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Aquecimento Global sem politização – parte IV

Aqui inicio o último artigo da série falando sobre 2 evidências impressionantes do AG, mas muito menos badaladas.

Depois encerro o artigo com um longo, mas necessário contraponto a algumas afirmações e minhas respostas aos questionamentos em aberto do instigante artigo da Isaak Gruberger: 50 anos de Ativismo Climático.

A Estratosfera está esfriando

A atmosfera terrestre se divide em várias camadas. A troposfera vai de 0 a aproximadamente 10 km de altura nos polos e 20 km no Equador. Depois vem a estratosfera de 18 km a 50 km e finalmente temos a mesosfera de 50 km a 80 km.

Características de cada camada da atmosfera

O resto é relativamente irrelevante para o nosso raciocínio.

Como levantei no meu artigo inicial dessa série, já foi provado por medições diretas que a irradiação solar total que incide sobre a Terra tem permanecido virtualmente constante nas últimas dezenas de anos, com uma leve baixa.

O aumento da concentração dos gases estufa leva à previsão do aumento da temperatura da troposfera e isso tem sido observado, mas o mais impressionante é a diminuição que tem ocorrido na temperatura da estratosfera e da mesosfera, fato confirmado pela NASA em 30 anos de medições.

Como explicar esse enigma?

Simples, como o calor está sendo aprisionado em parte pelos gases do efeito estufa na troposfera, ele são emitidos em menor escala para fora, o que tenderia, de fato, a provocar, surpreendentemente, o esfriamento de estratosfera e da mesosfera.

Com isso a lei da conservação de energia preconiza que, como a energia entrante do Sol tem sido igual, e a energia que escapa do sistema terrestre tem sido menor, como evidenciado por esse esfriamento; a energia aprisionada na Terra e em sua atmosfera baixa tem sido maior, o que obviamente provoca a elevação de temperatura, como tem sido observado.

Dados sobre a estabilidade do TSI (Total Solar Iradiance, que conta sobre a energia que o sol envia para nós) nas últimas décadas tem diversas origens: EUA (NOAA/Nasa), Japão (ocasionalmente), China e União Europeia. No entanto, existem cientistas, que não acreditam no aquecimento global antropogênico) e afirmam que esses dados e/ou sua interpretação está adulterados. E quando se considera sob um ângulo diferente, indica que, na verdade, o TSI estaria aumentando.

Portanto, a diminuição da temperatura na estratosfera e mesosfera é um forte indicador de que o efeito estufa é o principal drive do aquecimento global, e não um suposto aumento da irradiação solar que iria de encontro a essas observações.

Afinal, a diminuição da temperatura na estratosfera e mesosfera é um forte indicador de que o efeito estufa é o principal drive do aquecimento global, e não um suposto aumento da irradiação solar, já que um aumento do TSI geraria um aumento de temperatura nas camadas superiores da atmosfera e não uma redução, porque se a energia entrante (TSI) aumenta, e um percentual similar é absorvido, um percentual de um valor maior sai da Terra.

E aí vem um argumento interessante.

A composição isotópica de CO2 denuncia o homem

O átomo de carbono tem vários isótopos diferentes (por exemplo — número diferente de nêutrons). O carbono 12 tem 6 nêutrons, o carbono 13 possui 7 nêutrons.

O carbono-12 é a forma mais comum encontrada na natureza. O carbono-13 é cerca de 1 por cento do total. O carbono-14, que é produzido na alta atmosfera, é responsável por uma quantidade ainda menor.

As plantas absorvem todas as formas de carbono no processo de fotossíntese, mas preferem o carbono 12 mais leve, deixando o carbono 13 na atmosfera.

Isso enriquece o carbono-13 na atmosfera em comparação com o carbono-13 na biosfera, razão pela qual o carbono-13 é mais abundante na atmosfera.

Mas as medições da composição do CO2 mostram um declínio na proporção de carbono-13 para carbono-12 na atmosfera de cerca de 3 por cento ao ano.

O declínio do carbono-13 é consistente com a composição do carbono-13 dos combustíveis fósseis que são liberados na atmosfera quando são queimados.

Então, como sabemos que os níveis crescentes de CO2 são causados ​​pela queima de combustíveis fósseis e não por fenômenos como incêndios florestais?

Os combustíveis fósseis – carvão, petróleo e gás – são feitos de plantas e microrganismos antigos – portanto, também são reduzidos em carbono-13. A principal diferença é que, ao contrário do material vegetal vivo, os combustíveis fósseis não contêm carbono-14.

O carbono-14 decai na atmosfera em uma meia-vida de cerca de 5.700 anos, portanto os combustíveis fósseis, que têm milhões de anos, não contêm carbono-14.

Os 3 isótopos mais estáveis do carbono

Se o aumento do CO2 atmosférico fosse decorrente principalmente de combustíveis fósseis, preconiza-se que a relação de C12/C13 deveria se elevar.

O que se observa é justamente que a relação C12/C13 está aumentando na atmosfera nos últimos 150 anos e isso tem se acelerado nas últimas décadas.

Mesmo que os cientistas estejam errando feio na estimativa de emissão de CO2 por meio de atividade vulcânica, o CO2 mineral não tem esse teor mais elevado de C12, o que não explica o aumento de concentração de C12/C13 que tem sido observado na atmosfera.

50 Anos de Ativismo Climático” de Isaak Gruberger.

Greta Thumberg é o símbolo de exagero e das palavras de efeito, relativo ao AGA

O artigo é interessante e provocativo e traz um belo trabalho de pesquisa e levantamento histórico do AG, além de ressaltar alguns exageros.

No entanto, minha missão aqui não é ressaltar a qualidade do artigo e nem o talento do escriba, mas estabelecer alguns contrapontos e responder a alguns questionamentos, que o próprio autor se prontificou a responder em novo artigo, mas apareço por aqui dando a minha versão de resposta.

Para mim foi um baita de um desafio e estou aberto a qualquer tipo de debate, mas não mais sob a forma de um artigo, poque estou encerrando essa série de textos sobre Aquecimento Global aqui.

Buraco na camada de Ozônio

1 Alarmados pelo alerta, a comunidade internacional baniu o uso de CFCs através do Protocolo de Montreal, resultado da Conferência de Toronto, de 1986 ….

