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Um Conto de Duas Cidades

Qualquer pessoa que não estava em Marte nas últimas semanas foi bombardeado por muita informação sobre Top Gun Maverick, o último filme de Tom Cruise, que vêm batendo recordes de bilheteria e tornou-se assunto no mundo inteiro. Tiago Leifert foi Trending Topic por conta de declarações consideradas polêmicas, que geraram respostas indignadas de militantes do politicamente correto. Vem comigo descobrir o que os dois têm em comum, como exemplo de comportamento …

Hollywood:

Thomas Cruise Mapother IV nasceu em Syracuse-NY em 3 de julho de 1962.
Estreou no cinema em 1981, em Amor Sem Fim.
Nos 41 anos seguintes, emendou uma carreira de 45 filmes. (¿Es la filmografía de Tom Cruise la mejor de Hollywood?)
Seu primeiro grande sucesso de bilheteria foi Top Gun, de 1986, seguido de filmes vencedores de Oscars e elogiados pela crítica, como Vidas Sem Rumo, A Cor do Dinheiro, Rain Man, Questão de Honra, A Firma, Nascido em 4 de Julho, Entrevista com Vampiro, Magnólia, Jerry Maguire, De Olhos Bem Fechados.
Em alguns destes filmes ele foi “escada” para outros atores, que receberam Oscar por seus papéis, como Paul Newman, Dustin Hoffman e Cuba Gooding Jr.
Além de galã e garantia de boa bilheteria, ele é tido como um um excelente profissional por seus pares, tanto que ao longo destas 4 décadas ele participou de projetos sob a direção de monstros sagrados do cinema: Franco Zefirelli, Francis Ford Coppola, os irmãos Ridley e Tony Scott, Martin Scorcese, Sydney Pollack, Neil Jordan, Cameron Crowe, Paul Thomas Anderson, John Woo, Stanley Kubrick, Steven Spielberg, Brian de Palma, Michael Mann, Robert Redford, Bryan Singer, entre outros.
Ele foi indicado 2 vezes a Oscar de melhor ator, 1 vez para melhor ator coadjuvante e venceu 3 vezes o Globo de Ouro.
A partir de 1996, tornou-se produtor do reboot do seriado Missão: Impossível, e a próxima produção da franquia será em 2 partes, a serem lançados em 2023 e 2024. Ele completará quase 30 anos no papel do agente Ethan Hunt, em plena forma, caracterizada por fazer cenas de ação cada vez mais audaciosas, sem o uso de dublês, que lhe rendeu já algumas fraturas.

São Paulo:

Tiago Rodrigues de Leifert nasceu em São Paulo, em 22 de maio de 1980, filho do ex-diretor da Central Globo de Relações com o Mercado.
Iniciou a carreira como repórter esportivo, do Desafio ao Galo, programa dedicado ao futebol de várzea de São Paulo, aos 16 anos, em 1996. De 2004 a 2009 trabalhou com jornalismo esportivo em diversos veículos do Grupo Globo até se tornar editor-chefe e apresentador do Globo Esporte, onde introduziu um novo formato de apresentar programas esportivos, dispensando o uso de teleprompter.
Sua espontaneidade, bordões e quadros bem humorados, conquistaram o público e Tiago ganhou vários prêmios da crítica.
O sucesso chamou a atenção da direção da emissora, que o convidou em 2012 a apresentar o programa The Voice Brasil. Em 2015, transferiu-se definitivamente para a área de entretenimento, onde foi durante 5 edições o apresentador do Big Brother Brasil. Também substituiu interinamente Fausto Silva que havia acabado de anunciar sua saída do Domingão, causando uma saia justa nos planos da emissora, justamente por ter performado tão bem nesta situação imprevista durante algumas semanas.

Hollywood:

2005. O ano em que Tom Cruise correu o sério risco de deixar de ser um super astro do cinema em função de seu comportamento amalucado durante uma entrevista para Oprah Winfrey e a repercussão de suas declarações a respeito da cientologia.
Em seguida, o divórcio dele de sua terceira esposa, Katie Holmes, com cláusulas exóticas de comportamento exigido para ela em contrato, somados com boatos sobre suas relações com a filha e esposas anteriores, Nicole Kidman e Mimie Rogers, levaram a imprensa a questionar um suposto fanatismo do ator com sua religião.

São Paulo:

2021. Tiago Leifert anuncia sua saída da Rede Globo, onde era o apresentador do programa de maior lucratividade e faturamento da emissora. Pouco tempo depois, divulga em suas redes sociais o motivo por trás de sua abrupta decisão : um raro câncer nos olhos de sua filha Lua, de 1 ano de idade.

