Esporte

Pelé e Maradona

No último dia 23, o Rei do futebol fez 80 anos e ontem foi a vez de Maradona soprar 60 velinhas. Enquanto Pelé é hors-concours e fica a anos luz dos demais em qualquer lista dos melhores de todos os tempos, Maradona e Garrincha conseguem estar alguns passos à frente de outros grandes jogadores.

Pelé fez 80 anos e recebeu homenagens em todo o planeta. O Rei do Futebol venceu três Copas do Mundo, dois mundiais interclubes, e uma penca de títulos nacionais e regionais. Dar a ele o título principal da nobreza não é difícil nem polêmico.

Maradona fez 60 anos e recebeu diversas homenagens. Sua carreira é repleta de polêmicas, entrelaçadas com sua vida pessoal ligada às drogas. Mas Maradona foi quem se aproximou de Pelé, com uma magia em jogar futebol que é rara, aliando beleza com títulos. Quando pensamos em Copas do Mundo, lembramos de ambos, acompanhados por Garrincha.

E Copa do Mundo é o Baile de Formatura! É o gran finale!

Garrincha tinha Pelé ao lado. Em 62, quando não teve Pelé, acabou se destacando na Copa do Chile. Não vejo, portanto, outros próximos.

Antes da era da televisão, tivemos Pelé e Garrincha.

Em 70, o mundo ainda pôde ver a despedida de gala do Rei.

Depois disso, só Maradona.

Em 74, Cruyff foi o destaque da Copa. Era o carrossel holandês, futebol inteligente e dinâmico. Mas não havia magia. Não era Cruyff um maestro, ou mago. E ainda por cima, perdeu a final. Azar da Copa, mas azar de Cruyff. Não jogou 78 e foi o jogador de uma nota só, ou de uma copa só, em que não venceu.

78, a Copa do campeão moral Brasil, e da Argentina comemorando o título inédito de um lado da rua e do outro a ditadura torturando e matando seus conterrâneos. Kempes foi o cara da Argentina, porém sem magia, sem um grande futebol, não se destacou em mais nada. Enfim, uma Copa sem craques e sombria.

A alegria voltou com o Naranjito (o mascote) e a Copa de 82 da Espanha cheia de craques em diversas seleções. O Brasil tinha Zico e cia, ficou pelo caminho. A França de Platini sucumbiu, a Polônia de Boniek também. Rummenigge era o grande astro alemão, mas além de alternar bons jogos com outros nem tanto, amargou uma derrota acachapante na final.

Coube ao “Bambino D’Oro” ser o grande astro da Copa. Vinha de suspensão por um escândalo de apostas na Itália. Paolo Rossi não fez nada na primeira fase. Foi desencantar justamente contra o Brasil, marcando três gols de oportunismo. Marcou outros dois na semifinal e um na final. Foi artilheiro da Copa.

Rossi não foi brilhante, foi artilheiro. Em toda a carreira. Não dá para colocá-lo entre os grandes do mundo do futebol.

Em 86, finalmente vimos um craque resolver dentro de campo todos os principais jogos de sua seleção, carregá-la nas costas, e conquistar brilhantemente a Copa.

Maradona deu espetáculo. Fez tudo. Encantou no palco de despedida de Pelé. Maradona devolveu o brilho ao futebol.

A pior Copa de todos os tempos pode ter sido a de 90 na Itália. Sem craques, sem magia, sem grandes jogos. Exceção aos Leões de Camarões. Lottar Matheus e seu estilo bem alemão pragmático, objetivo, foi o craque. Maradona já não era o mesmo. Ainda assim, carregou a Argentina à final. Torci pela Argentina na final (que meus irmãos não leiam isso). A arbitragem foi polêmica, o gol do título foi de um pênalti e assim não tivemos brilho nem magia para nos encantarmos.

Romário fez sua história em 94. Uma copa com mais brilho do que a anterior. Um Maradona pego no doping, uma Itália com seus principais jogadores contundidos jogando no sacrifício. Ainda assim tivemos o duelo na final entre Baggio e Romário. Mas uma final sem brilho, num calor escaldante de 40 graus. Romário é o craque da Copa, mas, convenhamos, não foi como Maradona em 86.

