Esporte

Tristeza não tem fim, felicidade sim.

TOP 10 de vitórias e TOP 10 de derrotas de jogos do Brasil que marcaram a minha vida.

A paixão pelos esportes passa muito pela emoção que geram. Narro como assisti os TOP 10 dos mais emocionantes jogos do Brasil em diversos esportes, em que, fomos do fundo do poço à glória, como também do céu ao inferno, e, de alguma forma, me influenciaram durante toda a jornada.

Luis Cláudio pega o walkie talkie e narra a defesa de Taffarel:

Taffarel !!! Até o Professor Babalu se empolgou nessa hora.

Dessa vez não vai dar! Somos fregueses de carteirinha da Rússia! não aguento mais a Gamova! Mas vamos ver, o campeão voltou, a Sheilla tá pedindo bola pra decidir.

Os 11 Chapolins brasileiros tiveram que encarar mais de 20 mil sérvios, extremamente hostis.

Brasil 2 x 3 Itália – 1982

Paolo Rossi, 3 gols.

Às vezes, me pego a imaginar como teria sido a copa de 82 se o chute de Zico, com o jogo empatado em 2 a 2 com a Itália, acertasse o ângulo de Dino Zoff, e o 3 a 2 seria para o Brasil. Será loucura pensar até hoje nisso?

Eu era uma criança de seus 8 para 9 anos, morando no subúrbio do Rio de Janeiro. Meu prédio era exatamente de frente para a subida do morro de São Carlos, no bairro Rio Comprido.

Já descrevi algumas coisas sobre esse jogo neste post.

A emoção e importância da partida na minha vida foi tanta que até hoje consigo detalhar tudo que fiz no dia, tenho as cenas claras como se tivessem acontecido ontem.

O telefone tocou imediatamente após o término do jogo, era minha querida avó de Goiânia, tentando me consolar, porque sabia que eu estaria chorando e sofrendo.

A bola de “capotão” que levei para frente do apartamento após a partida e que foi chutada pra rua propositalmente por um colega, tendo sido estourada na passagem de um ônibus, com requintes de crueldade do motorista.

Meu Pai chegando do trabalho e eu mostrando a bola estourada. Tudo isso naquele dia 5 de julho de 82.

A cicatriz daquela derrota foi tanta que o Brasil passou a jogar um futebol sem aventuras ofensivas.

A bola estourada em 82 foi o símbolo da mudança da minha família da então pacata e acolhedora Goiânia para a violenta e trágica “Cidade Maravilhosa”.

Brasil 2 x 3 EUA – 1984

No Rio, eu e minha família tivemos duas vivências. Enquanto em 82, eu tinha amigos no prédio e no bairro, e estudava em colégio municipal público, sem estrutura, já em 84, não tinha mais amizades no Rio Comprido, porém estudava em um ótimo colégio.

Então, as Olimpíadas de 84 eram as primeiras que assisti na TV com entusiasmo, e foram acompanhadas por mim, em casa, já com mais conhecimento de esportes olímpicos, sem a companhia de amigos.

O colégio da Providência, que estudava, tinha aulas até de ginástica artística, e isso me ajudou muito a conhecer e entender mais dos diversos esportes.

Das Olimpíadas em si eu já gostava muito, influenciado pelos meus pais que incentivavam que praticássemos esportes.

O Vôlei já era presente na minha vida desde o Mundialito de 82 no Rio, quando estive no Maracanãzinho em dois jogos, Brasil 3 a 1 na Coreia do Sul e 3 a 0 na Bulgária, com direito a jornada nas estrelas do Bernard, saque impressionante, em que a bola chegava até o teto do antigo Maracanãzinho.

No Feminino eu não tive a oportunidade de ver Isabel, Vera Mossa e Jaqueline ao vivo. Uma pena.

A dupla Jaqueline e Isabel

Considero que era uma geração tão brilhante quanto a geração de prata no Masculino.

Os resultados em 84 poderiam dizer o contrário, mas a prova disso foi o Ouro no vôlei de praia conquistado por Jaqueline doze anos depois.

E talvez tivéssemos tido sucesso já naquelas Olimpíadas com a seleção feminina.

O Brasil enfrentava as donas da casa, com toda a torcida contra e ainda fez 2 sets a 0. Mas o jogo foi para o tie break, chegamos a fazer 12 a 9, só que depois disso, nada mais deu certo e a seleção feminina foi eliminada precocemente.

Ganhamos apenas uma partida em toda a competição. Mas se engana quem pensa que o time não era bom. Era muito bom.

Jaqueline, que foi perseguida pela confederação, ao melhor estilo da Ditadura Militar em ritmo de fim de festa, soube se reinventar e ir para as praias americanas ser a estrela maior do esporte olímpico que estava para surgir, o vôlei de praia.

Minha memória sempre guarda as levantadas de Jaqueline, que se abaixava sempre para executar o movimento.

Nascia uma semente para o futuro e terminava a jornada de minha família no Rio de Janeiro.

Ficamos no Rio de Janeiro entre 1982 e 1984, onde acompanhei um senhor sendo morto pela guerra do jogo do bicho, fui assaltado por pivetes uma dezena de vezes, e tomei bullying de crianças mais abonadas no colégio em Laranjeiras.

O retorno para Goiânia, no final de 1984, foi com alegria incontida.

Brasil (3) 1 x 1 (4) França – 1986

1985 – 1986 – Goiânia – Time 108 Sul – Em pé da esq para a direita: Goleiro Saymon, Vladimir, Vinícius, Frederico, árbitro Max. Agachados: Carlos, Neto, Maurício e Amin

Na Copa do Mundo de 1986, já morando em Goiânia, ouvi de meu Pai, depois de vencermos com relativa facilidade, a Polônia, nas oitavas de final, que o próximo jogo seria o verdadeiro teste, e o adversário era a França de Platini, campeã da Eurocopa.

Fui para a casa de meu amigo Fred e lá percebi que assistir os jogos do Brasil era mais diversão (pra eles) que sofrimento (para mim).

A entrada de Zico e seu pênalti perdido, a bola de Careca no travessão, são os lances mais emblemáticos de uma batalha esportiva épica.

1 a 1 no tempo normal e 0 a 0 na prorrogação, vamos para os penais.

Sócrates e o excelente zagueiro Júlio César erram.

Ajoelhei na frente da TV pedindo aos céus que Carlos defendesse o pênalti de Platini, e a bola foi pra fora, mas não adiantou, fomos eliminados.

Pra evitar constrangimentos, apenas lágrimas discretas desceram, o que não impediu que meu amigo risse e me desse um “pescotapa”, uma forma sútil de dizer “acorda pra vida moleque!”.

Tomei birra eterna (ou quase eterna) de Zico.

O trauma de perder decisão nos penais fez com que a CBF implantasse em 1988 um campeonato brasileiro com decisão por penais em caso de empate em tempo normal, com um ponto pra cada time e mais um ponto pro vencedor nos penais.

A ideia durou apenas naquele ano, pois os times passaram a jogar ainda mais na defesa e tentar um ponto extra na loteria final.

Não mudei meu jeito de torcer, acabando por trazer talvez muito mais sofrimento do que prazer e alegria em assistir futebol. Mas foi e é apaixonante desse jeito. Aprender a conviver com isso era a missão.

Pro Brasil a missão não era aprender a bater pênaltis, mas ter preparo psicológico para os momentos de decisão.

Brasil 120 x 115 EUA – 1987

Oscar, em seu momento épico.

Passei um aniversário no rio Araguaia, com praias paradisíacas, e um dos mais lindos pôr do sol do Brasil, juntamente com o de Palmas.

No entanto, era justamente quando Brasil e Estados Unidos se enfrentavam pela final dos jogos Pan Americanos de Indianápolis, em 1987.

Estava na adolescência e meus interesses na época eram só jogar e assistir futebol e nas horas vagas praticar e assistir outros esportes.

Então, passar um aniversário longe de Goiânia conhecendo o Rio Araguaia seria algo interessante, ainda mais para um adolescente bem urbano.

A TV não transmitia e então as notícias chegavam aos poucos, com um canal, se não me engano a Globo, informando de vez em quando, nos intervalos da programação.

Informavam a humilhante derrota no fim do primeiro tempo e dali em diante, era evidente que teríamos apenas uma formalidade para o Brasil ficar com a medalha de prata.

Busquei no rádio as notícias, e em uma estação, não me lembro qual, informava o resultado parcial a toda hora.

Eu e meu irmão começamos a nos interessar mais pela partida quando iniciou-se uma reação brasileira. Não empolguei tanto, porque no Mundial do ano anterior, o Brasil fez semifinal com os Estados Unidos e, durante a partida, reduziu uma diferença de 23 pontos para apenas 8, mas faltou energia no final e perdemos por 16 pontos de diferença.

Esse jogo do Mundial, acompanhei pela Band com o eterno Luciano do Valle.

Mas estava ali, agoniado, ouvindo que o Brasil reagia mas não podia nem acompanhar pela TV.

Apenas flashes esporádicos de um locutor que parecia ser sádico, pois para informar o resultado parcial se utilizava de uma formalidade nunca antes ouvida em qualquer rádio do mundo.

