CinemaCultura

Não entendi nada, mas adorei!

Filme (Netflix): Estou Pensando em Acabar com Tudo. ★ ★ ★ ★ ✩

Alguns filmes enigmáticos são melhores se não forem muito explicados. Pra mim, é o caso do clássico kubrickiano 2001, ou de Melancolia, um ponto alto de Lars Von Trier, ou do delirante Cisne Negro, de Darren Aronofsky, ou ainda do labiríntico Sinédoque, NY, direção do gênio roteirista (o mesmo do filme de hoje) Charlie Kaufman. Nessas obras, os tênues fios de entendimento me bastaram diante da enormidade da beleza e das sensações que elas me provocaram. Raro é ocorrer o contrário, eu sair do cinema sem entender nada, xingando pelo tempo perdido, mas, depois de ler explicações, o filme crescer para mim. Posso citar aqui outro longa viajante de Aronofsky: Mãe!, no qual, só depois que eu soube que a “Mãe”, no caso, era metáfora para a “Terra”, é que eu exclamei um “Ata” e a obra ficou melhor para mim.

Hoje, aconteceu de novo. No fim de Estou Pensando em Terminar Tudo, pensei: “Putz, que bomba!” Depois, li uma crítica do site Omelete que trazia uma interpretação para o filme, e isso foi como abrir meus olhos para um novo universo maravilhoso e genial. Lamentei ser burro e não ter capturado as pistas e certamente vou assistir de novo para prestar mais atenção.

O enredo parece clichê, sobre moça que vai com o namorado ao campo para conhecer os pais dele. A sensação de estranhamento, porém, já está presente desde o início, em enquadramentos criativos, em flashes misteriosos; e esse clima só amplia. Tem hora que parece um thriller como Corra! Em outras, a garota lembra uma Alice em um mundo onírico com ecos de Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças – obra prima do mesmo roteirista e, talvez, meu filme favorito ever.

Até aí, estava fascinante. No entanto, do meio para o fim do longo filme (2h14m), a coisa fica alegórica demais e quase cravei duas estrelas. Kaufman foi salvo pelo Omelete; e agora o cineasta já pode se gabar das minhas quatro (e quem sabe ainda chega a cinco) estrelas! Enfim, para quem, como eu, não curte spoilers, recomendo fazer o mesmo: assistir primeiro, ler a crítica depois. Mas se quiserem uma pista, só faço uma pergunta marota: quem afinal é protagonista nesse filme?

Vladimir Batista

Vladimir Batista é escritor, professor e cinéfilo. Após 25 anos trabalhando como engenheiro em multinacionais de tecnologia, resolveu abraçar sua paixão de infância pelas palavras e por contar histórias e segue carreira na área de Letras e Literatura. Gosta de filmes e livros de gêneros variados, atendeu a vários cursos e oficinas de roteiros de cinema, de série e de técnicas de romance e tem um livro publicado pela Amazon: “O Amor na Nuvem De Magalhães”. Vladimir é casado, vegetariano e “pai” de cachorros resgatados.

Artigos relacionados

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo
Send this to a friend