Opinião

Conservadorismo não é charlatanismo

Demagogos que espalham teorias da conspiração têm que ser confrontados antes que intoxiquem a política brasileira

Eu, como muitos, comemorei a derrota do Trump, mas não por ser o Biden o vencedor, ou por alguma discordância insolúvel com o conservadorismo, por isso até compartilho o vídeo de um conservador respeitado e de histórico admirável, o John McCain (https://www.facebook.com/watch/?v=1004543326713774). A questão, para mim, é a apropriação do “conservadorismo” por demagogos que manipulam os medos das pessoas com teorias da conspiração e com nacionalismo-religioso tóxico, apostando na radicalização em benefício dos seus projetos políticos.

Vemos o mesmo aqui no Brasil, onde as mais diversas teorias conspiracionais ganharam tons de respeitabilidade ao serem sistematicamente compartilhadas por supostos intelectuais, jornalistas de meios de comunicação de grande audiência e pelas mídias sociais. Esse vídeo (https://www.facebook.com/watch/?v=724747028132641) é um exemplo disso. Circulado por um deputado federal com projeção no eleitorado “conservador”. A regra é clara, quem compartilha subscreve, logo o deputado acredita no que é dito ali. Peço que vejam, é longo, cerca de 7min, mas colocando na velocidade 1,5x dá para entender e vai mais rápido.

Lá pelas tantas a moça diz que “…o real objetivo do FMI, afundar os países em dívidas q nunca poderão ser saldadas para permitir que grandes grupos privados tenham controle das economias nacionais, as grandes multinacionais tenham domínio absoluto, o globalismo, em palavras quer o fim da propriedade privada…”. Ela segue dizendo que o resultado será uma “sociedade de duas classes: uma formada pela pequena elite dominante…e outra formada por uma multidão de pobres, a classe média desaparecerá definitivamente” e fecha com menções a um religioso ligando isso tudo a espíritos malignos.

É, mistura passagens que poderiam ser ditas por algum dos antigos comunistas com os maiores delírios conspiracionais.

É esse tipo de sandice que está sendo circulado nas mídias sociais por pessoas de nível universitário, com acesso à informação, e por executivos de grandes empresas e empresários. Exemplos podem ser encontrados por toda à parte, até no meu FB e de amigos, não é ficção.

Aceitar e compartilhar esse tipo de mentira não é inocente. Não são meros lunáticos que podem ser deixados ao próprio ridículo. A sua repetição por pessoas que parecem razoáveis confere respeitabilidade e mais seguidores. No final, colhe-se uma sociedade radicalizada, incapaz de conversar e debater de forma civilizada e de negociar politicamente, pois, afinal, com inimigos que querem dominar o mundo não há negociação possível. Inimigos devem ser eliminados, não são simples adversários políticos. Não contribua com esses demagogos. Lembre-se conservadorismo não é igual a charlatanismo. Sempre que encontrar algum incauto espalhando esse tipo de coisa, confronte, com educação, mas não deixe passar incólume, porque essas ideias estão envenenando o país.

Alberto Ferreira

Paulistano adotivo desde 1984, nasceu no Rio de Janeiro em 1961, de onde trouxe a torcida pelo Fluminense. Leitor inveterado de jornais, economia e negócios descansa lendo romances, assistindo futebol e ouvindo MPB. Casado desde 1985 com duas filhas adultas já independentes, foi cfo e controller no mercado financeiro e agora divide o tempo entre um mestrado em administração, acolhimento familiar, administração de bens e consultoria.

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