Brasil

Uma questão de escolha

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O período turbulento que vivemos hoje é consequência da escolha feita pelo Brasil em 2010.  O país deu um voto de confiança ao ‘molusco mais querido’ e elegeu sua candidata, até então desconhecida do grande público. Com a economia crescendo 7.5% naquele ano, após superar com relativo êxito o período mais agudo da crise internacional no planeta, o companheiro-mor conquistou o direito de decidir quem o sucederia. Difícil visualizar outro desfecho nesse cenário, o que não impede de caracterizarmos a escolha brasileira como a mais infeliz possível.  Um acidente de percurso em nossa história.

Não tenho como objetivo nesse texto dissertar sobre as razões que me fazem considerar Dona Dilma a pior presidente da era democrática, deixarei que a completa ausência de um legado após duas gestões desastradas falem por si no futuro. A ideia é brincar de profeta e tentar desvendar o que vem pela frente.

Dona Pinóquia, apelido carinhoso com o qual me refiro a quem está fazendo tudo aquilo que condenava até o final de Outubro, viverá o inferno astral nos próximos quatro anos. O contexto extremamente difícil, criado por ela mesma ao longo de sua primeira gestão, não permitirá que reconquiste a popularidade perdida. A ex-gerentona terminará o mandato  mais impopular que  José Sarney em fins da década de 80, será rechaçada pelo próprio partido e aliados. Todos se afastarão dela, pois a proximidade custará muitos votos. Dilma contará os dias para encerrar sua ‘era’ e expiará todos os pecados ao longo de sua ‘via-crúcis’. No final de 2018 ela estará abatida, envelhecida, isolada, mal avaliada, mas purificada por conta de tanto sofrimento.

Não enxergo o impeachment como uma possibilidade real, pois considero que as investigações do Petrolão não conseguirão conectar os pontos e relacionar oficialmente  a presidente com as práticas de corrupção na Petrobrás. E mesmo que isso ocorra, não considero o Procurador Geral da República alguém que tenha coragem para seguir nessa direção, idem para o Congresso. Dilma capitaneará um governo zumbi, permanentemente chantageado por sua base aliada e sem força para imprimir transformações profundas nos diversos setores carentes de melhorias. Por outro lado, bem ou mal, ela ainda tem uma base de sustentação que constitui maioria. Frágil e traiçoeira, mas ainda assim uma maioria. Vez por outra, ela conseguirá aprovar as medidas que persegue, remendadas.

Pinóquia está tão fragilizada politicamente que a principal figura do governo nem é ela, e sim seu ministro da fazenda Joaquim. Mais uma expiação para nossa diva; conviver por quatro anos com quem tem um profundo antagonismo ideológico; afinal, o seu pensamento dogmático e estatista é o oposto da linha da escola de Chicago, de quem Levy é um dos mais ilustres representantes no Brasil.

A vitória da oposição nas últimas eleições teria sido uma traição do destino.  Os problemas a serem combatidos seriam os mesmos, visto que foram plantados em Dilma I, mas a disposição de uma oposição bravateira, agressiva e barulhenta acabariam colocando sob o colo do novo governo a culpa pelos erros de terceiros cometidos no passado. Já pensou você suar a camisa para arrumar a casa e ter que aguentar a mesma turma assumindo o controle dali a quatro anos? Pois essa seria uma possibilidade real para Aecio ou Marina, em caso de triunfo ano passado. Mas o destino não quis assim, de certa forma fazendo justiça na linha do ‘ aqui se faz, aqui se paga’.

Pagamos todos nós. Pela escolha equivocada em 2010. Pelo erro em terceirizar a decisão dos destinos do país a um cidadão com mais sorte que  sabedoria, o nosso ‘molusco mais querido’.  Como não é possível voltar no tempo, resta-nos a resiliência e indignação, ambas indispensáveis na era de vacas esqueléticas diante de nós.

Pinóquia fará uma gestão impopular a reboque de Joaquim Levy. O Brasil de 2018 estará em condições um pouco melhores que as atuais, suficiente para despertar o otimismo inerente ao brasileiro comum, mas incapaz de revitalizar a imagem da presidente, que terminará o mandato cono uma verdadeira pata manca, uma espécie de talismã às avessas. O desapego forçado em relação à chefe não será o bastante para que o eleitorado conceda ao PT mais quatro anos. O partido da estrela vermelha, envolvido em toda sorte de escândalos de corrupção, será escorraçado do poder em 2018.  Levará uma surra espetacular. E o dia em que o ‘molusco mais querido’ não estiver pelas ‘bandas de cá’, o PT implodirá em vários grupos. Na ausência de seu único líder com envergadura nacional, o partido irá expor suas cisões internas e contradições e terminará perdendo inúmeros quadros. Não mais existirá como hoje. Estamos assistindo ao crepúsculo do mais bem estruturado partido político do Brasil. Enlameado, derrete. O sol logo mais se põe.

Eu apenas espero que daqui a quatro anos o Brasil não faça uma escolha pela qual venha a se arrepender novamente. Não dá para ficar brincando de ‘ desperdiçar gerações’. Há quem diga que perdemos o trem da história. Mas 2018 é logo ali, quem sabe não conseguimos uma vaguinha, mesmo que seja em pé, no fundão. Enquanto esse dia não chega, precisamos manter a vigilância intensa e nunca perder a capacidade de indignação. Ela é que nos fará evoluir. O tempo se encarrega de passar.

 

Victor Loyola

Victor Loyola, engenheiro eletrônico que faz carreira no mercado financeiro, e que desde 2012 alimenta seu blog com textos sobre os mais diversos assuntos, agora incluído sob a plataforma do Boteco, cuja missão é disseminar boa leitura, tanto como informação, quanto opinião.

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4 Comentários

  1. Vitao, como sempre com sua visão assertiva e pragmática deste (des)governo que eu compartilho e assino embaixo!

    Mudando de assunto, vou passar uns dias em sampa semana que vem. Topa marcarmos um almoço com o Nuno e quem mais estiver na área?
    Abco
    Adriano

  2. Só acho você muito confiante nessas supostas eleições de 2018 pois corremos um sério risco de não votarmos mais!!!!!!!

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