Hollywood:

2022. 36 anos depois, Tom Cruise lança a continuação do filme que o catapultou como super-astro do cinema: Top Gun Maverick. Como produtor, ele bancou a sua visão para o que queria neste filme, indo contra o que Hollywood considera como “correto” atualmente:

  • As filmagens foram realizadas em 2018, em esquema de gravações super rigoroso, com uso de caças reais e rígidas exigências de comportamento para o elenco, buscando entregar uma sequência tecnicamente impecável, principalmente nas cenas de vôo. Tom Cruise insistiu que todos os atores voassem em um dos caças F/A-18 Super Hornets, para que pudessem entender como é ser um piloto operando sob a pressão de imensas forças gravitacionais. Foi usado o mínimo de CGI na pós-produção.
  • Tom Cruise exigiu que seu amigo Val Kilmer, antagonista no filme original, tivesse uma participação na nova produção. Como o ator recupera-se de um câncer na garganta, com graves sequelas, o roteiro foi especialmente desenvolvido para se adequar às condições limitantes dele.
  • É o filme com o intervalo mais demorado entre o anúncio e a estreia da história do cinema: 3 anos entre o primeiro trailer e o lançamento em maio de 2022. Tom Cruise recusou-se a lança-lo durante a pandemia ou diretamente em streaming. Aguardou a janela de oportunidade em que pudesse ser exibido em grande rede de exibição, já sem as restrições da pandemia, e fez questão de gravar um vídeo, exibido antes de cada sessão, onde agradece a todos os espectadores que foram assistir no modo que ele considera o ideal: a tela grande da sala de cinema.
  • É uma rara produção atual de grande orçamento que não é nem filme de super-herói de quadrinhos, nem se rende à agenda e discursos lacradores ou politicamente corretos no roteiro e escolha de elenco.

O resultado é que o filme foi bem recebido não apenas pelos fãs de Tom Cruise e espectadores comuns de filmes de ação, como também pelos adultos que o vêem como “um filme para nós” e que de outra forma não sairiam de casa para ir ao cinema. O número recordista mais significativo de Top Gun Maverick é ser o filme com menor queda de arrecadação de bilheteria no segundo fim de semana de exibição, em relação ao primeiro, de estréia. Esse é um KPI de otima receptividade e obteve aprovação quase perfeita no Rotten Tomatoes, com 99% junto ao público e de de 97% com a crítica especializada.

São Paulo:

2022. Alguns meses após sair da Globo, Tiago Leifert meio que liberta seu lado sincerão e se posiciona publicamente contra os mandamentos do atual patrulhamento politicamente correto e da militância identitária.
Tudo começou quando respondeu pelas redes sociais declarações do ator Ícaro Silva, pejorativas contra o BBB. Ele se posicionou publicamente defendendo seu legado de 5 anos no programa e criticou veementemente o ator, atraindo reações de militantes e ativistas, visto que Ícaro é negro. Inclusive, Tiago diz que varias pessoas o apoiaram, em off, mas afirmaram que “não poderiam” se posicionar publicamente, por conta da questão racial.
Em seguida, numa entrevista para um podcast, afirma aquilo que é uma um segredo de polichinelo: que o jornalismo da Globo tem um claro viés esquerdista.
Na mesma entrevista, cita atitudes como a de Paola Carosella e diz o óbvio, que é algo básico na teoria da comunicação, que qualquer “influencer” apoiador de um candidato, que critica os eleitores do candidato rival, os chamando de “burros e escrotos”, funciona como um tiro no pé, justamente levando votos para quem rivaliza.
Estas verdades inconvenientes, como previsível, despertaram a ira da “polícia de costumes”, que resgatou algumas passagens de seus 5 anos de BBB, em que ele teria demonstrado “comportamento inconveniente” (entenda-se como inconveniente qualquer coisa que não seja de agenda esquerdista) em relação a alguns concorrentes do reality show. Destaco um discurso por ocasião da eliminação de uma participante com rejeição de 92,62%, em que ele citou o fato dela ter levantado algumas bandeiras durante a curta passagem pelo reality.:

Vocês não são mais vocês mesmos. Agora vocês representam algo. ‘Ah, eu represento a comunidade X’. ‘Fulano representa a comunidade Y’. ‘Eu represento sei lá o quê’. Deixa eu falar a real. Ninguém aqui fora deu procuração para vocês representarem ninguém aí. Sem essa de representatividade, que isso não leva a nada

Thiago Leifert, BBB 18

Hollywood + São Paulo

É aqui que os contos das duas cidades se entrecruzam. Tiago Leifert, na entrevista citada, diz :

