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Um ano depois… o que sabemos, ou não, sobre as vacinas

Em algum lugar qualquer na República das Bananas, duas amigas fazem, mais uma vez, um Happy Hour 🥂virtual (pois, mais uma vez, bares e restaurantes voltaram a fechar… principalmente agora que estamos na fase chamada Emergencial, ou seria Roxa, Preta, salve-se quem puder, Deus nos acuda 🥺?).

Um pequeno parêntese aqui antes de continuar com a narrativa…

Você lendo isso, questiona-se:

  • “Pôxa, Anna, isso não é um início lá muito criativo, você já escreveu algo assim ano passado”.
  • “Pois é, mas quantos momentos Déjà vu nós já tivemos nesse um ano de pandemia né!? Quantas vezes os bares e restaurantes fecharam-se? Quantas vezes apenas contatos virtuais tiveram que ser mantidos? Quantas vezes achamos que o pior já tinha passado?  Quantas vezes… Pois é…” 🙄

Voltemos ao Happy Hour virtual…

>>👩🏻(Camila): San, querida, quanto tempo hein?!! Esse final de 2020 e início de 2021 praticamente não nos vimos ou falamos. Só troca de mensagens no grupo “DAZAMIGA” no WhatsApp. Mas, me fala, como você está?

>>👩🏼(Sandra): Puxa, verdade né?! Sei lá, tanta coisa aconteceu, que acabei ficando mais introspectiva, na minha, meio quieta, meio sem saber muito o que pensar, para onde ir. Eu vou … indo, um dia de cada vez, ou como diz o Victor Loyola: “um dia a menos para o final.”

Por sinal, você viu, tanto o Loyola como um colega dele, do Blog Papo de Boteco, o Gui, postaram certas reflexões e retrospectivas nesse último fim de semana, pois acabou de fazer um ano, UM ANO!!!, dessa maldição de pandemia.

>>👩🏻(Camila): Sim, amiga, eu vi também. Um ano… impressionante, não?!

E sua família, como está? E sua tia Carmen? Tá melhor, ainda está internada? Qual é o prognóstico?

>>👩🏼(Sandra): Olha, não sei mais o que pensar. Está lá no hospital, e já tinha sido desentubada, mas teve que voltar para o oxigênio antes de ontem. Assim, segue internada. Mas temos fé que ela irá sair dessa.

>>👩🏻(Camila): Vamos pensar positivo, sabe?! Sua tia sempre se cuidou, não é obesa, não tem nenhuma comorbidade grave e está em ótimas mãos.

>>👩🏼(Sandra): E há tempos eu preciso te contar uma coisa. Lá pela 1ª semana de janeiro, estávamos eu e minha tia conversando sobre as vacinas. Você com certeza se lembra do nosso último Happy Hour em dezembro… Do que eu achava do absurdo de como as vacinas foram desenvolvidas em tempo recorde, de como mais absurdo era a ideia de obrigatoriedade, das novas tecnologias, da OMS, da vacina chinesa, dos malabarismos jurídicos e políticos etc. E de como você me pegou num momento “palestrinha” sobre sua área de pesquisa clínica, o que você sabia. Lembra-se?

>>👩🏻(Camila): Como eu poderia me esquecer 😉?! Lembro-me que você no final disse que aguardaria as cenas dos próximos capítulos. Depois daquele dia, tanta coisa aconteceu, tantas vacinas já foram aprovadas, estão sendo aplicadas com razoável sucesso, quando há doses suficientes, tantos países foram ao fundo do poço e voltaram, mas agora o que vemos é nosso “Brasil Baronil” numa situação muito preocupante. Tantos…  

>>👩🏼(Sandra): “Calma, cocada…” 😆 (ooops, isso denuncia a idade). Afff… eu nem deveria estar rindo. Mas, o que quero dizer, é que tive uma conversa com minha tia que me fez refletir. Ao explicar todas minhas suspeitas, minha tia vira para mim e me fala:

“Sandrinha, querida… olha. Eu não acredito nesses nossos políticos há tempos. É um tal de ser de esquerda, direita, centro, mas para mim chegando no poder eles simplesmente se lambuzam com ele, aplicam políticas populistas, tentam passar aquela imagem de salvadores da pátria, fazem acordos por debaixo do pano com todos e fazem de tudo para alimentarem a sua seita de fanáticos e perpetuarem-se no poder.

