Opinião

9 de julho, a essência de São Paulo

Há alguns anos, às vésperas de um 9 de julho, meu ex-chefe, carioca, perguntou-me que feriado era aquele. Expliquei da melhor maneira que pude: defesa de uma nova constituição, luta contra a ditadura de Vargas, defesa dos ideais democráticos. No que ele me responde: “ah, agora começo a entender São Paulo”.

Alguém já disse que São Paulo é o mais norte-americano dos estados brasileiros. Trabalho com pessoas vindas do Rio, Bahia, Rio Grande do Sul. Todos são unânimes em dizer que em São Paulo “as coisas funcionam”, que é “a terra onde a competência é valorizada”. Certa vez, almoçando com um carioca em um restaurante por quilo, ele ficou impressionado com a destreza da moça do caixa, que atendia 3 clientes ao mesmo tempo. “Por isso que São Paulo é diferente, isso no Rio não existe”.

Obviamente, toda generalização é burra. Certamente há pessoas competentes e trabalhadores no Brasil inteiro, assim como há gente preguiçosa e desleixada em São Paulo. Mas estou falando aqui da percepção de oriundos de outros estados. Assim como quem migra para os EUA tem a sensação de que lá “as coisas funcionam”, quem migra para São Paulo tem a mesma sensação.

Lembro, quando era criança em idade escolar, de minha mãe ouvindo de manhã bem cedinho, enquanto preparava nosso café da manhã, o noticiário da Jovem Pan. Até hoje, mais de 40 anos depois, lembro da música de abertura:

🎶São Paulo que amanhece trabalhando. Paulista que não sabe adormecer. Porque durante a noite, paulista vai pensando nas coisas que de dia vai fazer.🎶

E terminava com o refrão “vambora, vambora, tá na hora, vambora, vambora.” Aquilo energizava. E representa a essência de São Paulo.

Hoje temos muito pouca consciência cívica, aquilo que nos constitui como uma Nação. Se as pessoas não sabem o que foi o 7 de setembro ou o 15 de novembro, é exigir demais que saibam o que é o 9 de julho. Os cínicos dirão que tudo não passa de luta pelo poder. É verdade. Todas essas datas representam lutas pelo poder. Mas, se fosse somente isso, ficariam circunscritas aos palácios e o povo ficaria em casa. As pessoas se movem por um ideal.

Em 9 de julho, os paulistas pegaram em armas para defender um ideal, aquilo que faz de São Paulo ser o que é. É sempre bom recordar.

Marcelo Guterman

Engenheiro que virou suco no mercado financeiro, tem mestrado em Economia e foi professor do MBA de finanças do IBMEC. Suas áreas de interesse são economia, história e, claro, política, onde tudo se decide. Foi convidado a participar deste espaço por compartilhar suas mal traçadas linhas no Facebook, o que, sabe-se lá por qual misteriosa razão, chamou a atenção do organizador do blog.

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