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Pingos nos Is: Israel e Hamas

Para uma análise mais pormenorizada e neutra, dentro do possível, de toda história da questão árabe e Israel vale muito à pena ler o excelente artigo do Marcelo Guterman: Uma breve história do conflito árabe-israelense.

Aqui se segue breves reflexões opinativas, onde tentei, na medida do possível, trazer, de forma sucinta, enfoques e abordagens diferenciados, já que muito foi escrito sobre o tema nos últimos dias.

Ideologia: pode ser real ou não, mas é também estratégia

O Hamas, assim como muitas organizações similares, usa o discurso religioso como pano de fundo para seus objetivos principais que são poder, controle e dinheiro.

Isso vale para quase tudo nesse mundo, quer uma ideologia seja expressa por valores religiosos ou por um amálgama de ideias que gera possibilidade de um messianismo.

Os correligionários imaginam que seus líderes abraçam a ideologia A ou B acima de tudo, enquanto esses mesmos líderes, em geral, só querem sua parte em dinheiro e poder, usando a ideologia como um veículo, pretexto e pano de fundo, enquanto vivem muito mais para alimentar suas agendas pessoas.

Territórios palestinos em Israel

Gaza dá para o Mediterrâneo e Cisjordânia para o Mar Morto

O povos das 2 áreas palestinas dentro de Israel são alvos de governos autoritários.

Na Cisjordânia (West Bank em inglês) a gestão do Fatah, autoridade palestina e adversário do Hamas, é longe de ser democrática, mas, pelo menos, eles não têm praticado terrorismo como política de estado.

Lá há ações de pequenos grupos de insurgentes e o controle do Fatah sobre o território não é total. Para complicar, existem assentamentos de judeus dentro do território da Cisjordânia e a vontade de alguns grupos políticos israelenses de incorporar a Cisjordânia como parte de Israel.

Em suma, o Cisjordânia é um caso muito mais complexo que Gaza e cuja análise transcende muito este texto. Qualquer coisa colocada em poucas linhas seria muito leviano. Jerusalém (870 mil habitantes), na fronteira com a Cisjordânia, é uma cidade que, embora basicamente controlada por Israel, sendo sua capital oficial, contém locais sagrados para cristãos, muçulmanos e judeus.

No caso do Hamas, que é um regime autoritário em uma forma extrema, há uma elite pequena e poderosa que controla quase toda a população como peões, sem se importar com perdas de vidas, quer seja dentre os seus comandados ou dentre as hostes de seus inimigos (quer sejam judeus ou não, dentre moradores, turistas, negociantes, crianças ou mulheres). Tudo são apenas danos colaterais.

Quem será o responsável mor pelas futuras vítimas?

Cada palestino que vir a ser morto na faixa de Gaza por alguma ação de Israel, ainda que seja um civil inocente, que nem sequer apoia o Hamas, tem uma causa raiz, que foi o ataque terrorista cruel e insano do Hamas, que, inclusive, poderia prever a reação de Israel.

Proporção do ato terrorista do Hamas

Trata-se do segundo maior atentado terrorista de toda a história da humanidade, apenas atrás do atentado de 11 setembro de 2001. Relativo à população, foi disparado o maior atentado terrorista que se tem notícia, já que a população dos EUA é 35 vezes maior que a de Israel. Supondo 1.000 mortes em Israel em decorrência dos atentados, isso corresponderia a cerca de 35 mil mortes nos EUA!

O que Israel deve e irá fazer?

Guerra sempre é ruim e a morte de inocentes sempre é profundamente, lamentável, mas o fato inconteste, enfim, é que há não há um caminho diferente para Israel senão reagir com vigor.

Supor que Israel deva reagir de forma branda, é uma péssima ideia para o povo israelense.

Seu efeito seria apenas mostrar ao Hamas que é recompensador eles serem cada vez mais ousados em suas incursões e atos terroristas, lembrando adicionalmente que dinheiro não é problema para eles, porque o que não falta são apoios externos, incluindo o Irã.

Ou seja, uma reação leniente apenas abriria a porta do inferno para o futuro de Israel, além de condenar o governo vigente ao seu fim político.

Israel seguirá as regras de convenção de Genebra?

Uma guerra, em que um dos lados é pretensamente obrigado a seguir todos os protocolos internacionais e o outro lado não segue protocolo nenhum, é algo totalmente assimétrico e infactível na prática.

