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Trans competindo em esportes femininos é justo?

A nadadora trans Lia Thomas, 23 anos, enquanto competia como homem na temporada 2018-2019 da natação universitária norte-americana (na época ela se chamava William Thomas) pela Universidade da Pensilvânia, obteve os seguintes resultados no circuito universitário:

500m livre – 4:18.72. Posição 65º
1.000m livre – 8:55.75. Posição 18º
1.650m livre – 14:54.76. Posição 32º

Há 2 anos ela está fazendo transição hormonal de homem para mulher.

Ela mudou seu nome para Lia, e agora, além de várias vitórias na natação universitária, estabeleceu 2 recordes universitários nos 200m e 500m livres.

Como isto, a Universidade da Pensilvânia subiu de forma meteórica no ranking universitário.

Inclusão, neste caso, colide com a ciência

O argumento para aceitar trans em modalidades femininas é a inclusão. Enquanto isto possa parecer um argumento tentador, neste caso colide com diversos estudos científicos que apontam vantagens injustas das trans sobre as colegas mulheres.

Ninguém em sã consciência pode achar provável que alguém mediano muito rapidamente se transforme em um(a) brilhante nadador(a), apenas pelo seu esforço genuíno, sem que a transformação do sexo faça parte desta equação. Não é crível.

Sabemos que a vantagem muscular e em termos de resistência de ser um homem para os esportes é notória. Há raros esportes em que uma mulher rivaliza com o homem.

A diferença de desempenho entre homens e mulheres se torna significativa na puberdade e geralmente chega a 10 a 50%, dependendo do esporte. A diferença de desempenho é mais pronunciada em atividades esportivas que dependem de massa muscular e força explosiva, principalmente na parte superior do corpo.

Estudos longitudinais (estudos mais onerosos, realizados em um período de tempo mais prolongado) que examinam os efeitos da supressão de testosterona na massa e força muscular em mulheres trans mostram consistentemente mudanças muito modestas, em que  a perda de massa corporal magra, área muscular e força normalmente atinge aproximadamente 5% após 12 meses de tratamento.

Observe que os recordes da Lia se deram nos trajetos mais curtos (200 e 500m), o que faz sentido porque homem é bem melhor em trajetos curtos, de explosão.

Assim, a vantagem muscular desfrutada por mulheres trans é apenas minimamente reduzida quando a testosterona é suprimida.

Números não podem ser ignorados, como vários artigos mostram, inclusive um bem recente: (Transgender Women in the Female Category of Sport: Perspectives on Testosterone Suppression and Performance Advantage – 2021)

Como a exigência para a aceitação na modalidade feminina é a redução de testosterona, isto é obtido a partir de espironolactona (bloqueador de testosterona) e estrogênio orais.

Para exemplificar, no caso em questão  o melhor tempo de Thomas nos 200 metros livres acabou sendo sua marca de 1min41s93. O tempo atual foi apenas 3,76% mais lento do que seu melhor tempo antes de sua transição. Isto ainda é 7% e 8% mais rápido do que a separação típica entre homens e mulheres.

Nos 500 metros livres, a diferença de Thomas em relação ao seu recorde pessoal com o programa masculino da Penn foi de apenas 6%, em oposição à diferença típica de 10% a 11% geralmente vista entre homens e mulheres.

Quais as motivações da Lia Thomas?

Como ela ainda tem os órgãos genitais masculinos, assim o processo é 100% reversível e ela pode voltar a ser homem quando ela quiser. 

Quanto à orientação sexual dela, ninguém sabe, até onde pude constatar. Ela é ciosa de sua vida particular.

O fato é que ela não teve muita transformação em sua aparência e facilmente pode ser tomada como homem.

Lia Thomas no pódio da NCAA de natação — Foto: Brett Davis-USA TODAY Sports
Diferente de muitas trans, ela poderia facilmente passar por um homem.

As regras para trans não têm respaldo da ciência

A regra adotada para permitir a participação de Lia Thomas no NCAA nem está mais nem em vigor.

O COI que havia adotado a utilização da redução hormonal por 12 meses consecutivos a nível de 10nmol/litro em novembro de 2015, em 2021 emitiu novas diretrizes dando responsabilidade direta para as federações internacionais de cada esporte tratarem de forma específica.

A própria USA Swimming publicou uma regulamentação nova em janeiro prevendo a redução hormonal para níveis mais baixos (5 nmol/litro) e por mais tempo (36 meses), e mesmo assim a decisão é contestada por grande parte dos pesquisadores e cientistas.

O caso Lia Thomas apenas prova que somente a redução hormonal não será suficiente para resolver os problemas da participação trans no esporte.