Essa briguinha de “vachina isso, vacina aquilo”, de já haver tratamento precoce efetivo, por exemplo. Sabe como eu vejo? Você acha, mesmo, que países como Inglaterra, EUA, Alemanha e Israel, sobreviventes de tantas guerras e que sempre tiveram um longo histórico ou de dominação ou de superação através dos séculos recentes, ignorariam a ciência, ignorariam o pragmatismo, ignorariam supostos tratamentos “balas de prata” não aprovados por tantos órgãos de respeito só por birra, para enriquecer a indústria farmacêutica com as vacinas, enquanto afundam suas economias? E ainda aparecessem na mídia brigando pelo baixo fornecimento de vacinas prometidas? Ah, querida, faça-me o favor. É muita inocência, é muita cegueira. Essas nações aí podem ser tudo, egoístas, protecionistas, hipócritas em certas políticas e discursos, menos trouxas.

Pode apostar que boa parte desses países que mencionei sairão na frente em esquemas de vacinação efetivos e rápidos. Já os que bobearem, ficarão é sem vacinas. Pois esqueça a história de, como é aquela música mesmo? “We are the world, we are the people”. Filha, será um tal de farinha, digo, vacina pouco, meu povo primeiro. Então, euzinha, vou é seguir o que eles fizerem”.

>>👩🏻(Camila): Sábia tia Carmen.

>>👩🏼(Sandra): Pois é. Agora fico eu aqui nessa torcida para que ela consiga sair dessa e possa, de fato, segui-los. Faço questão de levá-la para ser vacinada.

>>👩🏻(Camila): Imagino, San. Caso eu puder fazer alguma coisa… 

>>👩🏼(Sandra): No momento eu tenho mil dúvidas, e queria tirar com você. Agora que já estamos cerca de 3 meses do início da vacinação no 1º país, na Inglaterra, queria brincar de pingue pongue com você. Anotei mil e uma questões, e como você trabalha na área, prefiro conversar com você do que ficar lendo comentários dessas bolhas, que como bem apontou o Loyola nessa última publicação, acabam dividindo o mundo em dois lados, polarizados, do bom versus o mau, fora essa negatividade, esse medo, essa tendência de sempre culpar alguém, sendo que a grandessíssima maioria dos acontecimentos fazem parte de uma soma de fatores.

>>👩🏻(Camila): Claro, no que eu puder ajudar e souber. Se não, posso fazer umas pesquisinhas rápidas aqui com meus colegas da área e/ou “googlar” o assunto. 

>>👩🏼(Sandra): Tá bem. Você sabe a quantas anda a vacinação no mundo? E tem alguma ideia da relevância do que temos já vacinados e do que acontecerá no Brasil?

>>👩🏻(Camila): Olha, antes de mais nada, sei que tem muita gente que acaba defendendo o fato que estamos vacinando muito, em números absolutos. Eu discordo redondamente. O Brasil é um país continental e o efeito da vacina em sociedade depende da porcentagem, não do número absoluto, que consigamos vacinar.

Tem dois outros amigos do Loyola que sigo que tem feito levantamento e estimativas das vacinações. A última vez que vi o Brasil estaria no 33º lugar (de países com mais de 3 milhões de habitantes), sendo que menos de 5% da população tinha recebido a 1a dose e cerca de apenas 1/3 (um terço) tinha recebido a 2a dose. E se a velocidade de vacinação continuar assim, o que acredito que deva mudar para melhor, só em final de 2022 atingiríamos 70% da população (!!!).

>>👩🏼(Sandra): Nossa, realmente, não me parece nada bom. E o Ministério da Saúde (MS), sem entrar nas discussões de atrasos na assinatura de contratos como o da Pfizer, que já sei, e de empenho ou postura do Presidente, questionáveis, como estamos hoje mesmo de perspectivas. Quantas vacinas devemos ter?

>>👩🏻(Camila): Então, amiga, essa é a pergunta de um milhão de dólares. O que eu tenho acompanhado, é que as estimativas de vacinas por mês têm sido revistas toda semana. É uma lástima. E digo mais, sem as vacinas do Butantan, esquece, estaríamos na lama.

Exemplificando. Até há mais ou menos um mês a previsão era de ~41 milhões de vacinas entregues em março, passou para 30 milhões, depois para 28 milhões, depois 22 a 25 milhões, e até na própria TV Brasil fala-se em 22 milhões.

