Esporte

#Tbt Jogos Inesquecíveis que marcaram minha vida

As Olimpíadas de Barcelona, de Gustavo Borges, Rogério Sampaio, Dream Team brasileiro de vôlei e do americano de basquete, iniciam com uma heresia olímpica, o fogo apagado para sempre. Oscar não consegue evitar uma derrota dolorida. Sabonis é o dono do pedaço. Barcelona se mostra maravilhosa para o mundo.

Brasil 96 x 114 Lituânia

As Olimpíadas de 1992 apresentam uma cidade maravilhosa, Barcelona, que eu, aliás, havia conhecido, toda em obras, um ano antes.

A cidade foi revigorada e se modernizou para os jogos.

Prepararam tudo com muito cuidado e carinho.

Em 1991, Barcelona estava um mini caos, nada comparado às metrópoles brasileiras, mas bem pior do que as outras cidades europeias que eu e minha família visitamos naquele verão longínquo.

Acompanhado de minha irmã Valquíria em Barcelona 1991

O pontapé inicial de qualquer Olimpíada é sempre com uma bela apresentação na Cerimônia de Abertura.

Entretanto, a Cerimônia de Abertura de 1992 foi marcada pelo apagamento da chama milenar olímpica.

Tudo caminhava muito bem até que resolveram inovar demais no acendimento da Pira Olímpica.

Inventaram atirar uma flecha de um lado do estádio ao outro para acender a Pira Olímpica.

Um atleta de tiro com arco pega uma flecha com o fogo olímpico na ponta, mira na Pira e solta a flechada a uma distância de pelo menos 60 metros.

Quando a flecha aponta na Pira, o fogo surge como num toque de mágica.

Fico extasiado com o momento, que sem dúvida é o ápice da cerimônia e colocaria no chinelo todos os acendimentos anteriores e os que estariam por vir. Mas esse êxtase durou 24 horas.

De fora do estádio, uma câmera flagra a flecha passando por cima da cobertura e caindo no estacionamento vazio. A imagem que rodou o mundo na Cerimônia foi uma ilusão, um jogo de cena em que o ângulo de visão do telespectador dá a impressão de que a Pira foi acesa pela flecha.

Em verdade, a flecha passou longe da Pira, muito acima. Alegaram que por questão de segurança, o atleta, propositalmente mirou para fora do estádio, onde o estacionamento estava isolado de público.

Apagaram o fogo milenar dos Jogos Olímpicos. E eu fui da euforia para a melancolia em apenas um dia.

Se amei a Cerimônia num dia, odiei no dia seguinte. Achei isso uma falta de respeito. Pode ser um exagero de minha parte, mas gosto de certas tradições e essa era uma delas.

Em todo caso, a organização do evento é comentada até hoje como uma das melhores.

Foi uma Olimpíada de frenesi com o Dream Team Americano de basquete.

Fiquei chateado com o time brasileiro de basquete jogando em ritmo de amistoso com os americanos e tomando uma goleada, nem me lembro mais de quanto, mas lembro da vergonha.

O Brasil ainda tinha um bom time e passou para as quartas de final graças a um jovem pivô Josuel, que sozinho virou um jogo contra a Alemanha.

Nas quartas de final, a poderosa Lituânia do gigante e craque Arvydas Sabonis, de 2,21 m seria o desafio.

Era um meio de tarde de semana e eu não tinha aula. Liguei a TV e fiquei à postos desde antes do jogo começar.

Apesar do favoritismo dos Lituanos, eu tinha sensação de que o Brasil venceria, estava confiante. Essa sensação se repetiria 24 anos depois.

Desprezei todo um histórico.

Sabonis foi campeão do mundo com a União Soviética. Era um garoto, reserva do outro gigante Vladimir Tkachenko.

Tkachenko ficou famoso ao pegar o rebote do último lance da final desse mundial, na Colômbia em 1982, contra os americanos, numa bola arremessada no aro por Michael Jordan (na verdade, o arremesso foi de Doc Rivers, fui alertado pelo próprio Cadum, uma honra), garantindo o título soviético.

Mas Tkachenko não era só isso, foi um grande pivô.

Eu e meu irmão sempre que pegávamos rebote jogando basquete na infância e na adolescência, narrávamos com força:

– Tkachenkoooo!

Meu irmão seguiu os passos do pivô soviético e à medida que foi ficando bem mais alto do que eu, usava o corpanzil e a altura para pegar rebotes. Sempre fui bom em esportes em geral, mas nessa época, meu irmão ficou soberano no basquete, só no rebote, no giro para um “jump” curto e na bandeja, suas três especialidades.

