluno tiver febre ou sintomas que assemelhem-se ao COVID, uso de máscaras e cuidados (baseados em dados que não indicam que as escolas são locais de propagação do vírus). Exceções para salas com 1 (uma) a 2 (duas) crianças ou adolescentes positivos (distanciamento mais rígido), e se atingir 3 (três) crianças, aí sim, fechamento das salas. Tá, tudo bem! Certezas? Mais uma vez, nem a OMS teve desde o início, então “on y va”!

Na Alemanha também educação é tratada de maneira prioritária. Foram só 60 (sessenta) dias sem aula. No ano letivo, que acabou de começar, as aulas são presenciais também, com uso de máscara para alunos a partir da 5a (quinta) série, distanciamento, cuidados (almoço, por exemplo, ainda não está sendo servido) e regras de enrijecimento, podendo até levar à interrupção das aulas presenciais, dependendo do valor de incidência e se houver infecções na sala de aula. “Genau!”

Aí você se pega pensando: “Poxa, primeiro mundo é outra coisa”. Calma, nem tudo são flores. 

Em Nice, na França, soltaram medidas mais rígidas quanto a reuniões familiares e consumo de bebida. Uma das medidas era, sim era, permitir que bebidas alcóolicas fossem compradas no mercado até às 20:30 e restaurante faturar bebidas alcóolicas até às 00:30. Imaginem o que aconteceu no 1o dia? Galera lotando a praia bebendo até altas horas da madruga, sem máscaras … 😂😂 puxa, que sacanagem. « Pas des soucis, c’est la vie, la joie de vivre ». 

Enquanto isso, na Alemanha… Aí você me pergunta “Ah, em Berlim, a Vila Mada da Alemanha, a cidade com mais manifestações e revoltados por metro quadrado?! Normal né, Anna”. Ah sim, Berlim até que entenderíamos um deslize. Mas Munique, na Bavária: tudo certo né?! Regras são Regras. Até a Oktoberfest cancelaram né?! Aham… Marienplatz lotada, pessoal sem máscaras, várias “Oktoberfests” clandestinas!!! 😳. Sim, você leu direito. Festas clandestinas. Galera sedenta por cerveja … e aglomeração. “Ich hätte gern auch ein kaltes helles” 🍻. Mas não tão gelada, pois afinal de contas, estamos na Alemanha, não no Brasil.

Aí você já sabe, não é?! Quando o povo chuta o balde, lá vem o governo e libera mais restrições.

Na Alemanha, apenas 5 (cinco) pessoas ou 2 (duas) famílias podem se encontrar em locais abertos ou restaurantes e bares. Festas privadas como casamentos máximo de 25 (vinte e cinco) pessoas em locais fechados e 50 (cinquenta) em locais abertos. E agora na Bavária máscaras passarão a ser exigidas em locais abertos com grande circulação de pessoas, como Marienplatz.

Já na França, o negócio está pegando fogo. Além de medidas restritivas adicionais, como fechamento de academias de ginástica e restaurantes e bares poderem funcionar só até às 22:00, Paris anunciou como uma das medidas restritivas para Marseille que restaurantes e bares devem permanecer fechados a partir de sábado (dia 26 de setembro). No país da “Liberté, Égalité et Fraternité”, todos aceitarão quietos? Donos de bares e restaurantes já disseram que vão abrir, que num país como a França, da “Liberté et Convivialité”, não é possível tratar bares e restaurantes como o bicho papão e ovelha negra da pandemia.

Não só no Brasil há briga política entre autoridades estaduais e federais. Marseille e Paris estão em guerra. O prefeito de Marseille disse que é uma afronta as novas restrições impostas à cidade e critica o governo de Macron e suas ações frente à pandemia (inclusive  transparência de cálculo de casos e dados para definir o status de cada região que, obviamente, foi o que definiu que Marseille está em zona de alerta máximo e demanda fechamento dos bares e restaurantes). E por outro lado, exalta suas ações locais (34% mais testes que Paris, distribuição gratuita de máscaras e uso da polícia civil para assegurar uso de máscaras) e demanda 10 dias antes que tais novas restrições ocorram. Um grupo de especialistas também questionam tais medidas, pois se não é no bar ou restaurante, o povo vai encontrar outro meio, nem que seja em casa, para se encontrar.

É, meus amigos, além de enfrentar a pandemia temos que tentar nós mesmos separar o que é da pandemia, o que é da briga política e onde no meio disso tudo a gente se acha. Pois, afinal de contas, depois da tempestade, da pandemia, vem a bonança? Não, vem o que sobrou. E nesses escombros ainda teremos que lidar com a chamada 4a onda, que é o adoecimento mental da sociedade provocado pela pandemia.

Enquanto isso, caro conterrâneo brasileiro, no quesito prioridades, nossa educação está lá no fim da fila. São mais de 200 (duzentos) dias sem aula. Você sabia que das 69 (sessenta e nove) Universidades Federais, 11 (onze) ainda estão com as atividades suspensas? Nesses locais não há aulas remotas nem presenciais. São mais de 125 mil (cento e vinte e cinco mil) estudantes sem aula.

Hoje no Brasil já temos diversos serviços que voltaram, desde bares, restaurantes, academia de dança, estádios de futebol ensaiando reabertura para torcedores, até judô voltando. Judô?! Judô, fiquei aqui pensando, como é que que faz? Luta de máscara, ok, mas e quando a parte física, um pegar no outro, não tem perigo? Vão dar um Ippon no vírus, é isso?! Descobriram um novo meio de acabar com o vírus e não nos contaram? Vai entender.

Enfim, não se sinta mal quando vê a praia lotada, fica sabendo de uma festa clandestina de funk, eletrônica, dos vizinhos. Seja na Alemanha, França ou Brasil todo mundo tem uma reunião, uma praia, uma balada clandestina logo ali para chamar de sua … e não, ninguém tem instinto assassino. Somos apenas humanos. Até porque quem anda com muitas certezas, já sabe, não está bem informado.

Anna Paula Más

Anna Paula Más, farmacêutica e bioquímica (USP-SP), fez carreira trabalhando quase 20 anos na área de pesquisa clínica e desenvolvimentos de novos medicamentos, focada na área ética e regulatória. Caixeira viajante (morou nos EUA, França e hoje fica entre Alemanha e Brasil). É extrovertida, social, costuma ‘unir’ turmas e pessoas de turmas diferentes. Dizem as más línguas que conversa até com o poste, adora palpitar, não tem receio de se posicionar e, por vezes, criar polêmicas. A pedidos, veio fazer parte do time Papo de Boteco com o propósito de trazer um olhar feminino, mas não por isso menos crítico, sobre assuntos diversos.

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9 Comentários

  1. Muito bom, Anna! Esse fim de semana saí de casa e vim passar 4 dias no meio do mato… não sinto falta de bares, mas sinto falta da liberdade e segurança de ir pra onde quero qdo quero….

    1. Oi Flá, pois é, no fundo é muito isso… cada um de nós estamos vivenciando necessidades diferentes nesse momento e nos privar ou nos culpar por tudo… não acho o caminho. Que nos cuidemos, mas sem entrar numa piração

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