Já na última 6ª feira, nova estimativa foi liberada, de 38 milhões.

Aí, você sabe, fui dar uma sapeada… qual não foi minha surpresa quando nessa lista há uma previsão de 8 milhões da Covaxin (da Precisa), vacina que nem teve sequer um documento submetido à ANVISA para uso emergencial ou registro definitivo. No início dessa semana houve a 1ª reunião com a ANVISA para discutir a documentação. Fora as da COVAX que não temos nem sinal e, finalmente, as vacinas da Oxford produzidas na FIOCRUZ terão seu primeiro lote disponibilizado essa semana.

Também consta vacinas da Sputnik na estimativa de abril, outra empresa que já teve documentos rejeitados e reuniões com a ANVISA realizadas. A próxima reunião deve ser realizada hoje, dia 17 de março, e enquanto o dono do laboratório alega que a ANVISA deve dar aval na mesma reunião, a ANVISA nega.  

Ou seja, uma mistura de falta de planejamento e previsões irrealistas. E sem entrar em discussão política, tinham falado que nosso ex-MS era especialista em logística. Que, por sinal, mudou de novo 🙄… É, deixemos a política para lá.

>>👩🏼(Sandra): Isso… deixemos a política para lá. Vamos lidar com o que temos agora em mãos, sem procurar os culpados. Até porque, se os encontrarmos, num país que libera Lula após condenação em 3 instâncias, é perder nosso precioso tempo. Como diria Victor Hugo: “Quem poupa o Lobo, sacrifica a ovelha”. E é o que nosso sistema judiciário tem feito sempre… e, no fundo, é assim que eu vejo também essa pandemia. Quem está sendo sacrificada são as ovelhas. Então, deixemos a política para lá.

>>👩🏻(Camila): Isso, vamos.

>>👩🏼(Sandra): Você poderia me explicar melhor o que de fato sabemos das ações dessas vacinas e o que não sabemos? Sei que há muita discussão na parte de tratamento, estudos aceitáveis e estudos não aceitáveis, mas hoje queria focar só nas vacinas.

>>👩🏻(Camila): Claro, e você tem total razão. Antes de focarmos só nas vacinas, acho que vale uma ressalva aqui. Você sabe que eu sou super a favor de haver tantas pesquisas e estudos possíveis para tratamento. Claro. É a minha área. Mas essa não é uma gripe qualquer. Essa é uma doença com fases diferentes, de infecção, inflamação, intercorrências sanguíneas como coagulação e trombos. Isso sem falar nas sequelas, que muito não se sabe ainda.

Ao mesmo tempo, a grandessíssima maioria dos casos resolvem-se sem intervenção medicamentosa ou clínica (algo entre 95 e 98%) e a letalidade é baixa (algo entre 0,2-0,5%, não se sabe ao certo). Cito dois exemplos de estudos-casos abaixo que ilustram isso.

Exemplo 1: estudo COLCORONA, onde 2 mil pacientes ficaram no grupo placebo (sem receber tratamento algum, o grupo para comparação), média de idade de 55 anos E presença de comorbidades. Em torno de 96% curaram-se sozinhos, sem qualquer intervenção.

Exemplo 2: no surto do porta aviões ROOSEVELT quase 2 mil pessoas se contaminaram, jovens sem comorbidades, e 98,3% curaram-se sozinhos, sem qualquer intervenção.

Ou seja, de cada 100 pacientes, menos de 4 (quatro) no COLCORONA e menos de 2 (dois) no surto precisaram de diferente intervenção farmacológica ou clínica 

Entendo que o que não falta é força de vontade de médicos que se importem com seus pacientes, que observando a grandessíssima maioria melhorando com o tratamento precoce, ou o que quer que administrem, acreditem que são tais medicamentos os responsáveis pela melhora, sendo que simplesmente a probabilidade de ser o sistema imunológico o responsável é enorme. Assim, muitos desses médicos querem demonstrar suas observações em dados, mas o que não falta são estudos com N (número de pacientes) pequeno, que não são cegos (ou seja, os médicos sabem o que aplicam e isso pode gerar um viés na leitura) e que não comparam o medicamento em estudo com placebo/assistência padrão.

