Opinião

50 Anos de Ativismo Climático

Dando sequência ao meu artigo anterior, onde busquei oferecer uma perspectiva sobre a história recente de eventos extremos e seu impacto na humanidade, convido o leitor a olhar um pouco para trás – cerca de 50 anos (ou talvez um pouco mais…). E qual seria o motivo deste convite?

Neste segundo artigo ofereço uma segunda análise em perspectiva – desta vez sobre como mudamos nossa visão sobre o meio ambiente e a relação da humanidade com ele.

Vamos tentar entender de onde surgiu a questão climática como a conhecemos hoje. Será que sempre percebemos as coisas da mesma maneira?

Para isso temos que buscar contexto.

Comecemos por lembrar que o conceito de gases de efeito estufa não é recente e esteve presente no ambiente científico por boa parte de nossa história recente.

TEXTO DE 1912 MOSTRANDO A PREOCUPAÇÃO COM A EMISSÃO DE CO2 NA ÉPOCA

De fato, sua existência foi proposta por Joseph Fourier em 1824 e por Claude Pouillet em 1827 e 1838, sendo avaliado em 1859 (ano do evento de Carrington) por John Tyndall, que conseguiu identificar o vapor d’água como seu principal causador, seguido pelo CO2 e gases hidrocarbonetos.

Em 1903 Svante Arrhenius e Thomas Chamberlin foram os primeiros cientistas a propor este efeito como causador de aquecimento atmosférico e uma possível alteração da temperatura do planeta decorrente de um aumento de concentração do CO2, mas o termo “efeito estufa” só foi devidamente cunhado em 1901, por Nils Gustaf Ekholm, não sendo usado por nenhum dos outros citados antes de sua definição por ele.

Curiosamente o termo, apesar de conhecido e citado constantemente no meio científico não ganhou grande notoriedade na época, mesmo com o significativo aquecimento da década de 1930, que é conhecido como sendo a referência de secas e ondas de calor nos EUA até o ano de 2017 (citado no meu artigo anterior), à exceção dos estudos de Gilbert Plass e de Charles Keeling, que fundamentaram a análise das concentrações de CO2 com estudos na Antártida e Mauna Loa.

O tema ganhou relevância como assunto de pesquisa nos anos 1960, quando a NASA iniciou seu ciclo de exploração dos planetas do sistema solar, enviando em 1962 a sonda Mariner 2 a Venus e realizando leituras de sua atmosfera, seguida de outras que foram aos poucos desvendando os segredos de uma atmosfera 90 vezes mais densa que a da Terra, e com temperaturas da ordem de 500 graus centígrados em sua superfície. Neste momento os cientistas trouxeram novamente esta teoria para buscar explicação para o cenário descoberto neste planeta, cuja atmosfera é composta de 98% de CO2, contra 0,4% da Terra. O efeito estufa caiu como uma luva para explicar o fenômeno, despertando interesse em seu potencial impacto no planeta Terra.

Curiosamente nesta década surgiram também as primeiras iniciativas voltadas a entender o papel da humanidade no meio ambiente. Só que o foco das atenções sobre meio ambiente estava mais voltado para a poluição causada pela ação humana, como descrita no relatório ” Restoring the Quality of Our Environment”, entregue pelo US President’s Science Advisory Committee ao Presidente Lyndon Johnson em 1965. Essa preocupação gerou o estabelecimento do Dia da Terra, criado em 1970.

CAPA DO RELATÓRIO ENTREGUE AO PRES. LYNDON JOHNSON EM 1965

Este relatório sequer citou o assunto do aquecimento global, e muito menos qualquer relação com efeito estufa, diga-se de passagem. O próprio termo “Aquecimento Global” foi obscuramente cunhado pelo geocientista Wallace Broecker em 1975, só atingindo a mídia mainstream na década seguinte.

Reforçando o contexto de época, a própria criação do movimento Greenpeace, em 1971, foi focada inicialmente em protestar contra os testes nucleares norte-americanos realizados nas ilhas Aleutas, só movendo sua atenção para questões relacionadas ao aquecimento global mais adiante – pois como também citado em meu último artigo, a década de 1970 foi marcada justamente por eventos totalmente opostos, que levaram a humanidade a considerar o risco de uma era glacial no planeta.

