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Votar nulo é pecado?

Qualquer voto simboliza a democracia

Há uma tendência de muitas pessoas de apenas respeitaram quem vota igual a elas. Quem o faz é dos meus, o resto é inimigo.

Só que não existe intrinsicamente um lado certo. Isso não é uma questão moral como os mandamentos de uma igreja. Há subjetividade nestas escolhas.

Para isso é que existem eleições. Caso contrário, elas poderiam ser abolidas e um panteão de sábios escolheria em nosso nome.

Você quer votar em qualquer outro candidato que não seja a dupla Lula e Bolsonaro no primeiro turno?  Ótimo, é o que vou fazer, ainda que seja simbólico.

Você quer votar nulo no segundo turno (se houver) porque não engole nenhum dos 2 candidatos? Ok, é assim que será para mim.

Você quer votar em Bolsonaro por que não quer Lula nem pintado? Cool, é algo aceitável e compreensível.

Você quer votar no Lula por que não suporta Bolsonaro? Sem problemas, você está no seu pleno direito!

Você quer votar de forma consistente com a sua ideologia? Ok, você pode.

E sabe por quê? Porque o voto é livre, ainda que pareça que muitos não querem aceitar isto.

O problema é que, para muitos, se você não escolhe o lado que X apoia, você é considerado por X um zero, um inútil, um imbecil, um desqualificado. Enfim, um inimigo.

O que me causa espanto é quem, inclusive dentre os altamente letrados, justificam sua escolha e fazem campanha na sua parca bolha; demonizando 100% o lado oposto, ao mesmo tempo vangloriando ou passando pano para tudo que o seu lado faz ou diz.

Conheço internautas, francamente não esquerdistas, que têm postado elogios ao Lula, impensáveis há tempos, mesmo que o ex-presidiário diga as coisas mais esdrúxulas e sem noção da galáxia.

Conheço outros, costumeiramente razoáveis, que distorcem muitas de suas crenças, para justificar por que o Bolsonaro está tentando tomar a Petrobras de assalto pela sua sanha eleitoreira, ou dizer que a corrupção não existe mais, mesmo que existam boas evidências, por exemplo, o pastor Milton Ribeiro, ex-ministro de Educação, incorreu em crimes.

Os filhos de ambos mergulharam na prosperidade. O sucesso é, de fato, hereditário.

Para mim é claro que o Lula é pior para a economia do que o mito, se olharmos os 14 anos da era PT.

Quem quer se aprofundar, por favor, leia a série excepcional de 6 artigos (até agora) de Marcelo Guterman. Aqui está o primeiro.

Os anos de “glória” com o dínamo inicial do PIB veio do surf das commodities e da herança do Real, mas foi afogado pela Dilma no que culminou em uma recessão épica com direito até a déficits gêmeos e 2 anos seguidos da maior queda de PIB da história brasileira. E, veja, que o “honesto” Mantega iniciou o desmonte sistemático da Economia brasileira ainda no governo Lula.

Enquanto Lula é praticamente um psicopata que tem seu charme, justamente pela sua própria condição; o Bolsonaro é intragável como ser humano, além de não saber o que está fazendo na presidência, uma vez que seu QI abaixo de 0 não lhe traz esta possibilidade. E faria tudo para dar um golpe, o que é quase impossível justamente pela sua burrice e falta de tato mastodôntica, que o faz viver chutando militares que se tornaram malquistos nos seus cargos.

E se a escolha for relevante para o processo?

Suponha que eu deteste os 2 candidatos, mas reconheça que um deles seria menos pior do que o outro. Se a decisão de quem iria governar o país fosse significativamente influenciada pela minha decisão pessoal, não seria razoável eu me omitir de tomá-la, mas uma eleição normal com quase 150 milhões de eleitores não é o caso.

Experiência metal do levantamento coletivo de peso

Vou tentar explicar porque considero que votar em alguém, votar nulo, votar em branco, ou justificar a ausência por estar em trânsito ou, simplesmente, se abster de votar, são todas opções éticas de como agir em uma eleição .

Para tentar tornar isto claro, vou recorrer a uma experiência mental (gosto delas!), cuja decisão que defendo é estatisticamente mais radical do que a opção de anular meu voto e mais polêmica.

Digamos que 100 voluntários digitalmente , virtualmente e à distância estejam segurando um grande peso que não pode cair porque machucaria pessoas embaixo e, cada uma delas, recebe a instrução de continuar operando o peso por cerca de meia hora.

Por segurança, é necessário que apenas 80 sustentem aquele peso, caso contrário ela cai e machuca as pessoas embaixo.

A chance de 20 pessoas ou mais que se voluntariam terem alguma situação e largar o peso ao mesmo tempo, é extremamente improvável, para não dizer vitualmente impossível. O sistema ainda tem a salvaguarda da avisar na tela quando o número de pessoas levantando o peso se reduz a 85, para as pessoas saberem que há um risco se ela sair dali.

Digamos que houve um imprevisto e a minha esposa chegará atrasada, não conseguindo preparar o jantar da minha filha na hora, uma vez que eu me voluntariei para a tarefa do peso justamente porque achava, como usual, que ela chegaria na hora.

Assim, seria ótimo poder preparar o jantar dela na hora usual. Obviamente posso me ocupar mais meia hora e depois fazer o jantar dela. Afinal, não há maiores problemas, mesmo que ela esteja com fome.

Se houvesse um perigo real ou concreto que o preparo do jantar colocaria pessoas em riscos, óbvio que eu optaria por não atender minha filha naquele momento.

Não é o caso, assim eu posso largar o peso e fazer o jantar.