Isso fora a falta de uma monitoria independente do prontuário, exames clínicos, histórico do paciente para evitar distorções, desvios e violações ao estudo e garantir que todos os dados são coletados de maneira padrão e são fidedignos ao caso. O que chamamos de GCP (Good Clinical Practices – Boas Práticas Clínicas), uma série de procedimentos que procura garantir ausência de “bias”, que os dados coletados sejam tão próximos do imparcial quanto possível e que os voluntários-pacientes inclusos nas análises tenham seguido os critérios de inclusão e exclusão e os procedimentos do estudo.

>>👩🏼(Sandra): Mas, Cam, não seria só uma pequena ressalva 🙃?!

>>👩🏻(Camila): Ooops… tá, só para terminar.  Eu continuo acompanhando as opiniões dos órgãos regulatórios para cada uma das medicações em estudo, e só para focar em uma, o FDA (Agência Regulatória EUA), a INFARMED (Agência Regulatória de Portugal, o CRF no Brasil recentemente divulgaram posições sobre a ivermectina. Fora um estudo feito na Colômbia recentemente. Ou seja, ainda não se encontrou estudos com devida robustez científica que provem tal eficácia, e continuam estudando. Me parece que podemos até lá na frente provar certos ganhos marginais, com determinada posologia, mas longe de ser a bala de prata pregada por alguns.

Eu não sou médica, mas para qualquer um que me pergunte o que eu faria caso estivesse com algum sintoma COVID: procuraria algum médico, algum posto, ou até entraria em contato com o atendimento gratuito da www.missaocovid.com.br o mais rápido possível para ser testada. E daí, procuraria o que chamam de assistência precoce, acompanhamento precoce para meu caso, incluso com um oxímetro e decidiria com meu médico se tomar algo, se apenas acompanhar os sintomas clínicos, uso de oxímetro, e como fazer o acompanhamento. Só tomaria cuidado com essas receitas passadas de boca em boca, pois muitas vezes o ‘tomar algum medicamento’ pode nos passar uma sensação de alívio e, aí sim, não tomarmos os devidos cuidados. Ou seja, quer tomar algo, o faça com supervisão e acompanhamento deste o 1o dia.

Enfim, vamos focar nas vacinas e sair dessa, que acredito, é o principal motivo de brigas e discussões. Voltemos a vaca fria, digo, vacinas…

>>👩🏼(Sandra): Ah… finalmente!!! Sobre os efeitos das vacinas. Quem já teve COVID, pode tomar? Tô aqui pensando na tia Carmen e em tantos outros, sabe?!

>>👩🏻(Camila): Sim, essa tem sido a recomendação em todos os países até o momento. Ainda não se sabe a duração da imunidade natural após infecção e a probabilidade de reinfecção, mas há casos de reinfecção conhecidos. Fora isso, também há estudos sendo realizados que apresentaram indicação que quem já teve COVID acabam respondendo melhor, com maior produção de anticorpos, já após a 1ª dose de vacina do tipo da Pfizer.

>>👩🏼(Sandra): Que interessante. Mas há estudos sobre resposta com as outras vacinas, para quem já teve COVID ou não, após a 1ª dose?

>>👩🏻(Camila): Eu não tenho essa informação sobre estudos, mas sei que em fevereiro houve uma queda de 70% nos óbitos de idosos acima de 90 anos na cidade de SP e em pouco mais de um mês queda de 20% nas internações de idosos acima de 90 anos no país.

Também essa semana li que na Inglaterra está havendo 90,4% de queda de novos casos de COVID, 88,3% de queda de óbitos por COVID, 85,8% de queda de novas internações, e 76,1% de queda de atendimento hospitalar de pacientes. Mas lá a velocidade de vacinação está entre 2,5 a 5 milhões de doses por semana. Ou seja, acho que fica mais do que claro que a maneira de controlar a situação é através de vacinas.

>>👩🏼(Sandra): Pois é, antes tivéssemos um lote dessa da Pfizer, que tem me parecido, como leiga, ter uma boa resposta na maioria dos países onde tem sido aplicada. Ao menos nos mais idosos, por ter a tal % eficácia mais alta, não?

>>👩🏻(Camila): Olha só… tá realmente mais informada 😉! É por aí mesmo, concordo contigo.

