Opinião

Vamos falar (novamente) da Suécia???

Excedente de óbitos na Suécia é negativo em 2021...

Caminhamos para o final da maldita depois de mais de 18 meses sofrendo as consequências de muita desinformação, pânico e perdas. Mesmo após todo esse período, não são poucas as perguntas sem resposta, apesar de muito levantarem a bandeira da ciência sem seguir seus preceitos básicos de pesquisa, processo e sobretudo a certeza de que nada é definitivo.

Pois bem, me atrevo novamente a colocar minha mão em vespeiro, em um tema que para mim está muito longe do consenso: a efetividade dos lockdowns.

Vejam que uso o termo efetividade, obviamente que não seria louco de pensar que esse tipo de medida restritiva não causa redução nas transmissões, certamente que sim. A pergunta é se temos aqui a melhor decisão. Pensem em óbitos por acidente de trânsito, são dezenas de milhares por ano, somente no Brasil. Se proibíssemos o tráfego de veículos, eles desapareceriam, certo? Ou se limitássemos a velocidade para 20km/h em qualquer via, observaríamos uma redução dramática nas fatalidades. Por que ninguém nunca pensou em implantar tal medida preventiva? Porque não faz nenhum sentido, a relação custo x benéficio seria horrível…

No meu entendimento, é uma situação análoga a esses lockdowns rigorosos executados em várias partes do mundo. Na minha modesta opinião, foram o segundo maior erro dessa pandemia, depois do fechamento das escolas.

E retomo agora com a situação da Suécia, coitada, nunca antes tão destratada no planeta, simplesmente porque se negou a seguir o “stastus quo”. Para quem não lembra, os suecos mantiveram-se muito próximos da normalidade durante toda pandemia, sem entrar no estado de pânico generalizado que  contagiou o mundo. Em 2020,  o país apresentou resultados intermediários na Europa, melhor que todos os mais populosos, porém pior que seus vizinhos nórdicos.

À época, os defensores da decisão “majoritária” (o lockdown), desdenhavam dos resultados medianos da Suécia, alegando que ela só devia ser comparada aos nórdicos, como se comparações entre países seguissem uma receita de bolo. Já que seus resultados eram piores que os dos vizinhos no quesito óbitos, servia à narrativa de que fora do “lockdown” não há salvação.

Passadas a segunda e terceira ondas, com a pandemia já em seu crepúsculo, retomemos a comparação da Suécia com a vizinhança, agora sob a ótica do excedente de óbitos, que é a métrica mais importante dessa pandemia, infelizmente pouco adotada ou difundida nos meios de comunicação.

Vejam graficamente ao final do texto que a Suecia já está melhor que Finlândia e Dinamarca e mantido esse ritmo, não tarda se igualará à Noruega. Notem que ao longo de 2021, seu excedente de óbitos é consistentemente negativo, ou seja, está morrendo menos gente do que o esperado por lá. É de se inferir que a covid antecipou óbitos da população mais idosa e o resultado oposto ocorre nesse momento.

Agora me digam, com resultados muito parecidos ao final desse filme, qual teria sido a melhor decisão, um lockdown neuroticamente rigoroso ou algo mais flexível e segmentado, ao estilo sueco?

Não pretendo com isso fechar questão, mesmo porque sou um ferrenho defensor que a melhor análise é sempre do filme e não da foto, mas me parece que daqui a algum tempo, a leitura detalhada do número de excedente de óbitos nos dirá que muitas das estratégias tidas como exemplares, foram na verdade equivocadas.

Deixemos com o tempo o fardo de carregar a verdade, que pode ser dolorida, mas por ora vamos evitar certezas absolutas, elas não servem para nada…

Para finalizar, uma informação relevante: o governo sueco que manteve essa postura “rebelde” e (na minha opinião) exitosa é de centro-esquerda, noticia que vai “bugar” os mais polarizados em qualquer discussão…

Victor Loyola

Victor Loyola, engenheiro eletrônico que faz carreira no mercado financeiro, e que desde 2012 alimenta seu blog com textos sobre os mais diversos assuntos, agora incluído sob a plataforma do Boteco, cuja missão é disseminar boa leitura, tanto como informação, quanto opinião.

