Apenas um preso ilustre
Quem diria há poucos anos que a justiça brasileira seria capaz de condenar e prender Lula? Em um país habituado à impunidade na casta dos poderosos, da qual o grande chefe é membro honorário (apesar de se fazer de coitado aos desinformados), esse é um acontecimento histórico.
Ex-presidentes presos por corrupção não são exatamente uma novidade no mundo. Peru, Coreia do Sul, Portugal (no caso, o primeiro ministro) foram exemplos recentes. Mas a complacência tropical com pequenos e grandes delitos sempre foi um imenso obstáculo a esse tipo de situação.
A Lavajato será honrada pela história como o ponto de inflexão na tolerância da sociedade brasileira com seus corruptos. Pela primeira vez, gente no topo da pirâmide experimentou cadeia, independentemente de sua influência ou conta bancária. Empresários e políticos poderosos sem mandato foram ou estão presos. As instâncias iniciais da Justiça Federal provaram seu valor e demonstraram que não são submissas ao status quo estabelecido há séculos no Brasil. É uma insurreição silenciosa de juízes, promotores e policiais contra a rainha impunidade.
Por ora indiferente a essa evolução, o STF se mantém como símbolo do Brasil velho, gerador de insegurança jurídica, lento, burocrático, verborrágico, teatral e movido por agendas políticas escusas. Quatro anos após o início da operação e dezenas de políticos indiciados, nada aconteceu no âmbito da Suprema Corte. E não há sinais de que esse contexto vá mudar, a menos que a safra atual de magistrados e procuradores comece a ser nomeada para os tribunais superiores…
Voltando ao grande chefe, é importante recordar o momento em que seu destino começou a ser selado, quando o juiz Sérgio Moro divulgou os áudios de sua conversa nada republicana com Dilma, fato que acabou impedindo sua nomeação como ministro, há dois anos. Desde então, o ídolo petista experimentou uma lenta e irreversível derrocada, que culminará com sua prisão nas próximas horas. Não fosse a ousadia do juiz Moro, Lula teria sido nomeado ministro, obtido foro privilegiado, impedido o impeachment e ferido de morte a Lavajato. O país mergulharia em um período sombrio e irreversível. Foi, sem dúvida, a melhor decisão controversa da história brasileira.
A prisão do petista não transformará o Brasil em um país onde todos são iguais perante a lei. Não são. O próprio Lula desfruta da condição de condenado mais paparicado do planeta, um furador de fila de habeas corpus e arregimentador de advogados e ministros amigos. Mas não resta dúvida de que estamos diante do símbolo maior de que vivemos em novos tempos. No futuro, será dito que foram transformadores. Afinal, se o líder mais popular da história recente do Brasil pode ser condenado e preso por corrupção, ninguém está inatingível, a menos que se tenha um mandato político e tutela do STF. Não é pouca coisa.
Quando a porta da cela de Lula for trancada, o ex-presidente não somente será privado de sua liberdade, mas também da bajulação dos correligionarios e de vários setores da imprensa. Fora de circulação, não poderá fazer campanha e seremos poupados de ouvir suas bravatas e seu discurso cansativo do ‘nós x eles’. Será um grande alívio.
Não sabemos por quanto tempo ele ficará preso. É possível que uma unha encravada ou dor de barriga despertem um sentimento de piedade no STF, que então pode lhe conceder uma ‘domiciliar’. Os ministros Marco Aurélio, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandosky não descansarão enquanto não o livrarem do cárcere. Seu êxito é incerto, pelo menos até Setembro, quando Dias Toffoli assume a presidência da Suprema Corte. Ele certamente não hesitará em prestar ajuda institucional ao antigo chefe.
Mas enquanto o dia da libertação não chega, Lula é apenas mais um entre os 400 mil detentos do sistema prisional brasileiro. Um preso ilustre, nada além disso, com direito à visita semanal da família, três marmitas e duas horas de banho de sol diárias. Consta ainda que terá um banheiro privativo, esse sim um privilégio para poucos. Ele começará sua carreira de presidiário na elite do sistema, status idêntico ao que tinha fora da prisão. Nossos sinceros votos de uma longa e frutífera estadia em Curitiba ao ex-presidente.
Enquanto isso, Victor, a imprensa internacional, cuidadosamente cevada pelo PT e pelo próprio Lula, mostra a história do menino pobre que passou fome, virou um humilde metalúrgico, ganhou a liderança da Nação em defesa dos desvalidos e agora é “vitimado” por um golpe das elites… Estou na Europa, enojada com o teatro e a personagem. Tendo dedicado minha vida à criatividade, posso garantir que a narrativa da mídia internacional vai além da imaginação, omitindo apenas o principal: que esse canalha roubou os próprios pobres mais do que ninguém na História.
Cristina, uma parte da mídia europeia é claramente esquerdista, tal qual o UOL brasileiro. Quando veem seus ídolos ruirem, sentem-se como órfãos…um mito a menos para acreditar…