>>👩🏼(Sandra): Mas uma coisa eu não entendi até agora. O que de fato essas vacinas evitam? A contaminação? A transmissão? Ou simplesmente o desenvolvimento de quadros mais graves da doença? E o tempo de imunização?

>>👩🏻(Camila): Lembro-me de um programa no Roda Viva, sabe, no final de dezembro que estavam o Dimas Covas (Butantan), a Denise Garet (Sabin Vaccine Institute) e a Margarete Dalcomo (FIOCRUZ). Caso não tenha assistido, recomendo. Abra um vinho um dia desses, ou quando estiver cozinhando, e ligue o programa.

Neste programa eles explicam que muito se aprenderá com o tempo, e que neste momento o mais importante é que as vacinas atuem para combater o vírus, mas não necessariamente dizimá-lo. Ou seja, mesmo que a pessoa se contamine, que o organismo esteja preparado para melhor lutar com o vírus, pois a vacina terá desencadeado a produção de anticorpos e resposta celular contra o vírus e, assim, caso desenvolva a doença que seja um quadro leve. Diminuindo internações, complicações e, consequentemente, controlando a ocupação dos hospitais e, claro, tendo impacto direto nos óbitos também.

Sobre o tempo de imunização, é outro fator que ainda não se tem certeza. Lembro-me que a Garet comentou algo no sentido de não haver expectativa de duração longa como 10 anos, mas também não só de meses ou um ano, mas ainda estão estudando.  

Essa semana li um artigo que fala sobre voluntários que participaram do estudo da vacina da Oxford na UNIFESP-SP continuam imunes 9 meses depois de terem tomado a vacina.

Já da vacina da CoronaVac, há também um estudo que está acontecendo na cidade de Serrana. Que estudo é esse? vacinação em massa da população desta cidade para estudar os efeitos, a eficácia da vacina na queda da transmissão do Coronavírus, o que consequentemente levará à queda de novos casos, internações e óbitos. Nessa semana vacinou-se 92,1% do público-alvo.

>>👩🏼(Sandra): Nossa, muito legal ver essa sua área de pesquisa clínica ao vivo e a cores. Quem diria que faria parte do meu vocabulário: estudo fase III, eficácia de vacina, variante, comorbidade, oxímetro, máscara NC95, teste PCR, etc…

>>👩🏻(Camila): Por isso eu sempre digo… “I fucking love science” 🥰🥰🥰.

>>👩🏼(Sandra): 😆😆😆😆. Só você para me fazer rir nesse momento.

Bom. Entendi. Ou seja, ainda tem muito que não se sabe. Mas os estudos continuam. Ótima sinal essa da Oxford. E que estudo ‘massa’ esse da CoronaVac, não?! Eu devia ter alugado uma casa lá para a minha família 😉

E sobre as mutações? As vacinas que temos agora no Brasil, pelo que eu li ambas funcionam para responder as mutações atuais?

>>👩🏻(Camila): Isso mesmo, ambas foram testadas (Oxford e CoronaVac) e respondem às mutações. A da Pfizer também. Mas algo é fato, vírus estão sempre mutando. É normal. Mas assusta pensar que estamos no meio de uma pandemia e que as vacinas precisam ao redor de 2 meses para serem adaptadas, caso não respondam a uma mutação nova. E obviamente os governos federais, associações internacionais precisam ficar de olho nas mutações. Pois vai que aparece uma mutação mais perversa e complicada?

Fora que eu acredito que haja uma falta de cooperação internacional para de fato fazer uma vigilância epidemiológica de controle de tais variantes. Mas, sei lá, muitos países nem no seu próprio controlam direito… sem falar de política, mas o Brasil peca demais nisso. Não houve uma centelha de ações determinadas por vigilância epidemiológica.

E algo que ninguém muito fala, a CoronaVac por ser feita de vírus inteiro inativado leva uma certa vantagem frente às mutações, diferente das demais vacinas que são produzidas a partir da proteína chamada Spike. Com isso, várias células do sistema imune são ativadas e são produzidos vários outros anticorpos, não só os neutralizantes da tal proteína.

>>👩🏼(Sandra): Acho que estou acompanhando… tenho mais duas dúvidas. O que de fato significa essas % de eficácia distintas entre as vacinas. Elas são calculadas da mesma forma?

>>👩🏻(Camila): Ótima pergunta, amiga… pois é, aí que mora um ponto que quase todo mundo ignora, não sabe. Cada um desses estudos teve critérios diferentes para categorizar o que foi considerado “caso de COVID-19”.

