Por que saí do Brasil
Hoje é 13 de outubro e esse é o dia em que comemoro com a minha esposa a nossa chegada em Portugal para viver. Era o ano de 2017 e estávamos dando o último passo de uma decisão que eu pessoalmente tinha tomado em junho de 2016, mas que precisei até fevereiro de 2017 por ela fazer o mesmo.
De vez em quando ainda me pego pensando onde eu estava com a cabeça quando decidi convencer minha esposa, a largar tudo e vir morar em Lisboa. Viemos só com as roupas, mais nada.
Mas basta uma rápida olhada na minha timeline do LinkedIn para lembrar.
CANSAÇO!
Estava cansado de toda a confusão em que o Brasil se tornou depois da redemocratização, quando grupos políticos se engajaram em uma batalha por poder que parece não ter fim.
A ausência de preocupação com a população e com o país é gritante. São quase 40 anos de brigas e nenhum acordo, apenas polítcos querendo mais para si o tempo todo.
Aí, 52 anos de idade e passando por situações que não faziam mais o menor sentido para mim, ao mesmo tempo uma cidadania portuguesa no bolso (a minha esposa também tem) e uma visita a esse país em 2016 na memória, fez tudo ficar claro. Aliás, quando cheguei da viagem falei para ela: “estou aqui por sua conta”.
Me sentia como se estivesse jogando o jogo errado, onde as regras eram alteradas o tempo todo e meu poder de influenciar o meu próprio resultado variava a todo momento.
Utilizando duas gírias populares:
DEU! FUI!
Mas como é Portugal?
Portugal não é o paraíso na Terra ou um lugar onde tudo seja fácil e corriqueiro, a burocracia é enorme, os processos são lentos, mas é previsível.
Assumimos o controle da situação, trabalhamos muito, mas muito mesmo, e hoje moramos em um bom apartamento no centro de Lisboa, temos conforto e a paz de andar em ruas seguras, pessoas simpáticas e, o mais importante, previsibilidade.
Aqui há uma preocupação em acertar, mesmo que hajam os pecados de sempre, como tentar salvar uma companhia aérea falida, e o ambiente é mais tranquilo.
Alguém pode argumentar que isso acontece porque o governo é de esquerda e a mídia é simpática e eu vou concordar, mas os debates que presencio de amigos portugueses são melhor fundamentados.
O Brasil parece ter perdido o senso de realidade e a capacidade de avaliar o que acontece sem emoção, olhando apenas para fatos.
Bom, não quero com esse post falar em sair do inferno e vir para o paraíso, mas que por aqui está bem melhor, isso está.
O que eu vejo do Brasil
Assisti de fora o período Bolsonaro e a oportunidade perdida por todos, ele inclusive. Ninguém quis saber se ele estava ou não fazendo um bom trabalho ou se as medidas eram ou não válidas. Ele tão pouco se conteve ou saiu do palanque. Deu no que deu.
Agora temos Lula de volta e daqui o que se percebe é uma mídia mais suave, problemas gravíssimos o tempo todo e violações de direitos impensáveis no governo do “facista”.
Minha esposa se mantém o mais afastada possível. Eu acabo tendo um pouco mais de contato, até por conta do pessoal do Papo de Boteco.
Bate uma tristeza, mas tudo o que vejo apenas contribui para que eu me sinta cada vez mais certo de que foi a melhor decisão da minha vida abandonar o barco e cuidar da própria vida.
Pode soar como uma confissão até meio covarde, mas o fato é que não tenho mais tempo.
Estamos falando de 40 anos de falta de resultados concretos. Hoje estou com 58 anos. Se tivesse que esperar 20 anos para melhorar, estaria vivo?
Que sorte que você tem em poder fazer isso…
Eu tenho apenas uma mensagem para quem sonha com essa hipótese: na dúvida, compre a passagem. Foi assim conosco.
Havia a ideia, eu já tinha decidido, mas no momento que vi ela surtando por conta de mais uma situação absurda e esbravejando que eu tinha razão e que o Brasil não dava mais, não tive dúvida, canalizei toda essa energia e compramos as passagens
Depois caiu a ficha, mas era tarde. Tínhamos oito meses para resolver tudo.
Deu certo.
P.S.: Chegamos em uma sexta-feira 13 de outubro, o gato preto da vizinha cruzou a nossa frente logo na porta.
Não tinha como dar errado.
Desembarquei aqui em Braga em maio de 22, o impulso, a motivação e a percepção atual exatamente a mesma. Infelizmente no Brasil, para mim, não dá mais.