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#Tbt Jogos Inesquecíveis que marcaram minha vida

Ronaldo envolto em desconfiança, família Felipão, aniversário pra comemorar, o primeiro dia de trabalho de Clériston e eu tinha que assistir ao jogo acompanhado de um amigo, superstição da Copa de 94.

Brasil 2 x 0 Alemanha – 2002

Chegamos em mais uma final mas ainda há muita desconfiança.

Não posso deixar de assistir à final com meu amigo Marco Antônio, o Ticó, para os íntimos.

A superstição ainda é muito presente na minha vida de torcedor. Assistimos juntos na casa de minha mãe a final da Copa de 94.

Ticó está em namoro sério, e isso significa que a namorada é quem manda no pedaço.

Temos um trabalho de convencimento da importância de assistirmos juntos. Ela terá que entender a situação.

Não iremos a bar nenhum em Goiânia, como fizemos em 98, em erro imperdoável para os deuses da superstição.

Na sexta feira dia 28 de junho, Clériston está na cerimônia de formatura dos novos membros da Guarda Metropolitana de Palmas.

Clériston, no evento de formatura, 28 de junho de 2002

O Comandante Geral, acompanhado de uma dezena de políticos – ano de eleição – parabeniza à todos, informa que o contrato se inicia de imediato, e já convoca alguns para trabalho no Parque Cesamar, o principal parque de Palmas, em escala de plantão, no domingo, 30.

Clériston é boleiro raiz. Joga até hoje em times de society ou campo oficial. Fez teste no Guarani quando jovem. Na Copa de 94 era muito pequeno, não experimentou a sensação do grito de campeão do mundo.

Certa vez, em um campeonato varzeano em 97, o time de Clériston inteiro raspou a cabeça, imitando Ronaldo e o grupo da Copa das Confederações.

E quando não é para acontecer, acontece. Clériston é convocado para seu 1º dia de trabalho de sua vida no domingo da final.

Ronaldo já passou por diversas provações antes e durante a Copa de 2002, mas dormir sem a preocupação de desmaiar na última noite antes do jogo e também na sesta do dia fatídico, talvez seriam as maiores provações.

A Copa com jogos de madrugada e de manhã foi bem atípica. Os petiscos e carne de churrasco foram trocados por café da manhã com misto quente da Dona Bernadete, minha mãe.

Depois dos jogos tinha que ir trabalhar.

Estava confiante, à despeito de todos os medos.

No dia do jogo, 30 de junho, é aniversário de um amigo meu, Dalton Filho, hoje médico ortopedista no Goiás Esporte Clube.

Dalton Filho nos deixou à vontade para quem quisesse ir ao churrasco, poderia ir depois do jogo, e assim combinei com Ticó, assistiríamos o jogo na casa de minha mãe para só depois irmos ao aniversário. Faltava combinar com a namorada de Ticó.

É dia 30, e em Palmas, Cleriston se apresenta para seu primeiro dia de trabalho na Guarda Metropolitana.

O que era pra ser motivo de alegria, torna-se uma agonia, não tem TV no local.

Ronaldo dorme muito bem na noite anterior ao jogo, mas Roberto Carlos não quer que ele faça uma sesta, após o almoço, já na tarde do jogo.

Ronaldinho volta ao time titular depois da suspensão pela expulsão contra a Inglaterra.

O goleiro Marcos já salvou a seleção diversas vezes na Copa, mas espera que a defesa o proteja.

Ninguém da seleção dorme na tarde do jogo.

A namorada de Ticó da época, desligada com futebol, concorda com os nossos argumentos e resolve ir ao nosso encontro mais tarde. Ticó fica satisfeito, quer isolamento e concentração, o bar na final de 98 definitivamente não foi uma boa escolha.

No parque Cesamar, Clériston descobre uma TV minúscula de um pessoal que desmontava uma estrutura de um evento até então tradicional na cidade, o Palmas Park.

Iriam assistir longe da posição de trabalho de Clériston, e ele, discreto, preferiu ficar à distância, e ainda por cima de costas para todos, afinal, primeiro dia de trabalho, não podemos falhar.

Rivaldo foi fundamental na campanha brasileira. O nosso camisa 10 não era valorizado como Ronaldo ou Ronaldinho. Mas decidiu vários jogos.

Cafú é o capitão, terceira final de Copa do Mundo não é para qualquer um.

Kléberson foi descoberto no mata-mata do campeonato brasileiro do ano anterior.

Felipão acreditou nele e em Gilberto Silva, criando a Família Felipão, grupo “que se fechou” no jargão do futebol.

Começa o jogo, e Dona Bernadete corre da sala, pois não quer atrapalhar os supersticiosos e tensos torcedores. Minha irmã Ingrid também está presente, mas ela é ligada em futebol e sabe das regras ocultas para se assistir um jogo sem atrapalhar o ambiente.