Então, não adianta imaginar que Israel irá reagir segundo as tais regras. Isso é utopia de pessoas que vivem em um mundo utópico de ursinhos carinhosos.

Claro que Israel gostaria de minimizar a perda de civis na faixa de Gaza, mas, infelizmente, é óbvio que a galera do Hamas ficará misturada ao máximo com os civis e reféns. É parte da estratégia deles e não o desejo dos civis ou reféns.

No fundo, os chefes do Hamas são tão cínicos que usam a própria população como reféns. Ou seja, a população da faixa de Gaza, em boa parte inocente ou manipulada, é apenas uma ferramenta de guerra para o Hamas.

E depois a ideia é o Hamas sempre divulgar com grande estardalhaço quaisquer perdas externas, independente da dimensão e responsabilidade real das mesmas, para gerar repercussões e pressões. Afinal, como diz a famosa frase de autoria desconhecida: “Na guerra, a primeira vítima é a verdade”

Hamas é para Israel o que o nazismo era para o mundo

Para o microcosmo israelense, o ataque de Hamas corresponde à ação do eixo Alemanha, Itália e Japão na Segunda Guerra Mundial (1938-1945).

Se os aliados não tivessem feito de tudo na Segunda Guerra, contra o eixo, inclusive gerando tremendas perdas dentre os civis desses países, quem sabe os nazistas não teriam vencido…

Por exemplo, na Alemanha, as estatísticas variam muito, mas estima-se que cerca de 350 mil a 500 mil civis morreram na segunda guerra em decorrência de bombardeios de aliados.

E os reféns do Hamas?

Infelizmente, não há como ceder aos desejos do Hamas por causa dos reféns. Isso iria abrir um precedente, ao criar uma metodologia para o Hamas subjugar Israel, que iria trocar a vida de poucos agora pela vida de muitos em um futuro próximo.

Inclusive, o atual líder do Hamas em Gazá há 6 anos, Yahya Sinwar, foi a figura que deflagrou o ataque há poucos dias, se originou de uma troca assimétrica de prisioneiros em 2011.

Ele fazia parte de uma leva de 1.026 prisioneiros libertados por Israel em troca de um único prisioneiro israelense.

Isso foi uma péssima ideia de Israel. 1 vida salva em 2011 (um soldado israelense) terminou resultando em mais 1.000 mortes e 130 reféns….

A causa palestina vai muito além do Hamas

Apoiar a causa palestina que defende a autonomia política e territorial do povo palestino, não tem relação nenhuma a compactuar com o Hamas, uma organização cuja ideia de extermínio de Israel está explicitada nos seus atos, manifestos, documentos e declarações oficiais

O Fatah, que controla a Cisjordânia e o Hamas são inimigos declarados. Inclusive o Hamas, que assumiu o poder na faixa de Gaza desde 2006, perseguiu e matou posteriormente muitos integrantes do Fatah, que tinha disputado a mesma “eleição”.

De todo modo, ainda que o ideal seria a Palestina ter um território independente, isso tem muito condicionantes práticos que na prática tornam isso uma quase utopia.

Considerar o Hamas um símbolo de resistência é demais!

Alguém que, geralmente dentre aqueles que se consideram de esquerda, em nome de atitudes erradas de governos israelenses atuais e/ou pretéritos, compactua com terroristas, homens bombas e assassinatos em geral; deveria ser internado em um manicômio, se ele ainda existisse.

Quando uma ideologia cega e radical relativiza assassinatos (ainda mais de inocentes) em nome de uma dada causa, pouco importando se esta é justa ou não, é o fim de qualquer vestígio de bom-senso e humanidade.

Por exemplo, imagens de crianças com o corpo partido ao meio deveria sensibilizar até uma pedra, só que alguns tapam o olho, e só enxergam a tal causa. É a questionável prática de considerar que “os fins justificam os meios”.

Paulo Buchsbaum

Fui geofísico da Petrobras, depois fiz mestrado em Tecnologia na PUC-RJ, fui professor universitário da PUC e UFF, hoje sou consultor de negócios e já escrevi 3 livros: "Frases Geniais", "Do Bestial ao Genial" e um livro de administração: "Negócios S/A". Tenho o lance de exatas, mas me interesso e leio sobre quase tudo e tenho paixão por escrever, atirando em muitas direções.

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