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My name is Holmes, Enola Holmes

A irmã mais nova de Sherlock me proporcionou uma agradável sessão da tarde, mas não entrou no meu Top5 do cânone

Achei um bom passatempo esse filme da Netflix sobre a jovem integrante da família Holmes que, em busca da mãe desaparecida, se envolve em um caso de um rapaz nobre fugido da família. A premissa é ótima, a atriz Millie Bobby Brown (a Eleven de Stranger Things) é perfeita para o papel, há mensagens atuais sobre o feminismo, a produção de época é impecável, mas…. Mas confesso que esperava um roteiro bem melhor, ainda mais em se tratando de algo retirado do mais famoso detetive da ficção.

Não que, na minha opinião, só haja obra nota dez dessa fonte. Os casos (e as soluções) da série Elementary, por exemplo, acho muito genéricos. E O Xangô de Baker Street, romance satírico de Jô Soares, que coloca Sherlock visitando o Brasil, é bem pesquisado e inventivo, mas achei que caricaturizou demais o personagem.

No entanto, há adaptações excelentes, como eu acho que o célebre personagem merece. Se eu fosse fazer um Top5 de produções audiovisuais inspiradas na criação de Sir Arthur Conan Doyle, acho que seria algo assim:

  1. Sherlock (2010-2017). Sem dúvida, a série da BBC é uma das coisas mais legais da TV dos últimos tempos. É moderninha sem desrespeitar os elementos tradicionais; é divertida, delirante, com ótimas atuações e com quebra-cabeças de dar nó na cuca.
  2. House (2004-2012). Quem não sabe que esse médico ranzinza e genial nada mais é que o Sherlock dos diagnósticos? Talvez seja o que mais retrata esse lado paradoxal do personagem: detestável, mas não conseguimos deixar de gostar dele.
  3. O Enigma da Pirâmide (Young Sherlock Holmes, 1985). Esse filme, que retrata a adolescência do detetive, talvez penda mais para um estilo Indiana Jones do que para um Sherlock. Mas não deixa de imaginar bons retratos dos personagens jovens e de ser uma aventura muito bem urdida.
  4. Sherlock Holmes (2009). O Sherlock de Robert Downey Jr prima pela agilidade muscular e verbal, marcas dos filmes do diretor Guy Ritchie (como Snatch – Porcos e Diamantes), fugindo um pouco daquela visão contemplativa que Basil Rathbone (ver o #5) imortalizou. Mas Ritchie foi fiel ao detetive dos livros, que era sim atlético, e os mistérios do filme foram fechadinhos. Pena que a sequência caiu para um nível bem mais genérico.
  5. O Cão dos Baskerville (1939). Esse longa-metragem foi meu primeiro contato com o personagem; e o ator Basil Rathbone incorporou na minha mente (e na do mundo, acho) o perfil clássico: rosto comprido, chapéu de caçador, cachimbo. Não é perfeito: Watson, por exemplo, é muito bobão. Mas foi, pra mim, uma introdução cheia de classe para o cânone.

Pois é, Enola Holmes não entrou no Top5. Faltaram-lhes principalmente sacadas brilhantes em seu previsível script. A despeito do uso de algumas mensagens cifradas, os mistérios não têm nada de intrincados, nem as deduções, nem mesmo as cenas de ações nos surpreendem (e ainda trazem furos). Mais: o personagem de Sherlock é bonzinho demais, não pode! E, apesar da tentativa de impingirem em Enola um perfil de vanguarda, senti falta em sua rebeldia e atitudes de algo mais profundo, como vimos, por exemplo, na personagem de Saoirse Ronan do filme Adoráveis Mulheres, do início do ano. (Cá com minha esposa, inclusive, estranhei que, embora seja baseado em um livro de uma escritora mulher, colocaram um roteirista e um diretor homens para Enola Holmes, será que isso teve a ver com a minha percepção?)

Mas então não sobrou nada? Opa, não é bem assim. O longa é movimentado, dá pra dizer que foi uma sessão da tarde prazerosa. E, principalmente, o carisma da eterna Eleven vale ouro. Garante um potencial e tanto para uma sequência ou mesmo uma franquia. Tomara que isso aconteça, e que coloquem os próximos textos em mãos de roteiristas mais habilidosos – ou melhor ainda: mais habilidosas!

Enola Holmes (Netflix)
★ ★ ★ ✩ ✩

Vladimir Batista

Vladimir Batista é escritor, professor e cinéfilo. Após 25 anos trabalhando como engenheiro em multinacionais de tecnologia, resolveu abraçar sua paixão de infância pelas palavras e por contar histórias e segue carreira na área de Letras e Literatura. Gosta de filmes e livros de gêneros variados, atendeu a vários cursos e oficinas de roteiros de cinema, de série e de técnicas de romance e tem um livro publicado pela Amazon: “O Amor na Nuvem De Magalhães”. Vladimir é casado, vegetariano e “pai” de cachorros resgatados.

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8 Comentários

    1. Obrigado, Bruno, já corrigi! Sabe que eu tinha escrito 1985, mas achei que tinha errado e “corrigi” para 1995? Não achei que fosse tão antigo, e pensei também nos efeitos especiais, que, de fato, eram bem avançados para a época!

    1. Verdade, ele está o típico galã. Vamos ver se na sequência ele tem uma participação maior (e mais condizente com o espírito de Sherlock Holmes)!

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