Opinião

Parque dos Dinossauros

De modo geral, o governo Lula pode ser classificado, na datação geológica padrão, como pertencente ao período jurássico. Seu dino (sem trocadilhos) mais pitoresco é o ministro do Trabalho, Luiz Rex Marinho. Mas Carlos Lupissauro, o ministro da Previdência, não fica muito atrás.

Em entrevista ao Estadão de hoje, Lupissauro desfila todo o seu conhecimento ancestral sobre cálculo atuarial e natureza dos gastos do governo.

Para começar, essa história de estatística, para o ministro, não passa de bruxaria. A ciência, para o ministro, é uma teoria “que me incomoda muito”. O cálculo atuarial, que é a base para o planejamento da previdência, foi sumariamente descartado pelo dino, para quem é impossível “calcular quantos exatamente vão morrer”. Natural que seja assim. Afinal, a Lei dos Grandes Números é uma teoria que vai surgir muitos milênios depois do nascimento do ministro. Isso, porque temos um governo que se pauta pela Ciência, com C maiúsculo.

Já os gastos da previdência não são, segundo Lupissauro, “um estorvo”. No mundo jurássico em que vive o ministro, é excelente que 65% dos municípios do Brasil sobrevivam na base dos pagamentos de aposentadorias e BPC. O ministro parece pensar que o governo imprime o dinheiro e o distribui. Sim, era assim na era jurássica, quando o país vivia em hiperinflação. Hoje em dia, precisa arrecadar de um lado para pagar do outro, o que significa que 35% dos municípios brasileiros sustentam os outros 65%. A batalha em relação à desoneração da folha nada mais é do que empurrar essa conta para o colo do outro.

Mas, ainda segundo o ministro, essa história de “zerar as contas” é coisa de padastro muquirana. Lupissauro defende que essa coisa de “meta fixa” é impossível de alcançar, então precisa “acompanhamento diário” pra “não deixar a coisa desandar”, o que quer que isso signifique. Já tivemos um legítimo exemplar jurássico no poder, que defendia mais ou menos a mesma coisa, algo como “não vamos trabalhar com meta, e quando atingirmos a meta, vamos dobrar a meta”.

O Brasil é um país forte, dinâmico, com um povo empreendedor. A prova disso é que não afunda completamente, mesmo sendo puxado vigorosamente para trás por um batalhão de dinossauros.

Marcelo Guterman

Engenheiro que virou suco no mercado financeiro, tem mestrado em Economia e foi professor do MBA de finanças do IBMEC. Suas áreas de interesse são economia, história e, claro, política, onde tudo se decide. Foi convidado a participar deste espaço por compartilhar suas mal traçadas linhas no Facebook, o que, sabe-se lá por qual misteriosa razão, chamou a atenção do organizador do blog.

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Um Comentário

  1. Marcelo,
    Impressiona como entra e sai governo, independentemente do matiz, e a retórica anti-ciência contnua. Como se as coisas acontecessem sem nenhum embasamento e conhecimento técnico-científico. Parece que temos uma parte da elite ruim, seja ela empresarial, sindical ou política, e a ignorância nos aprisiona numa recusa em deixarmos de ser um país adolescente para se tornar um adulto responsável, maduro e definidor dos seus caminhos e consequências.
    Gostei do seu texto comparando o ministro com os Tempos Jurássicos.

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