A diferença foi diminuindo até que o Brasil passou a liderar, mas faltavam ainda alguns minutos, e logo pensei que não conseguiríamos manter a vantagem.

O fato de não estar acompanhando o jogo nos faz imaginar os lances, e minha imaginação, naquele momento era pessimista, sempre lembrando do Mundial de 86.

Mas o Brasil venceu e a explosão de euforia nem aconteceu, pois estávamos em um lugar como convidados, com pessoas estranhas e sem o espírito esportivo ao assistir um evento.

Foi a comemoração mais sem graça de toda a minha vida, sem graça como o aniversário passado longe de tudo.

O jogo, ao contrário, não teve nada de sem graça, foi o ápice de Oscar.

Brasil (3) 1 x 1 (2) Alemanha – 1988

Taffarel defende pênalti aos 36 minutos do segundo tempo

Olimpíada de Seul rolando madrugadas adentro, eis que o Brasil enfrenta a Alemanha pela semifinal do futebol Masculino numa manhã de aulas normais.

Estudava no Colégio Objetivo. Era um colégio bem liberal para a época, não exigia tanta disciplina dos alunos.

Diante da tal “liberdade”, um amigo meu, Fabiano (que tragicamente faleceu após uma cirurgia bariátrica alguns anos atrás) levou para a sala de aula um walkie talkie que era capaz de captar bem baixo o áudio do jogo que era transmitido pela Globo.

Eu era quem mais se interessava por esportes e acabei tomando conta do aparelho, ouvindo escondido e repassando o resultado para os colegas ao lado que iam passando adiante a informação.

De forma involuntária me tornei o centro das atenções da sala. Logo eu, que era muito tímido em sala de aula, não gostava das “bagunças” que meu irmão Vladimir aprontava.

Ele se aproveitava do fato de ser um dos melhores alunos da sala e do colégio todo, para, juntamente com outros amigos, não menos “crânios”, aprontarem e aproveitarem do espírito livre leve e solto da turma e do colégio, ao melhor estilo “Curtindo a Vida Adoidado”.

Ocorre que o Brasil toma um gol da Alemanha, e logo me veio à memória a derrota para a França nas Olimpíadas de 84, um 2 a 0 protocolar.

Outro amigo, Luis Cláudio, o Caldão, craque da bola, resolve então ouvir um pouquinho, ao ver minha agonia, com o jogo terminando, e eis que nesse momento, o Brasil empata o jogo com nosso eterno baixinho Romário.

Ele grita um “Gol!” abafado, mas suficiente para a sala toda ouvir, inclusive o professor, carinhosamente chamado de Babalu.

Alguém pergunta: De quem?

Caldão responde: Do Brasil!

Babalu pergunta: Quanto está?

Eu respondo: Brasil estava perdendo, acabamos de empatar!

Babalu finaliza: Então vão acompanhando ai, mas silêncio!

Pronto, liberados para ouvir e repassar as informações!

Volto a ficar com o walkie talkie e em menos de dois minutos, pênalti para a Alemanha!

Informo à todos com um desânimo enorme.

Luis Cláudio pega o walkie talkie e narra a defesa de Taffarel:

Taffarel !!! Até o Professor Babalu se empolgou nessa hora.

Aí a explosão na sala foi de um estádio de futebol, com eco por todo o corredor do colégio.

A aula termina, temos um pequeno intervalo para a próxima, o jogo acaba, temos um pequeno intervalo para a prorrogação, hora de tomar um refri e papear com os colegas boleiros, hora de beber água e ouvir o treinador Carlos Alberto Silva.

Entramos para a próxima aula e a professora Obeid, de geometria, não era adepta ao clima de Olimpíada, pelo contrário.

Certa vez, incomodada com a bagunça do fundão, Obeid elabora uma questão no quadro e vira para o fundo da sala:

– Pessoal, quero ver se esse fundão, que só faz bagunça, consegue responder essa pergunta!

Era sobre descobrir um volume de um corpo, conhecendo o volume de uma banheira cheia de água.

Meu irmão, em meio a um silêncio sepulcral, cita, em tom professoral:

– Princípio de Arquimedes!

Obeid, meio que abatida com um golpe inesperado:

– E….. o que diz esse princípio?

Mais confiante, meu irmão responde:

– O volume deslocado da água é igual ao volume do corpo mergulhado. Portanto, enche-se a banheira de água até a borda, mergulha-se o corpo completamente e mede-se o volume da água restante na banheira. O que faltou é o volume do corpo!

A turma, totalmente em silêncio, vira para a professora, aguardando o veredicto.

– Tá certo. Responde Obeid desapontadíssima.

A turma explode em comemoração.

Obeid não deixaria outra bagunça ecoar na sala, e certamente já tinha ouvido a comemoração anterior, do pênalti defendido por Taffarel.

O jogo perdeu a emoção na prorrogação, como a aula perdeu-se em teorias e exercícios.

Graças aos Deuses do futebol, a decisão por pênaltis ocorreu já com a aula finalizada, no intervalo.

Naquela altura, com a sala toda já reunida ao meu redor, fui narrando a épica decisão, em que Taffarel defende dois penais e o Brasil classifica para a final.

Sem dúvida foi o momento mais emocionante de todas as minhas aulas de colégio Objetivo. E eu parecia ser um adolescente popular na turma e o Brasil invencível no futebol.

Essa sensação durou pouco tempo, perdemos a final para a União Soviética no fim de semana seguinte.

Na segunda feira, tudo já era normal no colégio Objetivo, eu bem quieto na sala de aula, preocupado com as bagunças de meu irmão, e o Brasil há 18 anos sem vencer uma Copa do Mundo, sem nunca ter vencido uma Olimpíada.

Brasil 99 x 97 Austrália – 1992

Luciano do Valle sempre abraçou o Basquete Feminino, acreditou sempre, e foi premiado por isso.

Narrou pela Band dois dos momentos mais marcantes da história do Basquete Feminino de Paula, Hortência e Janeth: O Mundial de 94 e o pré olímpico de Vigo.

O Brasil não conseguia se classificar para uma Olimpíada e parecia que novamente ficaríamos de fora, pois já acumulávamos derrota para a China e para a Tchecoslováquia, no pré olímpico de Vigo na Espanha.

O jogo contra as invictas australianas era de vida ou morte.

Eu já estava no terceiro ano de faculdade aos 18 anos de idade, e vivendo já o desencanto de ter escolhido uma profissão para toda a vida aos 15.

Era final de tarde e início da noite no Brasil, e o jogo iria terminar bem a tempo de eu poder jogar bola na quadra da faculdade.

Mas o equilíbrio da partida leva para a prorrogação, e meus amigos, já reunidos, estavam impacientes para irmos jogar bola.

Quando a Austrália abre 3 pontos de vantagem na prorrogação com posse de bola, todos levantam e vão para a quadra. Eu fico sozinho e impaciente, tentando assimilar mais uma desclassificação para as Olimpíadas.

A jogada incrível que aconteceu após isso, um erro australiano, depois, uma perda de bola de Paula, mas em ato contínuo, recuperação e passe para Hortência marcar de três pontos, levou o jogo para a segunda prorrogação e arrancou de mim gritos e comemoração numa sala vazia.

A treinadora Maria Helena tinha uma linguagem muito simples e eu me irritava com isso.

Após esse empate, o que se viu no banco foi só choro e agradecimentos a Deus. Eu não entrei no clima de superação a qualquer custo que já havia tomado conta das jogadoras e achei péssima a atitude da treinadora.

Ledo engano. O discurso emotivo de Maria Helena foi a mola propulsora que faltava para o Brasil não só vencer a partida, como também jogar em alto nível os jogos finais e se classificar de forma inédita para as Olimpíadas.

Quando cheguei na quadra, a turma havia pensado que eu não viria mais, e não acreditaram que o Brasil virou a partida.

Equipe de futsal na USP – São Carlos

Era hora de eu virar a partida e, bem ou mal, me formar na profissão escolhida.

Brasil 3 x 0 Holanda – 1992

– Eu nunca mais vou beber!

1992, em São Carlos-SP

Acordei numa ressaca como nunca antes na minha vida naquela manhã de domingo, dia da final de Vôlei Masculino das Olimpíadas de Barcelona.

No dia anterior e eu havia conseguido passar em uma matéria complicada na faculdade, o Brasil havia feito uma partida incrível e vencido os Estados Unidos na semifinal e tivemos uma festa de gala de casamento de uma amiga da turma.

Quis comemorar exageradamente, misturando bebidas e festejando como se não houvesse amanhã, enfim, todo o pacote que não se deve fazer em um casamento.

Pela primeira vez na vida, desmemoriei de tudo que havia acontecido na noite anterior, e, é claro, fui motivo de chacota e histórias, no mínimo, embaraçosos.

Mas vamos lá, o Brasil vai jogar e não consigo nem beber água que dá vontade de vomitar.

E tome remédio pra vômito e jogo do Brasil.

Era hora de virar a página da geração de prata, com Montanaro, Renan, William, Bernard e criarmos a geração de ouro com Negrão, Tande, Maurício, Giovane, Carlão.

