O dia em que o Geraldo de 2022 quase apanhou em 2006…

Ps***Esse texto é uma obra de ficção repleta de ironias.

Aproximou-se do balcão e pediu um café. O atendente prontificou-se em atender o então governador, candidato a presidente, figura discreta e um tanto tímida, que batia ponto diariamente na padoca da rua. Sempre educado, mantinha certa distância das pessoas no momento de desjejum, respondendo com sorrisos aos que lhe abordavam com algum gracejo ou comentário.

Naquele dia em especial, recebeu alguns tapas nas costas. “Governador, seu discurso ontem a respeito do Lula foi fantástico! Aquela tirada de que ele quer o poder para voltar à cena do crime foi sensacional”.

Geraldo agradecia, com o entusiasmo de quem começa a semana em uma segunda-feira fria e chuvosa. De fato, suas críticas em tom mais elevado ao PT encheram de orgulho seus correligionários e tiravam de suas costas o peso de insosso que carregava desde que assumira a função de governador pela primeira vez.

Foi quando o atendente, estupefato, o aborda, no meio do seu derradeiro gole de café. “Seu Geraldo, parece que seu irmão está lhe procurando”. “Que irmão?”. Aquele ali, apontando o dedo para um sujeito incrivelmente parecido com ele, aparentemente um pouco mais velho.

Vindo em sua direção, Geraldo, boquiabierto com tanta semelhança a si mesmo, lhe pergunta: “Quem é você? ‘, ao que aquele homem lhe responde de imediato:” Geraldo, eu sou você em 2022″. “Como assim?” “Não tenho muito tempo para explicações, vim do futuro em caráter emergencial, apenas para lhe dar um recado”. “Qual?” “Não fale mal do Lula, isso será usado contra você, ou melhor, contra mim”. “Como assim, eu tenho que criticar o Lula, ele vai contra tudo que acredito, além disso, tem o Mensalão nas costas, e eu preciso ganhar as eleições”. “Geraldo, esqueça as eleições, você vai ser surrado, ou melhor, nós seremos surrados. E o mensalão é brincadeira de criança perto do Petrolão, escândalo muito maior comandado pelo Lula”.

Com dificuldade de processar tanta informação, o Geraldo do passado derrubou a xícara com as últimas gotas de café sobre a mesa e ainda tentando entender aquela loucura, replicou ao seu “eu” de 2022: “Perderei de muito?”, “Sim, uma coça. Mas não esquente a cabeça, você ainda será governador por bastante tempo. Agora, me escute, não fale mal do Lula”. “Mas eu já falei, ontem mesmo eu fiz um discurso historico contra ele”. “Pqp! Cheguei com um dia de atraso, exclamou o Alckmin de 2022”.”Mas por que essa urgência, não entendo! “. “É o seguinte, depois que o Lula sair da cadeia e seu julgamento for anulado pelo STF, você será candidato a vice na chapa com ele, pelo PSB. Quando você, ou melhor, eu, digo, nós… fizermos um discurso para sindicalistas exaltando o Lula, vão pegar muito no nosso pé com os vídeos dos tempos de agora. Por isso você  tem que pegar leve com o Lula, mas pelo jeito cheguei tarde demais”. “Espere um pouco, que conversa de maluco é essa? Primeiro, Lula na cadeia? Isso é maravilhoso! “. “Pois é, passou mais de um ano preso, mas o STF aliviou para ele. Está candidato contra o Jair Bolsonaro”. “Quem?”, “Bolsonaro”, “Não conheço”, “Um deputado do baixo clero, que ganhou as eleições em 2018″”,”Caramba, nunca ouvi falar!!! Vem cá, eu me candidatei em 2018?”, “Sim, você se candidatou, digo, nós. Foi  vergonhoso, tivemos 4% dos votos,”, “Só!!!!! Não é possïvel, como é que o PSDB se apequenou tanto?” “Não se preocupe com o PSDB. Você, digo, nós, não estamos mais lá, e sim no PSB, lembra? “Socialista, eu? Mas por quê eu sai do PSDB, fui um dos fundadores! !! ” “Geraldo, você foi traído pelo Dória e ficou puto”, “Doria, aquele playboizinho do LIDE, que vive pedindo patrocínio para os eventos?”, “Esse mesmo”, “Mas o que o Doria tem a ver com isso?”, “Olha, na verdade nós temos culpa nisso… Criamos o Doria como candidato a prefeito, ele nos traiu depois e o PSDB deu de ombros para gente”. “E por causa disso você está se aliando ao Lula, digo nós?,” É… “,” Socorro, em que momento eu comecei a fazer tanta cagada???? Você não tem vergonha de se juntar a um ex-presidiário, depois de tudo que eu já disse ao longo desses anos todos? “

Nesse momento, os frequentadores da padaria olhavam atônitos para aquela discussão, na antesala das” vias de fato”, entre o então governador e aquele sujeito que aparentava ser seu irmão mais velho.”Geraldo, isso é política e suas circunstâncias, você terá que aprender e se acostumar”.

Com o dedo em riste, o Geraldo de 2006, visivelmente nervoso, grita com seu “eu” do futuro: “Como assim, se acostumar a fazer aliança com corrupto, quando foi que você, digo, nós, começamos a perder o juízo!!!???”.

“Calma, seu Geraldo! O que está acontecendo”, interveio o atendente, que nunca havia presenciado seu cliente naquele estado, tentando acalmar os ânimos.

“Esse senhor, que diz ser eu em 2022, veio aqui para me dizer para eu pegar leve com o Lula, por que serei vice da chapa dele no futuro!”

” O senhor, capacho daquele vagabundo?? ! Só pode estar de sacanagem! Esse cara deve ser um espião do PT!!! Acharam um sósia seu e mandaram ele vir aqui tumultuar! “, bradou um dos clientes, simpáticos ao Geraldo de 2006.

‘Chispa daqui, seu picolé de chuchu do futuro!!! Onde já se viu dizer que nosso governador vai ser capacho de corrupto!!”.E a clientela da padoca começou a cercar o Geraldo de 2022, esperando por um passo em falso para enchê-lo de porrada.

‘ Vocês ainda vão se lembrar desse momento e se arrepender do que estão fazendo!”. “Olha o cara que se alia ao Lula falando em arrependimento!’, disse um dos clientes, mais esquentado. Seguiu-se um soco no ar, que passou de raspão pela cabeça do Alckmin de 2022 e lhe derrubou os óculos do rosto.

A turma do ‘deixa disso’ entrou em cena e apartou a confusão, solicitando ao Geraldo futurista que ele saísse imediatamente dali, recomendação acatada no ato. Deu no pé, assustado e esbaforido, sem os óculos. Nunca mais foi visto em 2006…

Enquanto isso, Geraldo do passado, ainda abalado pela situação, agradeceu o apoio das pessoas ali, pediu um café com leite e enquanto bebia, olhando para o teto, reflexivo, pensava consigo mesmo: “Capacho…! Não é possível… Não pede ser verdade… ‘.

” Calma, seu Geraldo. Isso aí foi petista querendo tumultuar. Não esquente a cabeça…’

O tempo passou, e o Geraldo reflexivo se transformou…no esbaforido…quem te viu, quem te vê.