Opinião

Querem pautar até a nossa empatia…

Fico vendo gente no mínimo desinformada achando um absurdo essa comoção pela morte do Paulo Gustavo.

“Aiiinn morreram outros 410 mil por causa desse vírus!!!””.

Pera, deixa eu desenhar:

Por que tantos estão comovidos com a sua morte?

>Pois ele simboliza muitas coisas nessa pandemia…

>Pois ele era novo, 42 anos. Ou seja, sim, não só idosos morrem.

>Pois ele era pai de gêmeos pequenos, gay, e não usava disso uma bandeira. Digo, não era lacrador, chato, e mal humorado. Era leve, engraçado, tirava sarro de si próprio. Procurou trazer sorrisos em tantos lugares nessa pandemia. Nada a ver com a descrição do militante neste texto do meu colega de PDB Márcio Herve.

>Pois ele se preocupava genuinamente e ajudava a muitas pessoas: durante a pandemia ele enviou e-mail às pessoas que trabalharam com eles nos filmes para perguntar se passavam dificuldades, se precisavam de alguma ajuda e ajudou com salários de mil reais para 120 funcionários por três meses, mesmo sem trabalharem.

>Pois ele doou 500 mil reais para ajudar associação de hospitais com materiais como oxigênio, EPI, testes PCR e outros.

>Pois doou 1.5 milhão para caridade, para construção de centro para tratar pacientes com câncer.

>Pois fazia a gente rir. Pois ligava para os amigos durante a pandemia para fazê-los simplesmente … rir, ficarem mais leves, esquecer um pouco as mazelas da pandemia.

>Pois tinha pavor da pandemia, pois era asmático. Não, não ficava indo em festas clandestinas.

>Pois apesar de tudo o que fez pelos outros, todo o dinheiro e condições que tinha, não pode nem se vacinar e nem se curar.

>Pois trazia como arma de resistência o humor, a risada, o amor, o olhar ao próximo.

>>>>>Por isso … só por isso, ele é um símbolo.

Pouca coisa né?

E óbvio que se com todas as condições que ele tinha, não conseguiu se salvar, fica aqui essa reflexão: até que ponto a falta de campanhas de conscientização, instrução, estrutura de saúde e atraso na vacinação do Brasil não jogou muitas pessoas para um caminho sem volta?

Pois é, só digo isso.

Descanse em paz, querido Paulo Gustavo. Que você leve essas suas “armas de resistência” para um local melhor. E que essas pessoas que acham que podem julgar e pautar a empatia do próximo, tudo o que podemos sentir é… pena. Pois é, nada além disso.

Anna Paula Más

Anna Paula Más, farmacêutica e bioquímica (USP-SP), fez carreira trabalhando quase 20 anos na área de pesquisa clínica e desenvolvimentos de novos medicamentos, focada na área ética e regulatória. Caixeira viajante (morou nos EUA, França e hoje fica entre Alemanha e Brasil). É extrovertida, social, costuma ‘unir’ turmas e pessoas de turmas diferentes. Dizem as más línguas que conversa até com o poste, adora palpitar, não tem receio de se posicionar e, por vezes, criar polêmicas. A pedidos, veio fazer parte do time Papo de Boteco com o propósito de trazer um olhar feminino, mas não por isso menos crítico, sobre assuntos diversos.

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