Opinião

Sobre transparências e honestidade na terra dos Macunaímas

Em 1992, quando tomou posse como substituto do impichado Fernando Collor, Itamar Franco fez questão de entregar ao então presidente da Câmara, Ibsen Pinheiro, um envelope contendo sua declaração de bens.

É impressionante como este fato ficou esquecido na memória dos brasileiros. Afinal, deveria ser a primeira obrigação de qualquer ocupante de cargo público colocar sua declaração de bens à disposição de quem o elegeu. Até onde sei ninguém, antes ou depois do Itamar, fez algo parecido.

Na Suécia, por exemplo, a declaração de bens do primeiro-ministro está na internet, à disposição de todos.

Dentro do tema, vale lembrar a Copa de 2018, quando Kolinda Grabar-Kitarovic, a bela primeira-ministra croata, empolgada com o sucesso de seu time, foi à Rússia assistir a grande final entre Croácia e França. O que chamou a atenção dos jornalistas tupiniquins foi o fato de que ela viajou às próprias custas – o que certamente é norma em qualquer país civilizado. Não era uma missão de estado, ela só queria torcer.

Na velha e boa Suécia, em toda a viagem oficial (ou seja, paga pelo estado), é obrigatória a prestação de contas. Não é nenhuma novidade, aqui mesmo eu fiz isto a vida toda na Petrobras ou nas instituições onde dei aula. Gastei X de Hotel, Y de refeições e Z de transporte. Simples assim.

Ao invés de mover céus e terras para arrumar apoio para coibir as temidas “Fake News” (eles têm medo de que, mesmo?), não seria melhor, para manter a transparência do processo, que fosse proposta uma medida deste tipo? Não seria mais fácil colocar na internet o preço da diária do hotel que nós pagamos para o Lula em Londres do que ter toda a especulação e “fake news” sobre o tema? Ou ver, em um clique, se Bolsonaro incluiu em sua declaração de bens as joias que dizem que ele pegou? Simples e fácil prá todo mundo. Menos prá quem tem bandido de estimação, é claro…

Minha sábia avó lá de Santa Maria sempre dizia que “quando o povo quer descobrir, descobre”, frase que valia tanto para traições conjugais quanto para corrupções políticas. A impressão que tenho é que os Macunaímas, que habitam o Reino de Bananas, não entendem que honestidade e transparência sejam valores tão importantes assim. Os vikings suecos pensam diferente. Por isto eles estão no topo do mundo e nós aqui, na zona de rebaixamento da série C.

 Ou talvez quem tenha razão, mais uma vez, seja o velho e bom Nelson Rodrigues (sempre ele!), quando diz que “O brasileiro é fascinado pelo grande canalha”.

Tadinho do Itamar! Todo mundo só lembra do mico que ele pagou pulando carnaval com uma moça sem calcinha. Pelo jeito, este é o tipo de transparência que é prioritário para os Macunaímas. Cada povo tem seus valores. Há que se respeitar.

Vida que segue.

Marcio Hervé

Márcio Hervé, 71 anos, engenheiro aposentado da Petrobras, gaúcho radicado no Rio desde 1976 mas gremista até hoje. Especializado em Gestão de Projetos, é palestrante, professor, tem um livro publicado (Surfando a Terceira Onda no Gerenciamento de Projetos) e escreve artigos sobre qualquer assunto desde os tempos do jornal mural do colégio; hoje, mais moderno, usa o LinkedIn, o Facebook, o Boteco ou qualquer lugar que aceite publicá-lo. Tem um casal de filhos e um casal de netos., mas não é dono de ninguém; só vale se for por amor.

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2 Comentários

  1. Márcio,
    Boa lembrança sobre o fato do Presidente Itamar Franco ter prestado conta de sua vida econômica ao povo. Nada mais justo e digno para um representante do povo. A transparência é o melhor caminho, mas o país parece aceitar o jeitinho como forma normal de vida. É muito estranho, porque daí, todos sofrem.

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