O que isso quer dizer? Aposto que quase todo mundo acredita que os voluntários de todos os estudos com vacinas eram testados contra COVID-19 o tempo todo. Pois é, não é assim. Para ser testado, o voluntário tinha que apresentar certos sintomas. E essa nota da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI) explica bem isso. Quem mais abriu o leque para testagem, exigindo menos sintomas e expandindo a lista de sintomas foi o estudo da CoronaVac. Ou seja, mais voluntários foram testados com menos sintomas (diferente dos estudos da Pfizer, Oxford e Moderna, que faziam mais exigências para testagem).

Outro fator foi a população do estudo: enquanto, por exemplo, o estudo da Oxford incluiu voluntários da população em geral, o estudo da Moderna incluiu uma parte da população com riscos ocupacionais já o estudo da CoronaVac incluiu apenas profissionais de saúde que atendiam pacientes com COVID-19. O que chamamos de “estressar” a vacina.

Mas, em resumo, não podemos fazer uma correlação direta entre as eficácias, mas é fato que essas vacinas buscam o controle da doença sintomática. Com o passar do tempo, pois estamos trocando o pneu do carro em movimento, os pesquisadores e indústrias farmacêuticas poderão focar na busca de imunidade que proteja da infecção (nenhum dos estudos atuais que levou à aprovação das vacinas mediu isso).

>>👩🏼(Sandra): Tô ficando meio tonta… é tanta informação. Mas acho que estou entendendo essa história de estressar a vacina. Seria como colocar um voluntário para atravessar uma rua normal, e um outro para atravessar uma rodovia com fluxo intenso. A probabilidade de acidente é maior na rodovia, correto?

>>👩🏻(Camila): perfeita sua analogia!!! Gostei. Vou roubar 🤗

>>👩🏼(Sandra): aham… não contava com a minha astúcia 😉

>>👩🏻(Camila): Nunca duvidei não, amiga. Só essa polarização horrorosa que andava por vezes nos fazendo dar uns encontrões. É só deixarmos essa politicagem para lá que a gente se afina.

>>👩🏼(Sandra): E mais uma pergunta, o que você acha desse bafafá na Europa com a vacina da Oxford?

>>👩🏻(Camila): Quanto fui ler, era sobre suspensão para melhor avaliação por parte da EMA (A ANVISA da Europa) de alguns eventos de tromboembolismo (30 em 5 milhões de vacinados). A princípio me pareceu excesso de zelo, pois não parece um número de fato relevante. Mas faz parte de qualquer medicamento ou vacina nova relatos espontâneos de médicos de eventos que não têm como definir relação causal ou não.

Aí pesquisando um pouco mais, lendo outras matérias, opiniões de especialistas, paralelo com a história que inicialmente o EMA não indicava a vacina para maiores de 65 anos, aí tem a história de reclamação por parte da EU de não fornecimento de doses conforme o contratado e investido, sendo que o Reino Unido já recebeu 11 milhões de doses. A Anna mesmo, lá da Alemanha, me contou que a Merkel andava bem P da vida com o fornecimento dessas vacinas, fora o Macron que também andou falando umas bobajadas.

Pesquiso um pouco mais e o Reino Unido apresenta número de relato de eventos dessa ordem também no da Pfizer, e não acendeu alerta por não acreditar ser relevante… enfim, ou muito me engano, ou tem aí uma pitada de briguinha política, sabe?! Se assim o for, acho um crime, isso sim. Bom, o EMA disse que nessa 5ª feira dará seu parecer. Mas ontem mesmo, 3ª feira, o EMA já deu sinais de que irá tirar a suspensão.

Aí me pergunto: foi excesso de zelo, preciosismo, politicagem ou irresponsabilidade? Imagine os “efeitos colaterais” dessa suspensão para certa parte da população, que já tem um pé atrás com as vacinas?! Você decide. E, tá vendo, não é só na República das Bananas que o bicho pega 🙄

>>👩🏼(Sandra): Gente… mas parece que não temos para onde correr. Se ficar o bicho pega, se correr o bicho come

>>👩🏻(Camila): Nem me fale. Sabe, neste momento acho que temos é que fazer nosso melhor, não julgar demais o próximo, pois não sabemos o que cada um está passando. Pois obviamente “lockdown” para todos e por um tempo longo é impraticável, mas muitos nem o básico das recomendações seguem e estão “nem aí para a hora do Brasil”. Ou seja, façamos nosso melhor, não ignoremos o fato que a situação não está para peixe e nada de meter os pés pelas mãos como certos governantes fazem.

