Esporte

300 dias para as Olimpíadas e a difícil arte de se manter no topo

Por onde andam nossos sete campeões olímpicos da Rio-16? Vão repetir a dose?

O esporte mundial volta a ser notícia com a volta de várias competições de esportes ditos olímpicos e a contagem regressiva já chega a menos de 300 dias para o início das Olimpíadas de Tóquio 2021.

Os amantes das Olimpíadas estão tendo um ano muito difícil. O adiamento dos Jogos de Tóquio deixa uma incerteza quanto à realização, ano que vem, e um gosto amargo de ano perdido para os envolvidos, tanto atletas, quanto imprensa, dirigentes e torcedores.

Vamos, neste post, ver por onde andam os campeões olímpicos da Rio-16 e a árdua missão de repetir a dose.

Temos casos raros de bicampeões olímpicos no Brasil, e o leitor entenda bicampeão como campeão seguidamente uma olímpiada após a outra. Adhemar Ferreira da Silva (Helsinque-52 e Melbourne-56) e o vôlei feminino (Pequim-08 e Londres-12) são os dois únicos feitos brasileiros. É muito difícil se manter no topo.

A judoca Rafaela Silva, punida por doping em 2019, tenta reduzir sua pena de dois anos para participar dos Jogos em Tóquio. Seu caso é típico de descuidos que só atletas de alto nível passam. Uma pomada aqui, uma brincadeira com crianças acolá e pronto, pode cair no doping. Caso tenha pena reduzida para um ano e meio, poderá participar, sem poder competir nas competições prévias. Um ano de punição deixa livre o caminho para a nossa campeã se preparar melhor, competindo. A CAS (Corte Arbitral do Esporte) se reuniu por vídeo conferência nesse mês e recebeu o recurso de Rafaela. A decisão sai até janeiro.

Rafaela já está prejudicada por conta do imbróglio, mas como bem disse Flavio Canto, “ela luta melhor quando está com raiva”, quem sabe tira o melhor proveito de toda essa situação. Os exemplos de retorno estão aí, O nadador César Cielo não foi bem, mas a saltadora Maurren Maggi, que se aposentou após um caso complicado e extenso de doping, retornou e conquistou o título olímpico de Pequim-08.

Rafaela é inegavelmente uma guerreira, vítima de racismo nas redes sociais quando de sua eliminação em Londres, negra, lésbica e moradora da hoje famosa favela Cidade de Deus, juntou forças e conquistou brilhantemente e inquestionavelmente o ouro no Rio.

Torcemos para que sua punição seja abrandada.

Na sua faixa de peso, Rafaela tem aqui no Brasil uma rival do mesmo projeto que foi descoberta, o Instituto Reação: Jéssica Pereira. Serão duas batalhas para Rafaela, rumo à Tóquio, conseguir a redução de sua pena e a vaga pelo Brasil.

Thiago Braz, recordista olímpico no salto com vara, era zebra no Rio, e hoje aparece como zebra para Tóquio. Seu ciclo olímpico tem sido de resultados ruins. Nesse retorno da Pandemia, iniciou sem classificações às fases finais das competições, mas já no último desafio há duas semanas em Berlim, fez sua melhor marca no ano, 5,82m, e foi bronze. Thiago possui o que poucos podem se gabar de ter, a experiência de ser medalhista de Ouro nos jogos, e no caso do salto com vara é de grande valia.

É uma competição mental, em que o atleta precisa não só estar fisicamente bem, saltando bem, como também deverá estar psicologicamente preparado. Thiago foi o melhor exemplo na Rio-16, quando mudou de treinador e fez sua reta final de preparação escondido na Europa.

Ah, mas qualquer competição olímpica necessita dessa preparação psicológica? Sim, precisa, entretanto, alguns esportes mais do que outros, pois são definidos em segundos e centímetros, o salto com vara é uma corrida de 30 metros e o salto sobre um sarrafo com a vara, nada mais, três chances para cada altura do sarrafo.

A técnica é fundamental, acompanhada do não menos importante preparo psicológico. Fabiana Murer foi o exemplo contrário em duas olimpíadas, mesmo sendo favorita à medalha, um dia ruim em Pequim, com o sumiço de uma vara, tirando sua concentração, e um vento inquietante em Londres, arruinaram suas pretensões.

