Covid-19 e vacinas: Dados ingleses errados ou mortais?

Por que os óbitos pós-pandemia aumentaram?
O efeito pós-pandemia da Covid-19 sobre o mundo tem sido bastante impactante e duradouro. Ele se deu em muitas vertentes diferentes: saúde, política, econômica e cultural.
No caso, o foco deste artigo é a apenas na área da saúde.
O primeiro ponto é que inegavelmente existe um excesso de mortalidade praticamente no mundo todo, quando comparado aos níveis de 2019 para trás.
Os dados do Our World in Data não mentem. Mesmo quando se pega um período, como o segundo semestre de 2023, quando a pandemia basicamente tinha chegado ao fim no mundo, não há como negar isso.

Que fatores podem estar causando este fenômeno?
Bem, o primeiro ponto a observar é a flagrante falta de cuidados com a saúde de boa parte da população, durante o questionável período de isolamento social.
Isso levou levou a um substancial número de pessoas com condições não tratadas, que foram se agravando.
No caso do câncer, é bem fácil verificar isso.
Há muitos estudos sinalizando a detecção posterior de câncer em estágios mais avançados do que o usual, devido a esta negligência (veja, por exemplo, aqui, aqui e também aqui).
Outro fator importante é que no longo período da pandemia, em um grande numero de pessoas, a saúde psicológica se deteriorou, além de minar bons hábitos de alimentação e a prática adequada de exercícios . Foi também levantado que houve muitas pessoas que ganharam peso durante a pandemia. Tudo isso é claramente deletério para a saúde, levando a mais doenças e mortalidade.
Finalmente, e, talvez, o mais sério, é o efeito da Covid longa.
Ela atinge um grande número de pessoas, como também aponta esse estudo sistemático, além de causar uma enorme miríade de sintomas e condições.
Além disso, há alguns estudos relacionando o excesso de mortalidade recente aos impactos da Covid-19 longa, como, por exemplo, aqui e aqui.
Conspirações: as vacinas matam!
Neste contexto, é óbvio que começam surgir incontáveis teorias da conspiração, associando o excesso de mortes às vacinas da Covid-19.
Um desses artigos tem uma roupagem toda séria e foi publicado, revisto por pares, na Forensic Science International em junho de 2024: Systematic REVIEW of Autopsy findings in deaths after covid-19 vaccination
O artigo coloca que 3 em cada 4 mortes no período até cerca de 30 dias após a vacina da Covid-19, estariam relacionadas à vacinação.
Os peritos, referidos como independentes, que fizeram a verificação dos resultados das autópsias são também autores do artigo.
Bem, há muitas fraquezas óbvias no artigo, além dos autores terem escolhido um periódico não médico para submetê-lo, mas o ponto mais aberrante é que o autor principal (Peter A. McCullough) e outros autores, são respectivamente dono e associados da The Wellness Company, empresa que também comercializa um pacote de cerca de mil dólares para recuperação de reações adversas causada pela vacina da Covid-19.
Quando citei esse fato, fui acusado de ad hominem, que é um rótulo absolutamente impróprio dessa falácia, já que este é um texto que espinafra a vacina, mas que é escrita pelos mesmos autores que vendem um antídoto, o que representa um claro conflito de interesses; assim como um “bom” vendedor de carros usados defende ardorosamente seu produto diante de clientes em potencial, o que não é algo muito confiável.
Só que a coisa vai além.
Dentre vários escritos do gênero, separo o artigo da Karina Michelin que é modelo, apresentadora, jornalista, e youtuber. Ela escreveu um texto conspiracionista (Dados da Inglaterra: O número de mortes na população vacinada contra a Covid supera a não vacinada entre 2021 e 2023 os vacinados representaram 94% das mortes, enquanto os não vacinados representaram apenas 6%) em março de 2024 sobre as vacinas da Codiv-19, alegando ter provas que a vacina da Covid-19 está matando as pessoas vacinadas em uma proporção bem maior do que entre as não vacinadas.
Ela pega os dados de mortes do sistema oficial de saúde inglês (ONS – Office for National Statistics) que apresenta informações de óbitos mensais por status vacinal até maio de 2023, separando os óbitos pela causa (Covid-19 ou não Covid-19).