 “Eu acho que tem muita gente calada, eu não acho que as pesquisas estejam no caminho certo … Não sei nem se esse é o segundo turno, não sei se eles não desistem antes ou se acontece alguma coisa” … Há milhões de brasileiros quietos. Não estão nas redes sociais, estão quietinhos. Nós vamos saber o que eles vão fazer em outubro … Há um viés claríssimo. A imprensa é de esquerda. Na faculdade 100% era de esquerda, o resto ou mentia por pressão social. E trabalhando nos veículos que eu trabalhei, geralmente Globo, todo mundo era de esquerda … Se vai manipular ou não eu não sei, porque eu acredito na inteligência das pessoas que estão assistindo

Tiago Leifert, em entrevista ao podcast Cara a Tapa

Já Tom Cruise teve que enfrentar, por ocasião das “cabines de imprensa”, exibições de Top Gun Maverick para jornalistas e críticos de cinema, a divulgação de inúmeras matérias onde o filme era criticado não pelas suas características cinematográficas, mas sim por não atender a atual agenda Woke. Foi chamado de “heterossexual demais”, “excesso de testosterona”, “não inclusivo”, “sem diversidade”, até mesmo alusões ao formato fálico dos caças de guerra eram abordadas, subestimando todas as leis da física aerodinâmica (?!).
Após a estréia, com recorde de bilheteria, os jornalistas tiveram que se adaptar e soltaram pérolas como as do jornal The Daily Beast: “Top Gun Maverick is actually the gayest movie of the year”…

O ponto é que, tanto Tom Cruise, quanto Tiago Leifert, se posicionaram contra os dogmas que tem polarizado o mundo atualmente. Assim, atrairam a ira dos extremistas que chamam de “democracia” apenas aqueles que “pensam igual a eles”. Mas, também, mostraram que estes extremistas são apenas uma minoria barulhenta, e que a grande maioria, silenciosa, compartilha os mesmos valores dos dois, e a aceitação recorde do filme é um exemplo quantitativo do tamanho desta maioria.

Ambos deram um chega-pra-lá no mimimi que monopoliza a maior parte do que é veiculado e mostraram com seus exemplos o que é arregaçar as mangas e trabalhar para atingir seus propósitos , sem ser vitimistas.

Cena Extra:

Agradeço a meu amigo e colega de Papo de Boteco Emanuel Tavares a inspiração para este texto. Ele compartilhou comigo um artigo que saiu em um site português (Porque Top Gun Maverick é um filme tão inspirador) que me deu a idéia de escrever algo usando um título que há tempos eu guardava para um momento adequado : Um Conto de Duas Cidades. Reproduzo abaixo os 7 porquês (clique no link do titulo do artigo para ler a matéria completa).

1. PODEMOS TER SUCESSO MESMO CONTRA AS PROBABILIDADES

2. OS AMIGOS DEVEM APOIAR-SE UNS AOS OUTROS, ESPECIALMENTE QUANDO AS COISAS SE TORNAM DIFÍCEIS

3. DEVEMOS TENTAR CONSERTAR AS RELAÇÕES ROMPIDAS

4. O VERDADEIRO PODER DE UM MENTOR

5. A NECESSIDADE DE NOS EMPURRARMOS RUMO A NOVOS OBJETIVOS

6. A IDADE É APENAS UM NÚMERO

7. A JÓIA ESCONDIDA QUE É A NOSSA MEMÓRIA

Gui

Sou o Gui. Fiz arquitetura, pós em marketing, MBA em comércio eletrônico. Desde criança , quando adorava ler Julio Verne, eu gosto de explorar, descobrir novidades. Aqui no Papodeboteco vou conversar contigo sobre descobrir como podemos explorar nosso tempo livre.

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4 Comentários

  1. Adorei Gui faço parte dessa massa silenciosa e receosa de falar alto ,e receber bordoadas do politicamente correto… amo cinema de telona

    Continua nos brindando com esses textos

  2. Texto e idéia primorosos.

    A analogia das duas cidades e suas histórias reais traduzem o que acredito ser o sentimento de grande parte da humanidade, cansada de tanto mimimi.

    Existe sim uma massa de silenciosos, na qual me incluo, que acha tudo isso muito chato.

    Parabéns por dar voz a esse sentimento de quase repulsa à essa “entourage” tóxica que insiste em manipular as mentes.

  3. Faço parte da comunidade silenciosa, porém favorável a qualquer movimento que promova a minha reflexão sobre o pensamento do outro. Em geral, o barulho acontece porque vem do minorizado e ele incomoda sim!

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