Talvez seja bom para Thiago que o esqueçam até o dia de saltar em Tóquio, porque aí poderá ter o fator psicológico ao seu lado.

Robson Conceição profissionalizou no boxe e não competirá em Tóquio. Simples assim. O boxe é amador na olimpíada. Os atletas brasileiros que conquistam fama, profissionalizam e saem do cenário olímpico.

As iatistas Martine Grael e Kahena Kunze se mantem na crista da onda desde o mundial de vela em 2014 e a Rio-16. A dupla é sempre campeã ou vice dos campeonatos que disputam. Venceram o evento teste na raia olímpica onde serão disputados os jogos.

Um detalhe interessante é que a transmissão das regatas se tornou muito atraente aos olhos do telespectador, mesmo o maior dos leigos no esporte. A tecnologia apresenta sempre as distâncias entre os barcos, mesmo velejando distantes um do outro, mantendo a atenção na prova. A regata final, chamada Medal Race é quase sempre decisiva.

Uma dica de ouro que faço é acompanhar as provas, pois são realmente emocionantes, e com a presença da dupla de ouro brasileira, adicionamos o tempero nacional de torcida.

A dupla campeã olímpica de vôlei de praia, Alison e Bruno, já está classificada para Tóquio. Mas separados. Alison agora faz dupla com Álvaro Filho e Bruno Schmidt com Evandro. Serão as duas duplas brasileiras em Tóquio.

Bruno, apesar da pouca estatura (1,85 m), é um dos melhores jogadores do circuito, e Evandro se impõe com seu 2,10 m.

Alison, cujo apelido Mamute já diz tudo, faz com Álvaro Filho a melhor dupla brasileira da atualidade. Classificaram com muita antecedência para os jogos.

As duas duplas estarão certamente na briga pelas medalhas em Tóquio.

O Vôlei masculino talvez seja o time brasileiro mais prejudicado com o adiamento dos jogos. Estavam dominando as competições, e com uma equipe experiente.

Tiveram que aguardar mais um ano.

O técnico Renan será posto na prova de fogo, pois são dois ouros e duas pratas nas últimas quatro olimpíadas e um Bernardinho sempre na sombra de seu trabalho.

A copa do mundo no Japão em 2019 mostrou como o Brasil tem que se apresentar. Foram jogos no mais alto nível.

 No futebol masculino, acabado o trauma no Rio de nunca termos vencido uma olimpíada, é hora de tirar proveito e jogar sem a tal responsabilidade que pesa nos ombros.

São apenas dezesseis seleções, sendo quatro europeias. Seis partidas, mas apenas na semifinal, salvo alguma zebra na fase de grupos, é que o nível aumenta. Às vezes nem semifinal, estive na semifinal da Rio-16 em um verdadeiro jogo treino e 6 a 0 em Honduras.

Jogadores de 24 anos serão aceitos dessa vez e se a CBF quiser realmente priorizar o torneio, deve negociar com clubes para ter os principais atletas nos jogos. Já antecipo que sou a favor de se usar sempre força máxima, e levar os melhores, tanto os que possuem idade olímpica quanto os três com idade livre.

Analisando o cenário de todos os campeões olímpicos na Rio-16, até que podemos ser otimistas e acreditar que termos novamente alguém bicampeão (ã).

Se tivesse uma, e apenas uma ficha para apostar, seria na dupla Martine Grael e Kahena Kunze no iatismo. São as que se mantiveram sempre no topo.

No entanto, a Olimpíada é uma aula de voltas por cima, retornos extraordinários, superações indescritíveis. E é disso que o esporte se alimenta, de emoção.

Vinícius Perilo

Vinícius Perilo, 47 anos, é engenheiro civil apaixonado por todos os esportes. Tudo começou no Ursinho Misha em Moscou 80, e, a partir daí, acompanhando ídolos como Oscar, Hortência, Bernard, Jacqueline, Ricardo Prado, Joaquim Cruz. Ama futebol como todo brasileiro, faz parte da geração que chorou de tristeza a derrota de 82 e de alegria com o Tetra em 94. Realizou um sonho de criança e conduziu a Tocha Olímpica para a Rio 16. Ainda acredita no Brasil olímpico.

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