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5 Comentários

  1. Como foi o efeito “econômico” da não adoção de medidas restritivas por parte do poder público em comparação com os outros países similares? Fez diferença?
    Me parece evidente que esse contraponto tem de ser feito. Se a intenção era ter menos “custo econômico”, a modalidade de apelo ao distanciamento social, sem uma coordenação do estado, valeu a pena?

    (uma obs: a população da Suécia voluntariamente diminuiu contatos e manteve algum distanciamento – não é que nada foi feito)?

  2. Um “lockdown” à moda sueca só poderia ter sido feito por um país no qual as pessoas não tivessem medo de morrer. Podemos concluir que os suecos tem esse tipo de coragem – e só por isso tentaram, num primeiro momento, restrições mais brandas que a média.

    Observo, porém, que “lockdown” não foi feito para salvar vidas, mas para evitar que o sistema de saúde da maioria dos países não entrasse em colapso (coisa que ninguém admitiria). Fossemos mais sinceros, e não estaríamos com a sensação de que fomos feitos de trouxa pelos governos.

    P. S.: Nossa sorte é termos uma população acostumada a se vacinar, e que não foi cobaia de laboratórios chiques (a turma do mRNA).

  3. Caros,

    Como é dito pelos “lusofonos pindoramicos tabajaricos”

    “to realize”

    Partida de futebol decisiva, repleta de assistências, belos lances, jogadas individuais, mas ainda sem gol e já se aproximando do fim. Inesperadamente vem o Jão, zagueiro pesado e truculento do time zebra, correndo para a grande área, tromba todo mundo, chuta a bola do jeito dele, olha a bola no fundo da rede e corre para o abraço.

    Aqui neste pequeno relato, para mim fica claro que a única métrica que pode ser utilizada em uma partida de futebol são os gols, os outros fundamentos são importantes e viabilizam partidas melhores mas a medida do sucesso é o gol, que pode ser feito tanto pelo craque quanto pelo Jão.

    Assim como a métrica para sabermos sobre a pandemia é o número de óbitos causados pela própria pandemia.

    Dito isto não podemos fazer analogias com diferenças relevantes entre os objetos analisados, como por exemplo:

    – óbitos por acidente de trânsito x lockdowns e mortes por covid –

    O Trânsito tem seus riscos altamente calculados e aceitos por toda a sociedade através de regulamentação própria para guardar todos os bens jurídicos colocados em perigo ou afetados por ele. Enquanto isso a pandemia é uma surpresa ingrata e é preciso, dentro da legalidade, lançar todo esforço individual, coletivo, politico e cientifico para amenizá-la.

    Não temos como considerar o excedente de óbitos como parâmetro para medir a pandemia, pois essa medida é contaminada pela própria pandemia, é como antecipar o salário e não ter o que receber no mês seguinte, a realidade foi alterada e vc precisará ajustá-la no tempo.

    Peixe é peixe, boi é boi e peixe-boi é outra coisa.

    Considere o exemplo da Suécia.

    Na Suécia, seus cidadãos de 1 a 110 anos, a média de mortes entre os anos de 2000 e 2020 foi de 91.458 pessoas, em 2020 morrem 97.855 cidadãos, ou seja, 6.397 óbitos a mais que a média. O número de mortes entre as pessoas com mais de 70 em 2020 foi maior na média em 8.403 e o número de mortes por COVID-19 em 2020 foi de 9.707 pessoas.

    *Ah a média de mortes entre os cidadãos com 70 anos ou menos foi menor em 1.686 casos.

    Considere neste caso que o uso de máscara não previne só o COVID-19, ela previne outras doenças também, será que poderíamos usar estes números para inferir isto também? Se não nos debruçarmos sobre o conjunto de dados completos, será só conversa de porta ou quem sabe um papo de boteco.

    Fonte: https://lnkd.in/dEdFzxCe

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