Curiosamente, se avaliarmos a dimensão dos buracos de ozônio na Antártida em anos de grande extensão ao longo das últimas 4 décadas, teremos a nítida impressão de que o Acordo de Montreal demonstrou pouco efeito prático na camada de ozônio. Pode-se falar que este talvez estivesse maior hoje, mas primeiro deve-se questionar se o seu tamanho percebido na época era de fato decorrente do uso de CFCs ou de ciclos naturais oriundos da dinâmica do clima do planeta. Fatos como esse reforçam o ceticismo de parte da comunidade científica sobre a metodologia adotada pelo IPCC, mesmo nos dias de hoje.

Réplica: A camada de ozônio presente na estratosfera protege a vida na Terra ao absorver a luz ultravioleta UVB (parcialmente) e UVC (totalmente), que danifica o DNA de plantas, animais (incluindo o homem) e causa queimaduras de sol e câncer de pele. Todos os tipos (inclusive o UVA), são perigosos para a saúde humana, especialmente o UVC e são diferenciados pelas faixas de comprimento de onda.

A estratosfera está em um ciclo constante com as moléculas de oxigênio e sua interação com os raios ultravioleta, que produz e destrói ozônio, gerando um equilíbrio dinâmico. Este processo é denominado ciclo de Chapman.

Enfim, ao contrário do AG, cujas consequências são mais difíceis de precisar, a depleção da camada de ozônio gera efeitos nefastos bem claros e diretos.

Antes de 1979, os cientistas não haviam observado concentrações de ozônio atmosférico inferior a 220 unidades Dobson. Mas em 1985, por meio de uma combinação de medições terrestres e de satélites, os cientistas entenderam que o filtro solar natural da Terra estava diminuindo drasticamente no Pólo Sul a cada primavera.

Esse estreitamento da camada de ozônio sobre a Antártica ficou conhecido como buraco de ozônio.

Estudos identificaram substâncias como clorofluorcarbonos (CFCs), dentre outras. O CFC era largamente usado em refrigeração, ar condicionado e latas de aerossol. Os cientistas que descobriram esse relacionamento ganharam inclusive um Prêmio Nobel de química em 1995.

As moléculas de CFC são extremamente estáveis. Isso permite que boa parte do CFC percorra inexoravelmente seu caminho para a estratosfera. onde os fótons são mais energéticos, e eles interferem no CFC, gerando as seguintes reações químicas:

Cl + O3 → ClO + O2
ClO +O→ Cl + O2
O3+O → 2 O2

A Antártica reúne condições especialmente favoráveis para a depleção da camada de ozônio, porque, como a Antártica é cercada por água, isso, por uma conjunção de fatores, gera uma corrente de ventos denominada vórtice polar que se mistura pouco com o ar do resto da atmosfera terrestre, o que gera as temperaturas de inverno mais frias da Terra, frequentemente atingindo temperaturas tão baixas quanto -80oC.

Esse mecanismo motiva a formação das chamadas nuvens estratosféricas polares (PSC), que atraem as moléculas CFC, bem como outros compostos halogenados, o que intensifica sua ação na atmosfera.

Nuvens estratosférias polares: bonitas, altas e geladas

Todo o mecanismo descrito acima, descrito e evidenciado com muita clareza, levou a grande maioria dos países a firmar o protocolo de Montreal, sem a oposição que hoje se vê em relação ao AG.

Esse acordo previu a redução da emissão de várias substâncias identificadas como tendo efeito sobre o ozônio da estratosfera, incluindo os clorofluorcarbonos (CFCs).

A acordo começou a vigorar em 1989 e realmente freou o crescimento do buraco e até o reduziu um pouco, porém, ao contrário do que o imaginário popular poderia prever, a redução é lenta e isso já era previsto, porque a produção natural de ozônio na estratosfera é pequena em relação à quantidade necessária.

Além disso, o grande aumento de concentração do óxido nitroso (N20), que também atua na depleção da camada de ozônio, tem sido um adversário adicional nessa questão.

A verdade é que esse protocolo envolve muito menos impacto no potencial crescimento econômico do mundo do que qualquer medida ligada ao AG, porque as substâncias nocivas banidas são facilmente substituíveis sem grande impacto no custo.

As 2 primeiras imagens: em apenas 6 anos!

Como se pode ver pela figura acima, o buraco de ozônio simplesmente parou de aumentar.

O buraco de ozônio, que aumentou muito rapidamente em poucos anos, deu uma freada. A imagem à direta é apenas um momento mais feliz, não indica que o buraco foi restabelecido perto do nível da década de 70, pois existe algum ciclicidade nos dados.

Consenso de 97% a favor do AG?

2 – …. logo cooptada pelos defensores da teoria, através do já rebatido “mito dos 97% de consenso científico”, criado pelo Consensus Project, uma organização criada com a finalidade de “provar” o tal consenso e impor uma narrativa científica “goela abaixo – algo só visto antes em propagandas ideológicas!… afinal um consenso real não precisa de uma entidade para ser definido – bastam os fatos. E ações dessa natureza só comprovam o caráter político de quem está por trás do assunto.

Réplica – Obviamente concordo que existem exageros, imposições e maquiagens ligados ao AG; mas a história de 97% original não ´e um mito.

Esse tal número nasceu de um artigo seminal de 2013, Quantifying the consensus on anthropogenic global warming in the scientific literature (Cook, John, et alli).

Nesse artigo foi analisado a evolução do consenso científico sobre o AGA (Aquecimento Global Antropogênico) em artigos revistos por pares examinando 11.944 abstracts entre 1991-2011 com certas palavras chaves. 66,4% dos abstracts não expressaram nenhuma posição no AGA, 32,6% endossaram o AGA, 0,7% rejeitou o AGA e 0,3% estavam incertos sobre a causa do aquecimento global.

Enfim, entre os resumos que expressam uma posição sobre o AGA, 97,1% endossaram a posição consensual de que os humanos estão causando o aquecimento global.

Um estudo de 2021, revelou que esse percentual, dentre os artigos publicados se elevou para 99%, quando se examina de 2012 para cá.

Nesse artigo examinou-se 8.125 artigos relacionados ao clima desde 2012, selecionando um subconjunto aleatório de 3.000 dessas publicações. Achou-se quatro artigos céticos de um subconjunto de 3.000, de onde se derivou a conclusão que o consenso hoje na literatura científica excede 99% em artigos revisada por pares.

