Opinião

Lula emburreceu a esquerda brasileira. E isto é ruim prá todo mundo

De todos os males que Lula causou ao nosso país, nenhum é mais imperdoável que o emburrecimento que ele impôs à esquerda brasileira.

Nasci em 1952, e vivi minha adolescência e parte da minha vida adulta durante os anos da ditadura. Neste contexto, aprendi a admirar os “intelectuais de esquerda”, caras que tinham coragem e inteligência para enfrentar a censura e nos trazer mensagens de grande valor para a nossa formação. Neste bolo tínhamos a turma do Pasquim, cronistas como Stanislaw Ponte Preta, compositores como Gil, Chico e Caetano, entre outros.

A ditadura acabou, voltamos ao regime democrático, Lula finalmente foi eleito e… não é preciso dizer o que aconteceu. A história é recente. Em bom português, deu merda.

O problema é que da terra arrasada que os 13 anos de Lula e seus amiguinhos deixaram, brotou Bolsonaro, uma criatura também das trevas. E hoje temos um triste cenário em que, para muita gente boa, vale engolir qualquer sapo para tentar trazer Lula de volta. Passando por cima de toda a sua extensa lista de crimes e malfeitos.

“Baba baby, baba”

Lembro de uma crônica de Nelson Rodrigues sobre a derrota dos brasileiros para os húngaros na Copa de 1954. Segundo Nelson, o time brasileiro teria se acovardado e encolhido diante da fama da “máquina de jogar bola” dos húngaros. Fiel ao seu estilo, Nelson descreveu a atitude do nosso time com uma frase antológica; “Dos lábios dos nossos (jogadores) pendia a baba bovina das admirações abjetas”. Ou seja, ficaram babando e esqueceram de jogar bola. Talvez não tenha sido bem assim, vi alguns filmes sobre o jogo e discordo dele, mas fica a narrativa.

Talvez por coincidência histórica, a esquerda chama de “gado” o eleitorado de Bolsonaro. Só que agora parece que a baba bovina contagiou gente dos dois lados.

Hoje vejo pessoas inteligentes “pagando pau” (acho esta expressão horrível, mas é a que se encaixa) prá Lula, comprando a história que ele é inocente de todos os seus crimes e erros, herói do povo e vítima da “Zelite”, esta terrível entidade do mal, que me lembra os incas venusianos do National Kid (ok, sou velho mesmo). Como se fossem vítimas do tamanduá chupador de cérebros, personagem do inesquecível Henfil – este sim um intelectual de esquerda de verdade.

A triste realidade é que esta cega admiração e obediência à Santa Criatura tornou a esquerda brasileira, que sempre foi um caldeirão de ideias, pensamentos e livre debate, numa seita de zumbis lobotomizados que só sabem repetir “Lula, Lula, Lula”. Babando abundantemente.

Assim procedendo, se nivelam com o “gado”, e o que era prá ser um debate político transforma-se em uma troca de chifradas entre bovinos de um lado e de outro, num octógono coberto de baba. Para completar o cenário de inferno, o fundo musical apropriado para o nível intelectual do debate seria uma das obras primas da Kelly Key (alguém se lembra dela?) – “Baba baby, baby baba!”. E que vença o pior!

Mas sou otimista e acredito que vamos sair desta. Afinal, já garantia o grande Geraldo Vandré, outro ilustre representante da estirpe, “Gado a gente marca, tange, ferra, engorda e mata, mas com gente é diferente”.

Talvez um dia este país deixe de ser intelectualmente indigente, e se torne mais exigente na escolha de seus eleitos.

Que Deus nos ilumine…

Marcio Hervé

Márcio Hervé, 71 anos, engenheiro aposentado da Petrobras, gaúcho radicado no Rio desde 1976 mas gremista até hoje. Especializado em Gestão de Projetos, é palestrante, professor, tem um livro publicado (Surfando a Terceira Onda no Gerenciamento de Projetos) e escreve artigos sobre qualquer assunto desde os tempos do jornal mural do colégio; hoje, mais moderno, usa o LinkedIn, o Facebook, o Boteco ou qualquer lugar que aceite publicá-lo. Tem um casal de filhos e um casal de netos., mas não é dono de ninguém; só vale se for por amor.

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Um Comentário

  1. Certeiro, não acho difícil que nas próximas eleições as duas manadas poderão reunir-se para conservação do pasto. Já estamos vendo um pouco disto.

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