Esporte

#Tbt Jogos Inesquecíveis que marcaram minha vida

Em uma prévia das Olimpíadas, o Rio de Janeiro realiza os maiores e melhores Jogos Pan-Americanos da história. Mesmo trabalhando, consigo ir no último fim de semana do evento, e tenho a sensação de filme de fim do mundo em Congonhas. No mundial de futebol feminino, na China, já estou morando em Teresina e o azar comparece em campo.

O Brasil vinha tentando ser escolhido como sede de Olimpíada já há algum tempo, até que algum iluminado (provavelmente o Assessor1 ou Assessor2 dos grupos de telegram ou whattsapp) avisa que se quisermos subir até o último degrau, precisamos passar pelos primeiros. Algo como receber do oceano uma “Message in a bottle” e acordar para a vida.

Capitaneado pelo agora condenado pela justiça Arthur Nuzman, o COB (Comitê Olímpico Brasileiro) consegue que o Rio seja a cidade escolhida como sede dos Jogos Pan-Americanos de 2007. É Nuzman, deve estar pensando “All these things that I’ve done”.

No “Mundo Maravilhoso de Charlie” ou de Nuzman, tudo era lindo, perfeito, parcerias público privadas, cidade ideal para compartilhar jogos e turismo, metrô até para Nova Iguaçu (U Hu Nova Iguaçu!), enfim, o COB não precisa de dinheiro do governo.

Mas “isso aqui Iô Iô, é um pouquinho de Brasil Iá, Iá”, e na hora H, Nuzman coloca a faca no pescoço do governo e Lula acode como pode para garantir o sucesso do evento.

A primeira reforma de grande porte do Maracanã é realizada, iniciando a “gourmetização” do estádio.  

PAN Rio 2007 Cerimônia de Encerramento. Foto: Acervo pessoal.

O Estádio Olímpico Nilton Santos, inicialmente chamado de João Havelange é construído, e mesmo com problemas estruturais, segue adiante.

Maurren Maggi ouro no PAN, no Estádio Nilton Santos. Foto: Acervo pessoal.

O parque aquático Maria Lenk (ao que me parece, o único grande legado) é construído na Barra da Tijuca.

Parque Aquático Maria Lenk no PAN 2007. Foto: Acervo pessoal.

Faltando dois meses para o evento, cansado de esperar por chamamento de concurso público, consigo um emprego através de meu afilhado “Ticó”, e volto a trabalhar depois de desesperadores um ano e meio.

Consigo também ingressos para eventos no último fim de semana de competição.

Cerimônia de Premiação vôlei masculino. Foto: Acervo pessoal.

Entre eles, a final do basquete masculino, a final do vôlei masculino e a cerimônia de encerramento dos jogos.

PAN Rio 2007 – Final basquete masculino. Foto: Acervo pessoal.

Mas o jogo que eu mais queria ter ido, acabei não podendo, por conta do trabalho.

Só consegui folga na quinta e sexta da última semana do PAN, e com isso, na hora do jogo entre Brasil x EUA, final do futebol feminino, estava viajando Goiânia – São Paulo – Rio de Janeiro.

Viajamos eu e minha irmã Ingrid, passando por Congonhas, dias depois do trágico acidente da TAM na pista de pouso.

Quando nosso voo chegou em Congonhas, busquei informações do jogo, e descobri que o Brasil havia aplicado uma goleada histórica de 5 a 0, com show de Marta, Maracanã lotado, e transmissão da Globo para todo o Brasil.

Foi tudo perfeito, menos para mim, que não pude estar na festa.

Congonhas estava incrivelmente deserto. Parecia um filme de cinema catástrofe, ou algum outro “filme exagerado de Pandemia” (teria escrito isso um ano atrás).

Ficamos eu e minha irmã por umas duas horas no aeroporto às moscas. Revivi isso quando retornei das Olimpíadas Rio-16, mas em outras condições, que contarei em outra oportunidade.