Zidane decidiu a final em casa pela França, em 1998. A Copa que era para ser do menino Ronaldo. Dois gols de cabeça na final. Uma final até certo ponto sem encantos. Zidane não encantou, marcou e decidiu.

Não fosse Ronaldo e Rivaldo, a Copa de 2002 teria sido tão ruim quanto a de 90. Ronaldo foi artilheiro e craque da Copa (para a FIFA foi o frangueiro Kahn). Tivemos alguma magia com Ronaldinho Gaúcho, algum brilho com Roberto Carlos, grandes partidas de Rivaldo e os gols de Ronaldo. Salvaram a Copa, mas não dá para dizer que Ronaldo fez o que Maradona fez em 86. Não fez.

Outra Copa sem craques e com um zagueiro eleito o melhor. Esse fato explica tudo. A Copa de 2006 poderia ter sido a consagração de Zidane, que caso não tivesse o destempero na final e levasse a França ao Bi, certamente desbancaria Maradona. Mas não. Zidane melancolicamente se despediu do futebol expulso de campo e sendo vice.

A Copa da África do Sul foi a Copa do tiki-taka. Do conjunto, de um sistema de jogo. Sem craques, com brilho, sem magia.

No Brasil, em 2014, Messi bateu na trave. Sumiu na semifinal e na final. A Alemanha e seu jogo de forte marcação foi vencedora.

Em 2018, surgiu um garoto, Mbappe. Fez seus gols, teve seu brilho. Dependendo do que fizer adiante poderá até ser destaque, mas é um jogo sem a magia que nós brasileiros gostamos e que Maradona tinha de sobra.

Reparem que ninguém chegou perto de fazer em uma única Copa o que Maradona fez em 1986.

Pelé marcou oficialmente seu último gol num amistoso entre um combinado do sul vs resto do Brasil em 1983 e lá estava eu assistindo.  

Estava também no Serra Dourada, agora em 1989, pela Copa América, presenciando o outro grande jogador do mundo do futebol. Argentina estava sendo massacrada pelo Uruguai de Francescoli, mas no segundo tempo, em uma escapada de Maradona, o gênio deixou Canniggia livre para marcar o gol da vitória. Lazaroni devia ter estudado esse jogo, o gol contra o Brasil na Copa de 90, um ano depois, foi idêntico.

Jogadores que se destacam pelos clubes, com carreiras longínquas, mas que deixam a desejar na Copa, para mim não se eternizam.

Messi e Cristiano Ronaldo são craques e ídolos, mas aquela fotinha erguendo a Copa faz muita diferença.

Portanto, meus caros, Pelé, Garrincha e Maradona são os grandes.

Rivelino, Zico, Romário, Ronaldo, Ronaldinho, Jairzinho, Tostão são ídolos e craques, mas por motivos objetivos ou, outros, subjetivos, ficam um degrau abaixo.

Kempes, Rossi, Rummenigge, Matheus não sei dizer nem se foram craques.

Cruyff, Baggio, Platini, Messi, Cristiano Ronaldo não venceram o principal torneio do mundo do futebol. Aguardo os adoradores de Messi e Cristiano negarem o fato. São o melhor exemplo do garoto, que é melhor amigo da menina mais bonita da turma do colégio, mas na hora do Baile de Formatura, ela escolhe dançar a valsa com outro coleguinha.

Zidane estragou a festa de despedida. Foi quase.

Parabéns pelos seus 60 anos, Maradona!

Parabéns pelos seus 80 anos, Rei Pelé!

Garrincha deixou saudades.

Vinícius Perilo

Vinícius Perilo, 47 anos, é engenheiro civil apaixonado por todos os esportes. Tudo começou no Ursinho Misha em Moscou 80, e, a partir daí, acompanhando ídolos como Oscar, Hortência, Bernard, Jacqueline, Ricardo Prado, Joaquim Cruz. Ama futebol como todo brasileiro, faz parte da geração que chorou de tristeza a derrota de 82 e de alegria com o Tetra em 94. Realizou um sonho de criança e conduziu a Tocha Olímpica para a Rio 16. Ainda acredita no Brasil olímpico.

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