A vitória épica todos conhecem, mas ao rever o jogo, percebemos que a geração holandesa estava se formando ali e o Brasil, em euforia com a conquista, nem se preocupou.

O Vôlei Masculino comemorou exageradamente durante 4 anos e perdemos a chance de dominar o voleibol Mundial nos anos 90.

O fato positivo foi que ninguém desmemoriou e a experiência trouxe frutos para os anos 2000 e o domínio brasileiro acachapante.

No estado em que me encontrava, não houve comemoração, é claro. Mas pude acompanhar durante todo o dia a bela cobertura da Globo para a conquista.

A minha promessa de nunca mais beber não foi cumprida, e a memória só piora ao longo dos anos. Pelo menos substitui cerveja aos montes pelo vinho aos poucos. Muita melhora para minha velhice.

Brasil 2 x 0 Uruguai – 1993

Alguns anos antes, era impensável o Brasil ficar de fora de uma Copa do Mundo.

Mas decisões erradas da confederação e comissão técnica brasileiras, afastando Romário de toda a eliminatória, brigando com a imprensa e se isolando da opinião pública, fez com que chegássemos no último jogo precisando de um empate contra o Uruguai no Maracanã.

Eu estava na faculdade em São Carlos e, aos poucos, perdendo o costume de assistir os jogos com meu irmão Vladimir, que, além de estar estudando em Campinas, conseguiu um estágio na Alemanha, estando fora do Brasil nesse jogo decisivo.

Os tempos eram outros e não era fácil ter transmissões esportivas na Europa, principalmente de jogos na américa do sul. Meu irmão, obviamente, não viu o jogo, só ficou sabendo do resultado.

Escrevi uma carta contando os detalhes da partida, e, é claro dos feitos do baixinho Romário.

Lençol, chute na trave, dribles curtos, Romário fez de tudo no primeiro tempo, menos o gol.

Foi um massacre, com o Uruguai não saindo da defesa.

Bastou a celeste olímpica se aventurar no ataque no segundo tempo que o Brasil decidiu a partida com os dois gols do baixinho.

1º gol de Romário

Surgiu um sentimento no país de que dali em diante tudo seria diferente na seleção, e realmente aquela partida foi o divisor de águas de um grupo derrotado de 90 para a equipe vitoriosa de 94.

Para mim, acresceu-se o sentimento de frustração de não ter acompanhado a partida junto com meu irmão, que sempre valorizava meus comentários.

Aquele jogo também foi um divisor de águas, ao perceber que minha infância acompanhando os jogos com meu irmão não iriam mais acontecer. Quebramos essa ausência mutua nas Olimpíadas do Rio, mas isso é outra história.

Brasil 110 x 107 EUA – 1994

O Brasil vivia ainda um luto esportivo com a morte de Ayrton Senna, quando Paula, Hortência, Janeth, Marta e cia iniciaram uma jornada inesquecível no Mundial de Basquete Feminino na Austrália.

A Band, felizmente, não deixou o público brasileiro na mão, transmitindo o campeonato.

O jogo semifinal, em especial, foi o mais emocionante, pelo adversário a ser batido e pelo equilíbrio durante a partida.

Uma TV a cores bem antiga da república universitária que eu morava foi suficiente para acompanhar uma exibição de gala das brasileiras, jogando de igual para igual com as até então imbatíveis americanas.

Mais uma vez, assisti ao jogo sozinho na madrugada, início de manhã aqui no Brasil.

Essa transmissão foi a coroação do esforço de Luciano do Valle com o esporte brasileiro em geral.

Acreditou sempre nas talentosas brasileiras, mesmo quando ninguém mais acreditava.

A final seria uma formalidade, pois o nível das americanas era infinitamente superior a qualquer outro adversário.

Paula fez talvez sua melhor partida em mundiais e Olimpíadas.

Comemorei novamente solitário, mas muito feliz com o exemplo dado pelas meninas de ouro do Basquete.

USP – São Carlos

A Copa do Mundo estava chegando e iria ofuscar essa conquista, mas não esqueço jamais desse jogo e do brilhante Basquete Feminino de Paula, Hortência e Janeth.

Brasil (3) 0 x 0 (2) Itália – 1994

Devido a uma greve nas universidades, pude ir ao Rio acompanhar o Vasco ser Tri campeão carioca, juntamente com meu irmão Vladimir, Victor, o idealizador desse Papo de Boteco, seu irmão Carlos Augusto, o Guto, também presente no blog, e mais dois amigos, Herbert, o Fuscão, e Rogério Pimenta.

Mas tudo tem preço, e no retorno das aulas, passei a Copa do Mundo inteira fazendo provas finais.

A final seria no primeiro e único fim de semana de férias, pois eu embarcaria no dia seguinte para o interior de Goiás, fazer estágio em uma construção de usina hidrelétrica.

Churrasco marcado na casa de meus pais, 40 pessoas aflitas, minha mãe saindo da sala na hora dos penais, eu me escondendo no quarto para acompanhar, sozinho, a decisão, numa TV antiga preto e branco.

O Baixinho se oferecendo para bater o pênalti, e tudo que veio depois na carreira dele, que descrevo neste post.

Taffarel, a quem me tornei fã, principalmente depois do épico jogo em Seul, descrito aqui anteriormente, fez o que melhor fazia, defender penais.

Só pude comemorar naquela noite, e sem exageros. Tinha viagem marcada de ônibus bem cedinho no dia seguinte, para o estágio.

O país parou uma semana e não vi nada. Passei do início dos anos 80, quando me tornei amante do futebol, até aquele dia, esperando pra tirar o grito da garganta e comemorar o título da Copa do Mundo, e não o fiz apropriadamente.

Não sei exatamente como foi a cobertura pós jogo e os dias após a conquista. E sempre gostei de acompanhar tudo.

Ficou um gosto de quero mais, que eu tentaria compensar em 98, o que iria se mostrar igualmente ineficaz.

Brasil 3 x 4 Nigéria – 1996

Desempregado desde que me formei no final de 1995, decidi que iria assistir as Olimpíadas de férias para poder acompanhar tudo, e só depois me preocupar com emprego, afinal, se nem FHC estava preocupado com desemprego, quem era eu para me preocupar.

E o clima para as Olimpíadas de Atlanta era o melhor possível na delegação brasileira, com expectativa de conquista de muitas medalhas, o que realmente ocorreu.

O futebol Masculino tinha uma equipe estrelada para conquistar de forma inédita o ouro olímpico.

Ronaldo, Rivaldo, Roberto Carlos, Bebeto, Aldair, Dida, enfim, uma seleção brasileira praticamente de Copa do Mundo.

Com 3 a 1 para o Brasil, Dida defendendo um pênalti e Bebeto se dando ao luxo de perder gol feito, a fatura contra a Nigéria, na semifinal, parecia liquidada.

Mas a Nigéria nunca desistiu.

A torcida americana, à medida que a Nigéria reagia, se inflamava e torcia para os africanos efusivamente.

O empate no tempo normal em 3 a 3 levou a decisão para a prorrogação com “morte súbita”, termo que a FIFA evitou ao máximo. Chamou de “Golden goal”, premiando o felizardo e não tripudiando o derrotado.

O gol de ouro, que era novidade, acabou por premiar a equipe mais ousada, no caso, a africana, que partiu pra cima do Brasil, sem respeito algum pela amarelinha.

Kanu apareceu para o mundo.

Minha decepção foi tanta que resolvi no dia seguinte abrir os jornais em busca de emprego.

E o Brasil, ainda por cima, ao vencer Portugal, terminou por completar o papelão, pois optou por receber as medalhas de bronze, isoladamente, sem pódio, na véspera da decisão entre Argentina e Nigéria.

Não esperou o dia seguinte, muito provavelmente preocupado com um “constrangimento” que poderia acontecer no pódio olímpico, caso a Argentina vencesse.

Seleção Brasileira de Futebol Masculino – Bronze Atlanta-1996

Mas os deuses do futebol existem e de vez em quando interferem.

O futebol alegre da Nigéria foi premiado com o Ouro em Atlanta, em outro jogo incrível e vitória por 3 a 2.

Brasil 2 x 3 Cuba – 1996

Treta, confra, balbúrdia, porradaria. Enfim, no futebol dos anos 70 e 80, chegando até aos anos 90, um jogo terminar em confusão, ou mesmo não terminar, era mais comum, e o torcedor raiz, à despeito do politicamente correto e das consequências óbvias da violência, era acostumado e até certo ponto aprovava uma ou outra briga, dentro de certas regras ocultas e implícitas no universo do futebol.

Mas confusão no voleibol era raríssimo, e eu, na verdade, nem lembro de nenhuma em jogo de vôlei, até Brasil e Cuba, semifinal do voleibol feminino em Atlanta.

Depois da derrota brasileira inquestionável no Mundial 94 e da vitória esmagadora da fase inicial da olimpíada, sabíamos que as cubanas não iriam mais passear no jogo contra o Brasil.

Cuba, inexplicavelmente, perdeu também, na última partida da fase inicial para a Rússia, e antecipou a provável final contra o Brasil para as semifinais.

