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Eu tenho lado, sim

Eu me alinho aos valores do Iluminismo, da Revolução Gloriosa, das liberdades de crença, expressão, de pensamento, do direito de ir e vir e de propriedade.

Por consequência, defendo o Regime Democrático, a Separação dos Poderes, o Estado laico, a Imprensa Livre, os valores humanistas, e o Due Process of Law. E, como democrata, me encontro obrigada a conviver com quem pensa diferente de mim e acaba por atuar, muitas vezes, como fantoche de quem dinamita vários desses princípios e valores. Não é simples, mas é do jogo.

Dito isso, não tolero terrorismo.

E não tolero quem tolera tal manifestação da bestialidade humana.

Aqui, passo um risco no chão.

É um imperativo moral inegociável.

Eu tenho lado, sim.

No meu perfil eu sempre estarei solidária aos povos e países que sofrerem a violência cometida por esses grupos, entre os quais se encontram essas bestas feras do H@m@s.

Minha página não é aberta e quem está entre os que tolera e/ou relativiza as ações, os crimes praticados por grupos assim, não é bem-vindo (a). Excluí alguns do X e do Instagram e farei o mesmo por aqui. Sei do valor profilático do “free speech”, da liberdade de expressão que expondo os discursos de ódio nos permite identificá-los. Ocorre que há uma razão para minha página ser fechada. Não quero aproximação. Quando Karl Popper alertou que “você não pode ter uma discussão racional com um homem que prefere atirar em você para não ser convencido por você”, restou exposta a inutilidade da tentativa de dialogar com  serial killers, fanáticos, extremistas. Há limites. Isso inclui o limite da tolerância a certos discursos.

Eis o alerta de Sir Karl R. Popper, em A Sociedade Aberta e seus inimigos:

“Deveríamos, portanto, reivindicar, em nome da tolerância, o direito de não tolerar o intolerante. Deveríamos reivindicar que qualquer movimento que pregue a intolerância se coloca fora da lei, e deveríamos considerar criminosa a incitação à intolerância e à perseguição, da mesma maneira que deveríamos considerar criminosa a incitação ao assassinato, ou ao sequestro, ou à retomada do comércio de escravos”.

Muitos inocentes, israelenses e palestinos, sofrerão em razão dos atos praticados por essas bestas, é delas, e de quem se vale delas, a responsabilidade.

Dispostas aos atos mais torpes e cruéis, têm como método o registro dessas imagens do terror que espalham, do mal em estado bruto que praticam. As usam como propaganda para promover o terror, causando mais violência, a psicológica, e arregimentar mais bestas. Não as ajudarei nisso.

Também gostaria de registrar toda a solidariedade aos meus amigos e amigas aqui no Facebook com laços profundos com Israel. Sei que muitos aqui e em outras redes divulgaram os registros desse massacre hediondo em desespero diante da desinformação que avança com facilidade entre os fracos em caráter e intelecto, em tempos em que as mais evidentes mostras de vilania, maldade e perversidade são relativizadas.

Minhas preces, solidariedade, e apoio estão com as vítimas dessa agressão injustificável, o povo israelense, e com todos que sofrerão os efeitos colaterais dela, como os que estão na faixa de Gaza, e cujas vidas não valem nada para tais bestas extremistas que sequer possuem apreço às próprias vidas miseráveis.

Gosto de geopolítica e ainda estou lendo Prisioneiros da Geografia e o capítulo dedicado ao Oriente Médio é o mais extenso e detalhado. Em alguns momentos, cogitei fazer um resumo. Continuo lendo vários artigos de analistas internacionais no X que aumentaram exponencialmente, após os assassinatos, sequestros, estupros, enfim, todos os horrores cometidos contra centenas de civis, após a invasão do território israelense. Analisar é verbo e ofício na minha vida. Muitas vezes faço textos e deixo no bloco de notas apenas para organizar meu pensamento.

Dito tudo isso não tenho conseguido escrever nada que não seja relacionado a condenação de tamanha barbaridade e expressa solidariedade às vítimas.

Depois de ler uma postagem que relembrava o Caso Ellwanger, de 2003, no qual o STF considerou o antissemitismo e também a islamofobia como crimes de racismo e outra mencionando todos os dispositivos legais que permitem, de forma inequívoca, o enquadramento do Ham@s como organização terror1sta (Leis 13.810/2019, 13.269/2016 e as recomendações do GAFI) cogitei fazer uma postagem sobre isso.