Sabonis também seguiu os passos de Tkachenko, e fez mais.

O ainda soviético foi Prata no mundial de 86, quando parou no “anão” de 1,60 m Tyrone Bogues, sendo finalmente Ouro pela URSS nas Olimpíadas de Seul em 1988.

A União Soviética ruiu e Sabonis juntou sua patota na Lituânia.

Chegou sem nenhum holofote em Barcelona, ainda mais diante de um Dream Team americano bajulado mundialmente.

A imprensa tinha olhos somente para EUA, Croácia e para a tal Equipe Unificada (ex-URSS).

Mas vamos lá, começa a partida.

A Lituânia é ligeiramente melhor. O equilíbrio é evidente. O jogo deve ser decidido no final como toda grande partida de basquete exige.

Faltando menos de dois minutos para o intervalo, entra o primeiro personagem desse jogo, o armador Cadum.

Cadum é filho de Maria Aparecida Cardoso, a Cida, pivô da seleção brasileira da década de 50 e sobrinho de Maria Helena Cardoso, estrela da seleção da década de 60 e técnica campeã dos Jogos Pan-Americanos de Havana em 1991.

Cadum foi titular da grande conquista dessa geração, o Ouro no Pan de Indianápolis, mas por opção do treinador Ary Vidal, acabou por ficar na reserva justamente na final, momento da consagração.

Cadum é alto para armador, 2,00m.

Entra no jogo e faz a diferença com jogadas velozes para sua altura.

O Brasil vira a partida e fecha o primeiro tempo em 52 x 48.

No intervalo, chega em minha casa um colega de faculdade me lembrando de um trabalho importante a ser entregue no dia seguinte.

Exerço uma liderança nata (ou não) e convenço ele a aguardar o final do jogo.

O segundo tempo segue da mesma forma que o primeiro, com equilíbrio inquietante.

Até que Oscar começa a ser marcado por dois ou até três lituanos e erra bastante.

Outros jogadores, que até aquele ponto da partida estavam com bom aproveitamento, também erram em demasia, muitas vezes livres, sem marcação.

Sabonis é soberano na defesa e no ataque, pega rebotes de todo jeito.

O Brasil passa mais de 7 minutos sem anotar um único ponto.

A Lituânia sobra e vence por 114 x 96.

Fico num arrependimento monstro de não ter desligado a TV e dado atenção à responsabilidade de aluno universitário.

Guardo a mágoa com Sabonis por décadas.

O pivô leva a Lituânia a uma brilhante medalha de Bronze em Barcelona e repete o feito em Atlanta.

Foi para a NBA, já em fase final da carreira, aos 31 anos, com inúmeros problemas de lesão nos joelhos e tendões, mas, mesmo assim, teve imenso destaque.

Esperei pela revanche contra a Lituânia por longos 24 anos.

Fui responsável pela planilha de jogos que eu e meus irmãos iríamos acompanhar na Olimpíada do Rio-2016.

Sem que eles imaginassem o motivo principal, fiz questão de escolher o jogo entre Brasil e Lituânia, de Domantas Sabonis, filho de Arvydas, pela primeira rodada.

Mas isso é outra história.

Dessa história tiro a admiração pelo basquete lituano, e pelo gigante Sabonis (nada de mágoa), um ídolo para o esporte mundial.

Vinícius Perilo

Vinícius Perilo, 47 anos, é engenheiro civil apaixonado por todos os esportes. Tudo começou no Ursinho Misha em Moscou 80, e, a partir daí, acompanhando ídolos como Oscar, Hortência, Bernard, Jacqueline, Ricardo Prado, Joaquim Cruz. Ama futebol como todo brasileiro, faz parte da geração que chorou de tristeza a derrota de 82 e de alegria com o Tetra em 94. Realizou um sonho de criança e conduziu a Tocha Olímpica para a Rio 16. Ainda acredita no Brasil olímpico.

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2 Comentários

  1. Oi Vinicius td bem?
    Muito legal suas memórias. Obrigado pelas palavras a meu respeito. E obrigado por me levar de volta a Barcelona. Aqueles Jogos Olímpicos foram mágicos.
    Grande abraço
    Cadum

    P.S.: só uma correção, aquele último arremesso na final de 82 não foi do Michael Jordan (que entrou na seleção apenas no ano seguinte no Pan de Caracas). O arremesso foi do Doc Rivers, hoje técnico na NBA. Se tivesse caído, os EUA teriam levantado a taça.

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