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Descendo a ladeira?

Seria uma trajetória irreversível?

O presidente está incomodado com o derretimento na sua taxa de aprovação, já no campo negativo pela Paraná Pesquisas (saldo líquido de popularidade = ótimo + bom – ruim – péssimo), instituto que mais acerta nas eleições, e próximo de zero no Ipec e Datafoha, ambos conhecidos por resultados com viés à esquerda (principalmente o primeiro). Se ele já cruzou ou não a fronteira da popularidade negativa é uma discussão de boteco, mas o fenômeno da trajetória descendente é incontestavel.

Trago más notícias ao morador do Planalto e ao seu séquito de apoiadores fiéis: não vai melhorar. “Ah, mas você está chutando ou torcendo, como pode ter certeza? ‘. Bem, certeza eu nunca terei, mas como” tudólogo” emito minha opinião buscando apoio na racionalidade e nos fatos. Vamos a eles.

Lá atrás, quando experimentou os píncaros da glória, deixando o governo com 80% de aprovação e elegendo uma neófita na política para sucedê-lo, Lula contava com um período de prosperidade global sem precedentes que fez jorrar dinheiro na economia brasileira movida a comodities (cujos preços foram para a lua puxados pela demanda), beneficiou-se do impacto do bolsa família (que consolidou os vários programas sociais do tempo de FHC) e da propulsão do crédito ao consumidor, até então incipiente. A recuperação econômica após a crise de 2009 foi vigorosa por um único ano, exatamente o eleitoral, fazendo o Brasil crescer 7%, um exuberante voo de galinha que serviu para catapultar a popularidade do incumbente, que deixou o governo achando que a “vida era fácil”. É bom que se diga que Lula passou 8 anos com uma oposição frouxa, liderada pelos sempre indecisos tucanos, tempos de polarização cor de rosa.

Hoje, a realidade é outra. Para começar, o Congresso não é subserviente ao presidente. Está longe de ser hostil, mas o Poder Executivo sofre para dar andamento às suas pautas, além de enfrentar uma oposição muito mais aguerrida e ruidosa do que usualmente esteve acostumado. Políticas sociais do tipo bolsa família já estão estabelecidas como ações de Estado (foram inclusive turbinadas na gestão Bolsonaro) e não há orçamento para se gastar mais. A penetração do crédito na economia é compatível àquela registrada em países desenvolvidos. O cenário global, embora não seja de catástrofe, está longe de ajudar com ventos favoráveis. Não há nada no horizonte que possa ser utilizado como marca do governo, exceto uma epidemia de dengue mal administrada.

Os mais fiéis reagem com assombro ao derretimento da popularidade de seu ídolo, afinal, a “economia está indo tão bem”. Aqui, cabe destacar o conformismo com a mediocridade em termos de crescimento, que já contaminou a mentalidade das “torcidas”. Crescer entre 2 e 3%, inferior à média global, pode ser bom para um país europeu. Para o Brasil, não é. Só que não podemos crescer mais que isso, nossa baixa produtividade e infra estrutura precária não aguentam um ritmo mais forte sem gerar pressão inflacionária. Vamos ficar por aí, e esse indicador é incapaz de gerar a sensação de bem estar típica de governos com avaliações positivas. Esperar que esses resultados sejam um acelerador de popularidade seria o mesmo que assistir a uma torcida saudando seu time por ter obtido uma vaguinha na Sul-americana na bacia das almas. Se a sua expectativa era muito baixa dá até para sentir um alívio, mas a situação está longe de gerar algum tipo de euforia.

Além disso, Lula foi eleito com metade do país com visão amplamente negativa sobre si e indisposta a mudar de ideia facilmente. Também deve incomodar bastante o fato da oposição ter uma capacidade de mobilização muito maior que a do PT e seus satélites. Se isso não afeta diretamente a avaliação do governo, pressiona seu líder, que desanda a falar bobagens em discursos de improviso,  o que na prática contribui para piorar o cenário de aprovação.

O que Lula mais desejaria no momento é dinheiro para gastar e assim adotar medidas que pudessem elevar sua popularidade, que não se move com realizações de pouco impacto. Mas esse dinheiro não existe, tampouco brota em árvore.

Dito isso e considerando que a reeleição do incumbente ocorre quando sua popularidade líquida é pelo menos marginalmente positiva, a vida de Lula não será nada fácil nos próximos anos. E se fosse para apostar em um tendência futura, arrisco dizer que ela cairá um pouco mais, derivada do contexto já mencionado e do desgaste natural com o envelhecimento do governo. Postos os argumentos, o tudólogo que vos escreve se despede, com a certeza de que será alvo de ásperas críticas da torcida vermelha.

Victor Loyola

Victor Loyola, engenheiro eletrônico que faz carreira no mercado financeiro, e que desde 2012 alimenta seu blog com textos sobre os mais diversos assuntos, agora incluído sob a plataforma do Boteco, cuja missão é disseminar boa leitura, tanto como informação, quanto opinião.

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Um Comentário

  1. Loyola,
    Seu texto é bem fundamentado e os fatos que traz levam a conclusão que indica, nesse caso “acredita”, porque ao meu ver,analisando a História, e o mundo financeiro, não da para prever o futuro, como deixa implícito no seu bom texto. Aqui, permita-me, também “acho”, que se as coisas caminharem como estão, esse presidente não se reelege, até porque não foi eleito por ideias que unissem o país ou seu povo, mas sim por exclusão do que seria o pior.

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