Esporte

#Tbt Jogos Inesquecíveis que marcaram minha vida

Bernardinho mostra seu valor ao conseguir tirar o melhor de um grupo abalado por uma derrota amarga. Banco de reservas também ganha jogo e título.

Brasil 3 x 2 Rússia – 1996

Não havia tempo para lamentações e para lamber as feridas.

A confusão do jogo entre brasileiras e cubanas na semifinal de vôlei feminino havia de ser esquecida para enfrentar uma fortíssima Rússia na luta pelo bronze nas Olimpíadas de Atlanta-96.

Apesar da minha decepção com a seleção de futebol masculino e com o vôlei masculino, achava que era muito importante conquistar o bronze. A seleção feminina já possuía resultados importantes, inclusive o vice-campeonato mundial, mas nunca havia conquistado uma medalha olímpica.

Dali a poucos dias, eu começaria a trabalhar.

Tive o privilégio de poder estudar a vida toda, e só depois de formado, partir para a vida de trabalhador de sol a sol, em obras e mais obras.

O primeiro emprego estava muito aquém de qualquer sonho ou aspiração profissional, mas eu precisava de experiência. Meus estágios de nada contribuíram para um currículo e tampouco conhecimento para o que acabei por fazer a vida toda. O ramo de engenharia é amplo demais.

O trabalho seria a minha medalha de bronze, importante, mas com gostinho amargo de uma decepção por esperar o mais alto degrau do pódio.

Bernardinho uniu o útil ao agradável e lançou jogadoras reservas no jogo, que iriam encaixar melhor para enfrentar as gigantes e lentas russas.

Uma delas Ericléia Bodziak, a Filó seria a maior aposta (mais alta e também mais forte).

Leila, a atual senadora, também entrou no time.

Com isso Bernardinho melhorou o passe com Leila e a potência de ataque e bloqueio com Filó.

O time jogava com as três jogadoras de rede mais agrupadas e sempre que dava, formavam o bloqueio triplo, para compensar a menor estatura.

Mas o jogo não seria a facilidade que foi na fase de classificação.

Depois de voar na primeira fase, vencendo a própria Rússia por 3 a 0, parecia que a força do time se exauria a cada partida.

A Rússia tinha no banco um personagem no mínimo curioso. O treinador Karpol parecia sempre estar gritando e humilhando as atletas.

A Globo fez uma tradução do que ele falava nos tempos técnicos e as caricaturas e gritos não eram condizentes com a fala. Eram frases de incentivo e de levantar o ânimo. Nada a ver com o que parecia acontecer aos nossos olhos. Mas a lenda sempre existiu.

Bernardinho era chamado de Karpol, pois acabou por também ser extremamente exaltado nos jogos.

Uma geração russa estava ali, na nossa frente, se formando. Godina, Artamonova, e a célebre Sokolova faziam parte do elenco.

A musa Gracheva, levantadora reserva, que levou muitos brasileiros aos suspiros no mundial no Brasil em 94, era a mais famosa por aqui.

Mesmo sendo um time mais bem-acabado, com bom passe, jogadas mais criativas, sofremos demais com a potência e altura russa.

O jogo foi para o tie-break, e brilhou a estrela de Filó.

14 a 13 para o Brasil e a bola de match point foi para ela na entrada de rede.

Filó enfrentou um bloqueio duplo russo e cortou com toda a força possível. A bola passou no meio do bloqueio e morreu na quadra russa.

O bronze veio com alegria e muito choro das jogadoras. Um trabalho de três anos coroado.

Muito mérito para Bernardinho, principalmente pelas apostas em reservas e por conseguir levantar o astral do elenco para buscar a medalha.

A geração de Ana Moser teve seu melhor time em 96, não teve forças para o ouro olímpico, mas o bronze era a semente para o futuro, uma experiência bem vivida.

Os jogos de Atlanta se encerravam com muitas medalhas para o Brasil e esperança de melhores dias para o esporte olímpico brasileiro.

Meu primeiro emprego era a minha esperança de melhores dias e o início da carreira profissional do engenheiro de obras civis que viria a ser.

Vinícius Perilo

Vinícius Perilo, 47 anos, é engenheiro civil apaixonado por todos os esportes. Tudo começou no Ursinho Misha em Moscou 80, e, a partir daí, acompanhando ídolos como Oscar, Hortência, Bernard, Jacqueline, Ricardo Prado, Joaquim Cruz. Ama futebol como todo brasileiro, faz parte da geração que chorou de tristeza a derrota de 82 e de alegria com o Tetra em 94. Realizou um sonho de criança e conduziu a Tocha Olímpica para a Rio 16. Ainda acredita no Brasil olímpico.

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