A verdade deve ser dita, mas sem exageros midiáticos

Na repercussão do caso, houve muita boataria.

Independente da minha opinião sobre a participação de mulheres trans em esportes nas modalidades femininas, em que há diferença marcante entre homens e mulheres, penso que a verdade está acima de tudo, então vale restaurá-la:

a) A foto do pódio mostrando a Lia alijada das colegas de pódio é verdadeira, mas fora de contexto. Não é que as competidoras estejam felizes com a situação, mas não é tanto assim.

Lia Thomas é alvo de protesto no pódio da natação da NCAA — Foto: Justin Casterline/Getty Images
Essa é a tal foto: é visível como Lia Thomas é mais alta (1,85m) do que as colegas.

b) Eventuais recordes norte-americanos (fora do circuito universitário) não são homologáveis porque Lia não atende aos critérios.

c) Lia Thomas não vai, praticamente com certeza, para a Seleção Americana no Mundial e Olimpíadas de Paris 2024. Na prática, não dá tempo dela se adequar aos novos critérios.

d) Por mais que se possa desconfiar das intenções dela ao começar a minar sua testosterona em um espaço curto de tempo, é preciso admitir que ela seguiu as regras vigentes, ainda que estas estejam equivocadas.

Muitas pessoas têm agendas ocultas

Muitas das pessoas que defendem grupos LGBTs de forma irrestrita, não querem nem ouvir qualquer argumento, científico ou não, a respeito da questão da participação de trans nas modalidades femininas.

Qualquer tentativa de debater racionalmente este tópico, sem ideias enlatadas, é rechaçada in natura e tida como discriminação.

Eu não discrimino ninguém por orientação sexual e de gênero. Só acho que não vivemos em um mundo de fadas e elfos. No planeta real as pessoas, muitas vezes, se aproveitam de brechas legais para se darem bem.

Quando o que superficialmente parece ser colide com a verdade que vem à tona de forma inesperada, é que as máscaras caem, como no caso do Arthur do Val, mas é óbvio que, neste caso, não dá para afirmar nada.

Alemanha Oriental: um crime reiterado por medalhas

A Alemanha Oriental, por muitos anos, seguiu o caminho contrário.

Assim como a redução de testosterona é o critério objetivo que define, em termos de esporte, que um homem passe a ser considerado mulher, o aumento da testosterona não tornava a mulher um homem.

O fato é que cerca de 10.000 atletas se doparam na Alemanha Oriental, principalmente nos anos 70 e 80, período em que um país pequeno (16 milhões de habitantes) conquistou inúmeras medalhas.

A Alemanha Oriental acabou na segunda colocação nos Jogos Olímpicos de Montreal em 1976, atrás apenas da União Soviética. O mesmo se deu em Moscou (1980) e em Seul (1988).

Os danos físicos e psicológicos (depressão, suicídios…) foram enormes. A injeção de hormônios masculinos acabou envenenando o coração, os rins e o fígado.

Para as mulheres, as consequências foram duras: insuficiências nos ovários resultaram em crianças com deficiências. Os danos chegaram até aos seus descendentes.

Ciência a serviço da ideologia é ruim.

Quando alguém questiona o que uma pessoa,  alegadamente toma como válido na ciência usando um conjunto de cientistas de estimação, se isto fere a sua ideologia pessoal, esse indivíduo passa a ser:

a) Negacionista: se, por exemplo, alguém contesta a opinião de vários cientistas que lockdowns estritos foram eficazes, mesmo que existam vários cientistas que defendem o oposto, como John Ioannidis da Stanford (h-index de 171)

b) Preconceituoso: se alguém contesta a desigualdade entre trans e mulheres nas modalidades femininas de esporte ou afirma que existem diferenças biológicas entre homens e mulheres em vários campos, além da parte física.

c) Capitalista selvagem ou algum rótulo desta natureza: se alguém ousa contrapor a visão de alguns cientistas que transgênicos  são o instrumento do mal encarnado.

Estes “rótulos” são dados, em geral, por parte da turma de esquerda. Vale dizer que parte da galera da direita também rotula pessoas que contestam certos aspectos da ciência, mas usando diferentes nomes e outros cientistas de estimação.

Paulo Buchsbaum

Fui geofísico da Petrobras, depois fiz mestrado em Tecnologia na PUC-RJ, fui professor universitário da PUC e UFF, hoje sou consultor de negócios e já escrevi 3 livros: "Frases Geniais", "Do Bestial ao Genial" e um livro de administração: "Negócios S/A". Tenho o lance de exatas, mas me interesso e leio sobre quase tudo e tenho paixão por escrever, atirando em muitas direções.

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