Opinião

Um Exmo para chamar de meu…

Desde que eu me lembro por gente, eu já me interessava por política.

Me lembro claramente do dia que o Tancredo Neves faleceu. Era lá pelos idos de 1985 e eu tinha 9 anos. Fiquei tão comovida, tão tocada, achando que ele tinha morrido em condições suspeitas, que eu… chorei. Não entendia lá grandes coisas de eleição, de política, dos antecessores, sucessores, nada, só sei que aquilo mexeu comigo. Achava que seria o fim dos tempos… e que eu não ia com a cara do Sarney, não ia.

Também me lembro da época Sarney. Que época desgraçada. Minha mãe fazia compras daquelas gigantes de mês. Época da superinflação. Dos fiscais do Sarney. Da remarcação do valor dos produtos, sei lá quantas vezes por dia.

Remarcação de produtos a todo vapor na época da superinflação nos mercados.

Lembro-me que íamos de madrugada num açougue nos confins do mundo para fazer compras de sei lá quantos quilos de carnes, 20 frangos, leite etc. Na casa da minha mãe tinha, ainda tem, uma despensa que eu adorava. Parecia um minimercado com não sei quantas latas de molho de tomate, não sei quantos pacotes de espaguete, farinha de trigo, açúcar etc. e eu brincava de compras 😊. Achava o máximo… coisas de criança que vê diversão em tudo.

Lá pelos idos de seu Fernando Collor, ah, aquele ar de renovação, esperança. Aham… 🙄

Que nada. E dá-lhe cara pintada, eu já na FCF-USP (Faculdade de Ciências Farmacêuticas-USP) fui com minhas amigas e nossos aventais das aulas de laboratório todos manchados de reagentes de química-qualitativa participar do movimento de Impeachment. Mocinha de 17 anos, mas já engajada. Que orgulho … 😏

Foto de jovens participantes do processo do Impeachment do Collor

Entra Itamar, que na minha modesta opinião, fez um dos melhores governos até hoje. Bem mineirinho messsmo, sabe. Quietinho, sem grandes alardes (fora um pequeno show com uma certa companheira no camarote). Entendedores entenderão.

Em seguida, FHC. 1º mandato eu até fiquei bem satisfeita. Tá bem, sejamos claros, eu era super fã dele. Mas, infelizmente, seu 2º mandato deteriorou. O discurso arrefeceu. O samba acabou. Foi deixar “sangrar” o PT no Mensalão… aham, acho que não deu certo. 😣

Lula nunca gostei por histórias sabidas da época de conhecidos dos tempos de sindicato e antes de ser deputado. Sempre foi um bandido-mor. Que ideologia o quê!!! Sempre amou o Poder. Bandido-mor “gilete”, conhece o tipo? Corta para os dois lados. Não entendeu? Pergunte para o DOPS…

Dilma nem vale muito comentar… E é nóis de novo na Paulista para outro Impeachment.

A Blogueira que vos fala com duas amigas numa das várias manifestações pelo Impeachment da PresidentA.

Aí veio nosso atual Presidente. Para variar, tantas promessas que não vemos ser realizadas. Estamos ficando craques em lidar com estelionato eleitoral, não é mesmo?! Nem ligamos mais. Me sinto como aquele “Boneco Biruta de Ar de Posto”, sabe?!

Aí fiquei pensando com meus botões… o presidente é eleito a cada quatro anos, fala qualquer “mercadoria” na propaganda política e não tem nenhum compromisso seu programa de governo. Ou ainda, chega no Palácio e sempre tem justificativas que não consegue aprovar pois o Congresso, Senado, o “Establishment” não deixa. E não que deixe de ser lá verdade também. Aí se fizer muita “mercadoria”… pronto, já sabe, pode ser “impeachmado”.

“Ah Anna, e o veto?”. Pois é, ele pode até “vetar” ou não trechos. Ah, mas já tem desculpa. “Não vetei isso, talkey, pois os deputados incluiriam de volta”. “Ah, eu até tentei, mas o STF resolveu que xyz”.

E, vejam bem, o STF virou nos últimos anos um órgão inatingível. Ele denuncia, julga, condena, interpreta a Constituição ao bel prazer e não há para quem recorrer. Já diria Rui Barbosa:

Se tem alguém que tem a última palavra hoje, é o STF.

Se há limites de gastos definidos, o STF vai lá e julga que não procede… dá-lhe mais gastos.

Se há leilões e regras definidas para facilitá-los, como no caso da Petrobrás, lá vai o STF… e exige mais condições restritivas.

Se há chefes de facção presos, condenados, prisão preventiva etc., não há o menor pudor em soltar. Até quando são padrinhos de casamento, ou se o cliente é do escritório da esposa e/ou com base num pedido feito e assinado por uma ex-estagiária do seu escritório.

Se há trechos de lei que não cobrem certos crimes, para que esperar o Congresso ou Senado revisar?!… lá vai o STF e julga que tal trecho xyz também serve para cobrir novos crimes.

Se há questões de controle da pandemia no âmbito federal versus estadual… lá vai o STF decidir.

Se há questões ligadas agora à obrigatoriedade e programa de vacinação… lá vai o STF julgar.

Se há impeachment… lá vai o STF definir o rito final e rasgar a constituição.

Se há discussão de prisão após a 2ª instancia… lá vai o congresso e seus presidentes empurrar com a barriga e a batata quente sobra para definições do STF.

