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Linguagem neutra faz parte do reino da fantasia.

Prescrições autoritárias, elitistas e utópicas

Origem da polêmica

O assunto veio à baila porque o Colégio Franco-Brasileiro, um colégio de elite na Zona Sul do Rio de Janeiro, emitiu um comunicado de adoção (ainda não obrigatória) da linguagem neutra no seu colégio, inclusive em salas de aula.

O que é linguagem neutra

Linguagem neutra é todo um conjunto de regras que visa a tornar uma linguagem mais neutra, ou seja, nem feminina nem masculina, sob o pretexto de reduzir os estereótipos de sexo e gênero passados pela linguagem habitual.

No caso do português, isso se refere ao uso abundante da letra e, em oposição ao masculino o e ao feminino a, mas vai muito além disso.

Nesse contexto, o termo amigues passa a ser o novo normal no lugar de amigos, referindo-se a mais de um amigo (quando normalmente se usa amigos)

A maioria dos pronomes muda completamente. Por exemplo ele ou ela, passa a ser elu para se referir a qualquer pessoa, independente de sexo ou gênero.

Resumindo isso em um exemplo: “eles são amigos” é traduzido para elus são amigues.

Esse artigo resume os conceitos da linguagem neutra em 80 diferentes regras!

O que o colégio Franco-Brasileiro fez

No dia 10 de novembro agora, o Colégio Franco-Brasileiro, um tradicional colégio de elite da Zona Sul no Rio, emitiu um comunicado, que entre outras coisas “toma público o suporte institucional à adoção de práticas gramaticais de neutralização de gênero em nossos espaços formais e informais de aprendizagem”

Tendo em vista a repercussão parcialmente negativa, o colégio emitiu um novo comunicado, para dirimir interpretações que esse poderia ser o novo português da escola.

” Em comunicado recente, o colégio afirmou o respeito à autonomia de professores e alunos no uso da neutralização de gênero gramatical na escola. Em nenhum momento, informou que passaria a adotar essa prática em avaliações e em sua comunicação oficial.”

Imposições linguísticas sempre fracassam

Por que eu acho que a língua neutra, ainda que em tese possa ter boas intenções, é um grande absurdo fadado ao fracasso?

Não é porque eu não respeite a diversidade de gêneros. Ela é real e deve ter seu espaço em nossa sociedade.

No entanto, a grande verdade é que uma linguagem jamais consegue ser mudada por decreto. Língua é algo vivo. Sempre. Toda tentativa de mudar uma língua de cima para baixo está destinada ao fracasso.

Não será uma pequena elite que irá ter sucesso em jogar, de forma autoritária, um bando de regras, que no final transformaria a linguagem em algo forçado, artificial e ainda mais longe da linguagem coloquial falada pelo povo.

Uma professora de português anônima aparentemente escreveu um bom texto ironizando esse tipo de prescrição linguística, sob o ponto de vista da complexidade do idioma.

A que se refere a diversidade de gênero?

A diversidade de gêneros é enorme!

Há toda uma nomenclatura que é difícil de assimilar, especialmente para os mais velhos, dentre os quais eu me incluo. Abaixo alguns desses termos, que por vezes dão um nó para entender.

Os transgêneros são aqueles que não se identificam com o gênero de nascimento, em contraste com os cisgêneros (a maioria de nós). Os transgêneros, incluem as pessoas que se identificam com o gênero oposto ao nascimento e as pessoas não-binárias.

Os não-binários são indivíduos que não se identificam totalmente em nenhum dos dois gêneros em contraste com o binário. Os não-binários incluem pessoas de gênero neutro, indefinido, fluido, pangênero e não sei quantos outros termos.

A diversidade de gênero é algo muito presente?

Esse é um ponto pouco abordado nessas discussões, mas que precisa ser explanado.

Ao contrário da homossexualidade e da bissexualidade, a diversidade de gêneros, em suas diversas formas, é bastante rara em nossa sociedade.

Se por um lado pessoas não heterossexuais podem se aproximam de algo que chega a uns 10% da população, por outro lado pessoas que não se identificam com o seu gênero de nascimento não passam de 1%. Ou seja, uma ordem de grandeza inteira menor.

De fato, qualquer um, inclusive jovem, pode observar isso no seu cotidiano. São raras as pessoas que se colocam assim na sociedade, diferentemente do homossexualismo.

Minorias não são maioria…

Ainda que as pessoas todas tenham que ter seu espaço, independente de suas preferências e atitudes, acredito ser um enorme exagero e autoritarismo essa obsessão em mudar nossa língua.

Transformar algo que representa um pequena minoria, como se isso tivesse presente em quase todo lugar, gera alguns exageros marcantes, como, por exemplo, quando os pais ditam todo um estilo de educação, a partir de um fenômeno relativamente raro.

Alguns pais, por exemplo, cismam em criar filhos de forma neutra de gênero, com a finalidade de deixar que a criança expresse seu gênero da forma que ela desejar, assim que chegada a hora.

Não sou especialista no tema, mas isso me parece quase que uma violência com a criança, tendo em vista que apenas 1% das pessoas entrarão nesse guarda-chuva.

Os 1% já enfrentam muitas questões, independente de qualquer coisa, mas se a pessoa pertence ao grupo dos outros 99% da população, assim que ela passa a conviver com outras crianças, ela tende a ser achincalhada e ridicularizada, porque a maioria das crianças não estão nem aí para as bizarrices dos adultos e só verão tudo isso como algo muito estranho.

O mesmo vale para a nossa língua. No meu entender, não será com regrinhas arbitrárias que iremos gerar respeito e tolerância. Acho que ajuda apenas a polarizar o tema pelos extremos.

Paulo Buchsbaum

Fui geofísico da Petrobras, depois fiz mestrado em Tecnologia na PUC-RJ, fui professor universitário da PUC e UFF, hoje sou consultor de negócios e já escrevi 3 livros: "Frases Geniais", "Do Bestial ao Genial" e um livro de administração: "Negócios S/A". Tenho o lance de exatas, mas me interesso e leio sobre quase tudo e tenho paixão por escrever, atirando em muitas direções.

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2 Comentários

  1. Respeito… a chave para o problema! Se respeitarmos, genuinamente, não precisamos impor modificações na língua. A língua tem vida própria e as sugestões atuais precisam amadurecer. A incorporação precisa respeitar o uso em situações reais.

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