Capas da Time com 30 anos de diferença mostrando o disparate das notícias sensacionalistas

Apesar disso, as décadas de 1970 e 1980 foram marcadas por uma profunda construção da percepção do impacto da ação humana no meio ambiente e a formação de uma consciência global sobre o assunto, intensamente forjada no pensamento estruturalista antropológico de Levi Strauss e outros intelectuais da metade do século XX, eclodindo em seu máximo com a hipótese gaia de James Lovelock e Lynn Margulis em 1972 e com a própria descoberta do conceito de estruturas dissipativas, por Ilya Prigogine, que lhe rendeu o Nobel em 1977. É, portanto, impossível considerar que a questão ambiental e climática poderia ser avaliada sem a consideração de sua dimensão política. Esta é parte essencial do debate, desde seu início.

E como ele começou a se voltar para o tema do aquecimento antropogênico? É possível apontar algum evento que poderia ter servido de “gatilho” para o assunto? Na opinião deste que lhes escreve, sim!

 O evento relevante para o início da discussão foi chamado de a “Crise do CFC”, ocorrida na segunda metade da década de 1980. Modelos climáticos desenvolvidos por um time de cientistas dos EUA, Inglaterra e Nova Zelândia deram origem a um alerta em escala global dando conta de que os CFCs usados pela indústria de refrigeração e de polímeros estariam destruindo a camada de ozônio do planeta, levando a riscos inimagináveis à humanidade a aos seres vivos, além de um aquecimento adicional do planeta. Alarmados pelo alerta, a comunidade internacional baniu o uso de CFCs através do Protocolo de Montreal, resultado da Conferência de Toronto, de 1986. Esse foi um dos principais fatores motivadores para a criação do IPCC na ONU, realizado em 1988.

Imagens extraídas o site Ozone Watch da NASA mostrando o tamanho do buraco de ozônio em 1987 e em anos recentes – será que a humanidade foi de fato responsável por seu tamanho? A dúvida é no mínimo legítima…

Curiosamente, se avaliarmos a dimensão dos buracos de ozônio na Antártida em anos de grande extensão ao longo das últimas 4 décadas, teremos a nítida impressão de que o Acordo de Montreal demonstrou pouco efeito prático na camada de ozônio. Pode-se falar que este talvez estivesse maior hoje, mas primeiro deve-se questionar se o seu tamanho percebido na época era de fato decorrente do uso de CFCs ou de ciclos naturais oriundos da dinâmica do clima do planeta. Fatos como esse reforçam o ceticismo de parte da comunidade científica sobre a metodologia adotada pelo IPCC, mesmo nos dias de hoje.

Mas é público e notório que o IPCC teve como seu objetivo desde sua fundação em dar voz a uma parte da comunidade científica que visava atuar em políticas planetárias relacionadas ao impacto climático humano. Seu primeiro relatório (AR1) foi emitido no ano de 1990.

Logo em seguida, impulsionado por conferências como a ECO92 e a reunião de Kyoto, e uma inversão na tendência de resfriamento percebida nos anos 1970, o ativismo climático tomou força. O resfriamento percebido nos anos 1970 foi seguido de um forte aquecimento global ocorrido entre 1985 e 2007. Neste ano, em que o mundo estava no auge do aquecimento global recente, Al Gore recebeu o prêmio Nobel da Paz, por sua atuação como ativista climático nos anos anteriores e por seu filme “Uma Verdade Inconveniente”.

O ativismo político liderado por figuras como Al Gore e Greta Thunberg serviu para munir a mídia com fatos que permitiram a divulgação dos cenários mais extremos dos relatórios gerados pelo IPCC (os cenários SSP5, como são chamados) como “verdades científicas” para o público em geral, com afirmativas como “em 2014 não teremos mais gelo nas calotas polares” dita pelo próprio Al Gore em um de seus discursos.

