AtualidadesCulturaLazerOpinião

Super Politicamente Incorreto

Está no nosso DNA:
Desde a Idade da Pedra e da História Antiga, o ser humano gosta e sente a necessidade de idolatrar deuses, semi-deuses e, principalmente,  heróis.
Os registros estão gravados nas pinturas rupestres, nos papiros egípcios, nos pergaminhos gregos, romanos e medievais.
Os caçadores da idade da pedra, os atletas olímpicos na Grécia antiga, os guerreiros romanos, os cruzados medievais, os grandes líderes das inúmeras guerras que as diversas civilizações viveram, as religiões criadas pelos diversos povos … a figura do heroi está sempre presente, independente da época ou da latitude e longitude. 
Nós gostamos de ter esta referência de perfeição, de excelência, de invulnerabilidade como um ideal a ser admirado ou alcançado.
Mas, no alvorecer do século XX, o jogo mudou: já não acreditávamos com a mesma fé naqueles criados pelas antigas religiões. E, passamos a criar nossos novos deuses: os super-heróis.

Nossos super-heróis, obviamente, tinham super-poderes.
Alguns já nasceram assim, outros eram pessoas como nós, mas que adquiriram esses poderes de uma maneira ou outra.
Podiam até ter alguma vulnerabilidade também, mas sempre representavam aquele ideal de perfeição, de integridade, de serem os nossos representantes do Bem. Até mesmo o Hulk, nos seus momentos de incontrolável raiva, não cometia maldades e o Batman nunca matava nenhum vilão.
Eles nos defendiam, eram a nossa proteção contra o Mal, que podia vir na forma de um super-vilão, de uma invasão extra-terrestre, ou outra ameaça qualquer.
Essa foi a Era de Ouro dos quadrinhos de super-heróis!

Só que tinha um problema.
Começamos a achar esta perfeição toda algo … chato!
Aí, começou a segunda fase, a da humanização desses super-heróis.
As histórias passaram a mostrá-los com sentimentos, inseguranças, fraquezas, erros … até mesmo sentimento de culpa.
A idéia era “aproximá-los” da realidade de gente de verdade, não queríamos mais admirá-los, queríamos ter … empatia.
É o inverso da proposta original, que veio do nosso DNA, mas era o que o politicamente correto, que estava começando a surgir, passava a achar como sendo o “certo”: eles tinham que sair de seu Olimpo e descer pro nível da pessoa comum.

Corte para 2020: O Zeitgeist mudou.
A ditadura do Politicamente Correto é o atual Super-Vilão.
Ai de você se externalizar algo que saia fora da régua do permitido:
My friend, you’re cancelled!

Se este é o super-vilão, então o super-herói precisa ser o oposto, certo?
Histórias em quadrinhos não tem mais a mesma importância de antes, mas estamos vivendo a Era de Ouro das séries de TV!

Esse é o Top 3 das melhores séries politicamente incorretas com super-heróis e, de bônus, um filme espanhol da Netflix, deliciosamente nerd, que flerta com este universo.

ALERTA DE SPOILER: Esses 4 programas são para quem é casca-grossa, sem mimimi politicamente correto …

Watchmen (HBO)

Watchmen é uma série da HBO que parte do massacre racial ocorrido em Tulsa, Oklahoma, em 1921 e a partir daí retoma a historia da melhor Graphic Novel de todos os tempos criada por Alan Moore , cujo legado é sentido até hoje não apenas pela influência estética mas também, e principalmente, pelo modo como o formato passou a ser encarado como um entretenimento adulto.

Racismo , supremacia branca, violência policial, fake news, conspiração política, direitos das minorias.

Todos esses temas quentes atuais você encontrará no roteiro da série, que na verdade é um grande longa metragem, subdividido em 9 episódios.
Detalhes que parecem confusos ou irrelevantes nos episódios iniciais, se encaixam redondinho e se mostram fundamentais até o season finale.

The Boys (Amazon Prime)

The Boys ocorre num universo onde super-heróis existem de verdade e são controlados por uma mega-corporação, que cuida de merchandising, filmes, séries de TV, gerenciando cada super equipe, de olho em quem é popular, quem está nos trending topics, qual a demografia de cada um.