No caso, Karina usa essa base, mas se utiliza de dados de vacinação externos, o que não faria muito sentido porque a própria base de dados contém dados de população para cada status vacinal. Será que ela mesma achava esses dados errados? Sim, porque a utilização direta desses dados , se eles são de boa qualidade, daria uma análise muito mais precisa.
Os estranhos dados de óbitos ingleses
Dentro deste contexto, baixei os dados em planilha e fiz uma análise criteriosa dos mesmos, limitado ao período entre janeiro e maio de 2023. Não vou entrar em detalhes, porque isso seria muito maçante (deixo algum detalhamento para os apêndices), mas os dados não fazem o menor sentido, quando confrontado com as estatísticas oficiais de vacinação na Inglaterra.
Como minhas afirmações aqui relativas a um item da base de saúde do Reino Unido são muito ousadas, já que o Reino Unido tem muita reputação neste campo, eu me lembro da frase:
Carl Sagan.
Afirmações extraordinárias exigem evidências extraordinárias.
Por isso, conferi tudo 100 vezes (hipérbole) para ter certeza de não estar afirmando leviandades.
Fiz um pormenorizado texto em inglês com ilustrações e links, e mandei para o e-mail oficial referente à fonte destes dados, em que eles prometiam uma resposta dentro de 10 dias. Nunca vi a tal resposta…
Dentro da planilha inglesa, existe uma aba chamada Table 2. Ela contém valores para o população total da Inglaterra, em conformidade com os dados do censo de 2021.
No final, fiz o mesmo que a Karina fez, mas por motivos diferentes. Não usei os dados de pessoas-ano relativas à cada universo vacinal, pois estes dados não têm a menor lógica, como é mostrado abaixo, de forma constrangedoramente simples, no Apêndice Técnico 1.
Quem quiser outras evidências matadoras e independentes da fragilidade da base inglesa, examine o Apêndice Técnico 2.
Assim, usei os dados desta aba e a combinei com uma estatística oficial de status vacinal de março de 2023, com ajustes pela pirâmide populacional interativa:

O resultado da minha análise está abaixo:

O percentual calculado das mortes totais que ocorrem, dentre os que tomaram pelo menos 1 dose da vacina, está na quarta coluna.
Os dados de status vacinal estão na quinta coluna (% dos que tomaram pelo menos 1 dose da vacina perante o total da população) e são deduzidos a partir de fontes externas em período similar.
O última coluna estima o aumento % de chance de óbito por ser vacinado. Para entender no detalhe o racional da fórmula desta coluna [%MV/(1-%MV)/(%V (1 – %V)))] – 1, ver Apêndice Técnico 3 abaixo.
Observem o completo absurdo que esses números mostram: na tabela de óbitos por Covid-19, enquanto mais que triplica a chance de morrer por Covid-19 na faixa entre 40 e 49 anos no grupo dos vacinados, diminui 20% a chance de morrer se o indivíduo vacinado tiver entre 70 e 79 anos. Ou seja, uma Covid-19 psicodélica que mata muito mais os jovens vacinados, mas protege os idosos vacinados, especialmente entre 70 e 79 anos.
Já na tabela de óbitos por outras causas que não seja a Covid-19, enquanto mais que dobra a chance de morrer entre os vacinados na faixa de18 a 39 anos, aumenta apenas 39% a chance de morrer para pessoas vacinadas entre 50 e 59 anos. Nunca ser jovem foi tão ruim…
Conclusão
Sei que é algo pretensioso de minha parte assumir que estes dados oficiais britânicos estão errados, mas tenho uma certeza bem consolidada disso, a despeito dos dados de saúde ingleses, em geral, serem usados por um número enorme de artigos científicos.
De novo, apresento neste texto muitas evidências avassaladoras, especialmente nos apêndices, inclusive uma breve análise dos dados oficiais norte-americanos (CDC, também usado por incontáveis artigos científicos) dos óbitos de Covid-19 entre vacinados e não vacinados. Doença estranha essa cuja vacina mata os ingleses, mas protege os norte-americanos.
Se os dados britânicos estiverem certos, as conclusões são simplesmente caóticas e contraditórias. Estaríamos no meio de uma avalanche de mortes entre os vacinados de Covid-19 pelas causas mais diversas, que sequer batem com os percentuais de mortes em excesso apresentadas no início deste artigo. Enfim, impossível!