2007 – Al Gore e seu discurso sobre derretimento das geleiras e elevaç˜ão dos oceanos
2010 – Al Gore adquire mans˜ão na beira do mar em Montecitos CA… uma atitude um tanto questionável para alguém que previa e pregava o derretimento das calotas polares poucos anos `à frente (e a consequente elevação dos oceanos)…

Esse cenário foi de extrema relevância para a divulgação do assunto e sua adoção por estudantes universitários e grupos ativistas diversos. Não foi à toa que a quantidade de trabalhos científicos com citações e referências no assunto dispararam, criando um efeito de “câmara de eco” e trazendo uma “percepção” de unanimidade, logo cooptada pelos defensores da teoria, através do já rebatido “mito dos 97% de consenso científico”, criado pelo Consensus Project, uma organização criada com a finalidade de “provar” o tal consenso e impor uma narrativa científica “goela abaixo – algo só visto antes em propagandas ideológicas!… afinal um consenso real não precisa de uma entidade para ser definido – bastam os fatos. E ações dessa natureza só comprovam o caráter político de quem está por trás do assunto.

Numero de artigos e citações sobre o tema Aquecimento Global ao longo dos anos

E como em todo ambiente político, há sempre a sua cota de escândalos de diversas origens.

O primeiro deles veio com a divulgação da famosa “curva do taco de hockey” em 1998, co-publicada pelo cientista Michael Mann, que foi incluída no relatório AR4 (retirada do AR5, voltando no AR6). A curva foi refutada por diversos cientistas, sendo o debate público criado pela tentativa do Professor McKitrick em time com o Engenheiro Canadense Steve McIntyre em replicarem a curva, resultando em críticas pesadas ao modelo usado. Tais críticas foram rebatidas por diversos trabalhos, um deles feito por 80 cientistas (!), um recentemente publicado na Nature. O fato é que a própria faixa de erro da curva (em cinza no gráfico) já mostra o nível de precisão dos dados usados (vide abaixo).

Curva que ganhou sua fama como “Hockey Stick Curve” e um de seus autores, o Dr. Michael Mann

Um segundo escândalo surgiu quando o Competitive Enterprise Institute e a National Review Magazine foram processados por Michael Mann por difamação em função de críticas feitas ao trabalho dele justamente na elaboração da referida curva. O processo chegou até a Suprema Corte Americana em 2019, e segue para julgamento. O objetivo do cientista, segundo ele mesmo afirma, é provar por meio legal e além de qualquer dúvida a veracidade de seu trabalho  e que os que o criticam estão divulgando fake news. A humilde opinião deste que vos escreve é que trabalhos de cunho científico deveriam ter sua prova atestada em publicações “peer reviewed” e não em cortes legais. A mera tentativa de fazê-lo torna-se mais uma prova do quão político é este tema.

Notícia recente sobre o andamento do processo contra o CEI e a NRM

Outro processo movido pelo mesmo cientista contra um outro pesquisador Canadense, o Dr. Tim Ball, foi perdido em uma corte canadense em 2019. O processo foi movido pelo mesmo motivo do anterior – difamação por ter sido acusado pelo Dr. Ball de que “Mann deveria estar na State Pen[itenciary], não na State Penn [University]” por conta de seu trabalho. E demonstra claramente que a contestação dos dados apresentados e sua metodologia têm validade, merecendo mérito e atenção, não se tratando somente de “fake news”, como afirma o cientista.

Notícia sobre a derrota sofrida pelo cientista em processo de difamação no Canada – o assunto foi pouquíssimo citado na midia

