Brasil

Conspiração ‘zapzap’

Eu fui impactado por centenas, talvez milhares de ‘fake news’ mentindo sobre todos os candidatos. Algumas, virais, encontrei em diversas ocasiões, linhas do tempo e grupos de WhatsApp. As ‘Fake news’, antes conhecidas como boatos, existem desde que o mundo é mundo. Em nosso tempo, as mídias sociais proporcionaram sua proliferação em escala planetária jamais imaginada.

Nas eleições passadas, uma notícia falsa canalhamente divulgada na propaganda do PT ajudou a sepultar a candidatura Marina. Foi um tiro de canhão, repetido à exaustão na TV, que à época tinha mais influência. Também era conhecida a utilização dos ditos blogs sujos, cronistas pagos pelo governo Dilma para divulgar notícias falsas ou opiniões patrocinadas. Não sabemos qual foi sua importância para a vitória apertada da presidente. Quatro anos depois, a popularização do WhatsApp criou um ambiente muito próspero para a sua disseminação, que atinge a todos os seus usuários, sem exceção. Ao contrário da TV, a audiência é fragmentada e o leitor decide o que, quando e quanto vai ler ou ver de qualquer matéria ou mensagem, assim como se irá ou não repassá-la.

Entre a exposição a uma notícia falsa e sua consequência, é bom que se diga que existe a interposição do cérebro e do livre arbítrio. O primeiro aplicará os filtros racionais a tudo que se lê, o segundo delibera sobre o ato de abrir ou divulgar uma mensagem suspeita. A decisão sobre o que fazer com a notícia será sempre do leitor e jamais do mensageiro. Em tempos onde as ‘fake news’ são um mal conhecido, mesmo os mais ignorantes estão cientes de sua existência e entendem que podem estar expostos a todo momento. Paradoxalmente, quanto mais massificado for o fenômeno das notícias falsas, menor será seu poder de causar danos colaterais relevantes.

Grupos de WhatsApp normalmente são criados a partir de interesses convergentes. Até que ponto mensagens enviadas em larga escala conseguem mudar a opinião de convertidos? Nos vários em que eu participo, não houve nenhuma reversão de decisão de voto por causa de algum meme, vídeo ou notícia falsa. Também não me lembro de ter recebido nenhuma mensagem de empresa ou ter sido adicionado a um grupo desconhecido.

Por conta desses fatores, considero bastante exagerada a importância que se atribui à dupla ‘Fake news + WhatsApp’ como fator decisivo em uma eleição. Claro que a correta utilização do ‘zapzap’ enquanto ferramenta de comunicação pode ser bastante útil, tanto a um anônimo, quanto a um político, mas seu uso desvirtuado está longe de oferecer todas essas vantagens ilícitas. Quando muito, reforça posições já tomadas, ampliando os extremismos. Ou seja, os favoráveis à uma causa se tornam mais engajados, na mesma proporção que os desfavoráveis. O ‘zapzap’ é limitado para convencimento de alguém , mas poderoso para afastamento entre pólos já opostos.

É nesse contexto que o PT começa a criar a narrativa de sua derrota, cada vez mais próxima e irreversível. Patrocinada por uma denúncia sem lastro de uma jornalista militante da Folha de SP, o partido agora vale-se da acusação de que um grupo de empresários comprou pacotes de aceleração de mensagens de cunho anti petistas para serem divulgadas pelo WhatsApp. Segundo o texto, teriam sido usados R$ 12M e se comprovado o vínculo com a campanha de Jair Bolsonaro, estaria caracterizado crime eleitoral.

Foi a senha para que o petismo começasse a criar o novo ‘foi golpe’. O mais interessante é que os mesmos petistas que saem a definir culpa em um caso de simples acusação vazia de um jornal, a negam para processos onde já houve condenação em segunda instância, dissecados ao longo de quase dois anos com todo direito à defesa e ao contraditório, comprovando que a coerência nunca foi uma virtude do partido.

O causo caminhará para a gaveta dos temas desimportantes, não sem antes consumir tempo da Suprema Corte e distrair o país com suposições irreais de anulamento de eleição, cassações e tudo que vem junto com as teorias conspiratórias.

Denúncias devem ser investigadas, mas está claro que na entropia das mídias sociais, a propagação de fake news é um evento praticamente incontrolável. O TSE estava ciente que isso ocorreria, mas infelizmente não atuou em uma campanha educacional de prevenção. Quando o leitor ou telespectador desafia uma notícia falsa, seu efeito é nulo. As empresas que aceleram mensagens também deveriam ser responsáveis por checar seu conteúdo, elemento que poderia limitar a disseminação de notícias falsas, em caso de penalidade. De qualquer maneira, não há nenhum elemento crível para concluir que o aplicativo será determinante no resultado final.

Agora teremos que conviver por algum tempo com barbaridades como a solicitação de anulação da eleição, feita pelo PDT, a sugestão do candidato Haddad de que ele e Ciro deveriam fazer o segundo turno, jogando na lata do lixo os 49 milhões de votos recebidos por Bolsonaro, ou o resmungar de petistas desesperados de que o candidato adversário é culpado e deveria ser preso. Tudo isso com a cobertura, a essa altura deliberadamente parcial, de parte da mídia.

O mais impressionante é assistir aos náufragos do dia 28 colocarem no mesmo balaio um suposto crime eleitoral de aceleração de mensagens de ‘zapzap’ (sem nenhuma prova) e todo um conjunto infindável de crimes de corrupção cometidos por dezenas de correligionários e julgados pela Justiça. Eis a evidência de que o Brasil não terá sossego. O PT não sabe ganhar, nem perder. Seguirá ruidoso, emitindo sons cada vez menos perceptíveis, até ser ofuscado completamente pela própria irrelevância.

Victor Loyola

Victor Loyola, engenheiro eletrônico que faz carreira no mercado financeiro, e que desde 2012 alimenta seu blog com textos sobre os mais diversos assuntos, agora incluído sob a plataforma do Boteco, cuja missão é disseminar boa leitura, tanto como informação, quanto opinião.

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