No jogo, comandamos o placar até 2 a 1 em sets, quando a brincadeira ficou séria, os gritos cubanos aumentaram em quadra e o nervosismo brasileiro começou a aparecer.

O jogo foi todo em alta tensão e eu e minha irmã Ingrid, como torcedores raiz, gostávamos de assistir qualquer partida do Brasil, mas, principalmente, em jogos de rivalidade, aumentávamos o interesse de que a temperatura em campo ou em quadra aumentasse, para mexer com os brios dos atletas brasileiros.

Então, uma pequena confusão em jogos de grande rivalidade, achávamos que fazia bem ao esporte nacional.

Nesse jogo, percebemos que o clima e a temperatura do jogo estava aumentando, e, pelo contrário, não fazia bem ao Brasil. Jogadoras nervosas demais e errando muito.

A inesperada comemoração da Mireya Luis, batendo na rede e desferindo palavrões ao final da partida não acabaria bem, e não acabou bem, até hoje.

Perdemos na quadra, “bora” ganhar na porrada, mas a confusão se limitou a pequenos empurrões, e toalhas voando de um lado para o outro.

A épica confusão

Dizem que no corredor dos vestiários a confusão foi maior, mas independente de tudo, esse jogo marcou como a primeira briga com cenas lamentáveis em uma partida de voleibol que rodou o mundo inteiro.

A rivalidade entre brasileiras e cubanas aumentou, mas a geração de Mireya Luis levou vantagem nos principais torneios, foram tricampeãs olímpicas e bicampeãs mundiais, enquanto a geração de Atlanta-96 do Brasil conquistou o tricampeonato no Grand Prix.

Em um jogo de Grand Prix a briga teve continuidade e foi maior, mas o que ficou mesmo para a história foi a derrota em Atlanta e a briga depois do jogo.

A confederação de Vôlei levou para o lado pessoal e político, anunciando que cubanas não jogariam mais a liga brasileira e Ana Paula também relatou, certa vez, que as brasileiras e cubanas eram, até certo ponto, amigas antes de Atlanta, e que as brasileiras ajudavam as cubanas, comprando para elas, desde shampoo até tinta para unhas, por falta de produtos básicos em Cuba, e que a amizade, depois da briga, acabou.

Hoje em dia, a confusão continua, mas de forma diferente.

Enquanto Ana Paula defende pautas da direita, cutuca a política cubana, morando nos Estados Unidos, Ana Moser, a melhor jogadora daquela geração, defende pautas políticas da esquerda, morando no Brasil.

E Regla Torres, de vez em quando, espeta Ana Paula, em entrevistas ocasionais.

Acho que faltou uma confusão maior naquele jogo. E, convenhamos, Márcia Fu jogar toalha na cubana não fez nem cosquinha.

Talvez tivessem resolvido as diferenças de forma mais definitiva, como fizeram Paulo Nunes e Edílson na célebre final do campeonato paulista de 1999, que abriu as portas para Ronaldinho Gaúcho na seleção brasileira.

Que os defensores do politicamente correto não leiam esse relato, mas o sinal de alerta até hoje está sempre ligado quando inicia uma confusão na TV, e me sinto na obrigação de ligar imediatamente para minha irmã, para nos deliciarmos com as cenas lamentáveis.

Brasil 0 x 3 França – 1998

A seleção brasileira de 98 era bem treinada mas mal escalada. Roberto Carlos poderia e deveria ser titular sim, à despeito dos erros na final, mas Leonardo e Bebeto eram, quando muito, bons reservas naquela copa.

Zagallo, como todo treinador brasileiro, tinha seus preferidos e principalmente não confiava no temperamento explosivo de Edmundo.

Eu trabalhava no interior de Goiás, e retornava para Goiânia todo fim de semana.

Assisti a semifinal em uma cidade recém emancipada de 3 mil habitantes, que, meia hora antes de iniciar a partida, ficou sem energia, ao melhor ou pior estilo Amapá dos dias atuais.

Teve gente desesperada pegando carro e indo para a cidade mais próxima, a cerca de 40 Km dali em estrada de terra.

Eu permaneci no hotel e torcendo pro retorno da luz, lembrando da não comemoração na copa anterior.

A luz retornou, o Brasil venceu e deixei tudo preparado para assistir à final em um bar descolado em Goiânia, com amigos e avisando em casa que não tinha hora pra chegar, afinal, o jogo era uma formalidade, importante era comemorar como não havia comemorado em 94.

Mas Zagallo escalou mal a copa toda, na final insistiu com Ronaldo desde o início da partida, ao invés de poupá-lo para entrar no segundo tempo, o que, possivelmente, deixaria o time menos preocupado com a saúde do craque brasileiro. Enfim, fomos engolidos pela França no primeiro tempo.

O jogo histórico para os franceses foi de um sabor amargo inesperado para o Brasil.

A ressaca moral e real foi tanta que o mundo brasileiro do futebol foi incapaz de assimilar a pancada, e a seleção brasileira, sem Ronaldo, sempre contundido, ficou ameaçada de não ir à copa seguinte, numa campanha horrorosa nas eliminatórias para a Copa de 2002.

Minha sensação foi de incredulidade e o déjà-vu de novamente não comemorar adequadamente, com o agravante de, dessa vez, nem comemoração tivemos, só lamentação.

A minha ressaca moral foi de dar tanta importância ao futebol.

Nessa final, pela primeira vez, tive a sensação de que até aqueles meus 24 anos de vida, estava perdendo muito do meu precioso tempo com futebol.

Isso me fez bem, para poder mais à frente, lidar melhor com a derrota do Vasco no Mundial interclubes, e mais à frente ainda, largar o vício de assistir tantos jogos.

Mas não pensem que mudei rapidamente e totalmente.

Continuei durante muito tempo dando atenção demais a um esporte maravilhoso, mas que não era meu ganha pão, e que, no Brasil, é vencido muito antes da partida, propriamente dita.

Nos bastidores, muitas partidas são resolvidas, ou pelo menos encaminhadas. Os próprios diretores de clubes, muitas vezes, cometem ato falho, quando afirmam da necessidade de resolver os problemas de seus clubes na CBF.

Certa vez, indignado com uma arbitragem em final de campeonato goiano, tive minha carta publicada no Jornal O Popular, o principal jornal de Goiânia.

Jornal O Popular de Goiânia em 24/06/2000

Há muito jogo jogado nos tapetes de reuniões e isso vai nos tirando a empolgação pelo futebol.

Ainda gosto muito de futebol, mas vejo muita coisa além do jogo, e amigos sempre me criticam por estar sempre arrumando desculpa pra derrotas, em teorias “infundadas”.

Essa final acabou virando tema de diversas teorias da conspiração, que, de verdade, não acredito em nenhuma delas.

Mas sem dúvida, foi para mim, uma virada de chave para não mais abdicar de coisas muito mais importantes da vida, por futebol.

Brasil 68 x 67 Rússia – 2000

Mesmo com a decepção da Copa de 98, eu ainda era amante de todos os esportes, e ainda sou até hoje.

Depois de ter podido acompanhar as Olimpíadas de 80, 84, 96 e nem tanto 88 e 92, percebi que era importante tirar férias do trabalho para ter a tranquilidade de ficar 17 dias ininterruptos mudando de canal e acompanhando todos os principais eventos da Olimpíada.

Mas Sydney-2000 seria na maior parte de madrugada, e pensei que não haveria dificuldade. Era questão de “maratonar” à noite e ir trabalhar de dia.

Errei. Perdi quase todos os eventos importantes daquela Olimpíada, que foi um desastre em termos de resultados brasileiros.

Mas um evento que perdi, me causou muito arrependimento, e, ao contrário da final da Copa de 98, em que senti que precisava dar menos atenção ao futebol, nesse caso, entendi que dali em diante, quando o assunto fosse olimpíada, tirar férias para assistir seria Lei para mim.

O jogo em questão foi a vitória épica da seleção feminina de basquete sobre a Rússia nas quartas de final. Um show de Helen, Cíntia, Alessandra, Janeth.

O Brasil esteve quase sempre atrás no placar, e quando passava à frente, era sempre por pouco tempo.

Mas no final, Cíntia diminuiu uma diferença de três pontos para um ponto a menos de um minuto para o final e depois Alessandra, faltando menos de dois segundos, recebeu a bola para virar a partida e dar números finais em 68 a 67 para o Brasil.

comemoração brasileira

Assisti ao jogo em VT no dia seguinte, já sabendo o resultado, uma frustração enorme.

Esqueçam o que eu disse sobre futebol com cartas marcadas! Isso não existe!

O esporte é maravilhoso!

A regra agora é clara! Tirar férias nas Olimpíadas!

Brasil 2 x 3 Rússia – 2004

Me preparei para as Olimpíadas de 2004 quase no nível dos atletas (perdoem o exagero e a empolgação).

Estava treinando corridas de rua e juntamente com amigos da academia onde eu “malhava”, decidimos participar da famosa Meia Maratona do Rio, que aconteceria em setembro daquele ano.

Equipe da Meia Maratona do Rio – 2004

Com as Olimpíadas programadas para algumas semanas antes, quis unir o útil ao agradável, marcando férias para, não só acompanhar as Olimpíadas, como também intensificar e reforçar os treinos.