Embarcamos para o Rio e acabei por ver a cena triste, dessas que ficam tatuadas na nossa cabeça.

Nosso avião taxiou bem perto do local onde o avião da TAM saiu da pista.

O gramado ainda exibia as marcas da derrapada e saída da pista. Ao fundo o prédio da TAM destruído.

Ao escrever isso, sem exageros, as lágrimas invadem meus olhos. Muito triste.

Mas sigamos em frente. Eu não tenho problemas com aviões, tanto que estava em um voo da TAM sem medo algum, mas por óbvio, a tripulação trabalhava em seriedade acima do normal.

Apesar de tudo, tinham compromisso com o evento, eram patrocinadores, e por isso, no meio do voo, a Comissária de Bordo informa que iria sortear dois ingressos para a final do futebol masculino e uma gravura.

Sou daqueles que não ganha nem bingo da família. Ou mais ou menos isso, porque quando há mais envolvidos a sorte sorri. Em um bolão de trabalho já fizemos a quadra de mega sena acumulada duas vezes.

Eu e minha irmã damos as mãos e ficamos repetindo:

– 26 B, 26 B, 26 B!

Era minha poltrona.

O avião não estava vazio nem lotado, mas a Comissária de Bordo me viu de rabo de olho fazendo a mandinga.

E ela anuncia:

– 26 B!

Aí tudo é festa.

Deveria ter dito para minha irmã que “Tudo que ela toca vira ouro”.

A gravura vinha em um tubo, desses que guardam diplomas. O jogo que ganhamos ingressos era no mesmo horário de um evento que eu e minha irmã iríamos, a semifinal do futsal.

PAN Rio 2007 – Semifinal Futsal. Foto: Acervo pessoal.

Comento isso e logo após, a Comissária de Bordo me aborda, perguntando se eu iria ficar com os ingressos que ganhamos da final do futebol masculino, porque um pai e seu filho, logo à frente, queriam ir ao jogo.

De imediato demos os ingressos do futebol, ficamos com a gravura, que é uma bela foto aérea panorâmica do Rio.

Pedi e minha irmã deixou que eu ficasse com a gravura.

Essa gravura ficou guardada de 2007 até 2014, quando me mudei para o apartamento que moro hoje. Enquadrei e hoje embeleza a sala de estar.

Gravura

O jogo? Ah sim, o jogo.

Fui assistir ao jogo 13 anos depois, quando as TVs apostaram nas reprises durante a paralisação de eventos esportivos na Pandemia.

O Brasil deu show. Nem o fato das americanas estarem com time quase todo reserva justifica o massacre. Foi uma festa do futebol brasileiro feminino no palco ideal, o Maracanã.

Achei que dali em diante o futebol feminino seria mais respeitado e difundido.

Como sempre, sou otimista demais. “The Spaceman says: Eveybody look down, It’s all in your mind”.

Mas por que o jogo me marcou se nem assisti na época?

Não assisti na época, mas acompanhei todas as reportagens, me impressionei muito com o Maracanã lotado e o potencial do futebol feminino no Brasil que até hoje é desperdiçado.

Para o Brasil certamente o PAN foi uma excelente preparação para a Copa do Mundo de Futebol Feminino que seria realizada dali dois meses. Os Estados Unidos desprezaram o evento e tentaram esconder o jogo para o que importava para eles, justamente o Mundial.

Marta e Cristiane, no auge de suas carreiras chegariam para a Copa do Mundo, na China, atropelando quem estivesse na frente. Com muita fome de bola, “Hungry like the Wolf”.

Eu finalmente sou chamado no concurso público e me mudo para Teresina, onde descobri uma capital maravilhosa e acolhedora. “Let’s go out and have some fun!”

Começa a Copa do Mundo.

Eu não posso nem sonhar em me ausentar do trabalho por qualquer motivo tosco.

Assisto muito pouco da Copa.

