AtualidadesBrasilBrasilCinemaOpiniãoPolíticaRápidas

2 a 3

5 de julho de 1982.
Estádio Sarrià, Barcelona.
Copa do Mundo da Espanha.
Chorei.
Chorei muito.
Chorei porque tínhamos 11 heróis em campo e um técnico genial no banco de reservas, eram a esperança da nação, nossa grande chance de recuperarmos o orgulho futebolístico, ainda recente da era Pelé, mas chamuscado pelos fiascos nas 2 copas anteriores.
Perdemos.
E perdemos para uma seleção que praticava com maestria e eficiência o que era pra nós o anti-jogo, usando as regras permitidas no regulamento para ganhar, custe o que custasse, mas a custa de comprometer irremediavelmente o que o futebol representa para todos que amam o esporte: o espetáculo do jogo bem jogado.

23 de março de 2021.
Supremo Tribunal Federal, Brasília.
Julgamento do enésimo Habeas-Corpus impetrado pela defesa do ex-presidente Lula, como sempre colocado rapidamente na pauta do dia dos ministros de nossa suprema corte.
Xinguei.
Xinguei muito.
Xinguei porque numa inacreditável inversão de valores, quem estava sendo julgado era o único magistrado que, em mais de 500 anos de história, conseguiu colocar na cadeia os inatingíveis, os inimputáveis, os “Too Big To Jail“.
A LavaJato era nossa grande chance de finalmente aprendermos e implantarmos aquele conceito que os países que realmente se desenvolveram já sabem a décadas, a séculos: a Justiça é igual para todos, não importa quem tenha cometido o crime e as instituições e o sistema legal estão sempre acima dos indivíduos, independente de sua posição.
Só que, assim como naquela tarde de 1982, o adversário praticava com maestria e eficiência o que era pra nós o anti-jogo, usando as regras permitidas no regulamento para ganhar, custe o que custasse, mas a custa de comprometer irremediavelmente … o Princípio da Segurança Jurídica

O filme Os Intocáveis, do diretor Brian de Palma, conta a história de como um idealista agente do Tesouro, Eliott Ness, consegue prender Al Capone, o grande gângster da corrupta Chicago durante a Lei Seca, quando o crime era a regra e a corrupção permeava todo o tecido da sociedade, a partir da alta cúpula da política e polícia.
Este filme tem uma sequência que é emblemática, “That’s the Chicago Way“, com os personagens de Sean Connery e Kevin Costner, em que o veterano policial questiona o jovem idealista sobre quanto Mal estamos dispostos a fazer para que o Bem prevaleça?
Vou copiar abaixo o roteiro original desta cena, traduzido:

E a cena, dirigida por Brian de Palma, ficou assim:

A seguir, o filme mostra a primeira intervenção do esquadrão policial, sob esta nova diretiva, o First Liquor Raid.

“Mr. Ness, everybody knows where the booze is. The problem isn’t finding it, the problem is who wants to cross Capone.”

Jim Malone (Sean Connery)

Sérgio Moro agiu com suspeição durante a Lava-Jato?
Não sei.
Seria leviandade de minha parte afirmar que sim ou que não.

Mas, eu digo que se EU fosse o juiz responsável pelos casos de corrupção envolvendo a Lava Jato e, assim como Eliott Ness, estivesse disposto a fazer a Lei e a Justiça serem cumpridas, eu saberia que só conseguiria este objetivo através do Chicago Way , descrito acima.
Se você quer pegar os vermes e parasitas escondidos na lama, tem que estar disposto a sujar as mãos.

E, assim como Eliott Ness afirmou no roteiro acima, ele sujou as mãos, mas sempre dentro da lei. Nenhum dos argumentos utilizados pelos 3 que o condenaram ontem no Supremo , como “provas” de sua suspeição, descreve algum ato fora do extritamente descrito no codigo civil.

E, se agir assim caracteriza “suspeição de um magistrado”, deixo aqui uma pergunta no ar:

Como você classificaria um julgador que descontroladamente ficasse salivando, babando, vociferando acusações e críticas intangíveis a um acusado que nem estava presente na sessão de seu julgamento, nem representado por um defensor e, após o resultado final, surpreendentemente calmo, solícito, e até mesmo elogiando enfaticamente o advogado de defesa que impetrou o habeas corpus?

Bons Artistas copiam, grandes artistas roubam.

Pablo Picasso

Este post é inspirado no Todo Dia é um 3×2, do Marcelo Guterman, uma das pessoas mais inteligentes que já conheci e que tenho o privilégio de ter me tornado amigo recentemente.

Gui

Sou o Gui. Fiz arquitetura, pós em marketing, MBA em comércio eletrônico. Desde criança , quando adorava ler Julio Verne, eu gosto de explorar, descobrir novidades. Aqui no Papodeboteco vou conversar contigo sobre descobrir como podemos explorar nosso tempo livre.

Artigos relacionados

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Verifique também
Fechar
Botão Voltar ao topo
Send this to a friend