NUNCA ninguém sério afirmou que 97% dos cientistas ou das pessoas com nível superior ou qualquer coisa do gênero. Quem afirmou isso, não tem base para enunciar um número tão preciso e está exagerando do outro lado.

Aliás quanto mais se afasta da climatologia, menos consenso há.

No entanto, uma pesquisa de 2016, chegou a uma cifra parecida entre os cientistas que atuam especificamente na área de climatologia.

A lista de meios de comunicação, organizações científicas, países, ONGs, universidades que apoiam o AG é, de fato, tão enorme, que é até difícil de listar.

Óbvio que artigos que se posicionam contra o AGA têm dificuldade de serem aceitos por muitos periódicos mais relevantes. Por outro lado, as publicações que aceitam artigos com essa abordagem são bem conhecidas, e os cientistas que não acreditam no AGA direcionam seus artigos preferencialmente para esse tipo de periódico, porque querem ver seu material publicado.

Isso é uma afirmação relevante porque os 2 artigos citados acima NÃO fizeram qualquer média ponderada de importância (H-index ou similar), ou seja, os artigos em revistas de segunda linha não foram excluídos nem receberam peso diferente.

O que é o “Climagate”?

3 – Na sequência disso veio o que ficou conhecido como Climagate, um escândalo causado quando um vazamento de mensagens trocadas entre pesquisadores envolvidos na elaboração do relatório AR4 do IPCC mostraram intenções “nada republicanas” de manipulação de dados e informações referentes ao relatório e suas conclusões. Uma investigação realizada pela Penn State University acabou por “enterrar” o escândalo, diante do risco que isto causou para a instituição, causando desconforto e revolta em cientistas não ligados à instituição que serviram de testemunhas para analisar uma das acusações do processo (Dr. Richard Lindzen – MIT, Dr. Jerry McManus – Universidade de Columbia e Dr. William Curry da Woods Hole Oceanographic Institution, renomados cientistas da área) – a de “engajamento em atividades que seriamente desviavam de práticas acadêmicas” – talvez a mais séria de todas as acusações investigadas.

Réplica – No final de novembro de 2009, mais de 1.000 e-mails entre cientistas ligados a IPCC, a partir de um servidor da University of East Anglia (UEA) , foram roubados e tornados públicos por um hacker ainda não identificado.

Esse escândalo ficou conhecido, especialmente entre os céticos do AG, como Climagate.

Os céticos do clima passaram a alegar o tal conteúdo evidencia uma má conduta científica e portanto isso colocaria em cheque todas as evidências do AGA.

Parte das mensagens, de um período de 3 anos, mostram alguns cientistas mal-intencionados, sendo rudes, arrogantes, babacas, ou tendo atitudes depreciativas perante outros.

Isso é real, no entanto, é uma seleção muito estreita de mensagens, dentro de um universo muito vasto.

Não há como negar que em todos os ambientes existem cientistas mal intencionados, dispostos a tudo para aumentar sua visibilidade (inclusive na IPCC), mas afirmar que isso representa a média dos cientistas da IPCC e que, portanto, todas as conclusões são nulas por extensão é ir longe demais.

Faço aqui uma analogia com a divulgação das conversas do Moro e do Dallagnol. Elas indicam uma conduta não republicana e inapropriada, especialmente do Moro, que viola a neutralidade exigida de um juiz em processos que ele julga. No entanto, dizer que essas conversas, como o STF assim considerou, anulam as provas dos processos contra o Lula, provas que não foram simplesmente contestadas, é uma grande piada.

No caso, em decorrência desse escândalo, diversos trabalhos e artigos relacionados aos autores dos e-mails foram revisitados pela universidade de East Anglia usando cientistas externos e nada de preocupante foi encontrado que colocasse as conclusões na berlinda.

Fora que a maioria das fontes de dados usadas são externas ao IPCC e podem ser checados facilmente nas respectivas origens.

O porte de um relatório do IPCC é algo impressionante e muito maior do que um conjunto de e-mails vazados. No relatório de 2021 de 3.949 páginas foram 234 autores de 66 países, sendo 31 autores coordenadores, 167 autores principais e 36 revisores de editores, fora 517 autores contribuintes e mais de 14.000 referências citadas, adicionando-se 78.007 comentários de especialistas e análises do governo.

Tudo isso constituir uma grande fraude seria uma gigantesca teoria da conspiração onde se usa a história dos e-mails como pano de fundo para gerar uma fábula onde 234, incluindo alguns dos cientistas mais renomados do mundo e diversos prêmios nobéis, se envolveriam em um golpe sórdido e de proporções épicas. Ou seja, um ad hominem elevado a potência 234!

Gostaria de ressaltar que o tom da íntegra do relatório do IPCC é quase sempre sóbrio, moderado e nada sensacionalista. O tom alarmista fica, em geral, por conta da mídia e alguns dos seus intérpretes.

Alguns críticos ao AG alegaram que ideias contrárias eram censuradas.

Por exemplo, em  e-mail de 2004 que foi muito citado nessa questão, , Jones escreveu sobre dois artigos polêmicos que “Kevin e eu os manteremos fora [do relatório do IPCC] de alguma forma – mesmo se tivermos que redefinir o que é a literatura de revisão por pares!”. Só que os dois artigos em discussão, Kalnay e Cai (2003) e McKitrick e Michaels (2004), terminaram citados em um dos três relatórios de grupos de trabalho a partir dos quais o relatório do IPCC de 2007 foi sintetizado.

Outra exemplo marcante de pretensa manipulação é um e-mail de 2009 que afirma:

“Acabei de concluir o truque da natureza de Mike para adicionar o tempo real a cada série nos últimos 20 anos (ou seja, de 1981 em diante) e de 1961 para Keith para esconder o declínio.” Os céticos afirmam que as palavras “truque” e “declínio” mostram que Jones está usando manipulações sorrateiras para mascarar um declínio nas temperaturas globais.

Só que não é esse o caso. As temperaturas reais, medidas por termômetros, estavam subindo no momento em que este e-mail com uma década de existência e (como observamos) continuaram a aumentar desde então. Jones estava se referindo ao declínio nas temperaturas implícito nas medições da largura e densidade dos anéis das árvores.