Logo depois, vi na página da embaixada a foto de um bebê (!) sequestrado. Depois o vídeo de um pai transtornado explicando como reagiu à notícia da confirmação do assassinato da filha de 8 anos e a dor perceptível em todos os ângulos do vídeo quando ele disse que a perspectiva de imaginar essa criança refém em Gaza com todos os sofrimentos noticiados pelos próprios propagandistas do terror era mais insuportável que a morte. Meu estômago revirou.

Na sequência, a única análise que me pareceu importante foi: diante de tudo isso, ainda é preciso “explicar para que as pessoas entendam”? Qual a relevância dessa discussão sobre classificações? Não foi por essas e outras que aconteceu o Julgamento em Nuremberg? A quem interessa essa discussão enquanto seres humanos são mantidos em cativeiro por bestas feras?

Muito se tem falado sobre o Holocausto, a Banalidade do Mal, os horrores dos totalitarismos do século XX. “Never Again”! Quantas vezes li quem se dizia estudioso de Hannah Arendt repetir isso e agora, para não contrariar alguma “panelinha progressista”, que considera “resistência” os atos executados pelo Ham@s (!), fazer cara de paisagem, ou dizer que é “complexo” demais se manifestar?

A complexidade dos conflitos no Oriente Médio não está em questão. A questão é o mal em estado bruto, o horror, o horror (!), executado por fanáticos que tem em seu estatuto varrer Israel e do mapa e o assassinato de judeus. Como foi mesmo que chamamos isso no século XX? Never forget. Lembram?

Desde os acontecimentos do dia 07 de outubro, tenho constatado que no confronto com o Mal absoluto a moral coletiva remanesce perversa e covarde em expressiva parcela da sociedade, que vai de círculos acadêmicos em universidades de prestígio internacional, passando por lideranças políticas, a cidadãos comuns lobotizados por ideologias, maniqueísmos, desinformação e tudo o mais que nesse trágico acontecimento histórico os tornou marionetes dos naz1smo do século XXI. Enquanto isso, seres humanos (bebês, crianças, jovens, homens, mulheres e idosos) continuam mantidos em cativeiro por bestas feras.

Por que não os libertam? Não é essa uma condição para o restabelecimento de água e energia? Eu sei o porquê. Quem usa o sofrimento dos civis inocentes na Faixa de Gaza usados como bucha de canhão pelo terror, o horror, para manipular a opinião pública também sabe.

Não é a primeira vez na história da humanidade. Como eu gostaria de acreditar que é a última.

Never again is now.

Daniela Meneses

Sou carioca, “naturalizada” no nordeste e lotada no Paraíso das Águas, com a família que formei, e é o meu maior patrimônio. O Rio segue em mim. Acredito no uso terapêutico do contato com a Natureza (especialmente o Mar), a Yoga, a Dança, a Corrida, e a Escrita, sendo esta última a razão pela qual mantenho o hábito de “pensar em voz alta” no Facebook. Graduada em Direito há 26 anos e especialista em Direito Constitucional, atuo na área. Humanista e reformista, acredito na efetividade de reformas cíclicas que conduzam ao aperfeiçoamento institucional, assegurando o exercício do conjunto de liberdades e das garantias fundamentais e individuais. A bem da verdade, na minha 1ª postagem no PDB há o suficiente para sintetizar meu “enquadramento”: me alinho aos valores do Iluminismo, da Revolução Gloriosa, das liberdades de crença, expressão, de pensamento, do direito de ir e vir e de propriedade. Por consequência, defendo o Regime Democrático, a Separação dos Poderes, o Estado laico, a Imprensa Livre, os valores humanistas, e o Due Process of Law. No mais, a pretensão adolescente de ser agente secreta (rs) talvez explique um dos meus temas prediletos: geopolítica. O gosto por história, literatura, e filosofia vem da época da escola. Provavelmente, minhas publicações, que representam minha posição pessoal, sem qualquer vinculação institucional, estarão associadas a esse mix. Até agora, estavam restritas para amigos, entre os quais estão muitos dos que fazem parte desse espaço descontraído de troca de ideias, o Papodeboteco.

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5 Comentários

  1. Texto retrata 100% de nossa realidade hoje como israelense. Muito bom poder ler de alguém que está a 10 mil quilômetros de distância.

    1. Bom dia, Eliana! Desculpe a demora em responder, mas estava sem conseguir acessar o site. Obrigada pela leitura 🙏🏼
      Acredito que você consegue compartilhar nessa opção que fica no final da página (no meu iPhone é o 1º ícone que aparece).

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