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Lockdown evita mesmo a propagação da COVID-19?

Artigo relevante se posiciona contra

Foi publicado há alguns dias (5 de janeiro de 2021) um estudo de pesquisadores da Stanford revisto por pares no reputado European Journal of Clinical Investigation intitulado “Avaliação dos efeitos obrigatórios da ordem de ficar em casa e fechamento dos negócios na propagação da COVID-19”

O artigo concluiu que a implementação desse tipo de medidas não foi associada a reduções significativas no crescimento de casos em 9 dos 10 países do estudo, incluindo a Coreia do Sul e a Suécia. (A exceção foi a Espanha, mas sem relevância estatística).

Após ler muuuuito material sobre o tema, tendo a concordar com o artigo, que não é o primeiro nessa linha, mesmo sabendo que há artigos com a tese oposta. Reconheço que não é algo fácil de mensurar.

Quem é o principal autor do artigo?

Admiro muito o trabalho acadêmico de um dos autores, o John Ioannidis, que é o mesmo médico pesquisador, com grande background em estatística, que publicou um famoso paper que defende a tese que a maioria da pesquisa médica tem problemas. A ironia não está incluída nessa frase.

O que o estado pode fazer como contenção da epidemia?

No entanto, não sou contra restrições moderadas. Acho válido tomar medidas para diminuir aglomerações, especialmente em locais fechados (boates, por exemplo, são uma festa para a COVID-19), conscientização inteligente e continuada da população, máscaras apropriadas usadas de forma adequada, medidas inteligentes para diminuir a concentração de pessoas no horário do rush, apoio ao home office, atenção ao transporte coletivo; tudo pode ter validade.

Medidas extremas só em casos extremos

Para mim só existe uma única situação que pode justificar o estado adotar medidas mais extremas como fechar o comércio, as empresas e até manter as pessoas em casa, itens que fazem parte de um lockdown clássico: para evitar um colapso hospitalar, adotadas em um espaço de tempo bem curto.

Aí vale tudo, porque nessa situação as pessoas mais graves ficam condenadas à morte, além de afetar os hospitais como um todo, mesmo para pacientes que não estejam com COVID-19.

Algumas medidas carecem de realismo

Medidas burras, geram resultados péssimos. Por exemplo, restringir transporte (em horário ou quantidade), fora de um contexto, gera ainda maiores aglomerações, porque não há como fiscalizar na prática. Quem precisa trabalhar, tem que se sujeitar a qualquer coisa!

Filas inteligentes trariam conforto

Um dia fui a uma agência do Banco do Brasil e vi filas quilométricas. Pessoas em pé dentro da agência, aglomeradas. Não entendo porque não se pode implantar slots de horários de atendimento, agendados pela Internet, com quantidade limitada de pessoas por slot. A espera no local é reduzida a minutos!

Isso é adotado em alguns locais, como a receita federal por aqui e a Disney nos parques temáticos nos EUA.

Seria muito mais confortável para todos e ninguém perderia tempo. Independente da COVID-19.

Liberdade é vida!

O ar livre faz muito bem, gera vitamina D, diminui o stress, faz a pessoa menos deprimida, mais feliz, menos obesa, menos sedentária; além de melhorar a atenção da população com medidas de prevenção a outros problemas de saúde, diminuir a violência doméstica etc.

Efeitos externos de lockdowns vão além da COVID-19

Além disso, lockdowns podem gerar grandes cargas na economia e aumento significativo do desemprego, com impactos maiores dentro da população mais vulnerável, especialmente em países lascados como o Brasil, sem falar na degradação da condição macroeconômica, ao contribuir para aumentar o déficit e o endividamento. Países ricos ainda conseguem se virar, mas países como Brasil e Argentina terão um futuro muito mais sombrio.

Outro efeito nefasto é que lockdowns prolongados tendem a gerar algum tipo de rebeldia na população, que pode levá-la a tomar ainda menos cuidados do que ela tomaria em condições normais. O mesmo se dá naquela placa de limite de 40 km sem radar em algumas estradas. O cara passa voando só de raiva!

Lockdown só para inglês ver…

É sempre preciso lembrar que em lugares pobres e desassistidos, o lockdown é, por si só, uma grande peça de ficção.

Lockdown atua na COVID-19 com muitos fatores juntos

Quem busca correlação de lockdowns, com casos de COVID-19 vai encontrar em diversos casos. A questão é que análises observacionais típicas são marcadamente multidimensionais porque as medidas do governo se misturam com o medo da população, o comportamento espontâneo das pessoas, a intensidade de adoção do lockdown que depende de questões culturais e do nível de vida, do estágio da epidemia, e zilhões de outras coisas.

É tudo muito complexo.

Basta olhar a Europa entre a primeira onda e a segunda onda. Foi um período de liberdade, baixos casos e todo mundo na rua. Quando a COVID-19 foi voltando, foi um Deus me livre. É como se o vírus tivesse tirado uma folga.

Até hoje, há muitos mistérios.

Transmissão dentro de casa é muito relevante

Qual o ambiente mais vulnerável que existe? Um asilo, onde há várias pessoas convivendo 24 horas em um espaço pequeno. O que mais se aproxima de um asilo? A casa das pessoas, especialmente para quem mora com menor espaço individual. Torna-se um espaço fechado com várias pessoas.

Basta uma pessoa dessa casa ter que sair e usar transporte e ela passa a ser um potencial vetor dessa doença para outras pessoas com maior probabilidade em casa, com uma convivência prolongada, do que na rua. Ficar alerta eternamente é quase impossível. Por isso que a contaminação dentro de casa termina sendo a contaminação mais comum!

Epílogo

Como muitas coisas em relação ao COVID-19, tanto uma tese quanto a tese oposta, permanecem um tema em aberto. Apenas penso que parece bem mais lógico se contrapor ao uso do lockdown como ferramenta para combater a propagação do doença, exceto em casos extremos, como dito acima.

Paulo Buchsbaum

Fui geofísico da Petrobras, depois fiz mestrado em Tecnologia na PUC-RJ, fui professor universitário da PUC e UFF, hoje sou consultor de negócios e já escrevi 3 livros: "Frases Geniais", "Do Bestial ao Genial" e um livro de administração: "Negócios S/A". Tenho o lance de exatas, mas me interesso e leio sobre quase tudo e tenho paixão por escrever, atirando em muitas direções.

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