Esporte

Maradona x Pelé – o criativo e o inovador

A morte de Diego Maradona reacendeu as discussões sobre quem teria sido o melhor entre ele e Pelé. Sempre tive uma opinião a este respeito. E a explicação passa pelo entendimento da diferença entre duas palavras que, para muitos, são sinônimos; criatividade e inovação.

Alguém melhor que eu já disse que o inovador é um criativo que tem contas pra pagar. Não sei exatamente onde li isto, mas acho a definição perfeita. Outra piadinha, esta propagada pelos meus colegas engenheiros, envolve o nosso grande arquiteto Oscar Niemeyer. Dizem as péssimas línguas que Niemeyer viveu até os 104 anos porque se preocupava apenas em criar as suas estruturas maravilhosas. Já os calculistas que trabalhavam com ele e eram obrigados a dar um jeito de fazer aquilo tudo não desabar morreram todos antes dos 60, de infarto. Pura teoria conspiratória é claro.

Basicamente, a idéia é que o criativo é aquele cara com alma de artista, que tem “insights” fantásticos. Já o inovador é um cara que consegue transformar o “insight” em lucro, através da obstinação, disciplina e foco nos resultados.

Neste ponto, Pelé é realmente um sujeito a ser estudado e admirado. De origem humilde, aos 17 anos teve o mundo aos seus pés, depois de sua atuação monumental na copa de 58. A grande maioria dos jovens se deslumbraria, mas Pelé era diferente. Com a ajuda do preparador físico do Santos, Júlio Mazzei, profundo estudioso do futebol, Pelé aperfeiçoou seu dom natural para jogar bola, atingindo um nível inigualável. Quase todos os lances que levaram a sua marca (a paradinha no pênalti, o drible sem tocar na bola, o chute do meio de campo e outros) foram fruto de estudos e observações da dupla. E, é claro, do incrível talento de Pelé para executar as jogadas que eles planejavam. Seu foco sempre foi fazer gols e ganhar títulos. Por isto seus números são imbatíveis.

Maradona tinha um dom natural talvez melhor do que Pelé – nunca saberemos. Sua habilidade com a perna esquerda era simplesmente incomparável. Mas, ao contrário da cabeça de executivo que levou Pelé ao aprimoramento contínuo, Maradona era um artista com cabeça de artista. Enquanto Pelé foi uma máquina de jogar bola, Maradona tinha outras preocupações. Numa comparação meio forçada, eu diria que Pelé era samba e Maradona, tango; dramático, passional, angustiado (mas nem por isto menos admirável). E foi esta angústia existencial que levou Maradona a questionamentos pessoais e até políticos, idolatrando “Libertadores de América” como Chaves e Fidel. O próximo passo foi a lenta auto-destruição, com bebidas, drogas, enfim, uma vida de artista e um fim de vida de artista. Meus heróis morreram de overdose, diria o grande Cazuza. Nem por isto deixaram de ser heróis.

Na definição da FIFA, futebol é o “beautiful game”; belo como a arte, mas competitivo como deve ser um jogo. E acima de tudo apaixonante. O apaixonado aqui agradece a Maradona por toda a sua arte. E o torcedor orgulhoso que também faz parte de mim agradece a Pelé, pela sua arte traduzida em resultados. Não há o que escolher.

Marcio Hervé

Márcio Hervé, 71 anos, engenheiro aposentado da Petrobras, gaúcho radicado no Rio desde 1976 mas gremista até hoje. Especializado em Gestão de Projetos, é palestrante, professor, tem um livro publicado (Surfando a Terceira Onda no Gerenciamento de Projetos) e escreve artigos sobre qualquer assunto desde os tempos do jornal mural do colégio; hoje, mais moderno, usa o LinkedIn, o Facebook, o Boteco ou qualquer lugar que aceite publicá-lo. Tem um casal de filhos e um casal de netos., mas não é dono de ninguém; só vale se for por amor.

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