Repare que não há sincronia da minha decisão com a decisão das outras pessoas. Afinal, as outras pessoas que continuam segurando o peso não têm acesso a esta informação.

Ou seja, o peso irá cair pelo meu ato? Na prática não, porque minha ação não é concatenada com as outras pessoas.

Então, votar nulo é aético?

Voltando para e eleição: meu voto nulo não é especial. Nenhum dos milhões de votos nulos são especiais.

Só que a decisão de cada voto não é conectada à decisão que leva aos outros votos. E isso vale para cada um dos votos individuais.

Coletivamente os milhões de votos nulos fazem diferença (que correspondem à soma de todos os votos nulos individuais). Esta enxurrada de nulos são motivadas por questões sociológicas, políticas, psicológicas e econômicas coletivas, mas mesmo que o total seja a soma das partes, paradoxalmente nenhum voto isolado é importante. Só se tomando pelo todo.

Se considerarmos um recipiente fechado dividido em 2 partes por um anteparo, um delas com um gás e a outra vazia. Se abrirmos o compartimento interno temos um movimento browniano das partículas em que as moléculas do gás (votos), ainda que algumas moléculas façam movimentos divergentes, terminam se distribuindo de forma homogênea por todo o recipiente.

Em suma, uma soma de eventos (votos) não se altera estatisticamente em decorrência de decisões individuais que mesclam aleatoriedade com uma tendência global. Por exemplo, se eu caio doente, deixo de votar. Tudo bem! O modelo global não se altera significativamente por ocorrências individuais, mesmo sendo a soma delas. As variações quase se anulam.

Isto é mais ou menos o que acontece proporcionalmente com o desvio padrão em somas muito grandes a partir de amostras pequenas. Ele se torna pequeno em relação à soma. A individualidade é engolida e se torna irrelevante.

Se houvesse algum tipo de sincronia mágica em que meu voto nulo gerasse mudanças em cascata, seria diferente, mas isso requer algum tipo de pensamento mágico, que eu não compartilho.

O que pode fazer o presidente?

Minha torcida é que qualquer um que seja eleito, possa ser contido por outras forças.

Óbvio que o regime presidencial (Poder Executivo) no Brasil tem seus pesos e contrapesos (Poder Legislativo e Judiciário), não importando, para esta discusão, os defeitos deles.

Eu acho que tanto o Lula quanto Bolsonaro iriam, se dependesse apenas deles, tentar impor um regime autoritário no Brasil, como fez o Putin (pela direita) na Rússia ou Chávez (pela esquerda) na Venezuela. Só que nestes 2 exemplos rolou muita habilidade e articulação.

O Bolsonaro adoraria ter o poder de neutralizar o STF, como foi feito no regime de 1964 (no ano de 1969, para ser mais exato), garantindo a maioria da casa com elementos de “inteira confiança”, para, na prática, passar de 3 poderes para 2 poderes, com o judiciário subordinado ao executivo.

A Dilma no final no governo nomeou o incendiário Eduardo Aragão para a Justiça, ele chegou a tentar cortar o Leandro Daiello da PF (2011-2017), mas já era tarde demais. Dilma também chegou a nomear o Lula para a Casa Civil para blindá-lo da prisão, nomeação que foi anulada pelo STF.

O Lula adoraria ter adotado o controle da mídia nos 14 anos de PT, mas não teve êxito. O Bolsonaro irá adorar se a concessão da Globo fosse cassada este ano, mas eu não acredito que isso será viável politicamente.

O Lula potencialmente é um golpista mais perigoso porque é mais esperto que o mito e a esquerda tem tradição de tentar virar a mesa na América Latina, mas acho difícil, na prática. Ele está bem idoso e sem saco. O Alkmin é doido para poder assumir… Há muitas resistências em aceitar que isso aqui vire uma Venezuela, mas se virar a Argentina já estamos bem ferrados.

O Bolsonaro teria a vontade de ser o líder de uma quartelada militar, mas sua burrice o paralisa e os militares nunca comprariam esta ideia, ainda mais sob a liderança de um ex-militar que foi inocentado em 1988 no Superior Tribunal Militar por 9 a 4, tendo sido condenado antes em um conselho militar por 3 a 0 por  “conduta irregular e praticado atos que afetam a honra pessoal, o pundonor militar e o decoro da classe”.

Mediocridade é o nosso destino?

O Brasil enfrenta a maldição milenar de estar na América Latina, com toda a sua carga pesada, e tem tudo, mas tudo mesmo, para continuar “honrando” essa sina.

Parece carma…

Paulo Buchsbaum

Fui geofísico da Petrobras, depois fiz mestrado em Tecnologia na PUC-RJ, fui professor universitário da PUC e UFF, hoje sou consultor de negócios e já escrevi 3 livros: "Frases Geniais", "Do Bestial ao Genial" e um livro de administração: "Negócios S/A". Tenho o lance de exatas, mas me interesso e leio sobre quase tudo e tenho paixão por escrever, atirando em muitas direções.

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2 Comentários

  1. NÃO ACREDITO EM VOTO NO MENOS RUIM. ACREDITO EM VOTO NO MELHOR, NO MAIS CONFIÁVEL E NO MAIS PREPARADO. PREFIRO EXERCITAR MEU DIREITO DE NÃO DIGITAR NEM 11 NEM 22, DO QUE PASSAR QUATRO ANOS COM A CONSCIÊNCIA ME COBRANDO.

  2. Eu fico no meio do caminho. Voto no menos ruim se é minimamente defensável para a minha consciência. Não há caras perfeitos na política. No caso de 2022, os 2 candidatos estavam na caixinha do péssimo…

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