Esqueça o bordão “Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades“: imagine um mundo onde pessoas com superpoderes além de serem muito mais fortes, rápidas e poderosas que gente comum, são protegidos por uma corporação gigantesca.
Como resultado a maioria destes Supers, paródias óbvias de personagens conhecidos, são cínicos, moralmente depravados, desprezam as pessoas comuns e só se preocupam com sua imagem.
Se poder corrompe, o superpoder supercorrompe.
Nesse mundo, as morte de pessoas são apenas danos colaterais.

Fascismo, autoritarismo, corporações onipresentes super poderosas, fake news, manipulação da mídia e redes sociais, machismo, abuso sexual, culto à celebridade, egocentrismo, religião, inimigos fabricados por conveniência, milícias.

The Boys não é a série que a gente queria assistir, é a série que a gente precisava assistir.
É uma visão cínica e adulta do fenômeno pop dos super heróis, e sendo realista, provavelmente é o que aconteceria se existissem na vida real.
Tony Stark uma vez falou para Steve Rogers que tudo de especial nele veio de um tubo de ensaio.
Mentira, tudo de realmente especial no Capitão América veio de seu coração, seu senso moral, sua nobreza de espírito.
Tire isso tudo, deixe somente a super-força e você tem os heróis em The Boys.

The Umbrella Academy (Netflix)

The Umbrella Academy se passa em um universo onde mulheres ao redor do mundo dão à luz simultaneamente, apesar de nenhuma delas mostrar qualquer sinal de gravidez até o início do trabalho de parto, em 1 de outubro de 1989.
7 das crianças são adotadas por um bilionário e transformadas numa família disfuncional de super-heróis, frutos da criação pelo pai repressor, frio e autoritário.
O ponto central do programa é justamente explorar como a busca pelo perfeccionismo na infância transformou os poderes descobertos de Luther, Diego, Allison, Klaus, Número Cinco (seu único nome), Ben e Vanya em maldições ao longo das suas vidas adultas, com mentalidade tóxica de competição e auto-depreciação.

Excêntrica, bizarra, conspirações, drogas, gay, politicamente incorreta, CIA, teorias da conspiração, racismo, religião, mega-corporações, viagens no tempo, família disfuncional.

O contraste entre essas temáticas profundas e a apresentação exagerada, cria uma personalidade única numa estética conduzida com cortes rápidos, cores brilhantes e um charme de ficção científica retrô-vintage aliada a uma sensacional trilha sonora que contribui para essa energia frenética, numa mistura improvável que lembra as excentricidades do diretor  Wes Anderson.

A série conquista pela experimentação e personalidade: foge de clichês do gênero e do tom sombrio das demais produções heróicas da Netflix, entregando algo divertido e emocionante.

Origens Secretas (Netflix)

Origens Secretas é um suspense policial espanhol em que um serial-killer assassina pessoas reproduzindo a origem de heróis da era de ouro dos quadrinhos, como Hulk, Homem-Aranha, Tocha-Humana e outros.
É um filme cheio de muitas referências e abordagens que vão de Corpo Fechado a Seven, e torna o filme uma festa de fan service para quem curte e têm um mínimo de familiaridade com este universo de cultura geek e nerd.

Ao longo dos 3 atos ocorre a clássica fórmula detetivesca da união entre o detetive durão no melhor estilo de Filme Noir com um imprevisto ajudante nerd numa dinâmica divertida de se acompanhar entre eles, e o vilão, como não poderia deixar de ser, é um psicopata extremamente inteligente, que busca um igual para duelar.

Justifica não só a paixão pelos quadrinhos, mas a paixão por animes, mangás, cosplay e tudo que há de paralelo às margens do que é a cultura “adulta” dita como normal na sociedade.

https://youtu.be/Dmii2JA9v4o

Gui

Sou o Gui. Fiz arquitetura, pós em marketing, MBA em comércio eletrônico. Desde criança , quando adorava ler Julio Verne, eu gosto de explorar, descobrir novidades. Aqui no Papodeboteco vou conversar contigo sobre descobrir como podemos explorar nosso tempo livre.

Artigos relacionados

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo
Send this to a friend