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Mais um gigante se vai…

Hoje se foi Roberto Dinamite, 68 anos, maior ídolo da história do Vasco e um dos maiores goleadores do futebol brasileiro, após uma longa batalha contra um câncer no intestino.

Roberto em sua comemoração tradicional

Eu, um vascaíno nascido nos anos 70, nem sei por onde começar.

Talvez pelas minhas primeiras memórias futebolísticas, que se confundem com as cenas daqueles filmes super-8, para lá de envelhecidos. Meu avô materno, carioca e vascaíno, jogando bola comigo no quintal de casa, então no interior do Paraná. É certo que à época, cada gol marcado seria celebrado como o de Roberto Dinamite, pelos idos de 75 ou 76…

Pouco tempo mais tarde, em 1979, meu pai (um coxa branca que também virou vascaíno por causa dos filhos) conseguiu que eu entrasse em campo com o time do Vasco, em uma partida do campeonato brasileiro daquele ano contra o Athletico-PR, no Couto Pereira. Eu tinha 6 anos e desse episódio eu lembro de fato. Posso definir como o grande evento da minha vida até a data: imaginem a ansiedade de um boleiro infantil nessas circunstâncias!

Time posicionado para entrar à beira do túnel que leva ao gramado, uma criançada buscando seu lugar ao lado dos jogadores, eu vou até o goleiro Leão, capitão e primeiro da fila. Tento dar a mão para ele, que inicialmente me ignora e em um segundo momento faz sinal de que não queria ninguém ao seu lado. Meu pai, que assistiu à cena, me disse em voz alta: “Vai com o Dinamite, vai com o Dinamite!, ele está ali atrás! ‘.

E lá fui eu, meio ressabiado, tentar entrar com o Dinamite. Vai que ele me rejeita, como o Leão! Que nada, nem precisei pedir. Roberto me estendeu a mão e entrei de mãos dadas com ele no gramado. Imagine a emoção do momento para um guri de 6 anos…

Ainda antes de começar o jogo, meu pai fez essa foto histórica, com o Roberto ao meu lado, enquanto dava entrevista para algum repórter. Um comportamento à altura do ídolo que sempre foi.

Dinamite ee eu, 1979

Usualmente passávamos férias no Rio de Janeiro, e uma programação familiar obrigatória era visitar São Januário. Em um par de ocasiões, conseguimos assistir ao final de treino do Vasco e mais uma vez o ídolo foi abordado para fotos, etc… Sempre solícito e simpático.

Uma carreira vitoriosa, com 708 gols em pouco mais de 1100 partidas, dá para contar nos dedos das mãos os jogadores com marcas semelhantes no mundo. Maior artilheiro do campeonato brasileiro, do campeonato carioca, e de todos os clássicos estaduais ( Vasco x Flamengo, Vasco X Fluminense,  Vasco X Botafogo). Talvez se tivesse sido titular na Copa de 82, teríamos um desfecho diferente para aquele Itália 3×2 Brasil, um dos maiores erros da carreira do Telê Santana.

Foi ttitular na Copa de 78, mas banco em. 82

Foi protagonista de umas das maiores atuações individuais em um clássico do futebol brasileiro, fez os cinco gols na vitória do Vasco 5×2 Corinthians, em seu retorno ao futebol brasileiro após breve passagem pelo Barcelona, em um Maracanã com 107 mil presentes, em 1980.

Maracanã, aliás, palco do que talvez tenha sido a maior rivalidade de sua história, o famoso clássico dos milhões capitaneado por Dinamite e Zico, atravessou pelo menos uma década levando tranquilamente mais de 100 mil pessoas a cada confronto. Ambos eram rivais, mas amigos fora de campo, e jamais deixaram com que essa rivalidade ultrapassasse os limites da civilidade e da boa convivência. O galinho inclusive vestiu a camisa do Vasco na despedida de Roberto dos gramados, em 1993.

Como atleta, não se tem notícia de Roberto envolvido em confusões, rebeliões para derrubar técnico, indisciplina dentro de campo, tretas com colegas, muito pelo contrário, sempre teve uma conduta exemplar e certamente por isso inspirou muitos garotos e arrebanhou milhares de torcedores para o gigante da colina. Era un centroavante praticamente completo, fazia gol de tudo que é jeito, com os dois pés, cobrava falta, cabeceava, driblava, dava arrancadas. Um legítimo 9 que vestia a 10, para a felicidade dos vascaínos, que eternizarão a camisa.

Não foi um bom dirigente, mas isso não obscurece sua trajetória como jogador, maior ídolo da história cruzmaltina. Como seu auge foi entre as décadas de 70 e 80, obviamente impactou quem cresceu vendo futebol nesses tempos. Imagine então para quem é vascaíno, como eu..

Embora sua partida fosse esperada em virtude da doença, o fato, quando ocorre, é sempre um divisor de águas. A pessoa não está mais entre nós e deixa aos que lhe sobrevivem o seu legado. No caso de um atleta, o “YouTube” ajuda aos milhões de fãs manterem as lembranças vivas. Os gols do Dinamite estarão sempre lá, inclusive o mais bonito da história do Maracanã, contra o Botafogo, em 1976.

A partida dos nossos ídolos esportivos não deixa de ser uma mensagem implacável do tempo, que não corre, mas voa.

MUITO Obrigado, Dinamite. 🙏🙏🙏🙏.

Roberto na inauguração de sua estátua em São Januário, 2022

Victor Loyola

Victor Loyola, engenheiro eletrônico que faz carreira no mercado financeiro, e que desde 2012 alimenta seu blog com textos sobre os mais diversos assuntos, agora incluído sob a plataforma do Boteco, cuja missão é disseminar boa leitura, tanto como informação, quanto opinião.

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