Clériston tenta pelo menos ouvir o jogo, mas não consegue e se resigna. Não será dessa vez que assistirá ao Brasil na final da Copa. Olha para o belo Parque e imagina que em 2006 será diferente e poderá acompanhar toda a campanha do hexa.

Primeiro tempo movimentado com ótimas chances brasileiras. Mas nada de gol.

Uma bola de Kléberson no travessão e um chute de Ronaldo à queima roupa e defesa com os pés do goleiro Kahn, no final do primeiro tempo, dá esperança para a torcida, ao mesmo tempo que nos deixa em estado de ansiedade máxima.

O melhor da Copa, segundo a FIFA e Ronaldo

Dalton, o Pai, confiante na vitória, fala aos quatro ventos que Ronaldo vai presentear Dalton, o filho, com dois gols.

Dalton Filho está tranquilo, mas sabe que o título valorizará seu aniversário para sempre e uma eventual derrota carimbará seu evento como pé-frio.

Começa o segundo tempo.

Felipão optou por um esquema de três zagueiros, liberando mais Ronaldo e Rivaldo.

Roque Júnior, Lúcio e Edmílson formam uma bela zaga.

A Alemanha tem falta da intermediária e o famoso “exocet do Éder” é visto no Japão. Marcos toca na bola, que ainda bate na trave.

Nesse momento de altíssima tensão no jogo, a campainha toca em Goiânia, e nos perguntamos quem, em sã consciência, está na rua, batendo na porta da casa dos outros?

É a namorada de Ticó, que chega finalmente para acompanhar o jogo.

Ticó fica desconfortado, pois a superstição bate mais forte, e a presença da namorada pode quebrar qualquer encanto e trazer mau agouro para nossa seleção canarinho.

 Edmílson se enrola com a mega-blaster-super-moderna camisa nike da seleção, com dupla camada e causa constrangimento mundial, mas tira de letra e risadas generalizadas fazem com que a seleção fique mais leve.

Roubada de bola à la empate contra a Inglaterra nas quartas de final iniciam a jogada do primeiro gol, e o frango de Kahn (que ainda sentia a pancada de Gilberto Silva no seu dedo) fazem Clériston apenas sorrir, enquanto a equipe de desmontagem do evento no parque Cesamar explode em emoção, esquecendo definitivamente do trabalho.

Primeiro gol de Ronaldo, após falha de Kahn

O Pai de Dalton Filho, reafirma que o segundo gol estava por vir, o presente combinado para o aniversário do filho era de dois gols.

Segundo gol de Ronaldo

Dois a zero e fogos de artifício são ouvidos em Goiânia, agoniando Sambinha, o cachorro lhasa apso de minha irmã Ingrid, que, mesmo alegre com a conquista, fica preocupada agora com o bem estar do pequeno fofinho.

Sambinha

Brasil Penta Campeão!

Ronaldo é o herói da vez e presenteia Dalton Filho com dois gols.

Ronaldo comemora

Clériston não pôde assistir nada e só trabalhou naquele dia, recebendo de presente na carteira de trabalho o registro do início do contrato apenas em 1º de julho. Sua aposentadoria foi adiada em um dia.

Eu e Ticó nem nos lembramos mais de qualquer mandinga ou superstição e só queremos comemorar no churrasco de aniversário de Dalton Filho, mas não saímos sem antes comer dois mistos quentes da Dona Bernadete, que Ticó ama.

Nesse dia especial, comemoramos o aniversário de Dalton Filho e tradicionalmente envio mensagem de parabéns sempre iniciando com um É Penta!

Em 2006, o aniversário foi comemorado também no dia 30, com uma festa à noite, mas o jogo contra a França era no dia seguinte, e isso é outra história, com outras superstições.

Hoje, Clériston, flamenguista doente, é meu colega de trabalho, temos uma resenha futebolística todo santo dia.

Ticó vive em Goiânia, é meu afilhado, e nossas resenhas são virtuais.

Dalton Filho pode ser visto de vez em quando nas partidas do Goiás pelo brasileiro.

Ronaldo é Nazário, alegrou um país inteiro, não é só futebol.

Rivaldo, Ronaldo e Gilberto Silva

Vinícius Perilo

Vinícius Perilo, 47 anos, é engenheiro civil apaixonado por todos os esportes. Tudo começou no Ursinho Misha em Moscou 80, e, a partir daí, acompanhando ídolos como Oscar, Hortência, Bernard, Jacqueline, Ricardo Prado, Joaquim Cruz. Ama futebol como todo brasileiro, faz parte da geração que chorou de tristeza a derrota de 82 e de alegria com o Tetra em 94. Realizou um sonho de criança e conduziu a Tocha Olímpica para a Rio 16. Ainda acredita no Brasil olímpico.

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