Eu já corria tranquilamente 10 Km, fazia em 50, 55 minutos.

Km 10 da Meia Maratona do Rio – 2004

Começamos a aumentar as distâncias e quando entrei de férias com o início das Olimpíadas estava correndo 18 Km com bom tempo e sem muito sofrimento.

O vôlei, sem dúvida era a grande esperança de medalhas, tanto masculino, quanto feminino, tanto quadra, quanto praia. Masculino e feminino haviam conquistado nas quadras a Liga Mundial e o Grand Prix respectivamente, pouco antes das Olimpíadas, e o favoritismo era evidente.

A geração de Mireya Luis havia sido desfeita, quase todas aposentadas.

A Rússia não vinha forte, nem Estados Unidos. A China era uma incógnita, pois não entrou com as titulares no Grand Prix.

Zé Roberto tinha a confiança do elenco e da imprensa.

Então era jogar e confirmar favoritismo.

Mas não é bem assim.

Quando você corre 10 Km duas ou três vezes por semana, bastam alguns dias sem treino que perde rapidamente o preparo.

Passei a acompanhar a Olimpíada no melhor modo Torcedor de sofá raiz, faltando treinos, e me envolvendo com as transmissões e pós jogo à noite.

A campanha brasileira em Atenas foi muito boa, o que me fez mergulhar no sofá mais ainda.

Passava todas as informações para meu irmão “just in time”, afinal, alguém tem que trabalhar nesse mundo, e ele era o trabalhador da vez.

Era hora de responder aos erros de 2000 nos diversos esportes, de Robert Scheidt a Baloubet du Rouet.

A seleção feminina de vôlei não passou por grandes dificuldades até chegar à semifinal com a Rússia.

Pois bem, estamos no fatídico 2 sets a 1 e 24 a 19 no quarto set, 5 match points para o Brasil.

Liguei para meu irmão, com a intenção de narrar o final do jogo.

A ligação durou uma eternidade, um suplício, narrei a virada russa no set, incluindo o tempo pedido pelo Zé Roberto, que não conseguiu passar instrução alguma, interrompido pela Virna, que queria decidir de qualquer jeito.

Desliguei o telefone para ligar novamente no 5º set, quando o Brasil teve novamente match point, e tomou a virada.

Esse jogo é muito impactante para qualquer torcedor de voleibol.

Costumo assistir reprises, mas esse é impossível. Machuca mesmo.

Mesmo as outras conquistas brasileiras daquela Olimpíada não conseguiram elevar suficientemente o astral para que eu voltasse com ânimo aos treinos para a Meia Maratona do Rio.

Faltando quatro dias para a corrida e dois para a viagem reapareci na academia para ver se me sentia bem na esteira. Corri 20 minutos, não cansei e resolvi que dava.

No dia de embarcar, cheguei ao local combinado, o micro ônibus já estava de saída e os amigos nem acreditaram que eu estava indo, tamanha a minha ausência no último mês de treinos.

Dos oito que correram do grupo, fui o último a chegar, longe da minha proposta que era fazer a corrida em menos de 1 h e 55 min. Fiz em 2 h e 24 min, andando em muitos trechos.

Vinícius e Vladimir

Mas cheguei, missão cumprida, muito aquém do sonho, mas cheguei.

A seleção feminina, ao perder da Rússia na semifinal, foi do céu ao inferno, e a missão, que era conquistar o tão sonhado inédito ouro olímpico, virou uma migalha, jogando pelo bronze e perdendo displicentemente.

Fazer a Meia do Rio em 2 h e 24 min também é conquista, mesmo que decepcionante, perante a expectativa.

O bronze seria bem-vindo, mesmo que da forma como viria, depois de um 24 a 19 com 5 match points.

As brigas entre Zé Roberto e Bernardinho que vieram depois, todos conhecem.

Muita mágoa ficou engasgada naquela derrota.

Brasil 2 x 3 Rússia – 2006

Muitas vezes as derrotas nos fazem torcer mais e mais por um time. A Fiel torcida surgiu ao longo de 23 anos que o Corinthians passou sem levantar troféu algum.

Passei a acompanhar mais o voleibol feminino do Brasil depois de 2004 e o 24 a 19.

Em 2006, estava desempregado e com tempo suficiente para acompanhar eventos esportivos na TV.

A chance de amenizar a derrota dolorida de 2004 apareceu rapidamente.

Já no mundial do Japão, Brasil e Rússia voltaram a se encontrar na final, e novamente o Brasil vinha com melhores resultados.

Não tinha cubana gritando na cara de brasileira, mas tinha um trauma recente.

Na final, novamente contra as russas, o Brasil saiu na frente, tomou a virada, empatou em 2 sets a 2, e chegou a fazer 13 a 11 no 5º set, mas novamente tomou a virada e perdeu 15 a 13.

Não fosse o trauma de dois anos antes, esse jogo ganharia características normais de uma decisão.

Mas não, emendando com a derrota de Atenas, a fama de seleção “amarelona” pegou.

craque brasileira Mari, perseguida pela torcida após 2004 e 2006.

Momento de reavaliar a vida, dar uma guinada para qualquer outro lado, sair da inércia. Mas o que poderia resolver isso?

Não sei dizer exatamente, mas na minha vida resolvi fazer concursos.

Na seleção, Zé precisava trabalhar o psicológico das atletas.

Brasil 3 x 2 Rússia – 2012

Muita coisa aconteceu entre a derrota de 2006 na final do mundial de voleibol feminino e o jogo de quartas de final das Olímpiadas de Londres em 2012.

Em 2008 o Brasil venceu com muita facilidade as Olimpíadas. Bateu a Rússia na fase inicial em um jogo que mais parecia treino, tamanha a facilidade. Em nada lembrou os jogos de 2004 e 2006.

Em 2010, a Rússia voltou a ser a pedra no nosso caminho e faturou novamente o mundial.

A seleção feminina de vôlei chegava em Londres como uma das favoritas, mas faz uma primeira fase deplorável, e acabou por contar com uma vitória americana sobre a Turquia para se classificar.

Classificada em 4º lugar, a seleção feminina encarou nas quartas de final a Rússia, com traumas em 2004, 2006 e 2010 a serem resolvidos em quadra.

Eu, do desemprego em 2006, parti para morar em Teresina, concursado em 2007, depois Brasília e finalmente Palmas.

Foi a época de enraizamento na mais nova capital do país. Uma cidade cheia de encantos.

Palmas – Tocantins

Não pude tirar férias e passei por grandes apuros para assistir aos principais jogos sem prejudicar o trabalho.

O jogo contra a Rússia, no horário de almoço, me fez assistir por partes, iniciando no restaurante, quando a Rússia começou na frente, parecendo que o Brasil não tinha bola para bater de frente.

Chegando em casa, um bom segundo set, nos colocou de volta na partida, mas logo a Rússia venceria o terceiro set e começava a caminhar para a vitória no quarto set.

Senti que veria novamente uma derrota e peguei o carro rumo ao trabalho.

 Assim mesmo, procurei ser rápido, para pelo menos me informar logo do resultado.

Chegando no trabalho recebo uma ligação no celular, era minha irmã Ingrid.

Atendo já sabendo que seria notícia boa, afinal ela não ligaria se tivéssemos perdido o quarto set.

O relato dela contando da virada espetacular com o apoio da pequena porém barulhenta torcida brasileira, com gritos de o campeão voltou, me faz correr pelos corredores do trabalho em busca de uma TV.

Pensei em uma na sala de reunião da diretoria, já prevendo que estaria ligada e com algumas pessoas assistindo.

Mas não. A TV estava desligada e ninguém interessado.

Solicitei para a secretária do diretor e liguei a TV.

Era o 5º set.

Jogo equilibrado e o Brasil parecia que dessa vez venceria.

11 a 9 para o Brasil, Garay marca mas o bandeira dá bola fora.

O time nervoso reclama mas o árbitro confirma bola fora e chama a atenção do Brasil.

O replay foi claro, a bola foi muito dentro.

A sala de reunião já está cheia, e a emoção tomando conta.

Pensei, pede tempo Zé para acalmar.

Ele não pede.

Mas o Brasil marca com Fabiana e na sequência, Garay faz um saque venenoso que nos dá 13 a 10.

A Rússia marca e é 13 a 11.

Fabiana é bloqueada e no contra-ataque Sokolova marca 13 a 12.

Zé pede tempo.

A sala de reunião já está um caos.

Eu só queria um cantinho pra torcer, esse jogo seria pra chorar no final, qualquer que fosse o resultado.

Fabiana é bloqueada e no contra-ataque Sokolova empata. 13 a 13.

Está acontecendo de novo. Tenho vontade de não ver o restante.

A Rússia salva uma bola impossível e na sequência Fabiana ataca para fora.

É match point para a Rússia e Zé Roberto pede tempo.

Zé tenta acalmar os ânimos, e dessa vez, diferentemente de 2004, pega Dani Lins pelo braço e cochicha jogada.

Dessa vez não vai dar! Somos fregueses de carteirinha da Rússia! não aguento mais a Gamova! Mas vamos ver, o campeão voltou, a Sheilla tá pedindo bola pra decidir.