Na sequência disso veio o que ficou conhecido como Climagate, um escândalo causado quando um vazamento de mensagens trocadas entre pesquisadores envolvidos na elaboração do relatório AR4 do IPCC mostraram intenções “nada republicanas” de manipulação de dados e informações referentes ao relatório e suas conclusões. Uma investigação realizada pela Penn State University acabou por “enterrar” o escândalo, diante do risco que isto causou para a instituição, causando desconforto e revolta em cientistas não ligados à instituição que serviram de testemunhas para analisar uma das acusações do processo (Dr. Richard Lindzen – MIT, Dr. Jerry McManus – Universidade de Columbia e Dr. William Curry da Woods Hole Oceanographic Institution, renomados cientistas da área) – a de “engajamento em atividades que seriamente desviavam de práticas acadêmicas” – talvez a mais séria de todas as acusações investigadas. O mesmo cientista citado acima, o Michael Mann, diretamente investigado pelo painel, afirmou “ter sido exonerado de todas as acusações, assim como todos os envolvidos”. Será mesmo? Deixo ao leitor a liberdade de concluir o que acha, apresentando abaixo uma das evidências apresentadas durante a investigação – uma mensagem trocada envolvendo um dos acusados também envolvido na elaboração do relatório. Ela não tem relação direta com o Sr. Mann, mas demonstra o tipo de prática adotada – demonstrada em centenas de e-mails e conversas telefônicas gravadas – fora as destruídas pelos acusados (uma das acusações investigadas pelo painel).

A tentativa de “recontar” essa história foi tão longe que até um filme recente foi feito com o objetivo de “justificar” o ponto de vista do cientista, como se ele fosse vítima de uma difamação.

Um dos e-mails divulgados mostrando claras evidências de manipulação de dados por um dos cientistas envolvidos na elaboração do relatório do IPCC – AR4

Mas não parou por aí. Em 2011 uma nova leva de 5.000 mensagens vazadas novamente do mesmo grupo de cientistas mostrou evidências de que:

  1. Alguns dos cientistas mais proeminentes na elaboração dos relatórios do IPCC estavam mais preocupados em esconder que disseminar dados utilizados na elaboração de suas conclusões;
  2. Esses cientistas viam em seu trabalho a defesa de uma “causa política”, mais do que a viam como um debate científico equilibrado.
  3. Muitos desses cientistas admitiram abertamente para seus pares que a ciência por trás de suas conclusões ainda era “fraca e dependente de manipulações de fatos e dados”.

O assunto, novamente “enterrado” pela mídia e pelas respectivas instituições acadêmicas envolvidas, demonstra claramente o motivo para haver o Projeto Consenso trabalhando ativamente pelo reconhecimento de uma “verdade científica”.  Não existe, em minha humilde opinião, algo mais distante de ciência do que isso.

Artigo de opinião publicado na revista Forbes sobre o Climagate 2.0 – o autor é visivelmente contrário à linha política do IPCC, sendo este o motivo da citação, como forma de mostrar o contraditório e demonstrar que questões envolvendo a difamação e o questionamento ético afetam ambas os lados do debate.

Por estes e outros motivos a parte da comunidade científica contrária às teorias apresentadas pelo IPCC, sem foro adequado para se manifestarem, começaram a se articular de maneira a contrapor o que consideram uma “imposição de uma teoria como verdade científica”. Instituições como a Clintel (www.clintel.org) surgiram e passaram a congregar cientistas e interessados no assunto de diversos países no mundo. Hoje conta com mais de 900 signatários de diversas origens (todos relacionados de alguma forma com questões ambientais), com base em duas simples propostas:

  1. Não existe de fato uma crise climática global emergencial;
  2. Vamos deixar os dados falarem por si para que possamos concluir algo deles;
Declaração do Clintel assinada por 900 cientistas, profissionais e ativistas ligados ao meio ambiente e a assuntos climáticos – esta declaração e seus participantes passaram a sofrer ataques “ad hominem” por blogs ativistas pró IPCC

Se juntando ao coro de cientistas não alinhados com o IPCC, um grupo de 92 cientistas da área entregaram ao governo italiano em 2019 uma carta contrariando o que chamam de “catastrofismo climático”.

Estes e outros cientistas signatários do Clintel vêm sendo perseguidos com falácias “ad hominem”, incluindo alguns brasileiros como o Dr. Luis Carlos Molion (um dos embaixadores do Clintel no Brasil), que vem sendo acusado, dentre outras coisas de estar vinculado a grupos econômicos diversos além de críticas abertas a seus currículos, trabalhos e posições científicas, desviando um debate que deveria estar sendo travado no campo técnico e metodológico para um verdadeiro assassinato das suas reputações. E como pode ser visto no texto acima, não existe lado impune de visões políticas e muito menos de erros e falhas. E se algo fica claro com tantos escândalos é que nem a cúpula do IPCC está isenta de seu quinhão de atitudes eticamente questionáveis.