Em suma, acredito fortemente que os motivos das mortes excedentes não estão ligados às vacinas da Covid-19, como os conspiracionistas pregam ou amariam acreditar, ainda que as vacinas até sejam responsáveis por algumas mortes, mas nada que faça diferença perceptível percentualmente.
De fato, não existe nenhuma base fisiológica para acreditar em efeitos das vacinas em um prazo mais longo. Em períodos pequenos de tempo, após se tomar a vacina, existem, de fato, algumas intercorrências previsíveis e graves como Guillain-Barré, choque anafilático (como em qualquer vacina), miocardites e pericardites (nas vacinas de RNA), tromboses (vacinas baseadas em adenovírus), todas muito raras, mas, infelizmente, às vezes fatais.
Isso é totalmente diferente da Covid-19 longa, que vitima uma parte dos pacientes de Covid-19, já que, infelizmente, é uma doença que bagunça o corpo de parte das vítimas, mesmo quando o vírus vai já se foi.
Apêndice Técnico 1
Primeiro: o que é o conceito de pessoas-ano na área de humanas?
Pessoas-ano mede a quantidade de pessoas, dentro de um dado período de tempo, em que as pessoas computadas satisfaçam uma dada condição (por exemplo, status vacinal), convertida para anos.
Suponha que existam 240 pessoas em uma vila no início de maio de 2023 e que ninguém nasça ou faleça neste período. Qual é o número de pessoas-ano em maio de 2023? 240? Não, seriam apenas 20 pessoas-ano, porque está se examinando apenas 1 mês, portanto se divide o número de pessoas por 12, que é o equivalente a multiplicar por 1/12.
Só para clarear ainda mais, O conceito de pessoas-ano guarda certa similaridade com o conceito de kWh (kilowatt-hora). Qual a energia consumida por um aparelho de 1.200 kW de potência em 5 minutos? Como 5 minutos é 1/12 de hora, o consumo energético será de 1.200/12 = 100 kWh.
Vamos supor que no final de abril de 2023 existiam 120 pessoas vacinadas. Agora, considere que no meio do mês de maio de 2023 se vacinaram mais 24 pessoas. Qual seria o número de pessoas-ano vacinadas em maio de 2023? Se ninguém tivesse sido vacinado em maio, teríamos 120/12 = 10 pessoas-ano vacinadas mas como 24 pessoas ficaram vacinadas por 0.5 meses ou 1/24 ano, o que irá totalizar 10 + 24/24 = 11 pessoas-vacinadas em maio de 2023.
Agora vou exemplificar o erro estrondoso que os britânicos fizeram nestes dados e que ninguém, que eu tivesse acesso, por meio de pesquisa na Internet, denunciou:
Levando-se em conta que o número de pessoas-ano já está abatido dos óbitos pro-rata pela proporção do mês conforme o dia , conclui-se que o número de pessoas-ano que deve sair de abril de 2023 para maio de 2023 da faixa de 0-17 anos para entrar na faixa de 18-39 anos, para as contas fecharem, seria por volta de 12.158 pessoas-ano.
Como se chega a esse valor? Os menos curiosos podem pular o trecho em itálico com a explicação mais detalhada deste valor de 12.158.
Em relação às pessoas-ano no status de não vacinado, na passagem de abril de 2023 para maio de 2023, pode-se definir as seguintes variáveis:
A= Entra em 18-39 anos vindo de 0-17 anos.
B = Entra em 40-49 anos vindo de 18-39 anos: A-B = 7.216 a mais em 18-39 anos.
C = Entra em 50-59 anos vindo de 40-49 anos: B-C = 2.197 a mais em 40-49 anos.
D = Entra em 60-69 anos vindo de 50-49 anos: C-D = 1.364 a mais em 50-59 anos.
E = Entra em 70-79 anos vindo de 60-69 anos: D-E = 833 a mais em 60-69 anos.
F = Entra em 80-89 anos vindo de 70-79 anos: E-F = 375 a mais em 70-79 anos.
G = Entra em 90+ anos vindo de 80-89 anos: F-G =141 amais em 80-89 anos.
G = 32 porque em G a saída são óbitos já descontado de pessoas-ano
A partir daí, resolve-se a equação de baixo para cima e chega-se a A= 12.158 pessoas-ano, que é o número de pessoas-ano que deixam a faixa de 0 a 17 anos para a faixa de 18 a 39 anos em apenas 1 mês.
