Opinião

É eita atrás de eita

“A inviolabilidade [leia-se impunidade] não será plena se for contra a democracia, mas valerá para todos os demais crimes”. Artur Lira, presidente da Câmara dos Deputados.

Enquanto o país chora a morte de 250 mil pessoas, com uma média de mais de 1.000 mortes por dia, nossas Excelências se apressam para viabilizar a PEC da Impunidade, que elas preferem chamar eufemisticamente de PEC que regulamenta o artigo da Constituição que trata da imunidade e prisão de parlamentares.

A pandemia faz um bem enorme à corja plantada no governo que pretende passe livre para toda sorte de crimes: de corrupção a assassinato. Em votação vergonhosa, 354 deputados votaram a favor da admissibilidade da PEC, contra 154 a favor e duas covardes abstenções.

Enquanto as lentes estão voltadas à gravidade da pandemia, os deputados correm para criar mecanismos que os liberem para matar, roubar e vilipendiar o país, jogando na privada anos de luta contra corrupção e impunidade. Se a Lava Jato foi enterrada por decisões milimetricamente articuladas pela PGR, essa PEC é o enterro dos ossos.

É a largada para institucionalização do crime, amparada pelo Congresso Nacional.

No meio desse samba do crioulo doido – expressão agora liberada ante as manifestações de racismo descarado dos negros do BBB21 – vamos nos distraindo com as trapalhadas do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que funciona como um bobo da Corte para distrair a galera enquanto o país continua sendo massacrado.

Ele confunde Amapá com Amazonas, posterga a compra de vacinas como se fossem tão insignificantes como a escolha entre comprar canudinhos de plástico ou de papel. Age como um paquiderme que não consegue se movimentar no lamaçal que ajudou a construir, por causa da sua servilidade, incompetência e inabilidade em lidar com pautas tão complexas.

Diante desse quadro assustador, Bolsonaro transita entre a intervenção na Petrobras e o salvamento do seu primogênito da justiça. E, e nos intervalos entre um e outro, segue criando aglomerações que afagam seu ego narcisista, além de manter os índices de morte em alta.

É nessa batida que caminhamos para 2022. A menos de dois anos do pleito, as cartas ainda estão escondidas entre blefes, muito oportunismo e desafios impossíveis.

Nessa onda, Bolsonaro vai buscando construir as pontes para criação de um Estado autoritário, permissivo, omisso e corrupto, nada diferente daquilo que mais temíamos antes da sua eleição: o modelo venezuelano de governar, só que embrulhado com laços lilases disfarçados de democracia.

Por exemplo, alguém consegue antever um governo capitaneado por Luciano Huck? Aquele moço bonzinho que anima auditórios nas tardes de sábado, distribuindo casas bancadas por patrocinadores? Aquele que tem uma mansão em área de APA, mas conseguiu um decreto libertador assinado pelo então governador Sergio Cabral, marido de sua advogada àquela época? Aquele mesmo, que integrava o trio de super playboys do Rio de Janeiro, formado pelos impolutos Aécio Neves e Alexandre Accioly?

Aquele moço apoiado por Fernando Henrique Cardoso que, durante um ataque de pelanca, disse que apoia o moço porque conhece a família dele. Conhece mesmo. O padrasto do moço, Andrea Calabi, foi presidente do BNDES na gestão FHC. Quem quiser que lute para saber como foi.

Ou Sergio Moro? Com o nível do nosso Congresso não conseguiria base parlamentar para governar; seria asfixiado antes de completar um ano de mandato. E, como vem sendo ventilado, se decidir compor uma chapa com Luciano Huck, assina seu atestado de óbito político e assume definitivamente aderência a tudo que vem sendo praticado na política há mais de 30 anos.

Vamos pular o coronel Ciro Gomes? O Brasil não aguentaria. Por outro lado, Marina Silva poderá ter um lapso de bondade e nos poupar de sua narrativa politicamente correta, tão bem mimetizada pelos integrantes desta edição do BBB21, não é mesmo?

Ora, ora, mas tem o Lula na manga do PT. Aquele que justifica a existência de Gilmar Mendes, que trabalha incansavelmente pela restituição de seus direitos políticos. Por ora, colocaram Haddad para esquentar a cadeira, ops, as pesquisas. É um risco que manteria o País nos mesmos patamares dos atuais, com pitadas de vingança e sede de dinheiro.

Ainda que tenha levado um passa moleque do partido, João Doria permanece no páreo: apesar de suas camisas engomadinhas, do cabelo tingido e da retumbante rejeição que marca sua presença nas pesquisas. Alguém consegue imaginar o Doria comendo uma buchada de bode num boteco qualquer de uma cidade do nordeste? Sua equipe de marketing, capitaneada por ele mesmo, já está pensando em alternativas.

É bem provável que ele opte por sair do PSDB e concorrer à presidência por outra legenda. Será, então, sua definitiva e providencial saída da vida pública.

E por falar em PSDB, que tal Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, expoente novo entre os caciques da política, com desempenho atraente, imagem pública idem, mas um absoluto desconhecido no cenário nacional? Se alguém estiver pensando nesse nome, precisa correr. Já está atrasado.

Brasil, é ladeira abaixo atrás de ladeira abaixo!

Silvana Destro

Silvana Destro é jornalista, voltada à comunicação corporativa há quase três décadas, atualmente com forte atuação em gerenciamento de crises de imagem e reputação. Mãe do Pedro, do João e avó de Maria Clara.

Artigos relacionados

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Verifique também
Fechar
Botão Voltar ao topo
Send this to a friend