Opinião

Cacildis! Mussum era profeta e eu não sabia

Até meados do século passado o francês era o que mais se aproximava de um idioma universal. Afinal, num mundo cheio de “Noblesse  obliges”, redondilhas e espartilhos, a sofisticação dos galicismos era cultuada e admirada.

A evolução para um mundo de negócios globalizados exigiu uma linguagem mais prática, e aí o inglês ganhou de goleada graças, principalmente, ao artigo “The”, que não tem gênero. Isto facilita demais a vida.

Tomando um exemplo prático; você vai mandar um texto mais formal para um grupo de amigos (e amigas, é claro). Antigamente a regra era a simplificação machista de usar o masculino (amigos) e subentender que as amigas estavam contidas no conjunto, mas depois do empoderamento feminino esta alternativa foi totalmente excluída. E você tem que começar com algo do tipo; “Meus (Minhas) Queridos (as) Amigos (as)”… Num tempo de internet, em que cada milissegundo conta, o sujeito (ou a sujeita) vai cansar antes de começar a leitura. E lá se foi a sua mensagem, direto prá lixeira dos excluídos.

Já o americano coloca; My Dear Friends, e vai em frente. Dá prá competir com eles? Não tem jeito.

A discussão sobre “gêneros”, que quase sempre cai em querelas ridículas e neuróticas, acaba de gerar um inacreditável fruto positivo; o uso do “e” neutro e genérico. Agora você escreve; Mes Querides Migues e pronto, todo mundo ta incluído. Absolutamente genial, não precisamos mais invejar os americanos. Aliás; es americanes.

E onde entra o imortal sambista e trapalhão Mussum nesta história? É que o mais famoso bordão dele, o inesquecível “Cacildis!” era tipicamente neutro. Quem conhece a história sabe que o grito original, de surpresa e indignação, era “Cacete!” (masculino). Só que o puritanismo ainda vigente na época não permitia o uso público do cacete na presença de moças de família, portanto Mussum mudou para “Cacilda!” (feminino). Depois, provavelmente pressionado por alguma moça chamada Cacilda que não gostou de ver seu nome envolvido nisto (a hipótese é minha e, provavelmente, sem o menor fundamento,  mas vamos em frente), ele aproveitou a mania que tinha de acabar as palavras em “is” (como na inesquecível expressão em Mussinglish “Forévis Young”), e adotou a forma que se consagrou pelo uso; “Cacildis!”, totalmente neutra e genérica. O novo idioma pode até se chamar “Mussumês”, numa merecida homenagem póstuma. Tem muito mais chances de sucesso que o Esperanto (não sabe o que é isto? Vai no Google e aprende!).

Enfim, migues, como diz o mestre Lulu Santos, eu vejo um novo começo de era…

Marcio Hervé

Márcio Hervé, 71 anos, engenheiro aposentado da Petrobras, gaúcho radicado no Rio desde 1976 mas gremista até hoje. Especializado em Gestão de Projetos, é palestrante, professor, tem um livro publicado (Surfando a Terceira Onda no Gerenciamento de Projetos) e escreve artigos sobre qualquer assunto desde os tempos do jornal mural do colégio; hoje, mais moderno, usa o LinkedIn, o Facebook, o Boteco ou qualquer lugar que aceite publicá-lo. Tem um casal de filhos e um casal de netos., mas não é dono de ninguém; só vale se for por amor.

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