Nas últimas décadas, essas medidas indicam uma queda, enquanto as temperaturas medidas por instrumentos mais precisas continuam a aumentar.

As análises finais de várias investigações subsequentes concluíram que, neste contexto, “truque” era um jargão científico ou matemático normal para uma maneira elegante de lidar com dados, neste caso um método estatístico usado para reunir dois ou mais tipos diferentes de conjuntos de dados em um gráfico. A EPA observa que, de fato, as evidências mostram que a comunidade de pesquisa estava totalmente ciente desses problemas e que ninguém os estava escondendo ou ocultando.

Alguns céticos dizem ser evidências de “manipulação de dados”, que na verdade, referem-se a como os números são apresentados, e não à falsificação desses números. Por exemplo, em um e-mail, o cientista climático Tom Crowley escreve: “Tenho tentado descobrir a melhor maneira de ilustrar a natureza estável do período medieval quente.” Crowley está se referindo à melhor maneira de traduzir os dados em um formato gráfico. É claro que tabelas e gráficos podem dar uma impressão falsa ou enganosa do que os dados realmente mostram. Por exemplo, um gráfico chamado “taco de hóquei”, assim chamado porque mostra uma subida acentuada nas temperaturas nas últimas décadas, exagera a verdadeira extensão do aquecimento. Só que mesmo que gráficos possam produzir essa impressão, isso não é, nem de longe, a mesma coisa que falsificar os números.

Enfim, são inúmeros exemplos, dos quais citei alguns exemplos mais proeminentes. Ainda que parte dos e-mails (não esses) mostrem, de um lado, traços de arrogância e desprezo inapropriados para cientistas, evidenciam muita seletividade no conjunto de mensagens que foram vazadas e que a má conduta não resvalou em nenhum momento para a falsificação de dados (nem poderia, porque existe conferibilidade nos dados, a maioria deles externos).

Ou seja, tudo muito similar ao vazamento das conversas do Moro pela Intercept, mas com sinal trocado.

Climagate II em 2011?

4 – Mas não parou por aí. Em 2011 uma nova leva de 5.000 mensagens vazadas novamente do mesmo grupo de cientistas mostrou evidências de que:

  1. Alguns dos cientistas mais proeminentes na elaboração dos relatórios do IPCC estavam mais preocupados em esconder que disseminar dados utilizados na elaboração de suas conclusões;
  2. Esses cientistas viam em seu trabalho a defesa de uma “causa política”, mais do que a viam como um debate científico equilibrado.
  3. Muitos desses cientistas admitiram abertamente para seus pares que a ciência por trás de suas conclusões ainda era “fraca e dependente de manipulações de fatos e dados”.

O assunto, novamente “enterrado” pela mídia e pelas respectivas instituições acadêmicas envolvidas, demonstra claramente o motivo para haver o Projeto Consenso trabalhando ativamente pelo reconhecimento de uma “verdade científica”.  Não existe, em minha humilde opinião, algo mais distante de ciência do que isso.

Réplica – Tido com um fato menor em relação ao episódio de 2009, houve outro vazamento de e-mails em 2011, onde se vê aqui e ali o mesmo tipo de demonstração de exibicionismo, vaidade, desprezo e arrogância; mas foi um episódio com menos exemplos mais relevantes, como os citados acima.

Um e-mail do professor Phil Jones, agora diretor de pesquisa da Unidade de Pesquisa Climática (CRU) da UEA, por exemplo, parece à primeira vista lançar dúvidas sobre toda a pedra angular da ciência do clima. Ele escreveu que “todos os modelos estão errados”. No entanto, ele explicou que não estava se referindo a todos os modelos climáticos, mas a novos modelos tentando fazer a média dos existentes, que Jones acreditava não serem complexos o suficiente.

Em outro e-mail discutindo gráficos de medições de temperatura anteriores, Jones diz “estamos escolhendo os períodos para mostrar o aquecimento”. Isso, disse Jones em um briefing no Science Media Centre em Londres, era porque os gráficos precisavam mostrar o que os dados demonstravam, que havia uma tendência de aquecimento em ambos os conjuntos, de 1901-2005 e 1970-2005: “Esses períodos mostram aquecimento . Eles não foram pré-selecionados para mostrar o aquecimento “, disse ele.

Essa atitude é francamente diferente do gráfico do Ricardo Felício, descrito no meu terceiro artigo da série, onde ele simplesmente manipulou os dados, de forma a ocultar a tendência de aquecimento.

Em suma, como usual, pegar textos de e-mails selecionados dentre os piores, sem contextualizar, pode levar a conclusões precipitadas.

Tais vazamentos, assim como no sentido de certos lobbies contra o AG, e que mostra, que, por todos os ângulos, muitos cientistas são pessoas tão falhas como muitos de nós, em todas as vertentes ideológicas. Tais cientistas, dos quais, por exemplo, Thomas Edison, é um exemplo clássico, não desmerece ou invalida seu legado.

Quando o Ad Hominem tem sua validade?

5 – Se juntando ao coro de cientistas não alinhados com o IPCC, um grupo de 92 cientistas da área entregaram ao governo italiano em 2019 uma carta contrariando o que chamam de “catastrofismo climático”.

Estes e outros cientistas signatários do Clintel vêm sendo perseguidos com falácias “ad hominem”, incluindo alguns brasileiros como o Dr. Luis Carlos Molion (um dos embaixadores do Clintel no Brasil), que vem sendo acusado, dentre outras coisas de estar vinculado a grupos econômicos diversos além de críticas abertas a seus currículos, trabalhos e posições científicas, desviando um debate que deveria estar sendo travado no campo técnico e metodológico para um verdadeiro assassinato das suas reputações. E como pode ser visto no texto acima, não existe lado impune de visões políticas e muito menos de erros e falhas. E se algo fica claro com tantos escândalos é que nem a cúpula do IPCC está isenta de seu quinhão de atitudes eticamente questionáveis.

(…)  E sua (no caso minha) atitude de crítica aberta a profissionais que questionam a linha do IPCC só colaboram para desviar a atenção do verdadeiro debate – o técnico, que não é feito em cima de números de citações e muito menos em medição de currículos (Lattes ou de outra origem)

Réplica – Levantar dados, como eu fiz no meu artigo, sobre os cientistas que são contra o AGA, e suas fontes de financiamento, não deixa de ser ad hominem, mas obviamente motivações financeiras interferem na confiabilidade da produção científica. Não apenas na questão do AG, mas em qualquer outro tema.