Quem perde com esse tipo de atitude é a verdade e mais ainda o público leigo, incapaz de discernir quais informações devem ser seguidas, ficando à mercê da mídia e sua guerra de informações.

Está na hora de mudar isso! A verdadeira ciência é construída com o debate e o questionamento. Esses devem ser abraçados por aqueles que a defendem.

Como é que um debate que sequer começou já pode ter terminado?

Como comentário final, gostaria de responder a alguns dos pontos postados pelo Paulo Bushbaum em seus artigos – Aquecimento Global sem Politização – Partes I e III (não tive a oportunidade de ler a parte II ainda).

Em momento algum busco refutar o fato de ter havido um aquecimento global mais intenso nos últimos 40 anos. Isso é observado por dados de satélite e por medições muito bem realizadas em superfície durante o período. E ainda não entrei em questões técnicas sobre o assunto, o que pretendo abordar com mais detalhes em outros artigos. Mas espero ter deixado claro nesse texto que isolar a componente política da questão é virtualmente impossível – até mesmo na análise das evidências factuais. E sua atitude de crítica aberta a profissionais que questionam a linha do IPCC só colaboram para desviar a atenção do verdadeiro debate – o técnico, que não é feito em cima de números de citações e muito menos em medição de currículos (Lattes ou de outra origem). Lamento que tenha seguido para esse caminho – sua parte I foi muito bem escrita!

Ademais, tomo como referência o texto do Documento para Formação de Políticas AR6 do IPCC considera que as consequências do impacto humano no planeta trarão para nós mesmos os seguintes impactos diretos:

– Aumento do número de eventos extremos e maior impacto na humanidade – especialmente em populações mais pobres.

– Elevação do nível dos oceanos, obrigando a migração de massas de populações para outros lugares.

– Aumento de secas e redução da produção de alimentos, com impactos diretos na humanidade com a desertificação de regiões habitadas.

– Alteração das condições de acidificação dos oceanos e climáticas nos continentes causando extinção de espécies de animais, com impacto na diminuição das espécies de seres vivos no planeta.

Meu artigo inicial buscou somente oferecer contexto ao primeiro ponto – aumento do número de eventos extremos – que o próprio AR6 do IPCC apresentou (vide abaixo):

Exerto do relatório AR6 demonstrando a preocupação do documento com a ocorrência dos eventos acima citados – evidências dessa preocupação podem ser encontrados por todo o documento.

Portanto o próprio IPCC coloca esses argumentos como razão para mudanças em políticas – logo é razoável analisá-los da forma como fiz para questionar se de fato estamos caminhando para este cenário distópico apontado – afinal trilhões de dólares e o futuro da humanidade estão em jogo em função de argumentos como este.

E responder a essa questão que considero extremamente relevante para o tema é para mim imprescindível para entender o que está sendo afirmado: as mudanças climáticas identificadas são causadas em 100% por gases de efeito estufa, e mais ainda – em 100% do que tem sido observado por decorrência direta de ações tomadas pela humanidade, como afirma o Projeto Consenso e uma parte da comunidade científica? Ou estamos aqui falando de evidências que ainda carecem de uma comprovação direta?

Vou buscar lhe responder a esse ponto com uma afirmação: nem o IPCC considera a ação 100% humana como uma verdade absoluta, como pode ser visto neste outro excerto do relatório emitido este ano, o AR6 (não estou aqui fazendo qualquer juízo ou concordando nem mesmo discordando do referido estudo, mas apresentando-o):

Excerto do AR6 mostrando o nível de confiança observado pelo IPCC quanto ao caráter antropogênico dos eventos climáticos observados.

