Esporte

Damiris brilha na WNBA, o basquete feminino brasileiro agoniza

Depois do fracasso no pré-olímpico, a brasileira Damiris Dantas se apresenta nas finais da WNBA (Liga Americana de Basquete Feminino) como uma estrela mundial. Por aqui, falta apoio e interesse para reerguer um esporte ainda popular no Brasil.

Damiris Dantas, 27 anos, está fazendo uma grande temporada pelo Minnesota Lynx na WNBA. O time inicia as semifinais contra o Seattle Storm, depois de apresentações impecáveis da brasileira, que já tem seu lugar ao sol no concorrido basquete feminino americano.

Já no campeonato mundial SUB 19, no Chile, em 2011, Damiris foi cestinha da competição e levou o Brasil ao bronze. Depois disso, jogou na Europa e faz sempre um bate e volta Brasil – EUA, jogando os campeonatos de lá e daqui.

Damiris tem boa estatura, 1,91m, e joga de ala pivô. Chuta de três com facilidade e faz bem o garrafão.

Mas justamente no melhor momento da carreira de Damiris, o basquete feminino brasileiro amargou eliminação no pré-olímpico, numa derrota inesperada para Porto Rico, e não disputará os jogos olímpicos ano que vem, no Japão, fato que não ocorria desde Seul 88.

A seleção já não frequenta as disputas por medalhas em mundiais e olimpíadas há algum tempo (4º lugar em Atlanta 2004 e 4º lugar no mundial do Brasil em 2006), piorando o desempenho ano a ano, retratando a realidade do esporte pouco jogado entre as meninas.

Os campeonatos por aqui são disputados por poucas equipes, e quase que sumiu da mídia nos últimos anos.

Alguns clubes dão espaço hoje para o basquete feminino, apenas um ou outro projeto como o do Sampaio no Maranhão.

Com isso, os campeonatos estão esvaziados, sem interesse algum de patrocinadores e de mídia.

O basquete feminino acabou também por rivalizar com o vôlei, que atrai mais mulheres com boa estatura, além do que o vôlei tem hoje uma estrutura forte tanto na quadra, quanto no vôlei de praia.

A Confederação Brasileira de Vôlei construiu um CT permanente em Saquarema-RJ. Os clubes investem. O torneio anual Liga das Nações (antigo Grand Prix) mantém o intercâmbio, tão necessário para crescimento das atletas. A busca por talentos no vôlei tem sido eficiente.

Nada disso acontece no basquete.

Magic Paula, outro dia, desabafou nas redes sociais quanto ao fato de não haver nem 500 atletas de basquete feminino “federadas”, ou seja, não tem como garimpar promessas.

E mesmo assim, com tudo conspirando contra, há uma boa geração, mas que acaba por jogar pouco contra outros centros maiores, e vive em um isolamento forçado há anos.

Um ensaio de retorno aos grandes momentos foi feito no PAN de Lima, com belas apresentações, lembrando o PAN de Havana em 91, e o trabalho da comissão técnica comandada por Neto foi exemplar. A falta de confrontos internacionais pesou no pré-olímpico. O campeonato sul americano nivela as equipes por baixo, o PAN também.

A seleção precisa enfrentar grandes equipes durante todo o ano, em torneios atrativos, como é a Liga das Nações no vôlei.

E as confederações, que foram para as páginas policiais nos últimos anos, precisam investir na base.

As escolas têm que respirar esporte.

Um pequeno experimento caseiro me alertou de como o basquete tem potencial. Moro em um condomínio a 50 metros de uma quadra de basquete pública abandonada e destruída (foto), o síndico resolveu adaptar uma mini quadra de basquete na área de lazer. O sucesso foi imediato e todas as crianças do condomínio passaram a praticar. As meninas até mais do que os meninos. A alegria durou pouco, por reclamações de muito barulho, e as cestas foram retiradas e o que ficou foi uma mini quadra de futebol.

As quadras poliesportivas de minha cidade, Palmas, estão na sua maioria abandonadas. Só para se ter uma ideia, existem três, num raio de 100 metros de onde moro, todas destruídas. As cestas de basquete são as primeiras a serem depredadas.

Mas ainda acredito que uma revitalização dessas áreas pode incentivar o basquete, pois a era de depredações parece estar ficando pra trás. Há dois anos, um parque foi reformado, construíram uma quadra de badminton, e os suportes da rede estão lá disponíveis e intactos até hoje.

São pequenos exemplos para compormos o todo.

Eleições municipais estão chegando e os candidatos vão encarar discutir esporte nas escolas municipais e melhoria dos parques públicos?

Damiris é exceção à regra. Beira um milagre que só o esporte nacional proporciona.

Mas talvez o que nos entristece mais é saber que temos Tainá Paixão, Clarissa, Ramona e outras talentosas atletas, jogando campeonatos sem apoio, sem visibilidade, sem investimento na base, sem intercâmbio. Enfim, o basquete feminino precisa e merece socorro.

Vinícius Perilo

Vinícius Perilo, 47 anos, é engenheiro civil apaixonado por todos os esportes. Tudo começou no Ursinho Misha em Moscou 80, e, a partir daí, acompanhando ídolos como Oscar, Hortência, Bernard, Jacqueline, Ricardo Prado, Joaquim Cruz. Ama futebol como todo brasileiro, faz parte da geração que chorou de tristeza a derrota de 82 e de alegria com o Tetra em 94. Realizou um sonho de criança e conduziu a Tocha Olímpica para a Rio 16. Ainda acredita no Brasil olímpico.

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