Sheilla, que pediu bola insistentemente no tempo técnico, recebe e marca. 14 a 14

Fabiana é substituída e sai quase chorando, como quem se culpa pelos erros.

O Brasil tem dois contra-ataques mas não consegue marcar. Sokolova marca.

No 17 a 17, Fabiana retorna.

A cada match point salvo por Sheilla, em que eu, já impaciente, esperava sempre o pior, parecia surgir uma borracha apagando uma página escrita em 2004 ou 2006 ou 2010. Principalmente 2004.

Cinco match points salvos, no fatídico 24 a 19 também foram cinco, diretos.

Mais um salvo. O sexto.

Sheilla salvou cinco, três atacando da linha de três metros, um na entrada de rede e um na saída de rede. Thaísa salvou um.

Tá bom Brasil, devolvemos um por um, os match points de 2004, com um de gorjeta, agora falta vencer o jogo.

Sokolova fazia uma partida extraordinária. Em muitos momentos, passava na frente da líbero russa para recepcionar o saque adequadamente.

Mas na hora decisiva, errou. Recepcionou mal dois saques de Garay.

Fabiana marca o ponto da vitória e do encerramento da carreira de Gamova.

Marca o fim da freguesia. O fim do trauma de 2004 e do 24 a 19.

O Bi Olímpico estava à caminho.

A sala comemora. Eu não tenho como chorar de alegria, engoli as lágrimas e fui trabalhar, lamentando o porquê de não ter tirado férias.

Mas minha vida em Palmas não era para se lamentar, conseguia navegar em águas calmas, e qualquer 24 a 19 que tenha ocorrido no passado, foi devidamente esquecido por aqui.

Brasil 2 x 3 Rússia – 2012

No dia anterior à final de vôlei masculino em Londres, as meninas haviam conquistado o Bi Olímpico e acabado com qualquer trauma passado, tanto com Rússia quanto com Estados Unidos.

O masculino vinha de um vice em Pequim, e de um Tricampeonato Mundial.

A Rússia é imprevisível. Pode estar em um dia mágico e vencer com facilidade, bem como pode estar em um dia trágico e perder o rumo de Moscou.

Nesse dia conseguiram estar em ambos.

Depois da provação passada no feminino, passei a acreditar que o masculino também iria brilhar, com uma inédita conquista conjunta, masculino e feminino na mesma Olimpíada.

Finais no fim de semana e pude acompanhar tudo, apesar da lamentável cobertura da TV Record, que, imitando o padrão global, só deu preferência para vôlei e futebol. Falei sobre isso neste post.

O Brasil tinha dificuldades, com jogadores mais velhos e com problemas de contusão, mas, particularmente na final, foi impecável nos dois primeiros sets.

No terceiro set, sabedor que essa geração não tinha fama de amarelar no final, comecei a comemorar cedo.

Quando o placar apontava 22 a 19 para o Brasil, liguei para meu irmão Vladimir, para comentar o final e comemorarmos juntos. Eu tinha dois celulares, o outro, liguei para minha irmã.

Como todo bom torcedor raiz, a superstição fazia parte da minha vida na infância e adolescência.

Mas fui deixando de lado as manias. Se ainda as tivesse, me lembraria de 2004 e não teria feito as ligações.

Meu irmão, ao atender e ouvir minha euforia no celular, ainda tentou me conter, lembrou de 2004, mas nem deixei ele terminar as frases de aconselhamento moderado.

O treinador russo, já em desespero no terceiro set, fez uma alteração, trocando Muserskiy de meio de rede para oposto. Mesmo assim, Muserskiy não estava inspirado, até 22 a 19.

O gigante russo passa a virar todas as bolas, a defesa deles funciona como nunca (tinham fama de preguiçosos na defesa, muito por conta de optar por jogadores muito altos, dando preferência pelo bloqueio e ataque com bolas altas nas pontas).

A Rússia empata em 22 a 22, eu tomo uma bronca do meu irmão, e fica combinado de conversarmos só após o jogo.

O Brasil ainda teve dois match points no set, mas perde no final por 29 a 27.

Esse jogo pode ser dividido em três partes:

A primeira parte vai do início até 22 a 19 no terceiro set – Brasil exuberante e dominante,

A segunda vai do 22 a 19 para o Brasil até 29 a 27 pra Rússia no terceiro set – um jogaço equilibrado.

A terceira e última parte são os quarto e quinto sets, onde a Rússia não dá chance pro Brasil.

Depois de anos de polêmicas com Zé Roberto, Bernardinho teve seu “24 a 19”. Um jogo quase ganho se transforma em uma derrota muito dolorida. Mas deixemos esse rótulo para o torcedor, como eu. Que eles saibam voltar ao caminho das vitórias.

Ligo para meus irmãos, e, inegavelmente, a culpa pela derrota foi minha, por ter feito a ligação precocemente.

Precisava trabalhar minha ansiedade. A cidade de Palmas iria ajudar, uma capital pacata que privilegia a vida saudável esportiva, em vez da badalada Goiânia, cheia de bares e boates.

Aqui em Palmas voltei a fazer natação depois de mais de vinte anos, e a pedalar.

Ciclovia em Palmas – Tocantins

Sem stress, sem metas, pela saúde.

O Brasil precisava tratar essa derrota sem rótulos, sem stress, para não passar o que o feminino passou na década anterior.

Dessa Olimpíada, partiríamos para o Rio, onde eu iria poder realizar sonhos de infância e acompanhar dezenas de jogos “in loco”.

Brasil 22 x 20 Sérvia – 2013

Pratiquei handebol somente no Colégio da Providência no Rio de Janeiro, aos 8 anos.

É um esporte que poderia facilmente ser difundido no Brasil, por utilizar uma quadra semelhante à do futsal, e que tem como objetivo marcar gols.

Mas, “as usual”, no Brasil, esporte é o último na lista de prioridades, exceção feita ao ciclo olímpico rumo aos Jogos Olímpicos Rio 2016, sem entrar no mérito de legado (que não houve), e de corrupção (que houve).

Entretanto, alguns esportes conseguiram se posicionar melhor no mundo, depois de um maior investimento. Foi o caso da seleção feminina de handebol, que já possuía uma geração talentosa, mas faltava o acabamento, o refino.

Depois de um 5º lugar do mundial de 2011, disputado no Brasil, a seleção feminina de handebol queria mais.

O treinador dinamarquês Morten Soubak foi trazido e muitas jogadoras jogando pelos melhores times da Europa, contribuíram para a melhoria e tempero que faltava à seleção.

Mas não seria fácil vencer um mundial disputado no leste europeu, grande centro do esporte.

Para variar, apenas um canal fechado se interessou pelo evento. O ainda novo Esporte Interativo apostou no torneio, juntamente com uma torcida uniformizada “sui generis”.

Os Chapolins Brasileiros, que já acompanhavam diversos eventos esportivos pelo mundo afora, foram parar na Sérvia, sede do torneio, apoiando a seleção feminina. Mal sabiam que iriam enfrentar um ginásio lotado e muita tensão. Quero muito ser como eles quando eu crescer, viajar pelo mundo torcendo pelo Brasil.

A repórter Monique Danello, escalada pelo Esporte Interativo, foi cobrir a participação brasileira na Sérvia.

O Brasil caiu em uma chave muito forte na fase inicial, que poderia levar a uma desclassificação precoce.

Mas foi dominante em todos os jogos, vencendo as favoritas e donas da casa servias e as Tricampeãs Olímpicas 96-00-04 dinamarquesas.

Com isso, o Brasil empurrou a bicampeã olímpica 08-12 Noruega para confronto de quartas de final com a Sérvia, e outro confronto de oitavas de final entre Dinamarca e as medalhistas de prata Londres-12 Montenegrinas.

Parecia que o caminho estaria facilitado, parecia.

O Brasil enfrentou a Holanda (ou Países Baixos, como queiram) nas oitavas de final, e a Holanda era uma seleção que estava surgindo, e que mais à frente, seria nossa algoz na Rio-16.

Mas por enquanto, as holandesas ainda não foram páreo e o Brasil já conseguia chegar às quartas de final, dali em diante seria lucro.

A Hungria elimina as fortes espanholas, algozes do Brasil no mundial de 2011, realizado no Brasil e medalhistas de bronze em Londres-12.

Brasil e Hungria fazem jogo épico nas quartas de final com duas prorrogações, que leva nossa seleção para a inédita disputa das semifinais.

Semifinais com três equipes do mesmo grupo inicial, Brasil, Sérvia e Dinamarca, já indicava que estávamos sonhando, mas com pés no chão. O título era possível.

Na semifinal, um jogo mais controlado contra a Dinamarca e final marcada para o dia seguinte, um domingo, contra a Sérvia, no ginásio em que o Brasil venceu os donos da casa em duas finais de liga mundial de voleibol masculino, em 2005 e 2009.

Os 11 Chapolins brasileiros tiveram que encarar mais de 20 mil sérvios, extremamente hostis.

