Opinião

Impacto ambiental para todos

Como o relativismo da avaliação de impacto ambiental conforme a fonte prejudica repensarmos de maneira racional e científica a nossa matriz energética

Portugal é um exemplo de país que trabalha para implementar tecnologias limpas para a geração de energia elétrica. Em uma viagem de carro pelo interior é possível ver uma grande quantidade de usinas eólicas.

No ranking europeu de produção de energia limpa, ele ocupa a 7ª posição, com cerca de 30% de sua energia vindo dessas fontes. Em primeiro lugar temos a Suécia disparada com 56%.

Só para se ter uma ideia do esforço feito pelo país, em 2004 eram apenas 9,6% e a União Europeia estabeleceu uma meta para que todos os países membros gerassem 20% de sua energia a partir de fontes consideradas renováveis em 2020

Para os amigos que acham que tudo na Alemanha é perfeito, o país não atingiu essa meta e a França, que grita pela Amazônia, ficou ainda mais abaixo.

Mas essa semana saiu uma matéria por aqui que me chamou a atenção. Nem tanto pelo seu conteúdo, mas pela imagem que a ilustrava: uma enorme quantidade de painéis solares colocada no topo de montanhas.

A notícia em si era que a maior central de energia elétrica solar portuguesa recebeu o sinal verde para passar a injetar energia no sistema e olhando para a foto, imediatamente me lembrei de outra matéria que li em junho passado, informando que a China inaugurou a segunda maior usina hidrelétrica do mundo.

E qual é a relação entre elas?

O impacto ambiental.

Alvo dos ambientalistas, nos últimos anos as hidrelétricas têm sido duramente criticadas pelas mais diversas razões, todas relacionadas ao lago que criam e ao controle do fluxo do rio envolvido, muitas delas sem a devida verificação científica.

Alguns exemplos chegam a ser interessantes:

  • A evaporação da água do lado altera a humidade relativa do ar da região;
  • A presença da massa de água altera as temperaturas e prejudica a agricultura próxima;
  • Problemas com os animais terrestres;
  • Problemas com a madeira que apodrece no fundo dos lagos. Fala-se em “bolhas de metano” subindo do fundo.

E por aí vai.

A coisa é tão séria que a administração de Itaipu publicou um documento intitulado Mitos e Fatos, onde disserta sobre cada um deles.

BX_itaipu_mitos_e_fatos_21x28cm_v2.pdf

Como contraponto, eu encontrei um artigo publicado na revista SuperInteressante, mas honestamente o tom alarmista dificulta uma possível discussão.

Qual o impacto ambiental da instalação de uma hidrelétrica? | Super (abril.com.br)

Sendo fatual, eu não estou negando nenhum impacto, principalmente no que concerne realocação de pessoas (nessa usina da China foram 100.000), área de floresta, realocação de animais silvestres, etc. Mas temos que lembrar que os construtores de usinas se sujeitam a um sem número de normas e obrigações.

Quando saiu a notícia da usina chinesa, foram inúmero os artigos condenando o uso desse tipo de tecnologia para a geração de energia.

Na época eu publiquei um post no LinkedIn demonstrando que cada turbina dessa nova usina gerará 67 vezes mais energia do que a maior turbina eólica existente hoje, cuja área do círculo formado pelas pás girando passa dos 3.000 m2.

Na notícia de hoje, celebrada por todos, lê-se que a usina solar gerará 219 MWh e para isso ocupa uma área de 319 ha e evitará a geração de 177 mil ton. de CO2 ano.

Em termos comparativos, quando estiver a plena carga, a hidrelétrica chinesa produzirá 16 GWh, com redução de mais de 52 mihões de toneladas de CO2 ano. Infelizmente não localizei a informação da área do lago.

São mais de 70 vezes mais energia com redução 292 vezes maior de CO2! Uma turbina sozinha gera quase 5 vezes mais energia do que o parque solar inteiro.

Mas falando de impacto ambiental, minha preocupação vai para a área ocupada pelos painéis solares. Muito se fala do lago, mas e as áreas desmatadas para implementação deles?

Quando falamos de grandes usinas solares, nos vêm à mente áreas desérticas, “inúteis” (como se não houvesse vida no deserto), e afastadas, mas estamos falando do topo de montanhas e morros do interior de Portugal. Uma área que precisou “ser limpa” para comportá-las.
Se é verdade que um lago de hidrelétrica causa um impacto razoável, também é verdade que esse tipo de implantação traz uma grande mudança no ambiente a sua volta.

Como sempre, penso que está faltando um pouco de racionalidade nessa conversa, afinal, o lago pelo menos tem peixes.

Emanuel Alexandre Tavares

Matemático, apaixonado por tecnologia, dados e BI. Leio muito e analiso tudo o que passa por mim. Sempre levanto dúvidas e avalio a fonte. Hoje moro em Lisboa, estava precisando de um pouco mais de qualidade de vida.

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4 Comentários

  1. Excelente discussão. Fatos bem posicionados, parabéns.
    Ainda sobre hidrelétricas, existe busca constante de redução dos impactos. Inclusive com aumento da queda d’agua pela alocação da turbina no subsolo (consequentemente, reduzindo a área alagada), mas claro, causando outros impactos.

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