Lembro-me alguns anos atrás (não consegui achar o post) publiquei todo pimpão um texto sobre um paper que isentava a carne vermelha de qualquer malefício. Um amigo meu em off, me mostrou no próprio artigo um dos financiadores do artigo: associação ligados à indústria de carne norte-americana.

Ulteriores pesquisas que fiz mostraram que eu estava errado, achando inclusive materiais que derrubavam a tese do artigo ponto a ponto. Em suma, adoro que me apontem erros. Quando o crítico está certo, torna-se uma grande fonte de aprendizagem.

E, não me levem a mal, eu adoro carne vermelha!

E essa questão toda vale para o cigarro e o fumo passivo, como meu artigo aponta relativo ao Instituto Heartland.

Indo mais atrás, nos anos 60, a indústria tabagista procurou enganar os médicos, fundando uma publicação científica trimestral chamada Tobacco and Health Research (1958-1969), enviada gratuitamente a cerca de 340.000 médicos cientistas, dentistas e faculdades de Medicina norte-americanas.

A tiragem em 1967 chegou à 475.000 exemplares, com as cópias adicionais indo para mídias, líderes de opinião, corretores e analistas, agricultores de tabaco, fornecedores para indústria do tabaco e outras pessoas com interesse no setor.A objetivo do boletim era chamar a atenção para “as dúvidas” associada aos estudos sobre os malefícios do cigarro.

Um dos grandes focos era apresentar o câncer, quando causado por outros agentes que não sejam o cigarro: Predisposições genéticas ou psicológicas, gases de mineração, erros de diagnóstico, metástases de outros partes do corpo, infecções de vários tipos, a poluição atmosférica, e até mesmo a data de nascimento.

Ou seja, se eu na época apontasse as fontes de financiamento dos cientistas colaboradores desse periódico, Se, na fantasia, Isaak Gruberger fosse daquele tempo, especialmente se, como muitos, ele fosse um fumante, talvez diria que eu estou cometendo ad hominem. E ele não estaria errado! Só que, nesse caso, é totalmente pertinente. Afinal, dinheiro move muito do nosso mundo. Em todas as ideologias.

No mundo desenvolvido há mapeamento de financiamento direto de cientistas, como o vínculo dos mesmos com organizações financiadas por grandes corporações, que, como o Instituto Heartland, pagam inclusive outdoors para fazer propaganda na rua contra o AG. Isso é a cara de uma organização que financia estudos científicos sérios? Ou são artigos de conclusões direcionadas?

Fora que quando um cientista milita contra o AG ele tem um mercado de palestras com muito menos palestrantes concorrentes do que no lado favorável, fora que há muitas empresas interessadas nesse tipo de palestra (indústria, empresas de óleo e gás, agro-pecuária etc.)

Além disso, pequenas mentiras no currículo (caso do Luiz Molion, que passou a ser um coautor de um artigo que ele não participou) ou falsificar um gráfico (caso do Ricardo Felício) também são elementos que depõe contra a confiabilidade, o que é diferente de meramente ter uma amante, ser arrogante ou antipático.

E é preciso destacar que mover o eixo dos fatos para as pessoas é o mesmo que os opositores ao AG fazem tentando desqualificar toda uma tese (AGA), por causa de e-mails vazados ligado ao IPCC, ainda que os fatos sejam os mesmos e que isso envolve apenas uma pequena parte dos cientistas envolvidos e nenhuma evidência comprovada da falsificação (como no caso do Moro e da Intercept).

E Isaak Gruberger foi nessa linha ao se referir ao escândalo dos e-mails sem apresentar o devido contraditório e escrevendo como se isso botasse em dúvida a coisa toda. Fatos científicos poderiam fazer esse papel, não meros e-mails, ainda que, alguns deles, não sejam “republicanos”.

Clintel (2019) será a resposta à altura da IPCC?

Em relação a Clintel, ela foi fundada em 2019 por um geofísico (Guus Berkhout, nascido em 1940, trabalhou por 12 anos na Shell e depois lecionou acústica e geofísica em uma universidade pública holandesa) e um jornalista e escritor na área de ciências (Marcel Crok) na Holanda.

Cumpre notar que sou (fui) geofísico, trabalhando como geofísico concursado da Petrobras e digo de cadeira: essa área não tem quase nada a ver com meteorologia ou climatologia.

Claro que qualquer um pode estudar o tema que lhe interessar, mas se deve ressaltar que meramente ser um cientista não traz credenciais de especialista para qualquer ramo da ciência.

Em meio a enorme teia de apoios ao AGA, destaca-se, de forma quase isolada, duas associações ligadas a geólogos que assumiram posições ambíguas sobre o tema: American Association of Petroleum Geologists (AAPG) e American Institute of Professional Geologists (AIPG), sendo que o então presidente da AAPG admitiu em 2010:

“A mudança climática é periférica, na melhor das hipóteses, para nossa ciência … a AAPG não tem credibilidade nesse campo … e, como grupo, não temos nenhum conhecimento particular da geofísica atmosférica global”

De fato, em muitos ambiente de geólogos (como eu), há muitos céticos das mudanças climáticas, mesmo que o assunto seja fora de sua alçada, mas muitos geólogos trabalham petróleo, gás ou carvão.

Na Petrobras, como eu sei de ex-colegas, há um enorme grupos de profissionais que duvidam do AG, mesmo dentre pessoas com ótimos currículos.

O fato é que os 970 “cientistas, acadêmicos e profissionais” que apoiam a CLINTEL realizaram pouca ou nenhuma pesquisa climática.

A análise do blog Desmog descobriu que a lista de signatários inclui um pescador comercial, um químico aposentado, um cardiologista e um engenheiro de ar-condicionado, ao lado de vários geólogos aposentados.

Observando a lista completa há muito poucos cientistas com formação na área de climatologia.

Alguns dos integrantes mais ilustres e ativos, levantados por esse artigo:

Além disso, há vários embaixadores, incluindo o Luiz Carlos Molion no Brasil. O físico Ivar Giaser, citado no meu artigo, físico, é outro.

