Opinião

A quem esse empoderamento está servindo

Quero dizer a todos que tem criticado meu posicionamento sobre Anitta, dizendo que sou recalcada, invejosa e que não respeito a cultura dos bailes funk da favela: podem criticar à vontade, mas a verdade é que essa cultura leva às consequências mais nefastas justamente para as meninas mais vulneráveis do país, que muitos dizem defender.

O índice de gravidez de adolescentes na Brasilândia, periferia de São Paulo, é 15 vezes maior do que em Pinheiros, bairro nobre da capital. Pesquisas confirmam que 10% das adolescentes engravidaram em bailes funk e não sabem ao menos identificar o pai de seus filhos, visto que elas tem relação com múltiplos parceiros.

No Brasil, um em cada sete bebês é filho de mãe adolescente. A grande maioria delas terá que criar o filho sozinha, pois apenas 20% continuam o relacionamento com o pai de seus filhos. Elas acabam abandonando a escola, seus sonhos e a possibilidade de uma vida melhor. E assim se perpetua o ciclo da pobreza, com meninas sem estudo, sem perspectiva e crianças crescendo num ambiente desestabilizado, com grande propensão a entrar no mundo do crime.

Em um lar onde as crianças são bem cuidadas, com pais presentes lhes educando e ensinando bons valores, a chance de uma gravidez na adolescência é pequena (embora não inexistente). Mas são as meninas de famílias desestruturadas (que acabam se criando na rua) as mais vulneráveis e propensas a se inspirar e imitar suas artistas preferidas.

Portanto, acredito que além de fazer sucesso e ganhar rios de dinheiro, musas do pop atual fariam um grande bem ao país se preocupando também em exercer uma boa influência a seus fãs, principalmente às meninas adolescentes que estão ainda com a cabeça em formação.

Enquanto artistas e influenciadores continuam estimulando e aplaudindo essa cultura da hipersexualização, chamando-a frequentemente de empoderamento feminino, é justamente as camadas mais vulneráveis da população brasileira, principalmente as mulheres, que eles estão machucando mais.

Até quando?

Tatiana Poroger

Tatiana Poroger

Paulistana, graduada em administração de empresas pela Pace University NY, trabalhou no mercado financeiro, em gestão de educação e na área comercial, até se descobrir no marketing digital, onde atua até hoje. É também ativista política, colaboradora do Ranking dos Políticos, além de curiosa e palpiteira.

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5 Comentários

  1. Sabe Tatiana, você está sendo bastante corajosa, pois qualquer opinião contrária a esta onda de deturpação da sexualidade, disfarçada de empoderamento é imediatamente rechaçada de forma violenta. Estou com você, mesmo sabendo que serei rechaçado junto, pois “já deu”.

  2. Excelente Tatiana! Além de q essas pessoas são a inspiração dessas meninas! Existe ainda o status de ser mãe no meio dessas crianças ! Muito triste tudo isso!

  3. Quero começar meu comentario dizendo que não concordo com a Anitta, tb acho que eh um péssimo exemplo pra meninas. Entretanto, não acredito que seja papel dela zelar pela moral. Ela reflete a realidade onde ela cresceu, a favela. A gravidez da adolescência nas comunidades de baixa renda não começou com as musicas da Anita. Isso ja vem de muito tempo.
    Provavelmente, muitas das mulheres que trabalham em casas de familia do bairro de pinheiros sao mais solteiras que precisam trabalhar pra sustentar seus filhos que ficam sozinhos e sao educados nas ruas e frequentam os bailes funk. A Anita como artista ta levando a manifestação do funk pro mundo, e isso eh um péssimo exemplo. Talvez o único mérito dela eh usar os mecanismos de mídia social da atualidade pra alcançar visibilidade.
    Mas se a sociedade se ve “envergonhada” pela dança da favela, o maior responsável eh a própria sociedade. As mães que trabalham nas casas de pinheiros não estão em casa pra cuidar dos filhos. Os pais estão trabalhando como porteiros dos prédios dos bairros mais nobres, como motoristas de ônibus, frentistas. O Compasso moral de uma sociedade não sao os artistas. Sao os formadores de opinião, as igrejas, organizações comunitárias, quem formam o caráter de uma comunidade. Se os artistas fazem sucesso com a hipersexualizacao eh porque alguém esta consumindo esse lixo.

  4. vejo seu posicionamento, não só como a Anitta, mas como os bailes funk em geral.
    moro na zona sul, periferia de SP. A policia/ os governantes, não querem acabar com esses bailes. A lei do silencio só funciona nos bairros elitizados.
    o baile começa a meia noite e vai até as 8h do dia seguinte. Em uma unica noite liguei 4 vezes para a policia. O que aconteceu? nada!!!!!

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