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Um letrado adeus

Falência de ícone das livrarias simboliza as dificuldades do setor

Não é de hoje que acompanhamos o “apequenamento” das livrarias, que ocupam cada vez menos espaço físico nas suas lojas, Brasil afora, quando sobrevivem, é claro. E foi com tristeza que recebi a notícia de que a Cultura, ícone entre as marcas, quebrou.

Seu espaço no Conjunto Nacional, junto à avenida Paulista, era legendário. Perdi a conta de quantas vezes passei por lá para investir horas do meu tempo, circulando entre as prateleiras, folheando livros e revistas ou mesmo tomando um café.

Anteriormente, já havia sido impactado pela diminuição dos espaços em todas as livrarias de shoppings, antes convidativos à estadia longa de clientes, hoje cubículos minúsculos, apertados e pouco amigáveis.

A verdade é que o negócio “Livrarias” tornou-se extremamente desafiador em tempos recentes. Há menos de uma década, um grande volume de CDs e DVDs (o que é isso mesmo? ) eram comercializados em suas lojas, produtos que desapareceram da face da terra, sem reposição. Concorrentes surgiram do nada, como os grandes varejistas e seus canais virtuais, que vendem de tudo, começando por livros, além da incipiente, porém imparável onda dos livros digitais. Até a seção de revistas minguou, com tiragens em rota decrescente, ano após ano.

Essas dificuldades, inerente a qualquer livreiro do planeta, se amplificam no Brasil, país que pouco lê. As estatísticas a respeito divergem, mas a conclusão é sempre a mesma, o brasileiro lê muito menos livros do que a média mundial. Supostamente seriam 4,5 livros por ano, caindo para 2,5 se os didáticos forem excluídos da conta. Isso reverbera no número de livrarias no país, uma para cada 96mil habitantes, enquanto a recomendação da UNESCO é que se tenha uma para cada 10mil. Mesmo em São Paulo, cidade mais rica do Sul do mundo, temos uma para cada 33 mil.

Adicione-se a isso a concorrência das mídias digitais e teremos a tempestade perfeita para o negócio de livrarias. Em tempos antigos que já não existem mais, eu brincava que se tivesse uma vida idílica, seria dono de uma delas, em contrapartida aos que sonhavam ser proprietários de uma pousada na praia, ao pé da areia. “Seria um trabalho extraordinário, eu pensava”… Bem, preciso reavaliar a profissão desse mundo paralelo, uma vez que hoje o estresse gerado pela busca da sobrevivência suplantaria os benefícios da vida entre livros…

E como não dá para mudar a realidade, cada vez mais difícil para esse segmento, resta-nos lamentar. Só espero que daqui a algumas décadas, em conversa trivial com netos, eles não cheguem a me questionar: “vô, mas o que é uma livraria?”….

Victor Loyola

Victor Loyola, engenheiro eletrônico que faz carreira no mercado financeiro, e que desde 2012 alimenta seu blog com textos sobre os mais diversos assuntos, agora incluído sob a plataforma do Boteco, cuja missão é disseminar boa leitura, tanto como informação, quanto opinião.

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