Vários membros da lista de embaixadores da CLINTEL e sua extensa lista de signatários têm conexões com grupos como o Heartland Institute, o Cato Institute e o Competitive Enterprise Institute. Todas as três organizações são membros da Rede Atlas financiada pela Indústria Koch.

A CLINTEL em si é amplamente financiada pelo milionário imobiliário Niek Sandmann, que investiu meio milhão de euros na organização, e pelo empresário imobiliário Cor Verkade.

Um artigo no site Follow the Money conta que Guus Berkhout fundou o Delphi Consortium, uma empresa que desenvolve tecnologia de geo-imagem para a indústria de petróleo e gás, em 1982.

Em 2014, Berkhout deu início a outro projeto de pesquisa denominado Center for Global Socio-Economic Change (CFGSEC), com financiamento de € 1,2 milhão proveniente do Consórcio Delphi. Com uma rede que ele construiu a partir desse projeto, Berkhout fundou a CLINTEL.

Tanto Berkhout quanto Crok negam que haja qualquer financiamento de petróleo ou gás por trás da CLINTEL.

O IPCC também não é financiado?

Sim, claro, não há como fazer o trabalho do volume feito pelo IPCC de graça.

A organização depende contribuições para sobreviver, como qualquer ONG.

O IPCC tem 195 países membros e engloba ainda 134 organizações membros, sem definir um valor mínimo de contribuição voluntária.

Desses, existem algumas ONGs contribuintes, que por sua vez sobrevivem de doações voluntárias.

Dentre os países, 32 países chegaram a dar alguma contribuição, sendo que os EUA é o principal país contribuinte.

A IPCC, de forma similar a um clube e diferentemente de organizações como a Clintel, não tem donos definidos. Seus membros elegem regularmente os membros do conselho, do executivos e das forças tarefas.

E os argumentos em si da Clintel?

Vamos sair do ad hominem relativa à Clintel para as teses da Clintel, que são o que realmente importa:

Ha um manifesto de 19 páginas em da Clintel, assinado por 500 cientistas e profissionais (bem, alguns se declaram escritores, médicos, empresários, jornalistas etc.) que resume as principais ideias que ela defende.

Desses apenas 10 se declaram como cientistas do clima.

Dentre os signatários do Brasil, temos o climatologista Luiz Molion, único brasileiro que atua como cientista do clima.

Os outros cientistas são de outras áreas: o geógrafo Ricardo Felício, o geólogo Ricardo Lino, o astrofísico Thiago Maia, o biólogo Igor Vaz, o agrônomo Mario Neto e a geógrafa Daniela Onca.

Vamos ao texto integral da Clintel traduzido:

A – Fatores naturais e antropogênicos causam aquecimento – O passado geológico revela que o clima da Terra tem variado desde que o planeta existe, com fases naturais de frio e calor. A Pequena Idade do Gelo terminou recentemente em 1850. Portanto, não é nenhuma surpresa que agora estejamos passando por um período de aquecimento. Poucos artigos revisados ​​por pares chegam ao ponto de dizer que o aquecimento recente é principalmente antropogênico.

B – O aquecimento é muito mais lento do que o previsto – O mundo aqueceu a menos da metade da taxa originalmente prevista e a menos da metade da taxa esperada com base no forçamento antropogênico líquido e no desequilíbrio radiativo. Diz-nos que estamos longe de compreender as alterações climáticas.

C – A política climática depende de modelos inadequados – Os modelos climáticos têm muitas deficiências e não são nem remotamente plausíveis como ferramentas de política. Além disso, eles provavelmente exageram o efeito dos gases de efeito estufa, como o CO2. Além disso, eles ignoram o fato de que enriquecer a atmosfera com CO2 é benéfico.

D – CO2 é o alimento vegetal, a base de toda a vida na Terra – O CO2 não é um poluente. É essencial para toda a vida na Terra. A fotossíntese é uma bênção. Mais CO2 é benéfico para a natureza, tornando a Terra mais verde: o CO2 adicional no ar promoveu o crescimento da biomassa vegetal global. Também é bom para a agricultura, aumentando o rendimento das safras em todo o mundo.

E – O aquecimento global não aumentou os desastres naturais – Não há evidências estatísticas de que o aquecimento global esteja intensificando furacões, inundações, secas e desastres naturais semelhantes, ou tornando-os mais frequentes. No entanto, as medidas de mitigação de CO2 são tão prejudiciais quanto caras. Por exemplo, as turbinas eólicas matam pássaros e insetos, e as plantações de óleo de palma destroem a biodiversidade das florestas tropicais.

F – A política climática deve respeitar as realidades científicas e econômicas – Não há emergência climática. Portanto, não há motivo para pânico e alarme. Somes veementemente contrários à política prejudicial e irrealista de CO2 líquido zero proposta para 2050. Se surgirem abordagens melhores, teremos tempo suficiente para refletir e nos adaptar. O objetivo da política internacional deve ser fornecer energia confiável e acessível em todos os momentos e em todo o mundo.

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O item F é, de fato, um ponto válido de reflexão, enquanto o final do item C (Além disso, eles ignoram o fato de que enriquecer a atmosfera com CO2 é benéfico) e o item D (CO2 é o alimento vegetal, a base de toda a vida na Terra) são piadas prontas. O item A refere-se a um extenso período com um ligeiro resfriamento até 1850 com causas não totalmente conhecidas (cinza de vulcões, atividade solar), mas a taxa de aquecimento posterior foi bem menor que a atual. O final do item A (“Poucos artigos revisados ​​por pares chegam ao ponto de dizer que o aquecimento recente é principalmente antropogênico.”) é cascata total, dessas facilmente refutáveis. O item B não bate em nada com os dados disponíveis de temperatura global.

Em todo o caso, há muitas besteiras claras como a luz do dia, mas não serei eu que irá contrapor detalhadamente os “argumentos” oficiais da Clintel. Esse é o papel desse site, que analisou esse manifesto ponto a ponto, trazendo réplicas de diversos cientistas, muitos deles climatologistas, a cada um dos itens acima.

Questionamentos do Isaak Gruberger

Abaixo teço considerações sobre todas as questões levantadas pelo Isaak, algumas fundidas por concisão.

CO2 e temperatura: correlação perfeita?