Se X pessoas-ano em todas transições entre faixas de idade se vacinassem pela primeira vez no período entre abril e maio, esse número X teria que ser somado a esse valor de 12.158, dando 12.158 + X (ou seja, a transferências de pessoas-ano não vacinadas foi 12.158 + X, mas o número aparece como 12.158 porque X se vacinou), que depois seria abatido das pessoas-ano da faixa de 0 a 17 anos, que se vacinaram pela 1a. vez (Y) (Aqui é similar: o número de pessoas-ano que mudou de faixa etária fica 12.158 – Y porque Y das pessoas-ano foram vacinadas).
Fica claro que X < Y, já que o número de pessoas-ano vacinadas pela primeira vez, na transição de 17 para 18 anos, é claramente menor do que a soma de todas as pessoas-ano vacinadas, pela primeira vez, na transição das outras faixas etárias. Assim, o número final bruto de pessoas-ano não vacinadas na transição de 17 para 18 anos fica maior que 12.158.
A = 12.158 + X – Y > 12.158
Para ver se isso é possível, como eu já sei que o erro é enorme, vou fazer a estimativa por ordem de grandeza:
Os números dos que estão na planilhas de mortes por status vacinal são apenas da Inglaterra. Obtive, então, a população aproximada da Inglaterra mais País de Gales na faixa de 15 a 17 anos: 2.039.000. Reduzi pela taxa de inclusão do censo de 2021 (91,7%): 1.869.763. Para chegar apenas a Inglaterra deve-se pegar 94,85% (já que o País de Gales representa cerca de 5,15% da população total da Inglaterra e País de Gales) e depois dividi pelos 3 anos, que é a largura da faixa de 15 a 17 anos: 591.157. Para converter em pessoas-ano dentro do período de 1 mês é preciso dividir por 12: 49.363 pessoas-ano. Só que a chance de uma pessoa fazer aniversário justamente no período de 1 mês é 1/12, o que reduz para 4.105 pessoas-ano. Como cerca de 30% das pessoas na faixa de 0 a 17 anos não foram vacinadas, o número final é de 1.232 pessoas-ano, número que é muito abaixo dos 12.158 pessoas-ano, encontrado acima.
Apêndice Técnico 2
Além da tabela 2, alinhada ao censo de 2021, existe na planilha inglesa também a tabela 5, que dá outra visão de óbitos por status vacinal e se alinha com a estimativa real da população, sendo 9,1% maior que a população recenseada.
Quando repeti a mesma análise, apresentada acima na figura 3, cheguei a valores de aumento da chance de óbito entre vacinados nas diferentes faixas etárias, que apresentam uma grande diferença para a análise mostrada na figura 3, como mostrada em rosa na figura abaixo.

Dentro dessas duas bases, pode-se separar um exemplo rocambolesco do contraste entre as 2 análises: o % de aumento de risco de morte de Covid-19 entre os vacinados, entre 40 e 49 anos, salta de 46% para 218%, ou seja troca um aumento do risco perto de 50% , por um risco mais que triplicado, ao se passar para a população total, mesmo que ela seja apenas 9,1% maior do que o censo de 2021.
Internamente, os dados com população total são igualmente inconsistentes, como os da figura 3: Os aumentos de risco de morte por Covid-19 para vacinados variam loucamente. quase quadruplicam para os indivíduos entre 18 e 39 anos, mas geram uma redução de 37% para os indivíduos entre 70 e 79 anos.
Se ainda persiste alguma dúvida, pegaremos a diferença de óbitos na versão que usa a estimativa da população e na versão que usa o censo de 2021, uma base um pouco menor. A base diferencial é bem estranha, no universo com mais relevância estatística das mortes por não Covid-19.

O único dado externo, que eu tive que supor aqui, é o nível de vacinação da diferença (população total – Censo 2021).
Se o nível de vacinação for homogêneo (versão padrão), temos que a população não recenseada e vacinada tem 66% de redução de chance de óbito, que é totalmente o oposto dos outros extratos (total e recenseado). Isso pode ser observado no final da 3a. linha.