Estava lendo a situação de MG, sabe. Em fevereiro/20 havia 2.072 leitos de UTI no estado. Hoje são 4.248 leitos de UTI. E ainda estão adaptando certos blocos cirúrgicos e pronto-atendimento para vivarem leitos de UTI.

O que me cansa? Os mesmos que criticam os governadores de adotarem medidas de restrição, são os que xingavam a manutenção dos hospitais de campanha que estavam vazios. Lembra? Até chegaram a invadir um e tirar fotos. E são os mesmos que não entenderam que hospitais de campanha tinham em sua maioria leitos de enfermaria, não de UTI. E que equipes internistas não se produzem do dia para noite. Continuam negando a gravidade da situação. É impressionante!!!

>>👩🏼(Sandra): Te falo que quando chega perto da gente, pelo menos para minha família, dá um clique. Claro, terão os que negarão para sempre, não adianta. E… veja pelo lado bom, hoje não estamos discutindo a obrigatoriedade da vacina 🤗

>>👩🏻(Camila): 😆😆😆… é verdade, amiga.

E, olha, nessa previsão diria que eu acertei 😉. Hoje o problema é ter vacina para todos. As pesquisas hoje já apontam que entre 77 e 85% da população brasileira quer, está disposta a se vacinar. Então, honestamente, esses míseros 15-20% não farão diferença no principal efeito. Que é o tão esperado controle da pandemia via ‘imunidade de rebanho”.

E digo mais, lembra da eleição de Trump e posteriormente Bolsonaro? Criaram a figura do voto envergonhado (aqueles que não admitem o voto, não aparece nas pesquisas, mas como é secreto foram lá e votaram em quem não declararam). Eu hoje vejo claramente que há a figura, o personagem, da “vacina envergonhada”, escondida, até diria hipócrita. Muitos que atacaram as vacinas hoje encontram-se … vacinados. Mas não alardeiam por aí não. Conheço um certo dentista que se encaixa perfeitamente nesse personagem.

>>👩🏼(Sandra): Aí amiga… quando veremos a luz no fim do túnel, hein?!

>>👩🏻(Camila): Desesperar não adianta, não resolve. E o que não falta é viés de confirmação na hora de dar uma opinião né?! Eu acredito que a partir de abril a velocidade de vacinação será maior e em algum momento lá pelo 2º semestre, se de fato houver disponibilidade de vacinas, as coisas começarão a melhorar.

Até lá é “Inspira, respira, cuide-se, faça seu melhor, e não pira” 😊! E minha melhor dica? Façamos muitos Happy Hours🥂, muito papo ‘cazamigas’, para relaxar a mente, falar de decoração, de nossos tempos de infância, falar mal do marido (oooops…🙃), pois não há melhor ansiolítico que este.

Anna Paula Más

Anna Paula Más, farmacêutica e bioquímica (USP-SP), fez carreira trabalhando quase 20 anos na área de pesquisa clínica e desenvolvimentos de novos medicamentos, focada na área ética e regulatória. Caixeira viajante (morou nos EUA, França e hoje fica entre Alemanha e Brasil). É extrovertida, social, costuma ‘unir’ turmas e pessoas de turmas diferentes. Dizem as más línguas que conversa até com o poste, adora palpitar, não tem receio de se posicionar e, por vezes, criar polêmicas. A pedidos, veio fazer parte do time Papo de Boteco com o propósito de trazer um olhar feminino, mas não por isso menos crítico, sobre assuntos diversos.

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2 Comentários

  1. Texto sempre muito bem elaborado e cheio de informações corretas. Talvez, para completar mais ainda a informação, sugiro fazer um texto explicando como o coronavírus age nas pessoas susceptíveis. Afinal, num país como nosso, o número absoluto de mortes importam. Tem muita gente morrendo e a velocidade da destruição também precisa ser conhecida.

    1. Thanks Dani :). Difícil esse tema hein rsrs… fora outros que já estão na lista
      obrigada por sempre dar audiência e pelas sugestões

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