6 – Temos como estabelecer que há uma correlação de 100% entre a curva de aumento da concentração de gás carbônico na atmosfera e o aumento da temperatura que se sustente por toda a história do planeta, não por 150 anos? Pois se em algum outro momento de nossa história outros fatores podem ser considerados para alterações dessa natureza, esses mesmos (e outros) devem ser considerados agora. 

Como eu disse no primeiro artigo, ao longo de toda a história geológica da Terra, os outros fatores que influenciam a temperatura incluem: albedo, diferente composição atmosférica, órbita, atividade vulcânica e atividade solar.

Isso faz da temperatura ao longo da história da Terra algo claramente multifatorial, mas o CO2 é claramente um dos fatores intervenientes. Aqui, técnicas inovadoras, permitiram estimar a temperatura da água nos últimos 500 milhões de anos. Esse artigo (Climate sensitivity constrained by CO2 concentrations over the past 420 million years) de 2007, analisa concentrações de CO2 nos últimos 420 milhões de anos, medidas com a técnica GeoCarbSulf e relacionando-as com a temperatura.

Só que todas essas variáveis estão relativamente e comprovadamente estáveis nos últimos 50 anos: albedo (diretamente mensurável), órbita (idem, periélio e afélio), atividade vulcânica (em ordem de grandeza) e atividade solar (medida regularmente).

Não há correlação de 100% porque existe outros gases do efeito estufa e existe uma pequena variação dos outros fatores. Por exemplo, como mostrei no artigo citado, a energia vinda do Sol tem até caído um pouco nos últimos anos.

Além disso, existe um componente não totalmente mapeado que é o vulcanismo subaquático. Só que, enquanto se estima que o balanço energético anual (energia que entra na troposfera abatida da energia que saí da troposfera) seja aproximadamente de 6 × 1021 joules por ano, por outro lado a erupção média de um vulcão libera apenas 1,6 × 1017, sendo que apenas parte dessa energia é liberada sob a forma de energia térmica.

Qual o % de impacto da atividade humana na Natureza?

7 – Se pudéssemos definir um percentual de impacto da atividade humana no planeta x processos naturais, qual seria essa distribuição?

Não dá para estabelecer isso através de um número fechado. Há itens relativamente desconhecidos, como referi acima. Há até o potencial, ainda não totalmente mapeado, de o aumento das nuvens, que é um feedback positivo do aumento de CO2 (e outros gases do efeito estufa) aumentar o albedo, criando algum de tipo de freio no processo.

De todo o modo, além de outros gases, a emissão de CO2 ´humana é bem menor que a absorção e emissão natural de CO2, mas suficiente para gerar o desequilíbrio que tem aumentado a concentração.

Em resumo, o que importa, tanto relativo ao CO2, outros gases e energia é o saldo e não o total que entra e o total que sai.

Medições de CO2 e temperatura precisam ser corrigidas?

8 – Os dados obtidos dos estudos sobre o assunto estão de fato considerando referências corretas ou são dados corrigidos? Quais os critérios de correção deles? As principais correções dos medidores de CO2

Como eu disse no texto, no caso das estações de temperatura são feitas diversas correções, por exemplo, devido ao aumento da atividade urbana, inclusive com a exclusão de estações. Esse artigo descreve essa questão em detalhes.

No caso do CO2, em tempos modernos, o processo é bem simples: a medição em ppm é feita por aparelhos desde baratinhos (a partir de uns R$ 150), até modelos profissionais, em número de partículas por milhão de partículas.

No passado, em uma larga faixa de tempo, também não há grande dificuldade. Por exemplo, núcleos de gelo (ice cores) que podem ser datados por algum processo, armazenam bolhas de ar, sobre as quais podem ser feitas medições diretas.

E como falamos acima, há outras técnicas para estimar o CO2, mesmo recuando-se centenas de milhões de anos.

Balanço Energético na Terra

9 – Os dados do IPCC consideram de fato todos os fatores e com as devidas grandezas no cálculo do “budget” energético do planeta (vide o primeiro ponto acima)?

Não vi especificamente isso no relatório do IPCC, porque não o li.

Só que é bem fácil raciocinar que, tirando a energia térmica liberada pelos vulcões (que não é muito relevante), só existe 2 formas de interação do sistema gelo-troposfera-água-superfície da Terra com o resto do universo.

A entrada de energia via Sol, que é rigorosamente medida e a saída de energia da atmosfera para o espaço, que hoje também passou a ser medida por satélites.

E, nesse caso, não há desvios, sendo que a quantidade de energia líquida no sistema já está sendo estimada, hoje girando em torno de 1,12 watts/m2.

E sobre a dinâmica climática planetária?

10 – Conhecemos DE FATO TODOS os mecanismos por trás dos processos de aquecimento global e da dinâmica climática planetária? Se não conseguimos prever com precisão o impacto do clima num prazo tão curto como 10 dias, como aceitar em previsões feitas para 100 anos à frente, com modelos cuja resolução não é suficiente sequer para considerar os elementos necessários para causar a formação de nuvens e chuva?

Uma coisa é ter um balanço energético, que pode ser estimado com relativa facilidade, como vimos. Outra coisa é detalhar toda a dinâmica do clima no planeta Terra, que é bastante mais complexo.

Sabe-se que temos mais energia entrando na Terra do que está saindo, agora mapear exatamente a dinâmica interna entre o ar, superfícies, mares, correntes, ventos, gelos; é bem intrincado. Em todo o caso, temos o acréscimo constante de mais energia calorífica no planeta.

O microclima é uma problema de uma complexidade quase infinita e até hoje não sabemos sequer prever com acurácia sequer o clima em curto prazo.

No entanto, o AGA é tudo sobre médias e agregados e não sobre o clima em A ou B em uma época específica.

Vale gastar trilhões se não sabemos o que acontecerá?

11 – A metodologia utilizada pelo IPCC é sólida o suficiente e corresponde às práticas historicamente adotadas pelos cientistas da área para justificar o emprego de trilhões de dólares nas mudanças sugeridas?

Estou apresentando os fatos, mas não estou propondo soluções.

Não tenho  como responder de forma precisa se vale à pena, pois as conjeturas sobre as consequências são muito mais complexas do que o fato em si do AGA.

Os modelos do IPCC preveem mais ciclones tropicais (precisão média para cima), é menos conclusivo relativo a furacões, mas ainda não são muito precisos.

