Economia

Exploração

Diariamente, o Estadão destaca o assunto que teve maior número de interações em seu portal, reproduzindo alguns comentários mais representativos, sempre colocando posturas mais elogiosas e mais críticas. Ontem, o tema foi a visita de Elon Musk ao Brasil.

Os comentários críticos coincidem no uso da palavra “exploração”. A palavra, no contexto, tem uma conotação negativa: significa algo como “extrair riqueza sem dar nada em troca”, quase um sinônimo de “roubar”.

Essa é a visão do brasileiro médio em relação aos empresários. O empresário não gera empregos, ele explora o trabalhador. Não gera oportunidades, ele é oportunista. Não gera riqueza, ele se apropria da riqueza.

O “homem mais rico do mundo” só pode estar interessado em aumentar ainda mais a sua riqueza, desta vez “explorando” as riquezas da “nossa Amazônia”. Ou seja, tirando da Amazônia para colocar em sua gorda conta bancária.

Claro, há aqueles que são menos toscos e entendem o papel do empresário na geração de riquezas. Só não acham “justa” a divisão dessa riqueza criada. Nesse sentido, pensam que deveria haver uma forma de dividir melhor o bolo, mitigando a “exploração” dos empregados e da sociedade pelos empresários. No fundo, a ideia de exploração continua lá, apesar do discurso bonito. Os empresários deveriam ser expropriados de uma riqueza que não lhes pertence.

Elon Musk conseguiu colocar em pé três indústrias que antes não existiam: meios de pagamento pela internet (PayPal), carros elétricos (Tesla) e foguetes espaciais reaproveitáveis (Space X). Ele deveria ter um busto em cada cidade do planeta, assim como outros empresários que revolucionaram os seus campos de atuação. No entanto, uma certa mentalidade só consegue ver nisso “exploração”.

Temos mais de 50 anos de Zona Franca de Manaus, uma tentativa de desenvolver e integrar a região amazônica ao restante do Brasil. Estamos testemunhando a gritaria em torno da redução do IPI para vários produtos, o que eliminaria grande parte desse incentivo, que deve durar até a década de 70! Quer dizer, serão necessários 100 anos para que a Amazônia possa andar com as próprias pernas. Quer dizer, 100 anos na hipótese otimista.

Não tenho dúvida de que se “entregássemos” a Amazônia para projetos de Elon Musk, em 10 anos teríamos uma revolução, com criação de riqueza para a região muito maior do que em 100 anos de incentivos fiscais. Mas sabe como é, a Amazônia é nossa, e não queremos que um gringo venha aqui “explorar” as suas riquezas. Deitados eternamente em berço esplêndido não é uma figura de linguagem.

Marcelo Guterman

Engenheiro que virou suco no mercado financeiro, tem mestrado em Economia e foi professor do MBA de finanças do IBMEC. Suas áreas de interesse são economia, história e, claro, política, onde tudo se decide. Foi convidado a participar deste espaço por compartilhar suas mal traçadas linhas no Facebook, o que, sabe-se lá por qual misteriosa razão, chamou a atenção do organizador do blog.

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