Chapolins Brasileiros

Para mim, no conforto do sofá raiz, e com sorte de ter a operadora de TV que transmitia o Esporte Interativo, restava torcer para que meu irmão conseguisse também assistir, e evitasse meu ato pecaminoso de ligar para ele no final do jogo, pra comemorar antes da hora.

Meu irmão acabou por pagar um mês de assinatura do canal, por conta da final, me tranquilizando. Nada pode dar errado.

Na final, um jogo brasileiro dominante no placar e nas ações.

Mas, sempre tem um mas…

Restando pouco tempo, a arbitragem toma decisões questionáveis, favorecendo as donas da casa, e a Sérvia retira uma desvantagem de 3 gols, empatando em 20 a 20, com uma jogadora a mais.

Com o ginásio ensandecido, entra em quadra uma baixinha de 20 anos e 1,59 m.

A pernambucana Deborah Hannah faz uma jogada espetacular e coloca o Brasil à frente.

Ana Paula faz mais um, Maysa faz mais um de inúmeros milagres no gol brasileiro e vencemos 22 a 20.

Um jogaço e um título irretocável.

Todas foram heroínas, não era um time de Romário, ou de Hortência, Paula e Janeth. Foram 16 heroínas, que não tem, principalmente no Brasil, o destaque e sucesso merecido.

Eduarda Amorim, a Duda, de todo modo, que é considerada destaque pela imprensa especializada internacional, foi MVP do campeonato.

O handebol é mais democrático com as atletas, todas jogam, entram na defesa ou no ataque. Muito dinâmico.

Às campeãs, minha reverência: Fabiana Diniz, Alexandra Nascimento, Samira Rocha, Daniela Piedade, Amanda de Andrade, Fernanda da Silva, Ana Paula Rodrigues, Bárbara Arenhart, Elaine Gomes, Mayssa Pessoa, Karoline de Souza, Eduarda Amorim, Deborah Hannah, Mariana Costa, Mayara Moura, Deonise Cavaleiro.

Seleção Brasileira Feminina de Handebol Campeã Mundial 2013

A repórter Monique Danello, cai em choro de emoção e as imagens vão para o mundo todo. É o retrato da conquista, uma repórter, onze torcedores e a equipe.

O abandono do esporte olímpico brasileiro viria rapidamente, um minuto após o término das Olimpíadas Rio-16.

Os atores burocráticos, políticos e administrativos do evento fugiram da responsabilidade o mais rápido possível.

Por isso era tão importante agarrar a oportunidade daquele mundial, sabe-se lá quando o handebol feminino será apoiado novamente, mesmo que por poucos.

Jogo terminado, posso ligar em paz para meus irmãos e comemorar mais um título, que dessa vez, não estraguei.

Os Chapolins Brasileiros mal sabiam que tinham proteção policial no ginásio e só perceberam, quando, ao final da partida, foram orientados a aguardar o ginásio esvaziar, tiveram que retirar os uniformes e finalmente foram escoltados até a porta da casa que alugaram em Belgrado. Sou fã nº 1 deles! Força guerreiros!

Brasil (3) 0 x 0 (4) Suécia – 2016

Animado com as Olimpíadas no Rio, planejei criteriosamente uma planilha para adquirir os ingressos, e, em boa parte, fui bem sucedido com meus irmãos, estivemos juntos nos principais eventos do Brasil na Rio-16, quebrando a ausência mútua,  de assistir eventos dos mais diversos, cada um em sua cidade, precisando ligar um para o outro.

No caso do futebol feminino, eu tinha ingressos para a semifinal e final.

O idealizador do Papo de Boteco, Victor Loyola, que escreve no Blog do Victor, é amigo antigo de meu irmão Vladimir, acabando por se tornar meu amigo, mesmo que com poucos encontros, mas com uma afinidade que nos une fortemente, a paixão, e, principalmente, sofrimento pelo Vasco da Gama.

Já descrevi anteriormente que fomos juntos ao Maracanã, no inédito Tricampeonato estadual do Vasco em 94.

Depois, nos encontramos, alguns meses depois, na formatura dele e do meu irmão, pois estudaram juntos.

Após isso, só em 2016, em frente à estátua do Bellini, após o jogo Brasil x Suécia, semifinal do futebol feminino, Olimpíadas do Rio.

Era para ser um encontro de comemorações.

O Brasil vinha embalado. Boas vitórias na fase inicial, inclusive goleada contra a própria Suécia.

Um jogo duríssimo contra a Austrália nas quartas, com vitória nos penais, pra engrossar a casca das jogadoras.

Brasil x Suécia

Faltou combinar com as russas, nesse caso, com as suecas.

Pia, a maravilhosa treinadora sueca, sabedora das limitações de sua seleção, montou um verdadeiro ferrolho suíço (sueco no caso) e fez o jogo ser um dos mais monótonos que já vi na vida.

A alegria e animação que transbordava pelas ruas do entorno do Maraca, antes da partida, foi se transformando em agonia e aflição dentro do estádio.

Camisa de condutor da Tocha Olímpica

Minha felicidade ao ver o movimento para entrada antes do jogo, pensando na possibilidade de enfim darem valor ao futebol feminino no Brasil, também foi se esvaindo e virando um tomento.

Quase nenhuma chance real de gol de ambas as partes, mesmo o Brasil com mais de 30 finalizações, contra 3 da Suécia.

Prorrogação

Nos penais, meu medo maior era Marta, que já havia perdido uma penalidade no jogo anterior, como também em final de mundial, em 2007.

Ela não errou, e Bárbara pegou uma cobrança sueca, mas duas brasileiras erram, que, em verdade, não lembro quem, e prefiro não buscar os nomes no google, porque não é intenção marcar alguém naquela derrota. Elas não merecem nenhum rótulo.

Hino nacional

O encontro com Victor, que estava com o filho Erik, haveria de ser alegre, cheio de comentários sobre o jogo, acabou por ser meio que de lamentos.

Aquele dia nas Olimpíadas, um 16 de agosto, foi bem triste no meu calendário olímpico da Rio-16. Fomos nesse jogo e na eliminação brasileira no vôlei feminino, pelas quartas de final, contra a China, mais à noite.

Brasil x China
Brasil x China

Tive uma sensação de que, a derrota iria novamente atrasar o desenvolvimento do futebol feminino no Brasil. Estava certo.

O futebol feminino melhorou muito pouco de lá pra cá. Falta de apoio, um preconceito odioso, nos mantem como uma eterna promessa.

A CBF tem feito alguma coisa, e, à nível de seleção, fez um gol de placa, ao trazer a treinadora Pia.

Mas não podemos esperar por um título importante da seleção feminina (mundial ou Olimpíada) para só depois disso realizar investimentos nesse esporte.

Espero muito que o futebol feminino emplaque no Brasil. Praças esportivas e clubes já existem. Interesse aumentou. Mas ainda há muito chão a ser percorrido.

E que no próximo encontro com Victor, já possamos, enfim, falar do futebol feminino, com estrela feminina bordada na camisa, ou senão, que falemos com igual interesse tanto do masculino quanto do feminino, independente de resultados.

Nas Olimpíadas, acompanhei tudo com meus irmãos, em uma jornada memorável de mais de 30 eventos. Todo amor por esportes pôde ser demonstrado na torcida por mim, desde o início, quando fui Condutor da Tocha, até os jogos propriamente ditos.

1º condutor da Tocha Olímpica em Palmas – TO

Uma experiência incrível e sensação de quero mais que nossos políticos, nossas federações e confederações trataram por afundar o mais rápido possível com qualquer tentativa de nos colocar como protagonistas mundiais do mundo esportivo.

Mas tenho casca grossa, e continuo até hoje a torcer e acreditar numa virada esportiva no Brasil.

Depois dessa saga em que acabo por rememorar minha vida atrelada aos esportes, deixo minha lista dos TOP 10 vitórias do Brasil mais marcantes e TOP 10 das derrotas mais doloridas:

TOP 10 de vitórias:

1 – Brasil 3 x 2 Rússia – Vôlei feminino – Olimpíadas Londres 2012

2 – Brasil (3) 0 x 0 (2) Itália – Futebol masculino – Final da Copa do Mundo EUA 1994

3 – Brasil 1(3) x 1(2) Alemanha – Futebol masculino – Olimpíadas Seul 1988

4 – Brasil 110 x 107 EUA – Basquete feminino – Semifinal Mundial Austrália 1994

5 – Brasil 99 x 97 Austrália – Basquete feminino – Pré Olímpico de Vigo 1992

6 – Brasil 3 x 0 Holanda – Vôlei masculino – Final Olimpíadas Barcelona 1992

7 – Brasil 22 x 20 Sérvia – Handebol feminino – Final Mundial Sérvia 2013

8 – Brasil 120 x 115 EUA – Basquete masculino – Final Jogos Pan Americanos Indianápolis 1987

9 – Brasil 68 x 67 Rússia – Basquete feminino – Quartas de Final Olimpíadas Sydney 2000

10 – Brasil 2 x 0 Uruguai – Futebol masculino – Eliminatórias da Copa do Mundo 1993

TOP 10 de derrotas:

1 – Brasil 2 x 3 Itália – Futebol masculino – 2ª fase Copa do Mundo da Espanha 1982

2 – Brasil 2 x 3 Rússia – Vôlei feminino – Semifinal Olimpíadas Atenas 2004

3 – Brasil 2 x 3 Cuba – Vôlei feminino – Semifinal Olimpíadas Atlanta 1996

4 – Brasil 0 x 3 França – Futebol masculino – Final Copa do Mundo da França 1998

5 – Brasil (3) 1 x 1 (4) França – Futebol masculino – Quartas de Final Copa do Mundo México 1986

6 – Brasil 2 x 3 Rússia – Vôlei masculino – Final Olimpíadas Londres 2012

7 – Brasil (3) 0 x 0 (4) Suécia – Futebol feminino – Semifinal Olimpíadas Rio 2016

8 – Brasil 3 x 4 Nigéria – Futebol masculino – Semifinal Olimpíadas Atlanta 1996

9 – Brasil 2 x 3 Rússia – Vôlei feminino – Final Mundial Japão 2006

10 – Brasil 2 x 3 EUA – Vôlei feminino – 1ª fase Olimpíadas EUA 1984

Outros 50 jogos marcantes, em ordem cronológica. Os que estão em negrito, eu estava no estádio ou no ginásio:

Brasil 4 x 1 Alemanha – Semifinal Mundialito de Futebol Masculino 1981. Show de Zé Sérgio. Eu, canhoto, queria jogar do mesmo jeito.