Mas o que vemos por parte da imprensa e políticos é um uso indiscriminado dos dados do cenário SSP5 – o cenário mais catastrófico e menos provável, como se fossem verdades iminentes… e a pergunta acima permanece…

Em minha percepção, a resposta para a minha questão é a seguinte: será que sabemos o suficiente para responder a essa pergunta? E vou aqui colocar alguns pontos que precisariam estar melhor definidos para que esta resposta fosse de fato obtida cientificamente:

– Temos como estabelecer que há uma correlação de 100% entre a curva de aumento da concentração de gás carbônico na atmosfera e o aumento da temperatura que se sustente por toda a história do planeta, não por 150 anos? Pois se em algum outro momento de nossa história outros fatores podem ser considerados para alterações dessa natureza, esses mesmos (e outros) devem ser considerados agora.

– Se pudéssemos definir um percentual de impacto da atividade humana no planeta x processos naturais, qual seria essa distribuição?

– Os dados obtidos dos estudos sobre o assunto estão de fato considerando referências corretas ou são dados corrigidos? Quais os critérios de correção deles?

– Os dados do IPCC consideram de fato todos os fatores e com as devidas grandezas no cálculo do “budget” energético do planeta (vide o primeiro ponto acima)?

– Conhecemos DE FATO TODOS os mecanismos por trás dos processos de aquecimento global e da dinâmica climática planetária?

– A metodologia utilizada pelo IPCC é sólida o suficiente e corresponde às práticas historicamente adotadas pelos cientistas da área para justificar o emprego de trilhões de dólares nas mudanças sugeridas?

– Por que há grupos de cientistas renomados e que dedicam suas vidas ao assunto questionando essas conclusões se elas são tão conclusivas assim?

– Como é que o ser humano consegue gerar um impacto tão grande a ponto de seus processos que se muito geram um milésimo (ou até menos do que isso) que a potência dos processos naturais percebidos no planeta (e no que chega de fora dele) estar influenciando o clima como se produzíssemos muito mais do que isso? Afinal o impacto da ação humana no clima deveria ser proporcional à potência energética gerada pela humanidade.

– Se somos de fato tão responsáveis pelo aquecimento global como falado, é de se esperar que o impacto de uma eventual redução de nossas ações nesse sentido seja significativo e efetivo no longo prazo. Será que é isso mesmo?

– Qual será o custo disso para a humanidade? Esse custo é viável e foi comparado a outras ações?

– E quanto ao processo de evolução tecnológica? Ele foi levado em consideração para tal?

– Se não conseguimos prever com precisão o impacto do clima num prazo tão curto como 10 dias, como aceitar em previsões feitas para 100 anos à frente, com modelos cuja resolução não é suficiente sequer para considerar os elementos necessários para causar a formação de nuvens e chuva?

Enfim, Paulo, essas são algumas das perguntas para as quais dificilmente teremos resposta nos dias de hoje. E o seu debate é essencial para tratar desses pontos. Pretendo abordar esses temas e outros apresentados em seus artigos, nos meus próximos textos. O tema é complexo demais para ser coberto em um único texto. Mas parabenizo seu esforço, a precisão de suas informações e sua boa intenção em contribuir para o devido contraditório! Abraços a você!

Finalizando, o quê de fato é “a verdade”? É minha opinião que ainda não sabemos. Ainda há muito por se descobrir neste assunto. Mas uma coisa é essencial: que a ciência seja realizada com base no método científico – e isso denota ouvir todos os lados e principalmente os fatos. E acima de tudo, deixar a política de lado, até que se conheça de fato o que está acontecendo e qual o verdadeiro papel da humanidade no impacto climático.

Este será o tema de meu próximo artigo – vamos ver o que os dados nos falam. E quais são as críticas à metodologia adotada para prever as tais catástrofes climáticas. Até lá!

Isaak Gruberger

Engenheiro Eletricista formado pela UFMG, com experiência nas áreas de Aviação, Infra estrutura predial, iluminação e eficiência energética. Atualmente executivo de uma startup do setor de gestão de restaurantes e consultor de iluminação e eficiência energética. E acima de tudo uma pessoa fascinada em conhecer o universo e a realidade em que vivemos.

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Um Comentário

  1. Um dos efeitos do ativismo climático: a Alemanha, para atender ao ativismo climático, desativou suas usinas nucleares e ficou dependente da energia que vem da… Rússia.

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