CulturaFilosofia de botecoMúsicaOpinião

Surdez e música

Hoje eu estava na Av. Paulista quando ouvi um som muito suave

Tenho surdez profunda e são raros os sons que me chamam atenção.

Mas aquele som me enlevou. Era um homem tocando saxofone.

Fiquei lá por alguns minutos, sentindo a música.

Como meu aparelho auditivo não capta todas as frequências, eu mais “sinto” a música do que “ouço”.

Fico imaginando as notas musicais, os acordes e como a música soa para os ouvintes.

Peguei a música e trouxe-a para dentro do meu coração. Como será o mundo dos ouvintes, com todos esses sons, eu pensei?

Será que o barulho do tráfego encobre as notas musicais ou não? Como eles distinguem cada uma? Parece muito difícil…

Eu tive um namorado pianista e ele tentou, algumas vezes, me explicar a diferença entre as notas musicais.

Entendi que algumas são mais graves e outras mais agudas, porém, quando escuto, tudo se “mistura” e fica meio confuso pra mim.

Por isso, não gosto de muitos instrumentos tocados juntos, eles soam como uma cacofonia de sons para mim. Mas gosto de algumas músicas tocadas ao piano.

Confesso que presto mais atenção às expressões do(a) pianista tocando do que à música. Fico tentando associar a música aos sentimentos da pessoa que toca.

Também costumo assistir ópera pelo YouTube e fico olhando as expressões faciais dos cantores, tentando entender quando a música sobe, desce ou muda de tom.

Assisti “O Fantasma da Ópera” quando era adolescente. Não ouvi nem entendi muito bem, mas achei magnífico!

Minha alma foi tocada de uma forma profunda naquela ópera, porque lembro de ter chorado e sentido a mesma enlevação que senti hoje…

Às vezes eu entro rapidamente no mundo dos ouvintes e imagino: é assim que deve ser. E isso, de alguma forma, me toca profundamente.

Acredito que música, mais do que som, é alma.

E a alma, você não precisa ouvir para sentir…

Marcela Helena Guimarães Jahjah

Helena é uma surda oralizada que lê lábios, fala oralmente e é apaixonada por comunicação, livros e todas as nuances da prosa e verso. Curiosa por natureza, adora psicologia, filosofia e neurociências. Sua paixão por línguas e literatura a levou à faculdade de Letras e ao estudo das minúcias e meandros de português, espanhol, inglês e Libras. No trabalho, atua com produção de conteúdo, tradução e revisão há mais de 15 anos. Para ela, a linguagem de um texto é como uma obra de arte, moldada e aperfeiçoada a fim de transmitir a mensagem da forma mais clara, coerente, coesa e bela possível. Atua hoje como ghostwriter especializada em Linkedin para executivos, empreendedores e profissionais que querem produzir conteúdo e se destacar na rede, usando estratégias de comunicação, marketing, copywriting e branding. Tendo forte identidade surda, também milita ativamente em prol da inclusão e acessibilidade da comunidade surda na sociedade e no mercado de trabalho.

Artigos relacionados

Um Comentário

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Verifique também
Fechar
Botão Voltar ao topo
%d blogueiros gostam disto:
Send this to a friend