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Pitacos sobre a guerra na Ucrânia em pleno exercício da ‘tudologia’

A Russia alega motivações de segurança para invadir a Ucrânia, por estar negociando sua entrada na OTAN. Essa aproximação entre as partes já vem desde 2008 e até o momento não havia se concretizado em uma associação de fato.

Outros países que estavam sob a influência da antiga URSS já fazem parte da OTAN, mas a Rússia parece ter um apreço maior pela possível inserção de sua vizinha, com quem mantém laços históricos, particularmente com a sua a região oriental.

Há quem diga que essa narrativa esconde um plano de retomada de poder e influência da Rússia sobre os antigos países satélites da URSS e que a conquista da Ucrânia seria a primeira ação nesse sentido.

Certo de que não haveria reação militar do ocidente e que as forças ucranianas seriam incapazes de resistir ao avanço de suas tropas, Vladimir Putin ordenou a invasão, deflagrada na última sexta, e que ocorre com objetivo de tomar Kiev e derrubar o governo atual, contrariando na largada a tese dos “passapanistas’, de que ele estaria focado apenas em integrar os territórios que se proclamaram independentes pouco antes da eclosão da guerra.

Desde então, o avanço russo tem ocorrido conforme as expectativas, apesar de mais lento do que o esperado. Putin encontrou uma surpreendente resistência ucraniana, certamente inflamada pela postura resiliente de seu presidente, das reações de apoio mundo afora e sobretudo pelo senso de orgulho ferido. Em condições normais, nenhum invasor seria recebido com flores. Deve ser uma questão de tempo para a Rússia atingir seu objetivo militar e tomar a capital, mas as perguntas que se colocam são: a que custo e o quê vem depois?

Por que conquistar é uma coisa, manter o domínio é muito mais custoso e complexo, como mostram experiências históricas. Não me parece crível que a população ucraniana aceitaria de bom grado a perda de sua independência ou a colocação de um governo fantoche, muito provavelmente teríamos resistência e isso poderia ampliar exponencialmente os custos econômicos e políticos para a Rússia, quem sabe a ponto de inviabilizar a empreitada.

Em paralelo, o ocidente, militarmente inoperante, sinalizou com sanções econômicas severas contra os agressores. Será que não haverá muitas exceções à regra? Tivemos a notícia de que a Rússia seria banida do Swift ( mecanismo que permite transações financeiras internacionais), mas já se abriu a exceção para as contas por onde transitam os pagamentos do fornecimento de gás para Europa. À medida que outros ‘veja bem'”ganhem corpo, as sanções perdem relevância. Ainda não é possível prever o quanto as potências ocidentais estão dispostas a sacrificar alguns de seus negócios ou até mesmo parte do seu bem estar para converter a Rússia em um pária econômico global. Se de fato aa sanções forem levadas a sério, podem causar bastante estrago à economia russa.

E nessa situação, ficará no ar o questionamento da população se essa aventura bélica de seu ‘czar” vale a pena. Não nos esqueçamos também de que a Rússia tem centenas de bilionários e milhares de milionários que vivem muitíssimo bem no “Jet-set” do capitalismo global. Estaria essa elite disposta a prejudicar sua riqueza pelo sonho do retorno da Grande Mãe? Até quando eles apoiariam seu chefe de  estado nessa guerra?

Também é certo de que a Rússia é um país totalitário onde o contraditório à posição do governo vai parar na cadeia, mas talvez uma posição crítica parta do topo da pirâmide social, de quem tem acesso ao sentimento anti Rússia pelo mundo e suas consequências. Se esse criticismo se espalha, Vladimir pode ficar vulnerável no ‘front interno”.

Há quem aposte que a Rússia contaria com o apoio da China para superar as turbulências econômicas decorrentes do esforço de guerra, eu vejo com um certo ceticismo essa boa vontade chinesa. Se há um país no mundo que faz valer a teoria do “meu pirão primeiro”, esse é a China. Xi Jinping age  estritamente em benefício próprio e se os frutos de uma ação Pró-Rússia forem amargos, ele não hesitaria em deixar seu  novo amigo “Vlad ‘na mão.

Na Segunda Guerra, a partir de 1944, quando a vitória dos aliados se tornou uma questão de tempo, Hitler converteu-se em um líder cada vez mais paranóico, cometeu sucessivos erros estratégicos e mesmo assim não foi contido pelo alto comando alemão, subserviente à sua insanidade megalomaníaca. Imagine se ele tivesse um arsenal atômico em mãos?

Eis um tema que causa certa inquietação. Até que ponto um Putin acuado seria capaz de decisões “apocalípticas”? Em que medida ele poderia ser contido pela alta cúpula do poder na Rússia? Não sabemos. Normalmente as análises sobre um conflito nuclear, tido como impossível, por não haver vencedores, esbarram sempre na premissa de que os tomadores de decisão são pessoas em pleno exercício da sanidade mental.

Para todos os efeitos, de minha parte eu prefiro ver Putin deposto, devidamente neutralizado e aposentado pelos próprios russos. Ninguém permanece tanto tempo no poder sem que isso afete seu senso de humanidade. O sujeito começa a se achar um tanto divino, o sistema lhe fornece uma legião de ‘puxa-sacos” para lhe alimentar o ego e isso nunca termina bem….

Como dizem os historiadores, depois de iniciada uma guerra, nunca se sabe como e quando ela acaba…que essa seja breve, e termine com a derrota do agressor.

Victor Loyola

Victor Loyola, engenheiro eletrônico que faz carreira no mercado financeiro, e que desde 2012 alimenta seu blog com textos sobre os mais diversos assuntos, agora incluído sob a plataforma do Boteco, cuja missão é disseminar boa leitura, tanto como informação, quanto opinião.

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