Isso se deve ao fato que, como houve uma sensível redução de óbitos em não vacinados ao passar do total para o censo 2021, isso redundou em um aumento de risco marcante na população do censo. Só que isso é feito às custas do extrato da diferença, o que leva a um nível estratosférico de redução de risco neste extrato.
Se tentamos assumir um perfil diferente de vacinação no grupo diferencial, isso altera também o nível de vacinação que deve ser suposto para a população do censo de 2021, o que foi levando em conta nesta analise.
No final, só se adquire um certo equilíbrio, zerando a redução de risco, se supormos uma redução do nível de vacinação na população fora do censo 2021 de 71% para 45%, uma redução do nível de vacinação de mais de 1/3 o que não faz nenhum sentido.
Adendo
Só para dar mais uma informação para contrapor a informação derivada das bases britânicas, em que se “conclui” que a vacina aumente a mortalidade por Covid-19, especialmente nas faixas mais jovens , aparte da imensa quantidade de pesquisas na área, levantei os dados da CDC (órgão oficial norte- americano de saúde) sobre o tema, que vão de abril de 2021 a agosto de 2022.
Bem, faz todo o sentido: as vacinas podem até perder parte do efeito com o tempo, mas isto é uma conversa totalmente diferente do que supor que a vacina aumente a letalidade por Covid-19.
Repeti o mesmo levantamento para todas as faixas etárias, sempre dando um desempenho muito bom para as vacinas, em todos os meses. desmentindo a visão dos dados britânicos que a vacina só protegeria levemente os mais idosos, enquanto aumentaria (e muito) a chance de óbito nos mais jovens.
Abaixo a tabela justamente na faixa etária que na versão inglesa está matando mais os vacinados de Covid-19 em relação aos não vacinados.

Dados que comparem mortes não Covid-19 com status vacinal, que tanto alimentam diversas teorias da conspiração, não estão disponíveis fora da Inglaterra, pelo que eu pesquisei.
Apêndice Técnico 3
Para entender melhor este cálculo, vamos inicialmente usar um exemplo numérico:
Suponha que existam 10.000 pessoas de uma certa faixa etária , 6.000 delas vacinadas, o que dá 60% de vacinados (que seria o dado na coluna 5). Dessas, falecem 1.000, sendo 720 vacinadas, o que dá 72% de óbitos entre os vacinados sobre os óbitos totais (que seria o dado na coluna 4).
Isso quer dizer que a chance de óbito é de 720/6.000 entre os vacinados, o que é 12%. Por outro lado, temos 280 óbitos para 4.000 dentre os não vacinados, o que é 7%. Com isso, o aumento de chance de óbito no grupo dos vacinados em relação ao grupo dos não vacinados é de 12%/7%-1 ~ 71%.
Ou seja, a chance de óbito aumenta 71% de um grupo (vacinados) sobre outro (não vacinados), mas não que a chance de óbito seja de 71%. A fórmula da planilha(na figura 3 acima) é mais complicada, mas dá o mesmo valor. Se não tivéssemos abatido de 1, a métrica calculada seria exatamente o risco relativo, conceito estatístico que é usado em milhões de papers.
Se chamarmos de P a população total da Inglaterra em uma dada faixa etária e M o número total de mortes (no mesmo contexto), temos que 720 é 72% M, e 6.000 é 60% P. O valor de 12% é obtido fazendo-se 720/6.000, ou seja,
12 % = 72%M / 60%P
Da mesma forma, 280 é (1-72%)M e 4.0000 é (1-60%)P.
Assim, o valor de 7% é obtido fazendo-se
7% = (1-72% )M / ((1-60%)P)
Finalmente, 12%/7%-1 vira72% M / 60%P / ((1-72%)M / ((1-60%)P))) – 1. Cortando-se o M e o P, fica:
12%/7% -1 = 72% / 60 / ((1-72%) / (1-60%))) – 1
Como 72% é a coluna 4 e 60% é a coluna 5, obtemos acima a fórmula usada, que não depende de nenhum número absoluto.
A fórmula que está na figura 3 acima é
Aumento % de risco de óbito vacinados / não vacinados =
%MV/ (1-%MV)/(%V/ (1-%V) ) – 1
em que %MV é a percentagem de mortes entre vacinados na população- alvo e %V é a percentagem de vacinados na população-alvo.
Paulo,
Agradeço pelo seu texto e análise.
Abs
William
Valeu, William, deu bastante trabalho….