Brasil 1 x 2 Uruguai – Final do Mundialito de Futebol Masculino 1981 – Primeira decepção com a seleção brasileira. Primeiro choro com esportes.

Brasil 1 x 0 Alemanha – Amistoso Futebol Masculino 1982 – Primeira vez no Maracanã. Às vésperas da Copa do Mundo. Oscar, Zico, Júnior, Careca, Éder, Schumacher, Breitner, Briegel, Matthaus. Choro no estádio, em pé o jogo inteiro, copo de urina voando.

Brasil 3 x 0 Bulgária – Fase inicial Mundialito de Vôlei Masculino 1982 – Primeira vez Maracanãzinho. Jornada nas estrelas.

Brasil 3 x 1 Coreia do Sul – Fase inicial Mundialito de Vôlei Masculino 1982 – Jornada nas estrelas. Torcida do Flamengo gritando Mengo, comemorando o título da Taça Guanabara da noite anterior.

Brasil 0 x 3 EUA – Final Olimpíadas Vôlei Masculino 1984 – Decepção na final.

Brasil 0 x 2 França – Final Olimpíada Futebol Masculino 1984 – Decepção na final.

Brasil 80 x 96 EUA – Semifinal Mundial de Basquete Masculino 1986 – A virada que não se concretizou.

Brasil 3 x 1 França – Quartas de final Mundial de Vôlei Masculino 1986 – A virada de set épica.

Brasil 105 x 110 União Soviética – Quartas de final Basquete Masculino Olimpíadas 1988 – A bola que Oscar perdeu.

Brasil 0 x 1 Argentina – Oitavas de final Copa do Mundo de Futebol Masculino 1990 – A amarga derrota.

Brasil 96 x 110 Lituânia – Quartas de final Basquete Masculino Olimpíadas 1992 – A virada de Sabonis.

Brasil 3 x 1 EUA – Semifinal Olimpíada Vôlei Masculino 1992 – Finalmente, vitória contra os americanos, sob os olhos de Magic Johnson.

Brasil 96 x 87 – Final Mundial Basquete Feminino 1994 – A coroação da geração de Paula, Hortência e Janeth.

Brasil 2 x 3 Iugoslávia – Quartas de final Olimpíada Vôlei Masculino 1996 – A reação incompleta.

Brasil 3 x 2 Rússia – Decisão Bronze Olimpíadas 1996. A reação com Elisângela.

Brasil 87 x 111 EUA – Final Olimpíadas Basquete Feminino 1996 – Uma derrota acachapante.

Brasil 3 x 2 Cuba – Final Jogos Pan Americanos Vôlei Feminino 1999 – Cubanas comemorando antes da hora.

Brasil 1 x 2 Camarões – Quartas de final Olimpíadas 2000 – Derrota na prorrogação no Gol de ouro, com dois homens a mais. A injustiça com Hélton.

Brasil 1 x 3 Argentina – Quartas de final Vôlei Masculino 2000 – Derrota amarga, depois de primeira fase brilhante.

Brasil 2 x 3 Cuba – Semifinal Olimpíada Vôlei Feminino 2000 – Um set perdido estando à frente em 19 a 11.

Brasil 84 x 73 Coreia do Sul – Decisão Bronze Basquete Feminino Olimpíadas 2000 – Duas prorrogações em jogo de sete erros.

Brasil 2 x 1 Inglaterra – Quartas de final Copa do Mundo Futebol Masculino 2002 – Virada e show de Ronaldinho, mesmo com expulsão.

Brasil 2 x 0 Alemanha – Final Copa do Mundo Futebol Masculino 2002 – Redenção de Ronaldo.

Brasil 3 x 2 Rússia – Final Mundial de Vôlei Masculino 2002 – O saque errado que deu certo.

Brasil 3 x 2 Sérvia e Montenegro – Final Liga Mundial Vôlei Masculino 2003 – O set final em 31 x 29.

Brasil 3 x 2 Itália – Primeira Fase Olimpíada Vôlei Masculino 2004 – O set que não terminou até hoje.

Brasil 1 x 2 EUA – Final Futebol Feminino Olimpíada 2004 – O início de Marta, a falta de energia na prorrogação.

Brasil 3 x 0 Polônia – Final Mundial Vôlei Masculino 2006 – O auge da geração de ouro, o massacre.

Brasil 5 x 0 EUA – Final Jogos Pan Americanos Futebol Feminino 2007 – O baile de gala no Maracanã e eu no avião rumo ao Rio.

Brasil 4 x 0 EUA – Semifinal Copa do Mundo de Futebol Feminino 2007 – Nem as reservas no PAN, nem as titulares no Mundial seguraram Marta e Cristiane.

Brasil 0 x 2 Alemanha – Final Copa do Mundo Futebol Feminino 2007 – Marta perde pênalti.

Brasil 0 x 1 EUA – Final Futebol Feminino Olimpíadas 2008 – A derrota injusta e amarga.

Brasil 3 x 1 EUA – Final Vôlei Feminino Olimpíadas 2008 – O pedido de silêncio de Mari.

Brasil 1 x 3 EUA – Final Vôlei Masculino Olimpíadas 2008 – A virada americana, o saque que nem Serginho pegava.

Brasil 68 x 70 EUA – Primeira fase Mundial de Basquete Masculino 2010 – Lance livre de Huertas.

Brasil 3 x 0 Cuba – Final Mundial de Vôlei Masculino 2010 – O show de Vissotto. A conquista manchada.

Brasil 2 x 3 Rússia – Final Mundial de Vôlei Feminino 2010 – A volta da freguesia.

Brasil (3) 2 x 2 (5) EUA – Quartas de final Copa do Mundo de Futebol Feminino 2011. A falta de energia no final e derrota em penais.

Brasil 3 x 1 EUA – Final Vôlei Feminino Olimpíadas 2012. O bi improvável. EUA freguesas.

Brasil 1 x 2 México – Final Futebol Masculino Olimpíadas 2012. Mais uma decepção em final.

Brasil 33 x 31 Hungria – Quartas de final Mundial Handebol Feminino 2013. Duas prorrogações e a inédita ida para a semifinal.

Brasil 1 x 7 Alemanha – Semifinal Copa do Mundo Futebol Masculino 2014. O show de horrores.

Brasil 1 x 3 Polônia – Final Mundial Vôlei Masculino 2014. A arbitragem polêmica, na casa deles.

Brasil 2 x 3 China – Quartas de final Vôlei Feminino Olimpíadas 2016. A reação do Brasil empurrado pela torcida. O choro do neto de Zé Roberto no final.

Brasil 3 x 1 Argentina – Quartas de final Vôlei Masculino Olimpíadas 2016. A rivalidade com Los Hermanos dentro do Maracanãzinho, e o medo da derrota rememorando 2000.

Brasil 3 x 0 Rússia – Semifinal Vôlei Masculino Olimpíadas 2016. O passeio e a lição de 2012.

Brasil (5) 1 x 1 (4) Alemanha – Final Futebol Masculino Olimpíadas 2016. O fim dos fantasmas.

Brasil 3 x 0 Itália – Final Vôlei Masculino Olimpíadas 2016. Bambinos fregueses de carteirinha.

Brasil 0 x 3 Polônia – Final Mundial Vôlei Masculino 2018. Passeio polonês.

Vinícius Perilo

Vinícius Perilo, 47 anos, é engenheiro civil apaixonado por todos os esportes. Tudo começou no Ursinho Misha em Moscou 80, e, a partir daí, acompanhando ídolos como Oscar, Hortência, Bernard, Jacqueline, Ricardo Prado, Joaquim Cruz. Ama futebol como todo brasileiro, faz parte da geração que chorou de tristeza a derrota de 82 e de alegria com o Tetra em 94. Realizou um sonho de criança e conduziu a Tocha Olímpica para a Rio 16. Ainda acredita no Brasil olímpico.

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