Se há eleições, vejam só… é um ministro do STF que está lá como presidente supervisionando todo o processo de apuração.

Isso sem falar nas famosas decisões judiciais no “baixo clero”.

É um tal de juiz decidir que o governo tem que pagar, devido aos apagões, mais duas parcelas do auxílio emergencial para população do Amapá (auxílios esses que passaram por todo um processo no Executivo e Legislativo para serem aprovados).

É um tal de juiz mandar afastar diretoria da Aneel e do NOS. Simplesmente pois assim julgou ser o que compete à justiça. Argumentos para tal? Vozes da cabeça dos Exmos. Para que Executivo e Legislativo, não é mesmo?!

Sem julgar méritos das decisões, e nem vou falar como me sinto com essa ditadura e toda essa judialização. Mas a atual conjuntura acaba até sendo mais uma desculpa para o presidente também dizer: “pois é, companheiros, pois é, patriotas, eu tentei.”

Aí fiquei pensando… não quero mais votar para Presidente da República. Para quê, raios? Tudo pode ser judicializado. Até um juiz do baixo clero pode mudar decisões do Executivo e Legislativo!!! 🤨

E os membros desse poder tão onipotente, onipresente, onisciente são eleitos como? Não são eleitos pelo voto direto, são indicados pelo presidente, não necessariamente seguindo o que prometeu em campanha, não necessariamente com o devido conhecimento e saber jurídico necessário, com mandato até os 75 (SETENTA E CINCO) ANOS DE IDADE… e a sabatina do Senado e do Congresso está cada vez mais parecendo o chá na casa da tia Joana. “Com açúcar ou adoçante, Exmo?”

Como seria essa eleição?

Calma, vivemos no mundo da tecnologia. Nada de campanha política, nada de urnas eletrônicas normais que são tão questionadas. Nada de promessas. Seria através de um “Tinder”, sabe, aquele aplicativo de relacionamento? Poderia se chamar “MeuExmo”, ou algo assim.

E precisaria dar “match” com os princípios de cada eleitor. “Ah, Anna, mas aí eles fariam uma pesquisa e incluiriam no perfil o que estivesse mais em moda para o perfil da população”. Aí que vem o pulo do gato: o perfil seria preenchido com resultados de julgamentos feitos pelos candidatos, suas publicações, seus livros, como também, com informações devidamente confirmadas com a diretoria das instituições sobre o suposto currículo e suposta experiência alegada.

Nada de “Selo Rarvard de Qualidade”.

Quê discussão sobre time de futebol o quê aos fins de semana!!! Vamos discutir os votos do Exmo de cada um.

Posso até já ouvir os Papos pelos Botecos do Brasil.

– “Ôôôô João, você viu ontem o Meu Exmo? Ah, fiquei bem contente com o seu voto, foi golaço. Já o voto do Seu Exmo…?!”

-“Ah, verdade, Jorge, puxa, que decepção!!! Tô achando que o “MeuExmo” tava com “bug”, pois não é possível aquele voto. Bola fora, cara”.

Não que isso vá lá garantir que ficaremos felizes e contentes com os julgamentos dos nossos Exmos. Afinal de contas, já não ficamos sempre satisfeitos com nossos times de futebol, não é mesmo?! Mas, ao menos, não passaremos pela frustração de acreditar que o Presidente que elegemos fará algo ou terá a responsabilidade final. Pois sempre haverá um Exmo Ministro do STF para mudar.

Ou, pior, ver ainda situações como esta, recente, quando o Presidente indica para o próximo Exmo Ministro do STF alguém TOTALMENTE desalinhado com as promessas de campanha. Vide esse maravilhoso exemplar chamado Kássio Nunes, que já entrou alinhado em campo com o vulgo beiçola e aquele Lewandowisky, que não é jogador do Bayern de Munique…

E, sonhando mais ainda, quem sabe com essa ligação mais forte, de praticamente uma vida, de time de futebol mesmo… de alguma maneira poderia acender a chama de “pedidos de impeachment” de ministros do STF, pois haveria um certo “pertencimento” dos eleitores a cada nome que estará lá. “Sabe comé”, como acontece com técnico de time de futebol.

É, amiguinhos, “a gente não sabemos eleger presidente”.

Mas, como, “data venia”, quem hoje manda nessa Republiqueta das Bananas é o STF e o poder judiciário, então quero subir um nível. “Quero também não saber eleger um Ministro do STF”.

Cumpra-se.

Anna Paula Más

Anna Paula Más, farmacêutica e bioquímica (USP-SP), fez carreira trabalhando quase 20 anos na área de pesquisa clínica e desenvolvimentos de novos medicamentos, focada na área ética e regulatória. Caixeira viajante (morou nos EUA, França e hoje fica entre Alemanha e Brasil). É extrovertida, social, costuma ‘unir’ turmas e pessoas de turmas diferentes. Dizem as más línguas que conversa até com o poste, adora palpitar, não tem receio de se posicionar e, por vezes, criar polêmicas. A pedidos, veio fazer parte do time Papo de Boteco com o propósito de trazer um olhar feminino, mas não por isso menos crítico, sobre assuntos diversos.

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Um Comentário

  1. Sempre precisa, você aponta nossa real necessidade: também precisamos participar diretamente das escolhas para o STF. Chega de não termos acesso ao que nos governa!

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