Opinião

Sobre Prepotência, Impotência e o Inacreditável Fascismo “do bem”

“A prepotência é a máscara da Impotência” (Anônimo)

Ouvi esta frase há muito tempo, num curso interno da Petrobras, onde alguém discorria sobre o assunto “liderança”.

Explicando em detalhe, o termo “potência” refere-se à capacidade de fazer com que as coisas mudem, de realizar. A potência confere autoridade a quem a possui. Desta forma, líderes são pessoas potentes, que conseguem convencer com argumentos e discutem em igualdade de condições com seus subordinados. Só que, muitas vezes, temos nas empresas e na política pessoas que chegam a posições de mando sem ter capacidade (potência) para isto. Sem conseguir ter autoridade sobre os subordinados, são obrigados a se impor pela prepotência; cala a boca que quem manda aqui sou eu. Não preciso dizer que gente potente prefere a democracia e a troca de ideias; o impotente é ditatorial. Conforme queríamos demonstrar (Cqd).

A famosa fábula do lobo e do cordeiro é um bom exemplo disto. O lobo quer matar o cordeiro, afinal é carnívoro e está com fome. Só que começa tentando justificar com argumentos; você sujou minha água, por exemplo. O cordeiro demonstra, com argumentos lógicos, que está a jusante do lobo, portanto não tem como sujar a água dele. O lobo vai enfileirando argumentos furados, e o cordeiro contestando, até a hora em que a impotência vira prepotência, ele mata o cordeiro e fim de papo. Vi e participei de muitos diálogos destes em minha vivência corporativa. Fui “morto” várias vezes, por vários lobos, de várias facções políticas. Em alguns casos, quase fisicamente. Mas me mataram muito mal, e eu tô aqui. Graças a Deus.

Quem não tem a força dos argumentos, usa o argumento da força (Anônimo)

Pensei em tudo isto quando, por força de uma postagem minha no Facebook, voltou à baila um texto que escrevi há algum tempo sobre a transexual Tiffany, que joga na liga feminina de voleibol (ver https://papodeboteco.net/opiniao-princ/transexuais-no-esporte-e-o-terraplanismo-de-genero/ ). Baseado em fatos e observações que tem a ver com técnica de jogo e biomecânica (consultei vários especialistas sobre o assunto, of course), argumentei, com lógica, que não é justo que ela jogue contra mulheres “originais de fábrica”. Em momento algum ofendi a moça, mesmo porque sou simpático à causa; se uma pessoa sente-se mal com o sexo que tem, e a ciência dá a oportunidade de trocar, ótimo! Que seja uma mulher feliz e realizada, afinal ela não é diferente de ninguém. A única coisa que não acho aceitável é que ela jogue vôlei feminino, por razões de ordem técnica, nada mais que isto.

O diabo é que recebi comentários de vários “lobos” que, em alguns casos, me chocaram. Um dos mais incríveis foi de um amigo que, depois de ver que tecnicamente não havia como ganhar a discussão, falou algo tipo: “tudo bem, mas tem que dar algum jeito, porque proibir é discriminação, e discriminação é inaceitável!”. O lobo tirou a pele de cordeiro; não pode proibir por definição. Fazer o que então? Acabar com o voleibol feminino? Mudar o mundo para resolver o problema de uma pessoa?

Pra quem não entendeu ainda, “discriminação” é quando você trata iguais de forma desigual. Na minha adolescência, nos anos 1960, em vários lugares do mundo alunos negros não podiam frequentar o mesmo colégio dos brancos. E se você perguntasse “por que?” a resposta dos lobos seria; porque é assim, e cala a boca! Quando entrei para a faculdade de engenharia, em 1971, o percentual de meninas na turma era de 5%. E mais de uma vez ouvi que “mulher não tem raciocínio lógico prá ser engenheira!”. Tive a honra e o prazer de ser colega e amigo de algumas excelentes profissionais que calaram a boca dos babacas. Enfim, nos dois casos, os cordeiros inteligentes viraram o jogo. Simples assim.

“Todos os animais são iguais. Mas alguns são mais iguais que os outros” (George Orwell, em “A Revolução dos Bichos”)

Só que agora parece que os prepotentes mudaram de lado. Estão tentando tratar desiguais como iguais.  E o argumento (melhor dizendo, a falta de) é idêntico ao dos antigos racistas e machistas; tem que ser assim, porque eu quero e acabou. Não me venha com raciocínios lógicos!

Quem teve a oportunidade de ler “A revolução dos bichos”, obra prima de George Orwell, lembra que, ao final do livro, era impossível distinguir os porcos (que tinham liderado a revolução contra os seres humanos) dos próprios humanos. Por isto, quando vejo hoje alguns grupos com atitudes fascistas, preconceituosas e negacionistas, começo a ter dificuldade de identificar qual o lado do espectro político em que estão. Os porcos viraram humanos, os humanos viraram porcos, e todos viraram lobos. Porque o comportamento, agressivo, arrogante e prepotente, é o mesmo.

Cordeiros sensatos do mundo, uni-vos!

Marcio Hervé

Márcio Hervé, 71 anos, engenheiro aposentado da Petrobras, gaúcho radicado no Rio desde 1976 mas gremista até hoje. Especializado em Gestão de Projetos, é palestrante, professor, tem um livro publicado (Surfando a Terceira Onda no Gerenciamento de Projetos) e escreve artigos sobre qualquer assunto desde os tempos do jornal mural do colégio; hoje, mais moderno, usa o LinkedIn, o Facebook, o Boteco ou qualquer lugar que aceite publicá-lo. Tem um casal de filhos e um casal de netos., mas não é dono de ninguém; só vale se for por amor.

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