Quanto a questão de ter mais chuvas, incluindo chuvas extremas, isso já é praticamente certo, porque é muito fácil relacionar mais calor, com mais evaporação, formação de nuvens e consequentes chuvas.

Apesar da tendência geral de mais chuvas, episódios de secas, paradoxalmente, em regiões não costeiras, ou com barreiras para precipitação, devem ser mais frequentes em alguns lugares, porque mais calor faz o solo secar mais rapidamente, sem a devida reposição.

Há renomados cientistas para quase toda ideia

12 – Por que há grupos de cientistas renomados e que dedicam suas vidas ao assunto questionando essas conclusões se elas são tão conclusivas assim?

Já respondi acima detalhadamente.

A ciência não funciona independente de dinheiro. De qualquer lado, pode existir benefícios financeiros ou de projeção de imagem (que termina podendo virar dinheiro) quer seja a favor ou contra o AGA, e em muitos outros t´ópicos.

Mesmo que também existam fortes interesses financeiros a favor do AGA, há muito mais climatologistas a favor do que contra, então a concorrência dentre os que contestam é menor, que seja para dar palestras ou receber financiamento para pesquisas.

Além disso, quase qualquer tese, por mais bizarra que seja, encontrará seus defensores (paradoxalmente não a teoria da Terra Plana), mesmo a homeopatia com várias universidades com programas de doutorado (PhD) pelo mundo, mesmo que definitivamente não funcione.

O homem parece tão pequeno comparado ao planeta!

13) Como é que o ser humano consegue gerar um impacto tão grande a ponto de seus processos que se muito geram um milésimo (ou até menos do que isso) que a potência dos processos naturais percebidos no planeta (e no que chega de fora dele) estar influenciando o clima como se produzíssemos muito mais do que isso? Afinal o impacto da ação humana no clima deveria ser proporcional à potência energética gerada pela humanidade.

Vamos supor que exista uma enorme vasilha quase cheia com 1 torneira de entrada e 1 ralo com uma vazão bem alta e de mesma magnitude. O homem, no caso do CO2, é como ele tivesse colocado um torneira bem menor de entrada. A vasilha terminará transbordando, ainda que a contribuição sobre a vazão total não seja grande.

Note que são apenas 415 partículas de CO2 para cada milhão de partículas e que apenas uma pequena parte disso vem da atividade humana. Um artigo de 2016 (“Coeficiente de absorção de CO2 através da troposfera”), bem técnico, tenta explicar esse fenômeno, que não parece muito intuitivo.

Note que se o CO2 em baixa concentração não fosse efetivo para esquentar o planeta, não teríamos vida na Terra em 1950, porque a temperatura teórica de emissão de energia de um corpo negro com albedo de cerca de 30% seria de apenas -18ºC, já que a concentração natural dos outros gases responsáveis pelo efeito estufa era muito baixa, e o efeito estufa natural responde pela elevação de -18ºC para 14ºC (32ºC).

É possível reverter o AG?

14 – Se somos de fato tão responsáveis pelo aquecimento global como falado, é de se esperar que o impacto de uma eventual redução de nossas ações nesse sentido seja significativo e efetivo no longo prazo. Será que é isso mesmo? …Qual será o custo disso para a humanidade? Esse custo é viável e foi comparado a outras ações? E quanto ao processo de evolução tecnológica? Ele foi levado em consideração para tal?

Essas são perguntas de 1 trilhão de dólares.

Fazer tudo o que seria necessário é quase impossível e caro a um nível estratosférico. Desconsiderando esse ponto (que não dá para desconsiderar, na prática), seria efetivo no quesito de estancar o ritmo do crescimento do AG e não parar ou reduzir.

Acontece que a nossa sociedade é toda calcada em energia barata (não mais tão barata, hoje em dia), então o custo de trocar, em curto prazo, uma energia barata, por uma energia a princípio mais cara, se incluirmos os custos gigantescos de construção e instalação (setup) das novas plantas energéticas seria, de fato, muito difícil de sustentar economicamente, em um cenário mundial de concentração do PIB no setor de produção de energia.

Se não houver essa troca, o mundo entrará em uma recessão brutal!

Há a alternativa de se fazer ações proativas para extrair o CO2 da atmosfera. Deve ser proibitivamente caro fazer algo assim em escala planetária.

Em termos de providências reais e efetivas, para mim tudo são bolhas de sabão e os países miram apenas o PIB, as próximas eleições e o curto prazo.

Fora os discursos, não existe interesse político real em qualquer medida efetiva, faltando na prática consenso e medidas práticas, apesar de todos os protocolos.

Enfim, minha previsão é que nada será feito de realmente prático relativo ao AG, e nem perante outros problemas (estoque de água doce, talvez o maior de nossos problemas atuais, ainda que não tanto falado, esgotamento econômico de certos elementos químicos etc) e a humanidade irá se adaptando aos trancos e barrancos, com crises, aumento da pobreza e mais regimes autoritários; nas próximas décadas.

Esse tipo de problema só poderia ser equacionado a partir de uma nova fonte de energia barata e viável. Com energia barata não há problema de água (basta dessalinizar a água do mar) nem de reciclagem de elementos raros, hoje inviável.

A evolução tecnológica existe em várias direções, mas grande parte do que interessa seria no sentido de baratear e viabilizar fontes alternativas de energia incluindo usinas nucleares baseadas em tório, ou a energia de fusão, que está a beira de ser tornar viável. A própria energia solar tem evoluído muito em custo, mas a energia eólica é, até agora, a modalidade mais barata, mais adotada e mais verde de energia alternativa. Na Dinamarca, ela já responde por 42% da energia elétrica consumida.

Só que, infelizmente, estamos mais longe disso do que alguns imaginam …

Epílogo

Essa série de artigos sobre o AG deu um trabalho impressionante, mas valeu à pena. Foi um grande aprendizado…

Paulo Buchsbaum

Fui geofísico da Petrobras, depois fiz mestrado em Tecnologia na PUC-RJ, fui professor universitário da PUC e UFF, hoje sou consultor de negócios e já escrevi 3 livros: "Frases Geniais", "Do Bestial ao Genial" e um livro de administração: "Negócios S/A". Tenho o lance de exatas, mas me interesso e leio sobre quase tudo e tenho paixão por escrever, atirando em muitas direções.

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