O Brasil passa por adversárias fortes, China e Dinamarca na primeira fase e Austrália nas quartas de final. Semifinal contra os EUA em plena quinta-feira de manhã.

E nessa hora descubro que chefe passa também por ser líder, não aquele chefe idiota que te cobra em público para te elogiar no particular, mas aquele que entende a cabeça de cada um dos subordinados, cobra o que eles podem oferecer, e oferece o que é possível, “Are We Human ? Or Are We Dancer?”.

Meu chefe Fritz já havia percebido minha loucura por esportes e que eu estava tentando, dentro do possível, acompanhar a Copa do Mundo.

Fritz, logo que chega no trabalho, na quinta-feira, liga a TV da sala de reuniões e avisa que está passando o jogo. Fritz “Can You read My mind?”.

Formiga cobra escanteio e uma americana apavorada faz contra.

Marta acelera e chuta forte, 2 a 0. “Every little thing She Does is magic”.

Americana expulsa.

Segundo tempo, Formiga acelera e toca para Cristiane, 3 a 0.

E aí, Luciano do Valle informa que não há palavras para descrever. É um gol perfeito, “The perfect kiss”.

É a pintura de Marta, um Van Gogh, Michelangelo ou Da Vinci. “It’s a kind of magic!”

Obra Prima de Marta

Faz um drible de costas para a adversária, corta e chuta de direita.

Sua obra prima, que talvez tenha levado a ficar “Stuck in a moment, and you can’t get out of it”.

4 a 0 e passamos para a final da Copa do Mundo!

A sala de reuniões é um fuzuê só. Muito bom para quebrar um gelo, pois fazia um mês que eu trabalhava ali.

A final, num domingo de manhã, é transmitida tanto por Bandeirantes quanto pela Globo.

O Brasil enfrenta uma adversária bem mais forte que os EUA. As alemãs têm também uma artilheira, Prinz.

Primeiro tempo nervoso, mas 0 a 0.

Estou sozinho em casa e geralmente a sorte sorri quando assisto jogos sozinho.

Segundo tempo e Prinz faz seu 5º gol na competição.

Começo a desanimar.

Pênalti para o Brasil! Cristiane deu uma “cavadinha”, mas está marcado!

Lembranças de 85, quando um amigo meu, Carlão, decretou que canhoto não sabe bater pênalti, no dia seguinte ao título brasileiro do Coritiba, ao vencer nos pênaltis o Bangu no Maracanã. O ponta canhoto Ado perdeu a sexta cobrança.

Canhoto costuma perder pênalti decisivo e principalmente se não bater cruzado.

Marta não bate cruzado e a goleira alemã defende.

O segundo gol alemão é de um escanteio e decreta a derrota brasileira.

O azar compareceu, perdemos um pênalti e o título. Essa frase pode ser um exagero, mas foi o sentimento que ficou.

O peso da derrota cai sobre os pés de Marta. Uma injustiça.

O vice-campeonato mundial, que em outros países seria motivo de festa e de certeza de futuros investimentos no esporte, no Brasil foi tratado como uma derrota humilhante e um esporte de “losers”.

Marta foi Bola de Ouro e Chuteira de Ouro, com 7 gols. Cristiane marcou 5 gols.

Faltou quase nada. Para o Brasil faltou tudo.

Mas Marta e cia, eu só digo a vocês que “There is a light that never goes out”.

Pira Pan-americana. Foto: Acervo pessoal.

Vinícius Perilo

Vinícius Perilo, 47 anos, é engenheiro civil apaixonado por todos os esportes. Tudo começou no Ursinho Misha em Moscou 80, e, a partir daí, acompanhando ídolos como Oscar, Hortência, Bernard, Jacqueline, Ricardo Prado, Joaquim Cruz. Ama futebol como todo brasileiro, faz parte da geração que chorou de tristeza a derrota de 82 e de alegria com o Tetra em 94. Realizou um sonho de criança e conduziu a Tocha Olímpica para a Rio 16. Ainda acredita no Brasil olímpico.

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